Desmame precoce: aspetos da realidade de trabalhadoras informais
Introdução
O leite materno previne contra doenças, processos infeciosos e evita morte
prematura. Os benefícios da amamentação se estendem ao longo da vida evitando
riscos e doenças que venha aparecer mais tarde como diabetes, obesidade e
outras doenças crônicas (Marques et al., 2010).
Nos primeiros seis meses de vida, o leite materno é naturalmente adequado para
atender às necessidades biológicas do crescimento e desenvolvimento do ser
humano, pois este leite proporciona efeito protetor imunológico, principalmente
contra infeções em lactentes (Barbosa et al., 2007).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam
aleitamento materno exclusivo por seis meses e complementado até aos dois anos
ou mais. Não há vantagens em se iniciar os alimentos complementares antes dos
seis meses, podendo, inclusive, haver prejuízos para a saúde da criança, pois a
introdução precoce de outros alimentos está associada a prejuízos nutricionais.
Segundo Souza e Rodrigues (2010), as mulheres inseridas no mercado de trabalho
dividem suas tarefas entre o trabalho doméstico e o trabalho pago, pois com a
maternidade passam a exercer um novo papel na sociedade, o de mãe. A maioria
das mães não trabalha fora do lar, portanto esse motivo não as impede desse
procedimento. Já as mulheres que trabalham fora e não têm outro meio de
sobrevivência para o sustento do bebê necessitam de condições favoráveis à
manutenção do aleitamento no horário e local de trabalho para que as
dificuldades, mesmo com o amplo conhecimento dos benefícios do leite materno,
não levem ao desmame precoce.
Pesquisas realizadas por Faleiros, Trezza e Caradina (2006), alertam sobre a
importância da carga horária de trabalho da mulher como influência para o
desmame precoce se excedente a 20 horas semanais. Nesta mesma linha de
raciocínio, os autores referem que a maioria das mulheres não trabalha fora,
portanto não constitui esse evento o motivo maior do desmame precoce, mas por
outro lado alguns autores concluem que o retorno ao trabalho só não é empecilho
se houver condições favoráveis para a manutenção do aleitamento exclusivo. A
falta de condições e a falta de conhecimentos sobre a amamentação aumenta ainda
mais o índice do desmame precoce.
Em 1943, a Consolidação das Leis do Trabalhistas (CLT), no artigo 396, concede
à mulher, durante a jornada de trabalho, o direito a dois descansos especiais,
de meia hora cada um, para amamentar o próprio filho até que este complete seis
meses de idade. Este período de seis meses poderá ser dilatado, a critério do
médico, dependendo das condições de saúde da criança (Souza e Rodrigues, 2010).
Torna-se preocupante observar que grande parte das instituições empregatícias
não executa as obrigações, mesmo existindo a lei que dispõe direitos à mulher
trabalhadora para aleitar seu filho por pelo menos seis meses de vida. Estudo
mostra que instituições de médio e grande porte executam parcialmente as leis
de proteção à maternidade. Porém a CLT não inclui as mulheres trabalhadoras
informais que não contribuem com a previdência social, deixando-as sem respaldo
sob os direitos à amamentação, cabendo ao empregador a opção sobre essa
concessão ao direito (Silva e Davim, 2012).
Frente ao exposto, emergiram as questões que subsidiaram o estudo: Qual o
entendimento das trabalhadoras informais sobre o aleitamento materno? Quanto
tempo depois do parto elas voltaram a trabalhar? Elas tiveram apoio da família
para conseguir amamentar? O trabalho prejudicou a amamentação e/ou contribuiu
para o desmame precoce?
Assim, para elucidar os questionamentos expostos, esta pesquisa teve como
objetivo verificar o entendimento e a realidade das trabalhadoras informais em
relação à amamentação na cidade de João Pessoa - PB.
Metodologia
Este estudo tratou-se de uma pesquisa exploratória, descritiva e com abordagem
quanti-qualitativa, realizada no Mercado Central situado na cidade de João
Pessoa - PB. A população do estudo foi composta por todas as mulheres que
trabalham de maneira informal no Mercado Central e a amostra foi constituída
por 30 trabalhadoras que concordaram em participar da pesquisa.
