Enfermagem de reabilitação: percurso para a avaliação da qualidade em unidades
de internamento
Introdução
O enfermeiro especialista, com um conhecimento num domínio específico de
enfermagem, assume entre outras competências comuns a melhoria contínua da
qualidade dos cuidados (Regulamento nº 122/2011). O enfermeiro, com
especialidade em reabilitação, precisa fazer emergir os elementos determinantes
da qualidade dos seus cuidados, numa perspetiva de melhoria contínua. Conforme
nos refere Fortin (2009), nenhuma profissão poderá conhecer um desenvolvimento
contínuo sem o contributo da investigação, e cada profissão deve ser capaz de
fornecer aos seus membros uma base de conhecimentos teóricos sobre a qual
assenta a sua prática, fornecer serviços de qualidade às pessoas e aos grupos
comunitários.
Este artigo pretende descrever um estudo sobre a qualidade dos cuidados de
enfermagem de reabilitação nos serviços de medicina de uma Instituição
Hospitalar Pública do Norte de Portugal. O desenvolvimento deste trabalho
orientou-se no sentido de obter respostas à questão: Que aspetos são
necessários integrar para avaliar a qualidade dos cuidados de enfermagem de
reabilitação em unidades de internamento de medicina?, tendo por referência o
estado atual da arte na avaliação da qualidade em serviços de saúde.
Enquadramento teórico
Na antiguidade já se identificavam alguns aspetos que atualmente estão
associados à qualidade, no entanto, a qualidade como conceito só surgiu na
década de 50 com Juran e Deming (Pinto e Soares, 2009). Os primeiros estudos
foram desenvolvidos para o setor da indústria, mais tarde, porém, deixou de ser
uma preocupação exclusiva deste setor de atividade e passou a ser uma
prioridade para todas as organizações, inclusive as da saúde, que procuravam o
desenvolvimento e uma saída para os problemas crónicos com que se debatiam
(Mezomo, 2001).
São inúmeros e diversos os estudos publicados na área da avaliação da
qualidade, alguns referentes aos modelos da qualidade e alguns estudos na área
da qualidade em saúde, sendo alguns deles salientados neste artigo.
O Modelo de Excelência da European Foundation for Quality Management (EFQM),
traduz uma referência em termos de qualidade a nível de definição,
implementação e desempenho das organizações para a Gestão da Qualidade Total
(GQT) (António e Teixeira, 2007).
Por sua vez, a International Standards Organization Norms (ISO 9001) da
International Organization for Standardization constitui uma referência para a
implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQ), com o objetivo de
garantir o fornecimento de produtos que satisfaçam os requisitos do cliente,
assim como a prevenção de problemas e a cultura da melhoria contínua.
Por sua vez, Eggli e Halfon (2003) propõem um modelo para a qualidade dos
hospitais baseado em quatro entidades: pacientes, atividades, recurso e
efeitos. Este modelo encontra-se hierarquizado em seis níveis, no sentido de
medir o desenvolvimento dos sistemas de gestão da qualidade. Os autores
acrescentam que os modelos conceptuais atuais da qualidade para a utilização
hospitalar apresentam deficiências, quer pela sua terminologia quer pela sua
complexidade.
Sendo considerado como o pai da qualidade em saúde (World Health Organization,
2009), Donabedian (2003) desenvolveu um modelo de avaliação da qualidade
assente em três componentes essenciais: estrutura, processo e resultado.
Apesar da controvérsia existente no meio científico acerca do melhor modelo
para a avaliação da qualidade, o quadro conceptual mais popular e utilizado
para a avaliação da qualidade dos serviços de saúde continua a ser o
apresentado por Donabedian, cuja origem se reporta a 1996. A alusão e
contemporaneidade deste modelo é enfatizada pela OMS, nas recomendações para a
cirurgia (World Health Organization, 2009).
Face a esta análise, ficamos sensíveis à existência de vários modelos mas
entendemos que o modelo de Donabedian (2003) é um caminho que nos pode ajudar a
analisar esta problemática.
