Nível de atividade física, estresse e saúde em bancários
Nas duas últimas décadas tem crescido o interesse científico por pesquisas
relacionadas ao estresse no trabalho. Segundo Paschoal e Tamayo (2004), uma das
razões para o aumento do número de pesquisas sobre esse tema se deve ao impacto
negativo do estresse ocupacional na saúde e no bem-estar dos trabalhadores e,
conseqüentemente, no funcionamento e na efetividade das organizações. O
estresse no trabalho está relacionado às situações onde a pessoa percebe o seu
ambiente de trabalho como ameaçador as suas necessidades de realização pessoal
e profissional e/ou a sua saúde física e mental. Tais situações prejudicam a
interação do trabalhador com o trabalho e seu ambiente, na medida em que este
contém demandas excessivas a ele, ou que ele não possui recursos adequados para
enfrentar tais situações (França & Rodrigues, 1997).
As primeiras investigações que associaram o estresse no trabalho a problemas de
saúde datam da década de 1960. Essas pesquisas focaram-se especialmente em
aspectos físicos da saúde, encontrando relações entre a ocorrência de doenças
coronarianas e elevados níveis de estresse no trabalho. Porém, não apenas
doenças de ordem física são relacionadas ao estresse laboral. Para Palácios,
Duarte e Câmara (2002), quanto mais se procura compreender a relação entre
estresse no trabalho e saúde, mais ganham destaque as questões ligadas à saúde
mental.
Existem profissões que são reconhecidamente mais estressantes e
conseqüentemente mais afetadas por doenças laborais, dentre estas está a
profissão de bancário. Por essa característica, os bancários têm se tornado
foco de importantes estudos relacionados à saúde ocupacional (Andrade, 2001;
Palácios, Duarte, & Câmara, 2002; Silva, Pinheiro, & Sakurai, 2007;
Souza, Messing, Menezes, & Cho 2002), mostrando ser relevante o estudo do
estresse e sua relação com o acometimento de doenças nessa população.
Na busca por alternativas que valorizem a qualidade de vida dos trabalhadores,
uma das opções que vem sendo apontada como favorecedora de melhorias na saúde e
redução do estresse é a atividade física (Hu et al., 2004; Kouvonen et al.,
2005). Tanto estudos transversais, como experimentais, têm apontado com certa
consistência que pessoas, de populações diversas, são beneficiadas pela prática
de atividades físicas (Nahas, 2001).
Apesar das pesquisas evidenciarem de forma consistente a relação entre nível de
atividade física, estresse e saúde, percebe-se uma lacuna a ser preenchida
quanto às diferenças existentes entre homens e mulheres para essa relação.
Sabe-se que homens e mulheres diferenciam-se quanto aos níveis de saúde
(Aquino, Menezes, & Amoedo, 1992; McDonough & Walters, 2001; Read &
Gorman, 2006), a incidência e causa de estresse (Calais, Andrade, & Lipp,
2003; Lundberg, 2005; Lundberg & Frankenhaeuser, 1999; Matud, 2004), os
hábitos de atividade física (Wijndaele et al., 2007) e as demandas psicológicas
no trabalho (Rocha & Debert-Ribeiro, 2001), mas não se essas variáveis
interagem de forma equivalente nos diferentes sexos. De acordo com Plotnikoff,
Mayhew, Birkett, Loucaides e Fodor (2004), as pesquisas na área da atividade
física e saúde são ainda limitadas, pois as possíveis diferenciações entre
grupos devem ser mais aprofundadas. Algumas iniciativas que buscam melhor
compreender as possíveis diferenças entre esses grupos têm sido tomadas
recentemente (Kouvonen et al., 2005; Plotnikoff et al., 2004), porém os
resultados são ainda pouco conclusivos.
De acordo com a problematização apresentada, este estudo teve o propósito de
investigar a relação entre o nível de atividade física, o estresse e a saúde de
bancários e bancárias.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa transversal de campo, descritiva do tipo
correlacional.