Para consubstanciar a pesquisa foram utilizados os seguintes critérios: ser
maior de 18 anos; trabalhar no local da coleta; ter tido filho nos últimos dois
anos; ter desmamado precocemente antes dos 6 meses; residir no município da
investigação.
A coleta de dados foi realizada no mês de abril de 2010 em horários previamente
agendados. Ao início de cada entrevista foi explicitado o objetivo da pesquisa,
com a finalidade de obter maior aproximação entre entrevistador-informante e
também um maior esclarecimento sobre o que estava sendo realizado. Para a
realização da coleta foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturado, o
qual foi dividido em duas partes: dados socioeconómicos das trabalhadoras
informais e questões relacionadas à temática estudada, o desmame precoce. Todas
as entrevistas foram gravadas e transcritas de forma literal a fim de garantir
a sua originalidade.
A análise dos dados foi realizada através da técnica de análise de conteúdo
utilizando-se a modalidade temática. Foram adotados, para a análise de conteúdo
das falas, os seguintes passos propostos por Bardin (2009): leitura do material
para entendimento do todo; identificação dos pontos convergentes nos
questionamentos; agrupamentos de ideias semelhantes; e identificação de
categorias que foram denominadas de acordo com os significados em cada
agrupamento.
A colheita de dados somente foi iniciada após a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) da Faculdade de Enfermagem e Medicina Nova Esperança ' FACENE/
FAMENE, sob o número de protocolo 25/2010 e CAAE 0249.0.000.351-10, levando em
consideração a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que trata
de pesquisa envolvendo seres humanos.
Resultados e discussão
Caracterização sócio-demográfica da população e amostra
Para a caracterização da amostra foram utilizadas as seguintes variáveis:
idade, estado civil, escolaridade, renda familiar, religião, quantidade de
filhos e carga horária de trabalho. No que diz respeito à variável idade,
constatou-se que 13 (43%) mulheres se encontravam na faixa etária compreendida
entre 19 e 34 anos. A distribuição da amostragem em relação à variável estado
civil demonstra a prevalência no status de solteira, correspondendo a um total
de 40%. Com relação aos dados obtidos na variável escolaridade observa-se que
18 (60%) entrevistadas possuem ensino fundamental incompleto. Relativamente à
variável renda familiar, verificou-se que 19 (63%) entrevistadas ganham entre 1
e 3 salários mínimos. Sobre a variável religião constatou-se que 17 (57%)
participantes afirmaram ser católicas. Com relação à variável quantidade de
filhos, visualizamos que 13 (43%) entrevistadas possuem dois filhos. No que diz
respeito à variável carga horária trabalhada por dia, verificou-se que 10 (33%)
participantes trabalham mais de 14h/dia, como demonstrado na (Tabela_1).
Com relação à idade, o estudo feito por Bruschini (2007) revelou que diversos
fatores, como a expansão da escolaridade e o ingresso nas universidades,
contribuíram para que tanto o crescimento da atividade feminina quanto o perfil
da força de trabalho sofresse transformações ao longo dos anos. As mulheres no
final dos anos 70, em sua maioria, eram jovens, solteiras e sem filhos.No
início do século 21, estas passaram a ser mais velhas, casadas e mães. Em 2005,
a mais alta taxa de atividade feminina (74%) é encontrada entre mulheres de 30
a 39 anos.
Os dados obtidos com relação ao estado civil são importantes, pois sabe-se que
o apoio do companheiro nesse processo pode representar um elemento
significativo de apoio emocional à nutriz. O estudo de Silva, Santiago e
Lamonier (2012) citou que dentro de todos os familiares e pessoas próximas à
puérpera, o pai presente e atuante é considerado o suporte de maior relevância
para o aleitamento na visão da mãe.
A influência do pai foi considerada como um dos principais motivos para que a
mulher decidisse amamentar e persistisse nessa condição, ou seja, o pai
contribuiu fortemente para o aumento da incidência e prevalência do aleitamento
materno, é por isso necessário que possua conhecimento sobre a amamentação.
Porém, tem sido evidenciado que existem dúvidas frequentes, o que demonstra a
importância da intervenção profissional; que a maioria das mulheres sente o
desejo de amamentar no primeiro trimestre da gestação, considerando a
influência do pai nesta decisão; e uma maior prevalência da amamentação nas
mulheres casadas ou com relacionamento estável, o que nos permite concluir que
existe uma relação com a presença cotidiana do pai/companheira (Silva, Santiago
e Lamonier, 2012).
