Enfermagem na equipa de saúde ocupacional
Introdução
A Saúde Ocupacional (SO) no nosso país (e em muitos outros) nem sempre é
caracterizada por um elevado patamar de profissionalismo, conhecimentos,
empenho ou ética; aliás, muitos dos que a executam não têm os conhecimentos
mínimos desejáveis e/ou tal atividade apenas corresponde a um part-time para
completar o rendimento mensal, sem qualquer gosto, formação ou aptidões
específicas.
Entre outros técnicos (como o Médico, Técnico de Higiene e Segurança ou até o
Cardiopneumologista), estão envolvidos, muito frequentemente, Enfermeiros. A
lei define que estes últimos devem ter habilitações adequadas a tal atividade
(sendo obrigatória a sua presença nas grandes empresas) mas, por outro lado,
não define com rigor que habilitações são essas. Assim, no contexto de uma
empresa de medicina de trabalho, prestadora de serviços externos, executam
punções venosas (para hemograma e bioquímica) e outros exames auxiliares de
diagnóstico como o eletrocardiograma, audiograma, espirometria e testes de
acuidade visual. Quando trabalham diretamente na ou para a empresa cliente,
prestam habitualmente primeiros socorros, quantificam a tensão arterial,
administram fármacos e/ou desenvolvem atividades de promoção e educação para a
saúde.
Apesar da variabilidade curricular da licenciatura em enfermagem,
genericamente, não é dado grande destaque à SO, não existindo formação pós-
graduada direcionada às necessidades específicas destes profissionais.
Pretende-se assim, com esta revisão bibliográfica, perceber qual o lugar que a
Enfermagem tem na equipa de SO, descrevendo ainda como esta é executada em
diferentes países, com variadas perspetivas e objetivos.
Metodologia
A pesquisa foi realizada em maio de 2011, nas bases de dados CINAHL plus with
full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects,
Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic
Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection:
comprehensive, MedicLatina e Academic Search Complete; com as palavras-chave
nurses e occupational health. Dos 1449 artigos obtidos, utilizando como
critérios de seleção o acesso preferencial a texto completo, língua inglesa e
data de publicação igual ou superior ao ano 2000, foram escolhidos 21, em
função da qualidade metodológica e da pertinência para o objetivo da revisão.
Excecionalmente foram também considerados outros artigos dos autores, já
publicados.
Saúde Ocupacional - revisão da literatura
Consoante o país, a SO é vista com ângulos muito diferentes: pois se, em alguns
casos, esta é encarada como a abordagem restrita às alterações na saúde que as
condições laborais podem acarretar, noutros ela é vista como um conceito muito
mais abrangente, onde também se inserem outros aspetos não laborais que
interferem com a saúde do trabalhador e/ou até mesmo englobando a própria
família e/ou comunidade (Tavares e Nunes, 2007).
O Enfermeiro de Saúde Ocupacional (ESO) deve deixar claro que o seu trabalho é
fundamental para aumentar a produtividade; diminuir os acidentes de trabalho,
faltas/tempo perdido de trabalho; diminuindo assim os custos (diretos e
indiretos) da instituição (Rietz e McCullagh, 2010). Para além disso, pode ter
um papel de destaque na reabilitação do funcionário e seguimento da atividade
da seguradora/médico assistente (Wallace, 2009) (cuja forma de trabalhar é
geralmente sigilosa para os restantes intervenientes, sendo difícil perceber
por vezes os diagnósticos suspeitos/concretizados, exames, tratamentos e
prognósticos), sendo ainda desejável que tenha um bom conhecimento acerca da
legislação laboral que lhe permita fazer a gestão do caso (Wallace, 2009).
O próprio acompanhamento direto do trabalhador (via telefone ou por visita
domiciliária) facilita a cura, aumenta a satisfação do funcionário e encurta a
ausência ao trabalho e eventuais limitações profissionais posteriores, tenha a
situação de base etiologia laboral ou não (segundo alguns autores) e
referenciando para serviços de saúde mais especializados, quando necessário
(Wallace, 2009).