A introdução de modernas técnicas e modelos de gestão e o recurso a novos
instrumentos e métodos de avaliação dos serviços de saúde, com o objetivo de
imprimir eficiência, eficácia e rigor na gestão dos recursos, assim como
corresponder às expectativas dos utentes, exige responsabilidades acrescidas
aos profissionais dos serviços de saúde como vem sendo ampla e continuamente
reconhecido, nomeadamente aos enfermeiros.
O Plano Nacional de Saúde (PNS) 2004-2010 (Portugal. Ministério da Saúde.
Direcção-Geral da Saúde, 2004), no âmbito da qualidade da prestação de serviços
de saúde, identificava uma visível escassez de cultura de qualidade do nosso
sistema de saúde e insuficiente divulgação de experiências avaliadas que
evidenciassem sinais de sucesso. Por outro lado, identificava a existência de
um défice organizacional dos serviços de saúde a nível da prestação dos
profissionais e da adequação dos contextos organizacionais, nomeadamente, a
falta de indicadores de desempenho válidos e fiáveis que apoiassem a gestão
estratégica e operacional do sistema de saúde.
Por isso, o PNS 2004-2010, com a intenção de reduzir as limitações detetadas,
apontava a necessidade de intervenções e orientações estratégicas para melhoria
da qualidade da prestação dos cuidados de saúde e para a melhoria da qualidade
organizacional dos serviços de saúde, a promoção de medidas de implementação de
programas de saúde, a aposta na acreditação, a formação de auditores na área da
qualidade e o esforço na qualidade da gestão, baseada nos princípios da
qualidade total. Por outro lado, o plano recomendava a realização de avaliações
acerca da satisfação dos utentes, do grau de satisfação dos profissionais dos
serviços de saúde e a avaliação de indicadores de desempenho das unidades de
cuidados críticos, assim como a dinamização e apoio ao desenvolvimento de
normas de orientação clínica para as profissões técnicas de vocação
assistencial e a abordagem explícita da problemática do erro médico (Portugal.
Ministério da Saúde. Direcção-Geral da Saúde, 2004).
Reconhecendo os objetivos do PNS 2004-2010 para a sedimentação de uma cultura
de melhoria contínua da qualidade, o PNS 2011-2016, em discussão, veio admitir
que ainda subsiste uma variabilidade preocupante na prática médica, problemas
de acesso, de continuidade de cuidados, atrasos na implementação de boas
práticas, negligências com impacte mediático e na saúde dos doentes, um défice
de cultura de avaliação e de monitorização e uma ampla margem de melhoria dos
cuidados que hoje prestamos aos nossos doentes (Campos e Carneiro, 2010, p.
10).
No que diz respeito à qualidade, o próximo plano aponta como determinantes para
a qualidade em saúde, a formação pós-graduada, a investigação clínica, o
estabelecimento de padrões de qualidade, a monitorização e definição de
indicadores e a avaliação interna e externa, com posterior comparação entre
prestadores. A necessidade de implementar sistemas de qualidade em saúde está
formalmente assumida por instâncias internacionais como a Organização Mundial
de Saúde e o Conselho Internacional de Enfermeiros, assim como, por organismos
nacionais. Por outro lado, considera-se prioritário a implementação de sistemas
de qualidade em saúde, assumindo o Conselho de Enfermagem (Ordem dos
Enfermeiros, 2002, p. 3) o papel de conciliar esforços tendentes à definição
estratégica de um caminho que vise a melhoria contínua da qualidade do
exercício profissional dos enfermeiros. A qualidade exige reflexão sobre a
prática ' para definir objectivos do serviço a prestar, delinear estratégias
para os atingir (Ordem dos Enfermeiros, 2002, p. 5) e às instituições de saúde
cabe o papel de criar as condições, adequando os recursos e criando as
estruturas, que promovam o exercício profissional de enfermagem de qualidade.
A enfermagem de reabilitação, sendo uma área da enfermagem que exige
conhecimentos específicos, a nível técnico e conceptual, não pode ser alheia a
este contexto necessita de instrumentos de avaliação da qualidade precisos.