Os resultados encontrados sobre a escolaridade são semelhantes a um estudo
realizado em 2007 na Paraíba, em que constatou-se que quanto à escolaridade
9,3% das mulheres declararam ser analfabetas, 64,1% com o primeiro grau
incompleto, 19,8% com escolaridade entre primeiro e segundo graus e somente
1,1% das mães declarou ter o terceiro grau (Vianna et al., 2007).
Sobre a renda familiar, Bruschini (2007) verificou que os mais baixos salários
recebidos pelas mulheres, quando comparados aos dos homens, são reafirmados
quando se considera a quantidade de horas de trabalho, a posição na ocupação, a
escolaridade e os setores económicos. Em 2005, a maioria das mulheres (35,9%)
recebia menos de um salário mínimo, enquanto que a maioria dos homens ganhava
entre 1 e 2 salários mínimos.
Com relação à religião, percebemos que diante do constante crescimento dos
evangélicos no Brasil, o catolicismo ainda opera em primeiro lugar na amostra,
embora a porcentagem de evangélicos neste estudo tenha sido mais alta do que a
média nacional. Podemos perceber estes dados no estudo de Campos (2008), visto
que ele compara os resultados do censo de 1960 e 2000, constatando a queda na
porcentagem de católicos de 95,2% da população para 73,9%; enquanto que os
evangélicos subiram de 2,6% para 15,6%; os sem religião, que eram apenas 0,2%
da população, atingiram a marca dos 7,4%.
A respeito da quantidade de filhos, percebe-se que um dos motivos para a
redução do número da natalidade são os gastos com a educação infantil, que
podem estar influenciando essa estratégia de formação das famílias, pois nos
dias atuais a maioria dos casais preferem ter no máximo 3 filhos. A princípio,
o declínio do número de filhos significa uma redução do trabalho reprodutivo e
pode repercutiu-se positivamente na capacidade das mulheres de aumentarem a sua
inserção no mercado de trabalho e em conciliarem trabalho e responsabilidades
familiares (Sorj, Fontes e Machado, 2007).
A análise da longa duração da jornada de trabalho é um bom indicador do peso
que as responsabilidades familiares têm para as mulheres. Segundo Bruschini
(2007), é de suma importância que o tempo que a mulher gasta nos afazeres
domésticos também seja contabilizado, visto que em seu estudo foi constatado
que as desigualdades de gênero são bastantes evidentes, já que enquanto 90% das
mulheres responderam que são responsáveis pelos afazeres domésticos, pouco
menos de 45% dos homens deram respostas semelhantes. Quando se analisou o tempo
de dedicação a este trabalho, segundo o tempo médio de horas semanais, o das
mulheres foi de 27 horas semanais e o dos homens pouco mais de 10 horas.
Sorj, Fontes e Machado (2007) observaram que as mulheres, na maior parte das
vezes, ocupam postos de trabalho informais, sem carteira assinada, ou estão em
empregos sem remuneração. Um grande número de mulheres casadas também se ocupa
do trabalho doméstico.
Unidade temática central
A Unidade Temática Central configurou-se a partir dos depoimentos das
participantes, nomeando-se em: A correlação entre o Trabalho Informal e a
Amamentação.
É importante relatar que todas as profissionais entrevistadas foram
caracterizadas em, respectivamente como: Trabalhadora 1 (T1), Trabalhadora 2
(T2)... Trabalhadora 30 (T30). E, de acordo com as respostas fornecidas,
classificaram-se as seguintes categorias: A duração da amamentação em foco;
Amamentar o filho: mitos e dificuldades; A família como alicerce da mulher que
trabalha; A importância da amamentação sob o olhar materno; e A influência do
trabalho na amamentação.
Categoria 1: A duração da amamentação em foco
As evidências epidemiológicas das vantagens do aleitamento materno são
inúmeras. Estudos comprovam a proteção do leite materno contra infeções
respiratórias, além de reduzir a mortalidade infantil. Relatos na literatura
confirmam a importância do leite materno na diminuição do risco de doenças
autoimunes, doença celíaca, doença de Crohn, diabetes mellitus, colite ulcerosa
e linfoma. Por isso deve-se preconizar o aleitamento materno exclusivo até pelo
menos os 6 meses de idade (Nelas, Ferreira e Duarte, 2008).