É também da sua competência antecipar os principais problemas laborais que
previsivelmente ocorram no futuro, como o envelhecimento dos trabalhadores e a
evolução global dos mercados, por exemplo. Bem como determinar as áreas em que
poderão ser diminuídos os custos de saúde, de forma a aplicar tais valores em
áreas mais carenciadas. Pode, ainda, inserir-se em projetos diversos, mesmo que
não totalmente dentro do seu ramo de atuação, de forma a demonstrar o seu
empenho, capacidade de trabalho e valor para a entidade empregadora, pelo que,
deverá estar presente nas reuniões mais importantes, ainda que não convidado
inicialmente (após informar sobre o seu desejo em participar e ser aceite).
Por último, dado o teor dos assuntos existentes entre funcionário e entidade
empregadora, parte dos quais alvo de sigilo médico, o ESO está em posição
privilegiada para, sem nunca quebrar esse ponto, defender os interesses de
todas as partes, sobretudo quando contraditórios. Por vezes, em reuniões que os
envolvidos estão presentes, a sua mediação permite resolver a questão, expondo
tantos detalhes quanto as partes envolvidas queiram e reunindo consensos.
Assim, para melhor assegurar e clarificar o seu papel, o ESO deve delimitar a
sua área de trabalho (para diminuir conflitos interprofissões ou insatisfação
com os resultados da parte da entidade empregadora), criar expectativas/metas a
atingir (pertinentes para os objetivos da empresa e para os trabalhadores),
negociar a interação com os outros departamentos da instituição e adquirir os
meios/espaço necessários à execução das tarefas.
Paralelamente, deverá criar medidas/variáveis que permitam quantificar/avaliar
facilmente o valor do seu trabalho (Mellor e St John, 2009) quantificando todos
os custos, antes e durante a sua atuação (Wallace, 2009) e apresentando
estatísticas dos resultados obtidos (por exemplo, número de consultas dadas,
número de referenciações, número de alterações comportamentais/redução do
risco), traduzindo os benefícios económicos para a empresa. Só assim poderá ser
erradicado o falso conceito de que contratar empresas externas prestadoras de
serviços ocupacionais fica mais económico (ainda que o trabalho sumário
desenvolvido não se compare ao que os profissionais de saúde internos
produzem).
Infelizmente nem todas as instituições conseguem perceber que a ausência de um
programa organizado de SO é extremamente dispendiosa; aliás, estima-se, até,
que os custos indiretos (muito frequentemente esquecidos) são cerca de cinco
vezes superiores aos diretos. Portanto, é vital tentar quantificar
aproximadamente estes valores para cada empresa, pois o que não é medido não
chama a atenção e não se pode gerir o que não foi medido logo, demonstrando e
provando bons resultados, a equipa de SO conquista o apoio necessário da gestão
da empresa cliente.
Alguns exemplos de atividades/ programas desenvolvidos pelo ESO
Programas de amamentação
É desejável que, antes mesmo do programa se iniciar, exista um documento
escrito da empresa, onde esteja descrito o programa e se explique o porquê da
sua existência (Rietz e McCullagh, 2010).
Algumas empresas desenvolveram estes programas porque perceberam que, além de a
população ativa ser constituída, cada vez mais, pelo sexo feminino, a
existência deste programa permite o regresso mais precoce ao trabalho (Rietz e
McCullagh, 2010), maior qualidade de vida, maior satisfação com a entidade
empregadora e, por isso, maior produtividade e melhor imagem social (interna e
externa). Os benefícios fisiológicos para a mãe e para o bebé já estão por
demais divulgados e não são do âmbito deste trabalho. Para além disso, os
custos são (em função dos benefícios) muito escassos e a dificuldade técnica na
criação das condições adequadas é diminuta. Um dos estudos consultados (num
país com diferente legislação pós-parto) quantificou que cerca de 94% das mães
a trabalhar em empresas com programas de amamentação regressam ao seu posto
pouco depois do parto e, em muitos casos, com outros filhos anteriores (ou
seja, com mais responsabilidades familiares) (Rietz e McCullagh, 2010).