Sendo um facto que a natureza multiprofissional e multidisciplinar da
qualidade em saúde é influenciada pela qualidade do exercício profissional dos
enfermeiros (Pereira, 2011, p. 69).
Metodologia
Os métodos de investigação harmonizam-se com os diferentes fundamentos
filosóficos que suportam as preocupações e as orientações de uma investigação
(Fortin, 2009). Daí que a escolha da metodologia tenha que estar intimamente
relacionada com a problemática em estudo e também com o estado dos
conhecimentos à volta da mesma. A mesma recaiu sobre uma epistemologia
qualitativa, através de um estudo de campo, porque pretendemos entender a
realidade na sua complexidade e no seu contexto natural.
As diferentes fases deste percurso são ilustradas na figura 1. Foi solicitada
autorização ao Concelho de Administração da respetiva instituição de saúde e
por sua vez à Comissão de Ética, tendo obtido parecer positivo. Ao longo do
estudo foi salvaguardado o anonimato dos participantes.
FIGURA 1 ' Diagrama do estudo
É neste cenário que sentimos a necessidade de investigar: Que aspectos são
necessários integrar para avaliar a qualidade dos cuidados de enfermagem de
reabilitação em unidades de internamento de medicina? uma vez que, a melhoria
continua da qualidade da assistência, no sentido de atingir a excelência, é um
processo dinâmico e exaustivo de identificação permanente dos factores
intervenientes no processo de trabalho da equipe de enfermagem e requer do
enfermeiro a implementação de acções e a elaboração de instrumentos que
possibilitem avaliar de maneira sistemática os níveis de qualidade dos cuidados
prestados (Mota, Melheiro, e Tronchin, 2007, p. 10). Existindo a necessidade
de elaborar e validar indicadores capazes de mensurarem a qualidade da
assistência de enfermagem de reabilitação, mas também de compreender que
condições são necessárias para que a qualidade ocorra.
Este percurso, ilustrado na figura 2, foi fundamentado pelo modelo proposto por
Avedis Donabedian, na década de 60, baseado em três componentes do cuidado em
saúde: estrutura, processo e resultado, a par com o conhecido ciclo de melhoria
contínua, proposto por Deming, ao longo do qual o autor acredita numa abordagem
sistemática para a identificação e solução de problemas, também denominado de
ciclo PDCA, ou seja, Plan, Do, Check, Act.
FIGURA 2 ' Fusão do modelo de Donabedian com o ciclo PDCA de Deming
(Adaptado de Donabedian, 2003; António e Teixeira, 2007)
As questões que nortearam este percurso foram: que fatores convergem para a
qualidade do desempenho dos enfermeiros de reabilitação?; que processos de
trabalho desenvolvem os enfermeiros para garantir a qualidade dos cuidados de
enfermagem de reabilitação?; que aspetos são necessários reunir para garantir
resultados nos cuidados de enfermagem de reabilitação?
Sendo os objetivos delineados para esta investigação os seguintes: descrever os
processos de trabalho desenvolvidos pelos enfermeiros de reabilitação para
garantir a qualidade da assistência em unidades de internamento de Medicina;
analisar as condicionantes do desenvolvimento dos cuidados de enfermagem de
reabilitação no que diz respeito à estrutura, processo e resultado; compreender
os desenvolvimentos dos cuidados realizados pelos enfermeiros de reabilitação,
como fontes de garantia da qualidade na assistência de reabilitação.
A população definida para esta intervenção foi constituída por indivíduos que
têm a experiência de um fenómeno particular, possuem uma experiência e um saber
pertinente (Fortin, 2009), ou seja, integraram este percurso, enfermeiros com
especialidade em enfermagem de reabilitação dos serviços de medicina. A seleção
do conjunto de entrevistados decorreu de modo intencional. Neste sentido,
definimos os seguintes fatores de inclusão para participar no estudo: ser
enfermeiro com a especialidade de reabilitação há mais de seis meses; exercer
funções no serviço de medicina, e prestar cuidados diretos ao doente e família.