Em relação à duração da amamentação, as participantes do estudo revelaram
tempos diferentes, que variaram desde 6 meses até cinco anos, o que caracteriza
as particularidades de cada uma:
[...] todos os dois mamaram até os sete meses [...]. (T25
[...] todos eles mamaram até os dois anos [...]. (T17)
[...]mamaram até os cinco anos e ainda tive três filhos de leite [...]. (T8)
Segundo a Organização Mundial de Saúde (2009) uma criança é considerada em
aleitamento materno exclusivo quando se alimenta somente do leite materno,
diretamente da sua mãe ou ama de leite, ou ordenhado, não sendo ofertado nenhum
outro líquido ou sólido. Atualmente sabe-se que a administração de outros
líquidos, além do leite materno, nos primeiros quatro meses de vida da criança,
pode interferir negativamente na absorção de nutrientes causando consequências
negativas para o bebê (Nelas, Ferreira e Duarte, 2008).
Mesmo diante deste fato, há casos de mulheres que não amamentam até aos seis
meses, como é preconizado pelo Ministério da Saúde (2009), como podemos
observar nas falas a seguir:
[...] meu primeiro filho não mamou, porque nasceu um caroço no meu peito aí
tive que fazer uma cirurgia e não pude amamentar [...]. (T20)
[...] mamou até os dois meses só, porque tive que voltar ao trabalho. (T21)
[...] todos mamaram até quatro meses só [...]. (T7)
Existem diversos motivos que podem levar as mulheres a não amamentarem seus
filhos, como o regresso ao trabalho, a solidão para enfrentar dores e
dificuldades, as inseguranças, a preocupação estética, o desejo de voltar a
tomar pílula, dentre outros. Todas as entrevistadas amamentaram, com exceção de
uma que referiu não amamentar os seus filhos:
[...] nenhum mamou, porque eu tinha que trabalhar o dia todo [...]. (T29)
Categoria 2: Amamentar o filho: mitos e dificuldades
Corroborando com o que foi citado na categoria anterior, sabe-se que existem
várias dificuldades que levam as mulheres a não amamentar os filhos, como
questões sociais, culturais, religiosas, estéticas, dentre outras. Além disso,
algumas doenças inerentes à gestação e ao puerpério muitas vezes fazem com que
o ato de amamentar, por afetarem diretamente a saúde da mulher, seja impedido.
As doenças mamárias mais comuns que podem aparecer durante o puerpério são:
mastite, ingurgitamento mamário, trauma mamilares (eritema, edema, fissuras,
bolhas), dentre outros.
Nessa perspetiva, as participantes do estudo revelaram as dificuldades
encontradas na realidade delas:
[...] nasceu uma ferida que doía e eu não conseguia amamentar [...]. (T14)
[...] no meu primeiro filho meu peito não queria fazer bico, aí dificultou a
amamentação [...]. (T18)
[...] no começo tive dificuldade, meu filho não conseguia sugar o peito e
chorava muito [...]. (T23)
Oliveira et al. (2011) dizem que as crenças e tabus são capazes de determinar a
prática do aleitamento materno, visto que a crença da nutriz pode influenciar
positiva ou negativamente a continuidade da amamentação. Em nosso contexto, a
palavra mito quer dizer história ou conjunto de histórias que fazem parte da
cultura de um povo. Tais histórias tentam explicar fenômenos incompreendidos ou
sem resposta comprovada, como pode ser percebido nas falas a seguir:
[...] como eu dava de mamar no meio da feira, o leite ficava quente, aí
mandavam eu tomar água pra esfriar o leite [...]. (T3)
[...] a única dificuldade era quando eles não queriam o peito porque tava
salgado, aí eu me aperreava e dava outras comidas [...]. (T7)
[...] eu dava de mamar muito tempo ai por isso eu vivia desmaiando [...]. (T1)
É visto ainda a permanência da falta de informação da população com relação à
amamentação, talvez pela baixa escolaridade ou até mesmo pela falta de
orientação sobre como viabilizar esse ato, desmotivando a mãe a insistir em dar
o peito a seu filho.