Estes programas permitem também manter o funcionário na empresa por um período
de tempo mais extenso, diminuindo os custos na seleção de novos candidatos e
formação dos mesmos podendo tornar-se-á mais fácil recrutar novos funcionários.
Para além disso, acredita-se que a descendência dos trabalhadores será mais
saudável, pelo que os pais estarão ausentes menos dias no trabalho para lhes
prestar cuidados de saúde, e os custos médicos associados também diminuem
(consultas, exames, fármacos, internamentos, seguros) (Rietz e McCullagh,
2010).
Permite, ainda, aumentar a taxa de amamentação que, sendo elevada no pós-parto
imediato, diminui bastante nas semanas/meses seguintes devido (entre outros
motivos) ao regresso ao trabalho, sobretudo se a tempo inteiro, pois a
quantidade de leite produzida varia com o ritmo de remoção do mesmo da mama, ou
seja, com um menor número de mamadas (por exemplo, só quando a mãe estiver em
casa, junto do bebé) e sem extração por bomba no horário de trabalho (existem
empresas onde as funcionárias têm de fazer a recolha do leite na casa de banho,
por não existir nenhum outro sítio melhor), a quantidade de leite começa a
diminuir rapidamente.
A sala para a recolha de leite apenas necessita de uma mesa, cadeira, tomada
elétrica, porta com possibilidade de encerramento interior, bem como
frigorífico e banca/lavatório. Geralmente a bomba de extração do leite é
individual e propriedade da funcionária. Será desejável que o ambiente seja
acolhedor (por exemplo, proporcionando música agradável e/ou fotografias
afixadas dos bebés) (Rietz e McCullagh, 2010).
É importante que a recolha de leite ocorra por cerca de 15 a 20 minutos, por
cada 3 a 4 horas, o que por vezes pode ser compatível com as pausas já
instituídas para as refeições. Assim, o programa de amamentação pode ser
acrescido de uma maior flexibilidade de horários da mãe, de modo a facilitar a
coordenação de tarefas profissionais, familiares, domésticas e pessoais. Os
principais obstáculos à amamentação (nas instituições que não têm este
programa) são, justamente, os horários rígidos de trabalho e pausas, bem como
privacidade insuficiente para fazer a recolha do leite (Rietz e McCullagh,
2010).
O ESO responsável pelo programa pode ainda dar apoio técnico ao processo em si,
uma vez que muitas mães sentem dificuldade em iniciar e/ou manter o aleitamento
e/ou a transitarem para o leite de fórmula, quando assim o desejam (Rietz e
McCullagh, 2010).
O gestor de saúde e programas globais de educação e promoção para a saúde
Muitas empresas acreditam que se conseguirem alterar o estilo de vida dos seus
funcionários (no sentido de diminuir/eliminar comportamentos não saudáveis),
terão funcionários mais satisfeitos, com maior qualidade de vida, menor
absentismo e, por isso, mais produtivos (Huffman, 2010).
A mudança comportamental tem eficácia superior quando se aplicam entrevistas
motivacionais, em comparação com a técnica clássica, por vezes paternalista e/
ou autoritária, em que o profissional de saúde é que sabe o que é melhor,
diminuindo o contributo do indivíduo. Ou seja, em vez de simplesmente dar dados
teóricos, este tenta que o funcionário perceba a sua ambivalência/falta de
motivação para alterar algo que ele mesmo já sabia estar errado. Deve-se
começar a abordagem pelo item que o trabalhador mais valoriza/está preocupado,
em relação ao seu estado de saúde, mesmo que tenha menor relevância fisiológica
que outros problemas óbvios. Esse item pode ser encontrado perguntando o que o
trabalhador gostaria de alterar no seu estilo de vida e/ou qual a sua maior
preocupação nesse contexto, estabelecendo-se assim uma empatia. O conhecimento
das diferentes fases de preparação para a mudança do modelo de Prochaska e
Diclemente são também muito relevantes neste sentido (Huffman, 2010; Carlson e
Murphy, 2010).