Consideramos como fator de exclusão para participar no estudo, os enfermeiros
de reabilitação que estão apenas na gestão de unidades.
Recorremos à entrevista semi-estruturada como instrumento de recolha de dados.
Após a transcrição das entrevistas, foi feita uma primeira leitura de todas as
entrevistas e de seguida feita a sua codificação, organizando quadros de
referência. Aqui foram definidas categorias, subcategorias e unidades de
registo, que ordenaram a informação. Os discursos produzidos pelos
entrevistados foram apreciados com recurso à análise de conteúdo, segundo os
princípios descritos por Bardin (2004).
No nosso estudo, para a categorização, foram considerados dois processos, por
um lado, algumas categorias foram definidas à priori, isto é, implicaram um
quadro de referência teórico, o Modelo de Donabedian. Por outro lado, as
categorias que foram definidas à posteriori, isto é, identificando e
evidenciando as propriedades do texto e das unidades de registo.
Resultados e discussão
Os sujeitos que integraram o estudo têm entre 27 e 47 anos de idade, situando-
se a idade média nos 33 anos, sete são do sexo feminino e cinco do sexo
masculino. Por outro lado, sete destes elementos têm Contrato em Funções
Publicas (CFP) e os outros cinco têm Contrato Individual de Trabalho (CIT).
Os 12 entrevistados desenvolvem a sua atividade entre 5 e 23 anos, trabalhando
em média há 10 anos e exercem funções de especialistas em enfermagem de
reabilitação entre os 6 e 48 meses.
Evidenciamos os resultados obtidos respondendo às nossas questões orientadoras.
Sobre os fatores que convergem para a qualidade do desempenho dos enfermeiros
de reabilitação, sobressaem a nível da estrutura os cinco temas abordados,
instalações, equipamentos, recursos humanos, equipa de assistência e recursos
organizacionais. Conforme nos refere Hesbeen (2001, p. 62), Em todas as
estruturas quer elas sejam hospitalares ou extra-hospitalares, abundam factores
que contribuem para a qualidade dos cuidados. A organização destas estruturas
não é fácil, visto abranger áreas muito práticas ou instrumentais, e em
simultâneo, aspectos muito mais subjectivos tais como o clima reinante e a
coerência do todo.
A importância das instalações foi salientada, conforme nos refere este
entrevistado As instalações são de facto um aspecto que tanto nos ajudam como
dificultam o nosso trabalho E4.
Por outro lado, a necessidade de um espaço físico adequado e o ambiente de
trabalho são referidos como aspetos essenciais das instalações, condicionando a
qualidade da prestação de cuidados de reabilitação, visíveis no seguinte
achado: por vezes quero levantar um doente e não tenho sequer onde pôr um
cadeirão, tenho que andar a tirar camas das salas para colocar um cadeirão
portanto, isso tudo condiciona um bocadinho a reabilitação. E4.
A necessidade de atualização de equipamentos, dado que alguns se encontrarem
obsoletos, a enumeração dos equipamentos imprescindíveis e o recurso ao
improviso para colmatar as lacunas existentes no âmbito dos equipamentos são
aspetos referidos nas narrativas dos participantes: As ajudas técnicas ( ) dá-
nos sempre muitas dores de cabeça E1.
As narrativas dos participantes evidenciam a importância dos recursos humanos,
conforme referido na citação seguinte: Em contrapartida às instalações, eu
acho que os recursos humanos são fundamentais , não se fazem omeletes sem ovos
E11. Nesta categoria é evidenciado a pertinência da dotação adequada os
enfermeiros de reabilitação. A diversidade da equipa é, a este nível, entendida
como inúmeros atores, descritos como intervenientes nos cuidados, nomeadamente:
enfermeiros, médicos, técnicos de saúde e assistentes operacionais.
Os recursos organizacionais são abordados pelos participantes em aspetos como,
os tipos de formação, os processos de formação, a investigação e os protocolos
de atuação.
