Construção de cartas centílicas da coordenação motora de crianças dos 6 aos 11
anos da Região Autónoma dos Açores, Portugal
Introdução
O interesse pelo estudo de diferentes facetas do desenvolvimento motor de
crianças, sobretudo no que diz respeito à sua coordenação motora (CoM), tem
ganho algum destaque sobretudo em termos pedagógicos e clínicos(
9, 22, 21, 19, 20, 25, 31, 12, 3
).
A pertinência do estudo da CoM está directamente relacionada com as mudanças
verificadas ao longo do tempo nas mais variadas facetas e expressões de
comportamento motor das crianças e da sua interacção contínua em factores
mutáveis, ou não, do seu ambiente. As crianças e jovens são cada vez mais
sedentárias(
2
), assumindo estilos de vida dependentes das novas tecnologias, robotização e
meios de transporte motorizados. A insuficiência de Actividade Física e
Desportiva (AFD) em quantidade e qualidade (nas idades de escolaridade básica)
origina problemas de coordenação que irão reflectir-se negativamente no
processo de aprendizagem motora, assim como no desenvolvimento dos mais
variados padrões motores e capacidades cognitivas(
34, 30
).
Daqui que não sejam de estranhar as posições oficiais de educadores nos grandes
objectivos dos programas de Educação Física neste nível de ensino. Em Portugal,
por exemplo, o Programa Oficial de AFD para o 1º Ciclo do Ensino Básico (CEB),
aprovado pelo Ministério de Educação, expõe entre outras as seguintes
finalidades: Na perspectiva da qualidade de vida, da saúde e do bem-estar: (1)
melhorar a aptidão física, elevando as capacidades físicas de modo harmonioso e
adequado às necessidades de desenvolvimento do aluno; (2) promover a
aprendizagem de conhecimentos relativos aos processos de elevação e manutenção
das capacidades físicas; (3) promover o gosto pela prática regular das
actividades físicas e aprofundar a compreensão da sua importância como factor
de saúde ao longo da vida e componente da cultura, quer na dimensão individual,
quer social (
17
). A Escola é a instituição com maior encargo na implementação destas
directivas, que na tentativa de desenvolver hábitos de vida activa e desportiva
nas crianças e jovens depara-se muitas vezes com diversas dificuldades, como é
o caso dos espaços e materiais inexistentes ou inadequados, o tempo útil de
prática desportiva que é insuficiente, turmas com elevado número de alunos,
entre outros, dificultando o cumprimento dos programas e o alcance das
finalidades mencionadas.
Estranhamente, no mesmo programa, nada é referido de forma explícita o
desenvolvimento das capacidades coordenativas que tão importantes são nas
idades dos alunos do 1º CEB, pois estas têm interferência no ritmo, assim como
no modo de aprendizagem das técnicas desportivas, sua posterior estabilização e
utilização em diversas situações(14).
Preocupações de carácter pedagógico e clínico têm condicionado a investigação
no âmbito da CoM com o intuito de obter informações mais detalhadas acerca das
mudanças que ocorrem no tempo, dos predictores responsáveis pela alteração nas
médias e variabilidade interindividual, sua relação com a formação integral dos
alunos, bem como com a associação da qualidade do movimento à presença ou
ausência de insuficiências coordenativas. Praticamente toda a pesquisa
realizada no domínio da CoM a partir do uso da bateria de testes KTK
(Körperkoordination Test für Kinder) tem sido de natureza experimental ou quase
experimental(
22, 29, 35,
), descritiva e inferencial(
9, 8, 1, 3
), nalguns casos predictiva(26) e raras vezes longitudinal(
18, 33
). Estes estudos oriundos dos Estados Unidos da América, Alemanha, Brasil,
Portugal ou Perú têm centrado a sua atenção em amostras de dimensão muito
díspar cuja aplicabilidade local é da maior relevância em termos educativos.
Contudo, nunca abordaram o problema da validade transcultural dos valores
normativos dos autores alemães(18) tão pouco construíram cartas centílicas do
desenvolvimento da CoM. Uma das formas mais interessantes de apresentar o
comportamento dos valores da CoM das crianças é a partir de cartas centílicas,
que permitem especificar valores de referência, traçar perfis multidimensionais
das crianças, e posicioná-las em termos centílicos relativamente a uma
população estudada, de acordo com a idade e sexo. A relevância clínica e
epidemiológica de cartas centílicas do crescimento estatuto-ponderal é por
demais evidente, e nada obsta, bem pelo contrário, que o mesmo pensamento e
abordagem quantitativa sejam aplicados à CoM.