Além de fornecer informação e proporcionar um profissional de saúde que oriente
estes programas, a entidade empregadora ainda pode dar incentivos extras à
alteração do estilo de vida (Huffman, 2010) (como prémios, acréscimos
salariais, folgas, férias).
Os temas mais tipicamente abordados neste contexto são o sedentarismo/atividade
física, diabetes, obesidade, hipertensão arterial e outras doenças
cardiovasculares (Huffman, 2010; Carlson e Murphy, 2010); bem como, ansiedade/
stress e respetivo copping, mais recentemente. Nesse sentido, o ESO poderá, por
exemplo, sugerir/orientar quais os alimentos e bebidas a disponibilizar em
serviços de bar e/ou máquinas de venda automática.
Para além da promoção de um estilo de vida saudável, o ESO deverá monitorizar
as doenças crónicas já diagnosticadas (Wallace, 2009; Huffman, 2010); até
porque a população ativa está cada vez mais envelhecida.
A primeira etapa na execução destes programas é o estudo dos fatores de risco
existentes, por exemplo, analisando a informação obtida em questionários
(Carlson e Murphy, 2010). Os trabalhadores devem ser sempre envolvidos na
elaboração dos programas e os resultados, devem ser alvo de avaliação fácil.
Algumas empresas têm nos seus quadros internos Enfermeiros de Saúde Ocupacional
ou contratam os serviços destes através de uma empresa externa, para que os
seus funcionários tenham disponível (pessoalmente ou via telefone) o apoio de
enfermagem para orientar questões de saúde (profissionais e pessoais); de forma
a minorar o absentismo, facilitar a referenciação para outros serviços de saúde
e aumentar a qualidade de vida e satisfação do funcionário (e sua família), com
uma ótima relação custo benefício. Nesse sentido, alguns autores defendem que o
âmbito de atuação do ESO deveria ser alargado aos familiares dos trabalhadores
(Primm, 2010), acrescentado que as visitas domiciliárias podem proporcionar
informações valiosas acerca do indivíduo, família e comunidade.
O ESO pode, ainda, ser o elo de contacto ideal entre a entidade empregadora,
serviços de saúde externos e o trabalhador, facilitando intensamente a
reabilitação pós-acidente, doença ou cirurgia e o retorno ao trabalho, mais
rapidamente e em melhores condições, como já se mencionou (Weiss, 2009).
Cessação tabágica
O ESO pode orientar quase todos os casos de desabituação tabágica, melhorando a
saúde global do trabalhador, a qualidade do ar interior e a produtividade,
diminuindo também o risco de alguns acidentes (Santos, 2011a).
Geralmente a principal barreira à atuação no campo da toxicodependência, por
parte dos profissionais de saúde, é a pouca/nenhuma formação de base, o que
obviamente gera as desagradáveis sensações de inexperiência e insegurança
(Santos, 2011a).
As abordagens terapêuticas breves (ATBs) têm o objetivo de diminuir o primeiro
consumo; se este já tiver ocorrido, contribuir, então, para que tal seja apenas
esporádico e não se transforme em dependência. As abordagens consistem em
sessões curtas de 5 a 15 minutos e a maioria dos autores considera que
apresentam uma boa relação custo-efetividade (Santos, 2011a).