Das narrativas dos participantes sobressaem a este nível a ausência de uma
cultura formal de formação, conforme referido no seguinte achado: não existe
um plano de formação dentro do serviço E11. A investigação é referida como um
instrumento imprescindível para o suporte da profissão embora inexistente:
Investigação não se tem feito nada E6. Conforme nos refere Apóstolo e Gameiro
(2005), uma disciplina para ser considerada cientifica tem que desenvolver
conhecimento.
No âmbito dos protocolos de atuação é visível no discurso dos participantes, o
reconhecimento da aplicabilidade destes instrumentos, no entanto, são
utilizados ainda de forma muito pouco suportada: existem os protocolos, uns
escritos, outros já mentalmente adquiridos E9.
Sobre a segunda questão que norteou este percurso Que processos de trabalho
desenvolvem os enfermeiros para garantir a qualidade dos cuidados de enfermagem
de reabilitação?, sobressaem das narrativas os atributos associados ao
processo apresentando-se divididos ao longo de quatro temas, investigação e
diagnóstico, planeamento, atividades de enfermagem e avaliação do processo.
O processo compreende todos os métodos e procedimentos utilizados para o
processamento de um determinado serviço, abordando todas as atividades que
constituem os cuidados de saúde, nomeadamente: o diagnóstico, o tratamento, a
reabilitação e a educação do cliente. Embora de modo pouco estruturado, e com
base empírica, sobressaem como temas algumas fases do processo de enfermagem:
inicialmente avalia-se o doente identifica-se as necessidades de reabilitação,
faz-se a intervenção e faz-se avaliação no decorrer do próprio dia e depois
fazemos o registo nessa folha, ainda é experimental E9.
No entanto, ainda se evidenciam algumas lacunas da documentação de um
pensamento estruturado e refletido, Os planeamentos que fazemos não são algo
formal E1.
No âmbito das atividades implementadas sobressaem a promoção da autonomia, os
autocuidados, a rede de suporte, a cinesioterapia respiratória, os processos de
gestão e prevenção de riscos, a continuidade do processo de reabilitação e a
interação com a família. Neste nível, Hesbeen (2003) refere que o espírito de
reabilitação, além de omnipresente, deve ser cultivado por todos os membros da
equipa. Nestes membros da equipa estão incluídos os elementos próximos do
doente, que também devem ser abrangidos pelo processo de reabilitação.
Sobre a avaliação do processo, emerge evidenciando como avaliar os resultados
para o doente e os resultados do ensino à família.
Na questão referente a Que aspetos são necessários reunir para garantir
resultados nos cuidados de enfermagem de reabilitação?, o atributo menos
explanado foi o resultado. Nas narrativas dos participantes observou-se uma
ausência da medição dos resultados, nós vamos avaliando mais ao menos o que é
que achamos, o que é que não achamos mas é um bocado subjectivo E6. Importa
realçar que A medição dos resultados é apenas o primeiro passo de uma série de
actividades. Para fazer correcções, tem que se andar para trás, até ao processo
que conduziu aos resultados não desejados, dai podendo ter que ir até aos
aspectos de estrutura que tenham sido responsáveis ou contribuído para os
mesmos (Silva, Varanda e Nóbrega, 2004, p. 61). Apesar de considerarem
relevante a produção de indicadores que evidenciem a efetividade dos cuidados
de enfermagem de reabilitação, os mesmos não são aplicados. Sendo o atributo
resultado, dividido em três temas: os instrumentos de avaliação, indicadores
sensíveis ao doente e os resultados da avaliação do desempenho dos recursos
humanos.
Para medir a qualidade dos cuidados, deve-se selecionar os instrumentos mais
adequados, tendo sido realçados a utilização de escalas e as auditorias.
Conforme referido nas competências do enfermeiro especialista de reabilitação é
citada a necessidade de avaliar os resultados das intervenções implementadas
monitorizando a implementação e os resultados dos programas e usando
indicadores sensíveis aos cuidados de enfermagem de reabilitação para avaliar
ganhos em saúde, a nível pessoal, familiar e social (Regulamento nº 122/2011).