Categoria 3: A família como alicerce da mulher que trabalha
Segundo Nelas, Ferreira e Duarte (2008), a mulher assumiu um papel na sociedade
contemporânea de extrema importância; se a mulher em determinada sociedade tem
uma alta participação no mercado de trabalho, o seu papel materno pode ser
pouco valorizado, logo a amamentação pouco fomentada.
Porém, a família pode assumir um papel importante na adesão e continuidade da
amamentação, como afirmam Brant, Affonso e Vargas (2009), ao considerarem que a
família aparece como a grande incentivadora da amamentação exclusiva, assim
como, aquela que auxiliará na construção do vínculo entre a mãe e o bebê.
Quando a mãe é cercada de pessoas que realmente conseguem apoiá-la e ajudá-la,
os sentimentos de autoconfiança, satisfação emocional tendem a aumentar, assim
como a disposição de dar afeto ao bebê.
Desse modo, os depoimentos confirmam o que dizem os autores, evidenciando que a
família auxilia diretamente na amamentação:
[...] minha mãe influenciou, ela me ajudou muito com o primeiro filho, porque
eu era muito nova e tinha que estudar e trabalhar. (T24)
[...] quando engravidei minha mãe já me levava nas palestras do bairro pra
aprender como amamentar direito, qual a importância do leite da mãe pro filho e
ela sempre me apoiou nesse sentido [...]. (T30)
[...] Influenciaram (familiares) para que eu não deixasse de dar de mamar até
que eles recusassem o peito. (T4)
Diante disso, é fato que a família é de fundamental importância para o sucesso
do aleitamento materno, devendo apoiar a mãe que amamenta e ser uma fonte de
encorajamento para auxiliar na construção do vínculo entre a mãe e o bebê. Sem
o apoio da família, o aleitamento materno pode não ter sucesso e o desmame pode
acontecer mais precocemente.
Categoria 4: A importância da amamentação sob o olhar materno
Como já dito anteriormente, o leite materno, além de possuir custo zero,
proporciona incontáveis benefícios para a criança e para a mãe sendo, assim, o
alimento de melhor custo-beneficio para a família em todos os aspetos (Oliveira
et al., 2011).
Cabe ressaltar que a amamentação envolve um padrão mais complexo, um elo de
comunicação psicossocial entre mãe e bebê. Portanto, esse processo não está
ligado somente a fatores de ordem biológica, mas a mulher vivencia esse momento
com grandes transformações psicológicas e emocionais que determinam a sua
decisão de amamentar (Brant, Affonso e Vargas, 2009).
Portanto, essa decisão está integrada na sua história de vida e no sentido que
atribui a esse ato. Assim, essa opção pessoal da nutriz passa por diversas
questões socioculturais, biológicas, psicológicas e emocionais (Carvalho e
Tamez, 2010).
Diante disto, foi evidenciado que o leite materno é percebido como um elemento
benéfico e imprescindível à saúde da criança, particularmente nos primeiros
meses de vida. Quando questionadas a respeito da importância da amamentação a
maioria relatou:
[...] acho importante demais amamentar, porque o leite da mãe é mais forte pra
eles do que o leite de lata [...]. (T3)
[...] é um gesto de carinho da mãe com os filhos, e previne doenças [...]. (T4)
[...] todo bebê que mama cresce mais saudável, e como só precisam do leite da
mãe até os seis meses,
[...] é uma economia pra gente, porque não precisa comprar outros alimentos
[...]. (T24)
Categoria 5: A influência do trabalho na amamentação
Estudos revelam que o trabalho materno fora do domicílio apresenta maior risco
para o oferecimento de leite de vaca e outros alimentos ao bebê. Portanto, é
possível especular que a crescente participação da mulher no mercado de
trabalho tem aumentado o risco do oferecimento precoce de alimentos diferentes
do leite materno, em especial, o leite de vaca, tornando o regime alimentar
incompatível com as diretrizes da alimentação saudável nos dois primeiros anos
de vida (Demétrio, Pinto e Assis, 2012).
Os autores supracitados comentam sobre a importância de se criarem espaços para
a prática da amamentação no ambiente de trabalho, visto que esta estratégia
contribuiria para a maior duração do aleitamento materno. Porém, o nosso estudo
ocorre num local público, onde os trabalhadores são informais, dificultando a
criação de um local que tenha essa finalidade.