Para tabagistas que fumem até 10 cigarros por dia e/ou com baixo patamar de
dependência, a primeira opção terapêutica implica o não uso de fármacos, como
as técnicas de paragem abrupta (mas eventualmente com abstinência mais intensa)
ou redução de um cigarro por dia/semana (muito melhor aceite e tolerada),
acrescidas das técnicas comportamentais altamente eficazes. Nos 99% dos casos
que exigirão medicação, esta é de venda livre, pelo que não é necessária a
prescrição médica (Santos, 2011a).
A semiologia mais característica da abstinência tabágica é a ansiedade e
irritabilidade; muito menos frequentemente observam-se insónia, palpitações,
depressão, entre outras condições. Uma pequena percentagem de fumadores nunca a
sente e outra pequena percentagem vive-a de forma intensíssima e por várias
semanas; a grande maioria experiencia-a de forma moderada e por alguns dias e
poucas semanas - daí que alguns fumadores parem de fumar sozinhos, sem qualquer
problema, e outros só o consigam fazer com apoio profissional (Santos, 2011a).
Deve ser avaliada a dependência através do questionário de Fagerstrom e a fase
de preparação para a mudança em que o fumador está (segundo o Modelo de
Prochaska e Diclemente), ou seja: não interessado no assunto/agressivo, em pré-
contemplação (acha importante mas não dará esse passo nos próximos seis meses),
contemplação (planeia dar nos seis meses seguintes), preparação (já tentou ou
pretende tentar no próximo mês) e ação (no decorrer do processo); há ainda a
fase da recaída em alguns casos (Santos, 2011a).
Para consumos superiores a dez cigarros por dia e/ou um patamar de dependência
superior, poderá estar recomendada a abordagem farmacológica. No nosso país
dispomos de métodos altamente eficazes como a terapia de reposição de nicotina
(transdérmicos/ pastilhas); noutros países existe ainda no formato de spray
nasal e por inalação, mas o que dispomos já é perfeitamente suficiente. Nos
últimos anos surgiram também fármacos estabilizadores do humor, relacionados
com os antidepressivos clássicos, que também podem ser recomendados em alguns
casos.
Sustentabilidade ambiental
Alguns investigadores também consideram que o ESO pode ter um papel
determinante no programa ambiental da empresa, trabalhando com os funcionários
temas como a redução da produção de desperdícios, mantendo o lucro, saúde e
segurança; dando ainda particular destaque também à reciclagem e reutilização.
Para a obtenção das normas ISO correspondentes é necessário que toda a política
ambiental da instituição esteja oficialmente definida em documento escrito. Os
funcionários sentem-se mais importantes e a empresa fica com melhor imagem
interna e externa (Weiss, 2009).
Saúde do viajante
O ESO deve demonstrar competências nesta área, no sentido de informar o
funcionário das obrigações legais, quais os serviços de saúde locais que pode
recorrer e/ou atitudes de prevenção e medicação/utensílios a levar, para
viagens realizadas quer a serviço da empresa, quer a nível pessoal.
Layoffs/despedimentos
Caso seja necessário dispensar temporária ou definitivamente os serviços de
alguns funcionários, pode caber ao ESO (juntamente com os recursos humanos)
orientar parte do processo, passando a informação aos funcionários e atuando
imediatamente nos casos de ansiedade/depressão eventualmente consequentes e/ou
proporcionado algum apoio vocacional na procura de novos postos de trabalho
(Tompkins, 2009).
Higiene e segurança no trabalho
O ESO pode ainda ter um papel fulcral na avaliação de riscos, sugestão/execução
de medidas de proteção coletiva e individual (Weiss, 2009), de forma a diminuir
as doenças profissionais e os acidentes de trabalho. Em alguns países é também
este profissional que realiza parte dos exames de admissão, vigilância
periódica e os exames ocasionais de regresso ao trabalho (após doença, cirurgia
ou acidente); sendo, por vezes, também o responsável pela elaboração e execução
parcial do plano de emergência, desde que tenha formação adequada.