Na avaliação dos resultados, é importante estabelecer, que estratégias se devem
adotar para avaliar os resultados, através de ferramentas que possam
quantificar e comparar os resultados de modo contínuo. A imprescindibilidade da
produção de indicadores e a sua utilização é reforçada no discurso dos
entrevistados. Para além da obtenção dos ganhos em saúde, aumentando o nível de
saúde nas diferentes fases do ciclo de vida e reduzindo o peso da doença,
objetivo estratégico consagrado no Plano Nacional de Saúde 2004-2010 (Portugal.
Ministério da Saúde. Direcção-Geral da Saúde, 2004) e referido pelos
entrevistados, outros indicadores foram descritos, nomeadamente, as mudanças do
estado de saúde, os conhecimentos adquiridos, a satisfação com o atendimento e
a satisfação com os resultados. Grande parte dos entrevistados salientou a
importância da avaliação da satisfação do utente. Por último a avaliação dos
recursos humanos que segundo Mezomo (2001, p. 62) O grande resultado de uma
adequada gestão dos recursos humanos é a melhoria da própria qualidade pessoal,
que por sua vez, é condição para o sucesso da organização. A este nível, a
avaliação de desempenho assume relevância visível no discurso dos
entrevistados.
Os resultados que emergem das narrativas dos participantes traduzem-se por um
conjunto de atributos, a que poderíamos denominar, tal como Donabedian (2003),
de componentes da qualidade dos cuidados de enfermagem de reabilitação em
serviços de medicina. Estes atributos aparecem agregados tal como na literatura
consultada, conjugando uma tríade de elementos sendo eles a estrutura, o
processo e o resultado.
A estrutura poderia ser o principal determinante da qualidade dos cuidados, no
entanto as variações nas características da estrutura do sistema, a menos que
sejam grandes, podem não ser significativas sobre a qualidade. Indo ao encontro
do que nos refere este entrevistado: As instalações são importantes mas não
são o fundamental E11.
Em contraposto à estrutura, as características detalhadas do processo de
cuidados de saúde podem fornecer informações válidas sobre a qualidade. De
certa forma, a afirmação Qualidade dos cuidados poderia ser tomada no sentido
Qualidade dos processos de cuidados (Donabedian, 2003).
As características detalhadas do processo de cuidados de enfermagem de
reabilitação podem fornecer informações preciosas sobre a qualidade. Mas esses
atributos derivam também de uma relação previamente estabelecida, entre o
processo e o resultado. Ou seja, dizemos que tais características do processo
significam qualidade, porque sabemos que elas contribuem para os resultados
desejáveis. Os processos de cuidados relacionam-se mais diretamente com os
resultados, do que propriamente as características da estrutura (Donabedian,
2003). Alguns autores expressam a existência de contradições entre indicadores
de processo e de resultados, uma vez que, para alguns, os indicadores de
processo perdem sentido se a sua qualidade não se refletir no resultado,
enquanto outros argumentam que os resultados dependem de fatores individuais
dos pacientes e nada têm a ver com a qualidade do processo (Paneque, 2004).
Por último, o resultado que apesar de ser descrito como o último das
componentes da avaliação da qualidade consiste no primeiro passo de uma série
de atividades, ao longo do qual é possível fazer correções, até ao processo que
conduziu aos resultados não desejados (Silva, Varanda e Nóbrega, 2004). Apesar
da controvérsia associada à avaliação dos resultados, dado que, o que mais
importa é o efeito do tratamento sobre a saúde do cliente, deve ser lembrado
que os resultados podem não ser só definidos e atribuíveis aos cuidados, podem
intervir outras variáveis, daí a necessidade de incluir todos os inputs para
o resultado final (Donabedian, 2003).
Todos os temas abordados anteriormente vêm dar resposta à nossa inquietação
inicial, Que aspetos são necessários integrar para avaliar a qualidade dos
cuidados de enfermagem de reabilitação em unidades de internamento de
medicina?, convém referir, que esta tríade de elementos não é formada por
partes autónomas e dissociadas entre si, mas sim, elementos intimamente ligados
e inter-relacionados, que mantêm uma certa linha de causalidade e efeito
(Mezomo, 2001). Isto porque, as metodologias de qualidade que hoje usamos são
como um sistema hidrográfico: o rio que dele resulta tem nascentes e afluentes
que o ajudaram a crescer ao longo do percurso que o condiciona e em que se
espraia (Silva, Varanda e Nóbrega, 2004, p. 13).