Amostra
Participaram do estudo 283 bancários de ambos os sexos (56.6% homens e 43.4%
mulheres), trabalhadores do setor administrativo e de atendimento ao público de
um banco estatal na região da Grande Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.
Instrumentos
O instrumento utilizado para a coleta das informações foi o Questionário de
Auto-Avaliação do Estilo de Vida, Ocorrência e Controle do Estresse,
desenvolvido por Andrade (2001). Três instrumentos estão incluídos no
questionário utilizado: o Questionário de Atividades Físicas Habituais (Pate et
al., 1995); a Escala de Estresse Percebido (Cohen, Karmack, & Mermelsteinm,
1983); e para investigar a saúde auto-avaliada duas escalas sobre a percepção
subjetiva da saúde elaboradas por Andrade (2001).
A versão brasileira do Questionário de Atividades Físicas Habituais foi
apresentada por Nahas (2001). A utilização de tal versão do instrumento tem
demonstrado bons resultados em estudos realizados no Brasil (Adami, Frainer,
Santos, Fernandes, & De-Oliveira, 2008; Glaner, 2007). O Questionário de
Atividades Físicas Habituais é composto por 11 questões referentes às
atividades físicas habituais, sistematizadas e de lazer do participante. Após o
somatório dos pontos obtidos nas questões, os bancários foram classificados
como: inativos (< 6 pontos); moderadamente ativos (6 ' 11 pontos); ativos (12 '
20 pontos); e muito ativos (> 21 pontos). Depois de uma análise sobre as
diferenças teóricas que cada grupo poderia apresentar em comparação aos demais,
e considerando a pequena representatividade de bancários muito ativos (n = 4),
foi estabelecido que os grupos ativo e muito ativo formariam um grupo único,
denominado grupo ativo.
Quanto à Escala de Estresse Percebido, foi utilizada a versão apresentada por
Ururahy (1997), que obteve bons resultados no estudo de Andrade (2001). A
escala é composta por 14 sub-escalas do tipo Likert, nas quais o participante
assinala uma opção que varia de 0 a 4 para cada uma, onde: 0 = nunca; 1 =
pouco; 2 = às vezes; 3 = regularmente; e 4 = sempre. O resultado da escala '
Índice de Estresse Percebido (ISP) ' pode variar de 0 (sem estresse) a 56
(extremo estresse).
As duas questões destinadas à avaliação da saúde dos bancários são também
escalas do tipo Likert. A primeira questiona a respeito da percepção do
bancário sobre sua saúde, tendo opções de resposta que variam de 0 a 4, onde: 0
= péssima; 1 = ruim; 2 = regular; 3 = boa; e 4 = excelente. A segunda questiona
a frequência com que o bancário fica doente, tendo opções de resposta também de
0 a 4, onde: 0 = não fico doente; 1 = fico doente poucas vezes; 2 = fico doente
às vezes; 3 = fico doente muitas vezes; e 4 = sempre fico doente.
Procedimentos
Previamente à coleta dos dados, foi obtida autorização da gerência regional do
banco investigado. Os instrumentos de pesquisa foram distribuídos aos bancários
da região pesquisada, em seus locais de trabalho antes do início do expediente.
Após explanação dos objetivos da pesquisa os bancários que se dispuseram a
participar foram instruídos a responder o questionário preferencialmente em
suas residências, sozinhos e em ambiente tranquilo. Nos dias seguintes à
entrega dos instrumentos, os pesquisadores retornaram às agências para o
recolhimento dos questionários, os quais totalizaram 315. Aproveitaram-se 283
para o estudo, sendo excluídos questionários incompletos, rasurados e com
resultados discrepantes.
Análise estatística
Para o tratamento estatístico utilizou-se de estatística descritiva e
inferencial. Quanto à estatística descritiva, realizou-se análise exploratória
dos dados para: verificação da distribuição dos dados, por meio do teste de
Kolmogorov-Smirnov e histogramas de freqüência, distribuição das freqüências e
percentuais, análises das tendências centrais por meio de média, e dispersão
dos dados com o desvio padrão.