Síndroma pré-menstrual/dismenorreia
Estas situações, quando intensas, têm um impacto considerável na estabilidade
emocional e na atividade laboral, diminuindo a produtividade e aumentando o
absentismo. Existem questionários que permitem quantificar o grau de disfunção
criado, podendo alguns casos serem atenuados com o uso de anticoncecionais
orais e/ou anti-inflamatórios não esteroides, situações essas que o ESO pode
orientar prestando informações e/ou referenciar para consulta médica.
Obesidade
A obesidade está a tornar-se cada vez mais frequente devido a uma interação de
variáveis, algumas diretamente ligadas à atividade laboral. As profissões estão
cada vez mais sedentárias (face aos nossos antepassados que praticavam a caça,
agricultura, pecuária) e a atividade física, fora do tempo laboral, é também
muito escassa e totalmente desadequada à ingestão alimentar. Ou seja, não só
existe agora muito maior facilidade em adquirir comida, como também surgiram
produtos novos nefastos para a nossa saúde, quer pelos seus constituintes, quer
por serem excessivamente calóricos (existem pequenos snacks/bebidas, que têm só
por si quase as calorias necessárias para 24 horas de um indivíduo sedentário).
Ainda por cima, estes alimentos são de digestão e absorção rápidas e fáceis,
pelo que mais rapidamente o indivíduo sentirá fome e necessitará de comer
novamente. Emagrecer torna-se assim complicado, porque quem já tem um estilo de
vida verdadeiramente saudável, está sensibilizado para o tema e não precisa de
emagrecer e quem não o tem, nem quer ter, não está recetivo a mudar. Contudo, o
processo não tem quaisquer segredos - o problema é que quase todos os
indivíduos procuram soluções rápidas, fáceis e miraculosas, parte das quais sem
qualquer fundamento científico, sem qualquer efeito ou então, proporcionando
apenas resultados discretos e/ou a curto prazo, dado não terem recetividade
para a única coisa que funciona: um estilo de vida saudável, ou seja,
alimentação e exercício físico adequados. Só ocorre emagrecimento significativo
e mantido quando todos os dias as calorias na ingestão são inferiores às gastas
pelo somatório entre metabolismo, atividades quotidianas e desporto. Se este
último não for razoavelmente elevado, só passando fome é que se conseguiria
esse balanço negativo de calorias, mas tal não é obviamente saudável
emocionalmente (Santos, 2011b).
Os indivíduos, normalmente, ou não têm consciência das consequências da
obesidade (aumenta muito a probabilidade de surgirem diabetes, dislipidemia,
hipertensão arterial, enfarte agudo do miocárdio, acidente isquémico
transitório/acidente vascular cerebral (AVC) e mais intensa degeneração
articular até alguns cancros são mais frequentes em obesos) ou não se querem
envolver num processo de mudança. Como consequência, o síndroma metabólico
interfere na saúde global do trabalhador, diminuindo a sua capacidade de
desempenho e produtividade, condicionando inclusive a resposta individual para
alguns tipos de trabalho (por incapacidade física ou proibição médica),
aumentando a probabilidade de surgirem algumas doenças profissionais e/ou
acidentes de trabalho, o absentismo, e as reformas antecipadas. As faltas, as
doenças crónicas e as incapacidades dos trabalhadores obesos irão não só
sobrecarregar os restantes funcionários, como exigir mais recursos da empresa
para seleção e formação de novos trabalhadores (para os substituir) (Santos,
2011b).
Assim, o ESO pode ser um elemento chave na implementação e desenvolvimento
destes programas. Alguns autores defendem que um programa de perda de peso
laboral tem maior aceitabilidade e sucesso, quando comparado aos desenvolvidos
noutros contextos; além de que, a relação custo/eficácia para a entidade
empregadora é muito vantajosa, pelas razões atrás assinaladas.
