Balanço do ano editorial
Balanço do ano editorial
Com o presente número completamos o primeiro ano de gestão editorial da Revista
Motricidade. Assim, julgamos ser da maior relevância destacar alguns aspectos
que permitem reforçar a nossa confiança na consolidação e no acentuar da
melhoria na qualidade científica e técnica. Para este efeito, iniciaremos por
descrever, de forma breve, a avaliação que a Scielo-Portugal fez da nossa
revista aquando da apresentação do seu relatório de actividades. Seguidamente,
apresentaremos um conjunto de reflexões sobre o que aprendemos ao longo deste
ano.
No final do ano de 2009, em Lisboa, teve lugar uma reunião com os 27 editores
das revistas científicas que integram a Scielo-Portugal. Esta foi uma reunião
rica em conteúdos, na medida em que tornou possível aos participantes ficarem
mais atentos aos múltiplos aspectos que, gradualmente, transformam o processo
de edição de revistas científicas num mercado, tal como qualquer outro.
Tenhamos por referência o crescimento da Scielo e como esta base, cada vez
mais, se constitui como fonte de indexação de referência internacional e como a
sua intervenção possibilita e reforça o uso da língua portuguesa na produção e
divulgação do conhecimento científico. Neste aspecto a Scielo constitui-se como
um resistente ao processo de colonização intelectual, incentivado por aqueles
que, talvez por ignorância, continuam a promover a divulgação do conhecimento
produzido através dos produtos comercializados por empresas multinacionais e de
língua inglesa.
No que se refere aos dados do relatório constatámos que a Scielo-Portugal, no
seu todo, foi consultada mais de 5 milhões de vezes. Já a Revista Motricidade
apresentou um crescimento expressivo, como o identificam os números: o total de
consultas em 2008 foi de 15 612, mas em 2009, no ano a partir do qual a nossa
gestão passou a ter efeito, o total de visitas incrementou exponencialmente
para 122 612. Importa esclarecer que estas são visitas contabilizadas apenas
pela Scielo e que não inclui as que foram feitas directamente ao website da
Motricidade e que totalizaram 17 824 downloads. Assim, no ano que agora termina
excedemos as 140 436 visitas, uma vez que do relatório da Scielo não constaram
os dados relativos às visitas dos meses de Abril e Setembro, por falha no
sistema.
Para além destes números, que consideramos encorajadores, há ainda a salientar
o crescimento nas submissões de artigos e neste foi possível destacar a
preferência de alguns dos investigadores de maior renome na comunidade
científica Lusófona em publicar na Motricidade. Infelizmente, com este aumento
de pedidos de publicação, também o número de rejeições aumentou. Presentemente,
cerca de 60% dos artigos submetidos são rejeitados logo na primeira apreciação
editorial, e isto não necessariamente por falta de qualidade dos conteúdos, mas
mais pela forma pobre, e por vezes descuidada, como os autores optam por
escrever os seus trabalhos. Do balanço que fazemos, parece-nos ser importante
destacar três aspectos:
(i) Dado o volume de manuscritos submetidos não é viável manter
equipas editoriais reduzidas, a trabalhar a custo zero e, ao mesmo
tempo, manter a periodicidade da publicação regularizada. O volume de
trabalho é grande e a dedicação às tarefas tem um custo elevado para
os membros da equipa editorial, nomeadamente no que se refere à
progressão nas suas carreiras académicas, pois falta-lhes o tempo
necessário para se dedicarem aos seus próprios projectos de
investigação.
(ii) Por outro lado, há que considerar que o processo de revisão
entre pares se alicerça no princípio da solidariedade, ou seja,
ninguém é pago para rever trabalhos e dar pareceres. Uma das
consequências deste facto é que nem todos dedicam a atenção e o
cuidado necessário para garantir qualidade às revisões que fazem.
Isto é algo que requer ser revisto, na nossa opinião com alguma
urgência, e assim procuraremos agir.
(iii) Tendo em consideração a qualidade dos manuscritos submetidos,
torna-se evidente a necessidade das instituições de ensino superior
repensarem a importância que, efectivamente, pretendem dar à
investigação científica. Caso a pesquisa científica seja tida como
importante, somos da opinião que devem ser integradas unidades
curriculares (disciplinas) nos cursos de graduação e pós-graduação
que visem ensinar os discentes a organizar, formatar e escrever
trabalhos científicos.
Na realidade ninguém nasce ensinado. Isto, quando aplicado ao processo de
produtividade científica é, aproximadamente, o mesmo que aceitar que os
formandos lendo artigos aprenderão como os escrever. Mas, infelizmente, não é
assim que a aprendizagem se faz, mais ainda quando os próprios professores
nunca aprenderam a escrever trabalhos científicos e, por esta razão, no seu
todo, acabam sendo inconsistentes na tolerância aos erros cometidos pelos
alunos quando lhes submetem manuscritos com falhas tanto no que se refere à
estrutura dos trabalhos como aos detalhes de formatação que devem ser
aplicados. Esta é uma situação que resulta de, entre outros aspectos, uma
mensagem que os professores por vezes tentam fazer passar afirmando que o
importante é o que se diz e não a forma como se diz. Esta é uma prática que
poderá funcionar na sobrevivência académica dos alunos ao longo da sua
formação, mas que não é compatível com critérios editoriais que se pautem pelo
rigor e qualidade de conteúdo científico dos manuscritos. Importa tornar claro
que é da maior importância a forma como se apresentam os resultados obtidos na
pesquisa, para aumentar as probabilidades de publicar em revistas de
qualidade.
Quando assumimos responsabilidade editorial era nosso desejo ter uma
intervenção de carácter pedagógico proporcionando o apoio necessário aos que
nos honravam enviando os seus trabalhos para serem publicados na Motricidade. A
prática demonstrou que os nossos esforços eram inglórios, daí a sugestão feita
para que seja dada formação sobre estas matérias ao nível do ensino superior.
Face às exigências que se impõem, para o ano de 2010, novas regras serão
aplicadas. Para os que connosco colaboram no processo de manutenção e melhoria
da qualidade terão de existir formas de compensação e aos que nos escolhem para
publicar os seus trabalhos será solicitado apoio explícito para tornar possível
este nosso humilde contributo para o reforço da divulgação do conhecimento
científico em língua portuguesa.
Para além disto, e estando a Revista Motricidade atenta ao constante renovar da
comunidade científica nas áreas das ciências do Desporto, Saúde e
Desenvolvimento Humano, constitui um dos propósitos deste periódico formular um
convite, aberto aos cientistas e demais interessados, a integrarem o corpo de
revisores/referees da nossa revista, desde que evidenciem alguma experiência de
investigação e/ou produtividade científica.
José Vasconcelos-Raposo, Helder Miguel Fernandes, Daniel Almeida Marinho e
Carla Maria Teixeira
Editores da Revista Motricidade