A inexistência de valores de referência portugueses relativos à CoM conduziu à
presente investigação, cujo propósito foi o de construir cartas centílicas e
respectiva distribuição de valores da CoM segundo o sexo e idade a partir da
bateria de testes KTK numa amostra representativa de crianças com idades
compreendidas entre os 6 e os 11 anos.
Material e métodos
Amostra
A amostra global é constituída por dois sub-conjuntos de dados. Um primeiro
proveniente de um estudo transversal realizado na Região Autónoma dos Açores
(RAA)(
23
). O segundo, realizado também na mesma região, contendo informação
longitudinal de crianças que foram seguidas consecutivamente durante quatro
anos(26). Enquanto que o primeiro sub-conjunto amostrou crianças de 8 de 9
ilhas, no segundo foram seleccionadas crianças de 4 ilhas. Os resultados da
avaliação coordenativa referem-se a crianças dos 6 aos 11 anos de idade, sendo
que os 6 anos correspondem a valores de idade decimal compreendidos entre os
6.00 e os 6.99; nas restantes idades, o intervalo considerado é o mesmo. O
total de observações em cada uma das provas da bateria KTK e em cada sexo está
mencionado no Quadro 1.
Quadro 1. Efectivo total de observações por prova e sexo.
Avaliação da coordenação motora
A CoM é uma estrutura multidimensional que não pode ser medida directamente,
daí que seja de elevada importância utilizar na sua avaliação uma bateria de
provas que manifeste uma adequada operacionalização(9). Os autores alemães(18)
desenvolveram a bateria de testes KTK para identificar crianças com
dificuldades de coordenação entre os cinco e os catorze anos de idade. Após
vários estudos de análise factorial exploratória, identificaram um factor
denominado como coordenação corporal, que continha os quatro testes actuais da
bateria KTK: 1. Equilíbrio em marcha à retaguarda (ER), cujo objectivo é
caminhar à retaguarda sobre três tábuas de diferentes larguras. É contado o
número de passos que o aluno dá em cada uma delas sem apoiar o pé no chão. O
resultado é igual ao somatório dos apoios realizados; 2. Salto monopedais (SM),
que consiste saltar a um pé (inicia com o pé preferido) por cima de uma ou mais
placas de espuma sobrepostas, colocadas transversalmente na direcção do salto.
A recepção é realizada com o pé com que iniciou o salto, não podendo tocar com
o outro no chão; 3. Saltos Laterais (SL), que corresponde a saltos efectuados
lateralmente, com ambos os pés, devendo manter-se juntos, durante 15 segundos.
Conta-se o número de saltos; 4. Transposição Lateral (TL), que consiste na
transposição lateral das plataformas durante 20 segundos, tantas vezes quanto
possível. Conta-se o número de transposições durante o tempo limite.
No presente estudo foi considerado o desempenho em cada prova. Em momento algum
se recorreu ao seu valor estandardizado pelos autores alemães, tão pouco se
calculou o quociente motor. Esta decisão radicou no facto de não existir
qualquer estudo que tenha mostrado a validade transcultural da pontuação
sugerida pelos autores alemães dos resultados de cada prova.
Procedimentos estatísticos
Utilizaram-se os programas FileMaker Pro e Microsoft EXCEL para introdução e
controlo de dados. Realizou-se a análise exploratória dos resultados com o
propósito de avaliar a normalidade das distribuições e identificar a presença
de "outliers" no programa estatístico SPSS 15.0. Diferentes aspectos de
controlo da qualidade dos dados são referidos no primeiro trabalho realizado na
RAA(23).
As cartas centílicas foram construídas com a ajuda do modelo matemático-
estatístico LMS(
4, 5
), implementado no software LMS versão 1.32 (A program for calculating age-
related referente centiles). Muito genericamente, o método de LMS sumaria três
curvas (L=transformações de Box-Cox; M=mediana e S=coeficiente de variação),
que são suavizadas pelo uso de cubic splines estimando parâmetros pelo método
de máxima verosimilhança.
Resultados
Nos Quadros 2, 3, 4 e 5 apresentam-se os valores de LMS e respectivos centis
(P3, P10, P25, P50, P75, P90, P97) de cada uma das quatro provas do KTK para
ambos os sexos e ao longo da idade (dos 6 aos 11 anos de idade de crianças
açorianas). As cartas centílicas estão representadas nas Figuras 1, 2, 3 e 4.