Preparação para a reforma
A maior parte dos trabalhadores chega a esta fase sem planos específicos, pelo
que se podem sentir desorientados. O ESO, também neste contexto, está em
posição ideal para trabalhar o tema, envolvendo eventualmente parte dos que se
reformaram anteriormente, para que falem da sua própria experiência (atuando
terapeuticamente de forma bilateral). Pode ainda conciliar as necessidades
destes funcionários com horários mais flexíveis e/ou em part-time, de forma a
facilitar a transição e, simultaneamente, proporcionar um acréscimo salarial;
por sua vez, para a entidade empregadora isto poderá ser bem menos dispendioso
que recrutar, contratar e formar novos funcionários (Zinner, 2006).
O ESO poderá também sugerir que estes funcionários reformados participem em
ações de voluntariado diversificado ou até que funcionem como orientadores
vocacionais dos mais jovens; além de incentivar, claro, a realização dos sonhos
ainda não atingidos. A exploração do eventual novo papel familiar também poderá
ser abordada por este profissional de saúde (Zinner, 2006).
Ginástica Laboral
Ginástica Laboral (GL) é um conjunto de exercícios, selecionados em função dos
riscos do trabalho, de forma a compensar as estruturas mais utilizadas e a
ativar as não usadas, podendo ser classificada em preparatória, compensatória e
relaxante e incluir exercícios de alongamento/flexibilidade, respiratórios e/ou
posturais.
O programa acarreta inúmeros benefícios diretos para o trabalhador e para a
entidade empregadora. A principal desvantagem é o facto de que se poderá
considerar que o trabalhador é inadequado para o posto, pelo que se torna
necessário torná-lo mais apto, em vez de alterar a tarefa e organização do
trabalho (Santos, 2011c).
As lesões músculo-esqueléticas (na Europa constituem a doença profissional mais
frequente) associam-se a força excessiva, posturas incorretas, repetibilidade,
duração e velocidade de execução. A semiologia mais frequente é a dor/
desconforto, parestesias, astenia, ansiedade e síndroma depressivo, com maior
intensidade nos funcionários mais insatisfeitos. A sua prevenção baseia-se na
conjugação da ergonomia com a Ginástica Laboral (Santos, 2011d).
Para elaborar um programa de GL tem de se conhecer o processo produtivo e a
organização do trabalho. O número recomendado de sessões varia entre três por
semana a várias por dia, executadas no local/horário de trabalho. Não necessita
de roupa especial podendo as sessões serem orientadas por um ESO. A adesão é
determinada pelas crenças dos funcionários pois a maioria nem sequer pensa nas
consequências negativas para a saúde que o trabalho pode acarretar, sendo
complicado convencer o funcionário a ter uma atitude de prevenção nestes casos
(Santos, 2011e).
A razão custo/ benefício está quantificada em 1/6. Trata-se de uma ferramenta
extremamente útil para a equipa de SO, na medida em que proporciona a
diminuição de algumas doenças profissionais e acidentes de trabalho, bem como
maior satisfação, motivação e produtividade do funcionário e, consequentemente,
também beneficia muito a entidade empregadora (Santos, 2011e; Santos, 2011f).
A Saúde Ocupacional no mundo
A figura do ESO emerge dispersa por todos os continentes, ainda que a nível da
legislação, certificação e exercício profissional haja uma grande disparidade
entre eles (consultar quadro 1).
Quadro 1 ' Variabilidade da Enfermagem de Saúde Ocupacional, no mundo
Conclusão
O ESO poderá ter um papel muito importante (para não dizer fundamental),
completo e integrativo, numa equipa de SO, desde que bem explorado. Analisando
a forma de trabalhar em diversos países, poder-se-á tentar replicar os aspetos
mais positivos de cada local, de forma a construir o melhor perfil de
competências. Contudo, são também necessárias ações de sensibilização para as
empresas prestadoras de serviços nesta área e para as instituições clientes no
sentido de estas perceberem esta potencialidade e assim se criar a necessidade
real de existirem profissionais com estas caraterísticas no mercado.