Como podemos perceber através dos discursos apresentados abaixo, a maioria das
mães não desistiu de amamentar os seus filhos devido ao trabalho:
[...] eu deixava eles em casa e vinha trabalhar, aí só mamavam antes que eu
saísse. Mas de doze horas eu mandava uma mamadeira cheia de leite, e só
voltavam a mamar à noite [...]. (T2)
[...] no começo eu trazia eles pra cá (feira), mas depois não deu certo, aí
tive que deixar as crianças em casa, e só mamavam quando eu chegava [...].
(T14)
[...] tive que trabalhar e deixar eles em casa com alguém tomando conta, aí
deixava leite em mamadeira, mas não era o suficiente, eles foram se acostumando
com mingau. (T16)
Alguns estudos afirmam que há influência do trabalho na amamentação, no entanto
22 trabalhadoras entre as 30 entrevistadas, responderam que o trabalho não
influenciou na amamentação dos seus filhos:
[...] meu trabalho nunca atrapalhou em nada, porque eu trazia eles pra cá
(feira), foram praticamente criados aqui dentro [...]. (T2)
[...] parava o trabalho rapidinho só enquanto dava o peito, mas sempre recebia
ajuda [...]. (T7)
[...] deixava a mamadeira cheia de leite enquanto trabalhava, na hora do almoço
voltava pra casa, dava o peito e deixava mais leite na mamadeira. Foi corrido,
mas ele mamou direitinho [...]. (T22)
Tais resultados demonstram uma interface positiva da amamentação para mulheres-
mães-trabalhadoras, trazendo à tona a questão do desejo de continuar
amamentando mesmo no período pós licença maternidade, quebrando o paradigma de
que esse fator influencia de maneira limitante e direta o desmame precoce e que
se pode, apesar das dificuldades encontradas e do sacrifício pessoal de
encontrar alternativas para essa prática, conciliar o prazer de amamentar com a
responsabilidade de permanecer ativa laboralmente.
Conclusão
À guisa dos resultados, observou-se que a amamentação é um processo natural e
seus benefícios, tanto para o bebê quanto para a mãe, são inúmeros, promovendo
o seu desenvolvimento físico e o bem estar emocional. Porém, mesmo conhecendo o
valor do leite materno e do ato de amamentar, o desmame precoce se destaca por
sua frequência, muitas vezes em decorrência das dificuldades enfrentadas pelas
mães em relação ao aleitamento materno.
O presente estudo reforçou as evidências sobre os benefícios da amamentação,
enfatizando que a experiência da maternidade traz muitas mudanças,
especialmente para a mãe, que tende a responder a esta nova fase de acordo com
as suas características pessoais e a sua habilidade de solicitar e aceitar
apoio de outras pessoas.
Conhecer o comportamento das mães trabalhadoras informais em relação à temática
proposta traçou um perfil real situacional diante do fato que conciliar o
trabalho com amamentação aflige muitas dessas mulheres. Muitas reconhecem a
importância do leite para o bebê e não querem privá-lo desse benefício, criando
assim alternativas para continuar com o aleitamento, das quais se destacam:
transportar o lactente para o local de trabalho, alternando o trabalho com o
horário das mamadas; e realizar a ordenha e deixar armazenados em casa
recipientes que contenham a quantidade suficiente para saciar o bebê.
Dessa forma, é visto que o problema do desmame precoce entre as trabalhadoras
informais que participaram deste estudo não condiz com a realidade de muitas
mulheres brasileiras, pois ao contrário do que esperávamos a maioria das
mulheres não desmamou precocemente seus filhos.
É de suma importância que haja incentivos do governo nesse sentido e maior
disponibilidade de emprego formal para todos, visto que apenas assim a
realidade no nosso país seria diferente, isto é, todas as mulheres teriam o
direito de cuidar dos seus filhos de maneira digna e adequada, podendo colocar
em prática um ato tão sublime e importante para a saúde e vida de uma criança,
a amamentação. Entendendo que nenhum trabalho científico encerra verdades
absolutas, esta pesquisa abre um leque de possibilidades para que futuros
pesquisadores se apoiem nessa ideia e desenvolvam novas pesquisas sobre esta
temática, que é relevante e de suma importância para a diminuição da
mortalidade infantil.