Quanto à estatística inferencial, considerando a normalidade dos dados, os
grupos foram comparados por meio de ANOVA com Post-Hoc de Scheffé, e teste t de
Student. Utilizou-se ainda do teste Qui-Quadrado para verificar a associação de
dados categóricos com coeficiente V de Cramér para verificação da força das
associações entre variáveis nominais e coeficiente Gamma (g para variáveis
ordinais. O α estabelecido foi de .05 como nível de significância (p< .05).
Os dados foram tabulados e analisados no programa Statistic Package for Social
Sciences ' SPSS versão 13.0.
Aspectos éticos
Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em
Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina sob nº de referência
01/2006. Todas as normas e diretrizes regulamentadoras da pesquisa envolvendo
serem humanos foram seguidas durante o transcorrer do estudo.
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
para participação no estudo, o qual convidava o bancário a participar da
pesquisa e explicitava seu caráter voluntário e o anonimato de todas as
informações obtidas pelos pesquisadores.
RESULTADOS
Caracterização dos participantes
Quase a totalidade dos participantes se declarou de etnia/raça branca (98.1%),
sendo a média de idade de 40 anos (DP = 6.8; Min = 19, Max = 57). Os homens
apresentaram média de idade de 41 anos (DP = 6.9; Min = 19, Max = 57), pouco
superior a média das mulheres que foi de 40 anos (DP = 6.6; Min = 20, Max =
53). A maioria dos bancários (78%) completou o ensino superior (80.3% das
mulheres e 75.9% dos homens). O tempo médio de trabalho no banco foi de 17.3
anos (DP = 7.3; Min = 1, Max = 35), sendo o tempo de trabalho dos homens (M =
17.5, DP = 7.5; Min = 1, Max = 35) pouco superior ao das mulheres (M = 17.0, DP
= 7.1; Min = 1, Max = 32). Esses resultados demonstram que homens e mulheres
participantes do estudo se assemelham quanto às características gerais.
Nível de atividade física
A maioria dos participantes é inativo fisicamente. Bancários foram
significativamente mais ativos do que as bancárias, tendo maior proporção de
ativos e menor de inativos. Considerando o coeficiente V, a associação entre
nível de atividade física e sexo foi fraca (tabela 1).
Tabela 1
Nível de atividade física de bancários da amostra geral, homens e mulheres
Nível de Estresse
Quanto ao nível de estresse, homens e mulheres não se diferenciaram
significativamente, tanto em relação a sua média quanto à dispersão dos dados,
que são semelhantes (tabela 2).
Tabela 2
Estresse (ISP) de bancários da amostra geral, homens e mulheres
Saúde
Os bancários têm boa avaliação da saúde, visto que a maioria a auto-avalia como
boa ou excelente. Os bancários também se mostraram pouco acometidos por
doenças, sendo que a maior parte afirmou não ficar doente ou ficar doente
poucas vezes. Homens e mulheres se diferenciaram significativamente apenas
quanto à frequência de adoecimento, sendo os homens menos acometidos. A
associação entre a frequência de adoecimento e o sexo foi fraca, de acordo com
o coeficiente V (tabela 3).
Tabela 3
Auto-avaliação da saúde e frequência de adoecimento de bancários da amostra
geral, homens e mulheres
Relação entre as principais variáveis em estudo
Os resultados mostram que os bancários que praticam mais atividades físicas são
menos estressados (tabela 4). Verifica-se diferença significativa (F= 4.87, p=
.008) na comparação do nível de estresse dos grupos com diferentes níveis de
atividade física, sendo que o teste Post Hoc de Scheffé indicou diferença
apenas entre os grupos ativo e inativo (p = .039). Investigando separadamente
homens e mulheres, percebe-se que somente as mulheres com diferentes níveis de
atividade física se diferenciaram significativamente quanto ao estresse (F =
4.11, p = .019). O resultado do Post Hocde Scheffé indicou diferença entre o
grupo das bancárias ativas e o das inativas (p = .028).