Do ponto de vista normativo, os percentis 3, 10, 25, 50, 75, 90 e 97 são
aceitáveis para descrever a forte variação que se encontra em cada prova. São
medidas de posição relativa, que determinam, para um dado valor, a percentagem
de indivíduos que se situam acima e abaixo desse valor.
Quadro 2. Valores de LMS da prova ER de crianças açorianas de ambos os sexos.
Figura 1. Curvas centílicas relativas à prova ER de crianças açorianas dos 6
aos 11 anos de idade.
Quadro 3. Valores de LMS da prova SL de crianças açorianas de ambos os sexos.
Figura 2. Curvas centílicas relativas à prova SL de crianças açorianas dos 6
aos 11 anos de idade.
Quadro 4. Valores de LMS da prova SM de crianças açorianas de ambos os sexos.
Figura 3. Curvas centílicas relativas à prova SM de crianças açorianas dos 6
aos 11 anos de idade.
Quadro 5. Valores de LMS da prova TL de crianças açorianas de ambos os sexos.
Figura 4. Curvas centílicas relativas à prova TL de crianças açorianas dos 6
aos 11 anos de idade.
Tal como seria de esperar, em todas as provas é evidente um incremento do
desempenho dos valores médios e o mesmo ocorre para categorias extremas de
performance, quer seja o P3 ou P10, ou ainda os P90 e P97. Este padrão é
evidente nos dois sexos.
Discussão
O grande propósito deste estudo foi construir cartas centílicas da CoM de
crianças dos 6 aos 11 anos de idade da RAA a partir de uma amostra mista de
informação de natureza transversal e longitudinal. Decorre daqui a necessidade
de situar a discussão e relevância dos resultados numéricos e gráficos em dois
planos: (1) metodológico e (2) pedagógico. Tem sido corrente, em Auxologia, a
construção de cartas centílicas da altura, peso e outras medidas somáticas a
partir de modelos estruturais e não estruturais(
36, 28
) com base em informação transversal(
27, 15
) e ou longitudinal(
6, 13
). Um dos modelos estatísticos mais actuais e eficientes, face à sua elegância
e versatilidade, é o LMS (4, 5) cuja aplicabilidade é corrente(
6, 27, 7, 16
). Tanto quanto julgamos saber, nada obsta a que seja utilizado em dados
contínuos de desempenho motor que mostrem um comportamento crescente ao longo
da idade. As observações relativas ao desenvolvimento coordenativo, marcado
pelos quatro testes da bateria de testes KTK, das crianças açorianas prestam-se
bem ao uso do modelo LMS. Do ponto de vista amostral há observações suficientes
para estimar, com precisão, percentis tão extremos quanto os P3 e P97(
11
). Do mesmo modo, e mesmo na presença de alguma violação da normalidade da
distribuição dos resultados em cada uma das provas nos valores discretos de
idade das crianças dos dois sexos, a transformação Box-Cox contida no modelo
permite estimar com rigor os diferentes percentis, do P3 ao P97, e construir
curvas suavizadas detalhando o comportamento das suas trajectórias ao longo da
idade. Os valores de L (transformação Box-Cox e respectiva curva) são a
expressão da assimetria da distribuição, sendo que valores de 1 reflectem uma
distribuição Gaussiana e inferiores ou superiores a 1 assimetria à direita e à
esquerda, respectivamente. Nos resultados, é notória uma tendência crescente
dos valores de L para expressar a normalidade das distribuições. Este tipo de
resultados é equivalente ao que ocorre noutros estudos de construção de cartas
centílicas para a estatura, peso ou perímetro da cintura(
32, 16, 3
). Os valores de M (mediana ou P50 e respectiva curva) das quatro provas
apresentam trajectórias suavizadas por cubic splines salientando a sua forma
crescente não linear ao longo da idade nos dois sexos.
Os resultados de S (coeficiente de variação e respectiva curva) são
relativamente baixos para a altura (entre 0.08 e 0.30). Não obstante os valores
obtidos nas provas do KTK serem superiores aos das medidas somáticas, são muito
semelhantes aos de Bustamante(3) que também construiu cartas centílicas dos
testes do KTK numa amostra da população peruana, ou aos de Rosigne et al.(32)
na construção de cartas centílicas para a altura da população do país basco.