A figura 3 em forma de diagrama ilustra os achados deste estudo, reforçando a
complexidade da avaliação da qualidade, que tal como nos refere Donabedian
(2003). As relações entre estrutura, processo e resultado, e entre estrutura e
de processo e resultado, não são totalmente compreendidas. Existe uma relação
nesta cadeia de eventos em que cada evento é um fim, ao que vem antes dela, e
uma condição necessária para o que se segue. Isto indica que a relação meios-
fim entre cada par adjacente requer validação em qualquer cadeia de hipotéticos
ou reais eventos. Por outro lado, incorporando a conceção de Deming que nos
fala numa sucessão de ciclos, em que a qualidade é repensada e melhorada
continuadamente no âmbito de um processo pragmático de aprendizagem (António e
Teixeira, 2007). Indo ao encontro das competências comuns do enfermeiro
especialista, no que se refere à melhoria contínua da qualidade (Regulamento nº
122/2011).
FIGURA 3 ' Avaliação da qualidade dos cuidados de enfermagem de reabilitação em
unidades de internamento de medicina
A enfermagem de reabilitação deve avaliar a qualidade dos cuidados de
enfermagem nas vertentes de estrutura, processo e resultado (Regulamento nº
122/2011). Ou seja, implementando programas de melhoria contínua, planeados em
função da estrutura, para a prestação de cuidados de reabilitação, executados
no sentido da melhoria do processo de reabilitação, avaliados, olhando para os
resultados, e atuar, reformulando os dados anteriores. Após terminar o ciclo
reinicia-se um novo ciclo e assim sucessivamente, implicando questionar
continuamente todas as ações, guiando a enfermagem de reabilitação pelo caminho
da melhoria contínua.
Conclusão
O conceito da qualidade já percorreu um longo caminho até chegar aos nossos
dias. A qualidade em saúde é uma responsabilidade crescente, deixou de ser uma
opção, passando a ser uma obrigação. Estes aspetos refletem a centralidade da
nossa investigação, nomeadamente encontrar um percurso da sua aplicabilidade à
enfermagem de reabilitação.
Ao longo deste percurso identificamos os aspetos que seriam necessários
integrar para avaliar a qualidade dos cuidados de enfermagem de reabilitação em
três grandes vertentes, sendo elas a estrutura, o processo e os resultados, num
ciclo de melhoria contínua da qualidade dos cuidados. Foram analisadas as
condicionantes do desenvolvimento dos cuidados de enfermagem de reabilitação a
estes vários níveis, sendo eles, as instalações, equipamentos, recursos
humanos, equipa de assistência, recursos organizacionais, investigação e
diagnóstico, planeamento, atividades de enfermagem, avaliação do processo,
instrumentos de avaliação, indicadores sensíveis ao doente e resultados da
avaliação do desempenho dos recursos humanos.
Nos processos de trabalho desenvolvidos pelos enfermeiros de reabilitação para
garantir a qualidade da assistência em unidades de internamento de medicina,
realça-se a ausência de processos estruturados e sistemáticos de avaliação da
qualidade, embora de expressos por alguns entrevistados, mas pouco explícitos.
No decurso das entrevistas foi sentido, a necessidade de uma cultura de
qualidade, o que reforça a necessidade de formação e envolvimento dos
profissionais numa política de melhoria contínua da qualidade. A presente
pesquisa procurou obter mais-valias para o desenvolvimento de uma política de
qualidade e com isso contribuir para a melhoria de cuidados.
Sugerimos que sejam desenvolvidos novos estudos com outros elementos,
integrando, paralelamente, enfermeiros de reabilitação da prestação de cuidados
e enfermeiros com cargos de gestão e formação no âmbito da qualidade. Também
consideramos pertinente a realização futura, de estudos de campo noutros
estabelecimentos de saúde.