Tabela 4
Estresse (ISP) em função do nível de atividade física de bancários da amostra
geral, homens e mulheres
Quanto à auto-avaliação da saúde dos bancários com diferentes níveis de
atividade física, verificou-se que os mais ativos foram os que auto-avaliaram a
saúde mais positivamente (tabela 5). Percebeu-se associação positiva moderada,
de acordo com o coeficiente Gamma, entre auto-avaliação da saúde e nível de
atividade física. Por outro lado, diferenciando homens e mulheres, percebeu-se
que essa associação foi significativa apenas para os homens (tabela 5).
Tabela 5
Auto-avaliação da saúde e frequência de adoecimento de bancários da amostra
geral, homens e mulheres com diferentes níveis de atividade física
Bancários ativos demonstraram menor ocorrência de doenças quando comparados a
bancários com menores níveis de atividade física (tabela 5). Estas variáveis
mostraram-se associadas negativamente, de acordo com o coeficiente Gamma, em
níveis moderados. Mais uma vez homens e mulheres se diferenciaram, pois tal
associação só foi significativa para os homens (tabela 5).
Quanto mais negativa a percepção da saúde dos bancários, maior o ISP destes (F=
13.45, p= .000) (tabela 6). O resultado do Post Hoc de Scheffé apresentou
diferenças significativas entre o ISP dos bancários que avaliaram a saúde como
ruim e excelente (p = .009), ruim e boa (p = .039), regular e boa (p = .000), e
regular e excelente (p = .000). As diferenças de ISP dos diferentes grupos de
auto-avaliação da saúde foram significativas tanto para os homens (F = 9.75, p
= .000) quanto para as mulheres (F = 7.88, p = .000). Entre os homens os grupos
que se diferenciaram foram: regular e excelente saúde (p = .001), e regular e
boa saúde (p = .001). Entre as mulheres se diferenciaram os grupos: ruim e
excelente saúde (p = .007), ruim e boa saúde (p = .032), regular e excelente
saúde (p = .008), e regular e boa saúde (p = .018).
Tabela 6
Estresse (ISP) em função da auto-avaliação da saúde e frequência de adoecimento
de bancários da amostra geral, homens e mulheres
Comparando o ISP dos bancários que indicaram diferentes frequências de
adoecimento (tabela 6), verificou-se que os grupos diferenciaram-se
significantemente, sendo mais estressados aqueles que ficam doentes com maior
frequência (F = 5.40, p = .001). Diferenças foram encontradas entre os que não
ficam doente e os que ficam muitas vezes (p= .004), e os que não ficam doente e
os que ficam doentes às vezes (p= .017).
Realizando as mesmas comparações, e dividindo homens e mulheres, percebeu-se
que as diferenças nos níveis de estresse foram significativas apenas para as
mulheres com frequências de adoecimento distintas (F= 4.60, p= .004). As
diferenças ocorreram entre as que ficam doentes muitas vezes e poucas vezes (p=
.010), e entre as que ficam doente muitas vezes e as que não ficam doente (p=
.011).
DISCUSSÃO
O presente estudo objetivou investigar a relação entre o nível de atividade
física, o estresse e a saúde de bancários e bancárias. Buscou-se verificar se a
relação entre tais variáveis são equivalentes para ambos os sexos.