Os valores centílicos do desempenho, nas quatro provas do KTK (com excepção da
prova TL) das crianças açorianas de ambos os sexos foram inferiores aos obtidos
no estudo do Perú. Quando comparamos os valores obtidos, ao longo da idade, nas
provas ER e SM do KTK com os resultados de Bustamante(3) verificamos que no
Perú os resultados foram superiores aos do presente estudo no que respeita ao
P50. Isto é, na prova ER, nos meninos peruanos o P50 situa-se entre o valor 28
e o 50 e os açorianos encontram-se entre os 22,52 e os 45,66; nas meninas esse
valor está entre os 32 e os 50 nas peruanas e entre 25,25 e os 45,64 nas
açorianas. No SM, os valores dos rapazes peruanos encontram-se entre os 21 e os
54 e os açorianos entre os 14,43 e os 45,32. Nas meninas peruanas os valores
estão entre os 17 e os 45, já as meninas açorianas estão entre o valor 11,78 e
45,62. Relativamente à prova SL os rapazes açorianos (29,29<P50> 54.24) foram
melhores dos que os peruanos (25<P50> 50); o mesmo se verificou para o sexo
feminino, onde as açorianas apresentaram melhores resultados (27,18<P50>54,16)
comparativamente às peruanas (24<P50>49). Na prova TL foi onde encontramos
diferenças em cada uma das idades, quer para as meninas, quer para os meninos.
À excepção do estudo de Bustamante(3) com o KTK, as únicas pesquisas a que
tivemos acesso que descreve uma outra metodologia de construção de cartas
centílicas, mas também baseada em cubic splines e métodos de estimação de
máxima verosimilhança, foram desenvolvidas por Largo(21, 19, 20) que utilizaram
a bateria de testes de desenvolvimento neuromotor de Zurique, Suíça, numa
amostra de 662 crianças e jovens dos 5 aos 18 anos de idade. Tanto nestes
estudos como no presente, as ideias fundamentais permanecem as mesmas: (1)
descrever aspectos da dinâmica do desenvolvimento motor no que se refere à
coordenação motora, (2) bem como a variabilidade interindividual em cada valor
discreto da idade.
Convém realçar, contudo, que os autores alemães que desenvolveram a bateria KTK
tinham em mente, essencialmente, um propósito distinto do que está explícito no
presente estudo e que era classificar o desempenho identificando crianças com
insuficiência coordenativa para os colocar em programas especiais de
recuperação. Ora todo o desiderato operativo de construção do quociente motor e
sua classificação remete para uma especificidade sócio-cultural e temporal que
não é a da RAA de 2007. Ao invés do pensamento dos autores alemães, e porque
não dispomos actualmente de um quadro conceptual e operativo sólido baseado em
processos de avaliação criterial para classificar o desempenho das crianças,
pensamos ser mais adequado posicionar toda a abordagem deste estudo numa
metodologia essencialmente normativa(24). Ao construir cartas centílicas e
providenciar valores de desempenho coordenativo do P3 ao P97 de crianças que
estão no 1ºCEB estamos a dar aos professores de Educação Física (EF) um
instrumento sólido e actual que muito os ajudará na compreensão do
desenvolvimento coordenativo dos seus alunos.
As cartas centílicas apresentam informação de maior relevo em termos de
descrição e diagnóstico de uma grande variedade de características contínuas. O
que não abrangem é a possibilidade de classificar as crianças em termos
coordenativos pois não há pontos de corte validados que a justifiquem. Este é o
problema fulcral do uso do quociente motor. Não dispomos actualmente de nenhuma
explicação substantiva em termos criteriais que justifique a presença de
qualquer classificação. Contudo, nada obsta a que se possa estabelecer, ainda
que sem fundamentação clínica e/ou pedagógica, que os valores abaixo do
percentil 10 correspondam a um desempenho coordenativo insuficiente, os valores
entre o percentil 10 e 90 sejam considerados ajustados para uma dada idade e
sexo, e que os valores acima do percentil 90 sejam considerados superiores. Há
um outro argumento que não favorece o uso do quociente motor, ou um qualquer
somatório das pontuações dos quatro testes. Dois somatórios iguais podem ser
obtidos com parcelas distintas. Dado que perfis distintos podem induzir o mesmo
valor compósito, é nossa posição a urgência de entender o desempenho
coordenativo de cada criança como um vector e não como um escalar(24). Esta
visão exige que com base nos valores centílicos do desempenho da CoM se tracem
perfis configuracionais e se interprete o seu significado relativamente ao que
é esperado para uma dada idade e ano de escolaridade. Ora na RAA há um conjunto
vasto de informação acerca da CoM que poderá ser da maior utilidade para os