Os bancários mostram-se mais fisicamente ativos do que as bancárias. Esse
resultado vai ao encontro de outros estudos que investigaram o nível de
atividade física em populações de trabalhadores brasileiros (Barros &
Nahas, 2001). Quanto à população bancária, Andrade (2001) verificou que cerca
de 60% dos bancários (homens) de um banco estatal de Florianópolis eram
sedentários. Em estudo semelhante, Viana, Vasconcellos e Fonseca (2006),
pesquisando bancárias da mesma região, verificaram que as mulheres deste meio
eram ainda mais sedentárias, pois 73% não praticavam atividade física. Essa
realidade parece ter caráter social, tendo relação com o tratamento
diferenciado dado desde a infância a meninos e meninas, o que acaba se
refletindo por toda a vida. Enquanto mulheres têm preferência por atividades
individuais e que exigem menos esforço, os homens preferem atividades coletivas
com maior desgaste físico (Salles-Costa, Werneck, Lopes, & Faerstein,
2003).
Analisando os níveis de estresse apresentado pelos bancários, percebe-se que o
mesmo é ligeiramente elevado. Por outro lado, considerando a especificidade da
população e comparando com estudos brasileiros mais recentes que utilizaram o
mesmo instrumento com esta população (Andrade, 2001; Viana et al., 2006), os
bancários do presente estudo apresentaram menores níveis de estresse.
Até a década de 1970 os efeitos do estresse eram investigados preferencialmente
em homens, pois se acreditava que os ciclos hormonais das mulheres
prejudicariam os estudos (Lundberg, 2005). Atualmente, as pesquisas têm
verificado que as mulheres apresentam um maior nível de estresse em comparação
aos homens (Barros & Nahas, 2001; Lundberg, & Frankenhaeuser, 1999;
Wijndaele et al., 2007). Essas diferenças parecem não estar condicionadas
apenas a fatores biológicos, mas têm também relação com os papéis sociais de
homens e mulheres. No estudo de Lundberg e Frankenhaeuser (1999), com homens e
mulheres trabalhadores cujas funções são semelhantes as dos bancários, foi
verificado que os níveis de adrenalina durante a jornada de trabalho de ambos
os sexos foram semelhantes, pouco maior entre as mulheres. Mas o resultado mais
importante ocorreu após o fim da jornada de trabalho, quando os homens
reduziram seus níveis de adrenalina mais rapidamente, e as mulheres mantiveram-
se com elevados níveis por um maior tempo. Os autores apontaram a hipótese de
que a preocupação com o cuidado dos filhos e o trabalho doméstico (dupla
jornada) que ocorre após o trabalho foram os responsáveis pela permanência do
elevado nível de adrenalina nas mulheres.
Pode-se discutir a ocorrência de estresse semelhante entre os sexos no presente
estudo em função das considerações de Dedecca (2004). Para o referido autor, as
mulheres que sofrem com a dupla jornada são aquelas que recebem baixos salários
e não apresentam condições de pagar alguém que ajude de alguma forma em seu
trabalho doméstico. Nesse sentido as bancárias poderiam ser beneficiadas, pois
apresentam salários superiores à média das trabalhadoras brasileiras, sofrendo
menos com a dupla jornada.
A avaliação da saúde dos bancários foi positiva. Homens e mulheres não se
diferenciaram significativamente quando à percepção da saúde, porém os homens
apresentaram menor frequência de adoecimento. Esse resultado corrobora com
outros estudos realizados no Brasil, inclusive pesquisas que envolveram a
população bancária (Silva et al., 2007).
Aquino et al. (1992) apresentam resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios, que evidenciam que as mulheres são mais susceptíveis a enfermidades
que os homens, especialmente na idade produtiva, idade em que se encontram os
bancários desta pesquisa. O estudo foi realizado levando em consideração os
casos de doenças que levam a procura de atendimento médico. Desta forma, os
autores sugerem que diferenças de gênero na construção da experiência de
adoecimento, tanto na percepção, quanto no relato diferenciado entre os sexos,
contribuem para a existência de diferenciais no adoecimento e utilização de
serviços de saúde. Assim, os homens poderiam estar se dirigindo menos aos
serviços de saúde não apenas por serem menos acometidos por doenças, mas também
devido a terem uma melhor percepção de sua saúde em comparação às mulheres.