professores de EF. Não obstante a argumentação anterior, pode colocar-se a
seguinte questão: se o propósito fundamental da bateria de testes KTK desagua
empiricamente no cálculo do quociente motor e da classificação das crianças em
diferentes escalas discretas, que vão de perturbações de coordenação a
coordenação muito boa, qual é o sentido da construção de cartas centílicas para
cada uma das provas? A resposta situa-se a quatro níveis. Em primeiro lugar não
há qualquer estudo disponível fora da Alemanha, muito menos em Portugal, que
tenha pesquisado, transculturalmente, a pontuação disponibilizada pelos autores
alemães, nem os seus valores de corte para classificar crianças. Em segundo
lugar, e tal como referimos anteriormente, não está disponível qualquer medida
critério que permita classificar o desempenho coordenativo das crianças e que
sirva de base para se validarem, de modo concorrente, diferentes valores do
desempenho no somatório das quatro provas. Em terceiro lugar, é exigido suporte
empírico para valores de corte nas diferentes idades e sexos. Ora, esta
informação essencialmente clínica não está ao nosso dispor. O recurso à teoria
da detecção do sinal ou a valores distintos de utilidade podem ser da maior
relevância nesta matéria, embora não conheçamos qualquer pesquisa neste
assunto. Finalmente para referir que num programa alargado de investigação
clínica, pedagógica e metodológica seja possível construir cartas centílicas
para um quociente motor culturalmente específico da população portuguesa. Mas
este não foi o propósito desta pesquisa.
Conforme anteriormente descrito, os resultados obtidos neste estudo encontram-
se abaixo dos referidos por Bustamante(3) num extracto da população peruana.
São de esperar diferenças inter-populacionais cujas explicações se fundam em
aspectos de natureza sócio-cultural. Tal como é bem evidente nos resultados de
Graf(10) em estudos de média a longa duração há um espaço de resposta positiva
de crianças para além do que é esperado do curso natural das suas histórias de
vida. À EF é atribuída a grande responsabilidade de desenvolvimento psicomotor
das crianças, através de múltiplas opções didáctico-metodológicas das AFD
propostas, melhorando o desempenho das habilidades motoras na infância, a que
se pode associar uma educação também centrada na vida saudável dos alunos. Por
exemplo, nas aulas de EF, deve aperfeiçoar-se o ritmo e a aquisição de
destrezas motoras, aumentando a sua complexidade que levam a uma maior
variabilidade dos processos de condução motora e a uma experiência motora(14).
Ora uma forma de monitorizar a eficácia de tais propostas é recorrer à
atribuição de significado ao desempenho de cada criança, situando os seus
resultados nas cartas centílicas e verificar se, no tempo, as mudanças são
estáveis ou não. Na Escola, o professor de EF depara-se com desempenhos
diversos em termos de CoM dos seus alunos, que nem sempre consegue interpretar,
a não ser que tenha valores de referência. Daqui a grande utilidade das cartas
centílicas. A enorme variabilidade interindividual, bem representada nas cartas
de cada prova, pode ser um auxiliar precioso na diferenciação do ensino. Os
resultados agora disponibilizados irão fornecer aos Professores de EF uma base
adequada para interpretarem o desempenho em cada teste que descreve facetas
distintas da CoM no 1ºCEB. Será, sem dúvida, um acrescento relevante para o
programa oficial de AFD, não obstante salientar que o desenvolvimento da CoM
deva ser considerada não uma matéria específica, mas sim global. Ora estamos
diante de mais uma dificuldade. Não estando disponíveis informações acerca da
forma de avaliação global da CoM, tão pouco da prontidão coordenativa e formas
de monitorização do seu desenvolvimento, os resultados e cartas deste estudo
tornam-se um auxiliar precioso à acção educativa.
Conclusões
A disponibilização de cartas centílicas e respectiva distribuição de valores da
CoM segundo o sexo e idade da bateria de testes KTK, constitui uma ferramenta
de reflexão, estudo e de fácil utilização por parte dos professores de EF.
Espera-se o seu uso na interpretação do significado do desempenho coordenativo
de crianças do 1º CEB. Se as aulas de EF neste ciclo de ensino são plenas de
sentido para cada idade, é também espectável a disponibilização de
procedimentos de avaliação e controlo dos alunos para garantir um
desenvolvimento que se espera adequado aos grandes propósitos do acto
educativo. As cartas centílicas e respectivos valores podem ser um auxiliar
precioso para o professor de EF.