Isso mostra a relevância de pesquisas com caráter percebido da saúde.
Em pesquisa que avaliou a saúde de forma semelhante a do presente estudo,
verificou-se que as diferenças na saúde de homens e mulheres se alteravam para
as diferentes raças; mesmo assim os homens apresentaram uma melhor percepção da
saúde para todas (Read & Gorman, 2006). McDonough e Walters (2001) afirmam
que a ideia de que as mulheres têm mais problemas de saúde que os homens é
sustentada empiricamente, mas que as diferenças são mais complexas do que os
estudos vêm se propondo a investigar, suscitando a investigação de outras
variáveis, como o estresse e a atividade física.
Apesar de algumas pesquisas não apontarem de forma clara a relação estresse e
atividade física, fica a evidência de que a atividade física é um fator
positivo no auxílio da redução do estresse. Mesmo quando os resultados são
pouco significativos, estudos com diversas populações têm sugerido que o nível
de estresse dos ativos é inferior ao dos inativos fisicamente (Andrade, 2001;
Kouvonen et al., 2005). Não foram localizadas pesquisas mostrando o contrário,
o que aponta que mesmo quando a redução do estresse em função da atividade
física é pequena, ela existe para homens e mulheres.
Percebeu-se no presente estudo diferença significativa entre os níveis de
estresse dos bancários ativos e inativos. Observando separadamente bancários
homens e mulheres, essas diferenças foram significativas apenas para as
mulheres. Esse resultado contradiz pesquisas anteriores realizadas com
bancários brasileiros, que indicavam o contrário: diferença significativa entre
homens (Andrade, 2001) e não significativa entre as mulheres (Viana et al.,
2006).
Se por um lado essa discordância entre os resultados prejudica a compreensão
das relações entre sexo, atividade física e estresse, por outro lado a questão
de diferenciar os sexos nessa comparação se fortalece. Estudos têm mostrado que
a forma de enfrentamento do estresse e as estratégias para reduzi-lo
diferenciam-se entre homens e mulheres (González-Morales, Peiró, Rodríguez,
& Greenglass, 2006). Enquanto a sustentação social mostra-se mais benéfica
para a redução do estresse das mulheres, entre os homens a melhor maneira de
lidar com o estresse é agindo direto sobre o agente estressor (González-Morales
et al., 2006). Esses achados reforçam a ideia de que a influência da atividade
física sobre os níveis de estresse de homens e mulheres pode ser diferente,
pois suas estratégias de enfrentamento também o são.
A prática de atividade física também está associada à saúde, sendo as pessoas
ativas mais saudáveis (Hu et al., 2004; Kouvonen et al., 2005; WHO, 2002). Essa
associação existente entre uma boa saúde e a prática de atividade física também
foi observada no presente estudo. Os bancários mais ativos auto-avaliam melhor
sua saúde e percebem menor frequência de adoecimento quando comparados aos
bancários inativos.
Como os benefícios que a prática de atividade física proporciona para o seu
praticante não são apenas físicos, mas também psicológicos, é relevante a
avaliação subjetiva da saúde. Quanto à qualidade de vida, pouco adiantaria um
check-up que exibe excelente saúde, se o indivíduo estiver, no fundo, se
sentindo mal. Então, a prática de atividade física pode ser um fator que
auxilie na melhora da auto-imagem do indivíduo, fazendo com que o mesmo sinta-
se saudável. Essa afirmação é amparada por Ransford e Palisi (1996), que
consideram que a prática de uma atividade faz com que o indivíduo sinta-se
menos vulnerável a doenças, principalmente quando a prática é realizada com o
objetivo de melhorias na saúde.
Considerando que as mulheres do presente estudo apresentaram pior saúde do que
os homens, esperava-se que as mesmas fossem mais beneficiadas pela prática de
atividades físicas, mas essas expectativas não foram confirmadas. A melhoria da
percepção da saúde e adoecimento esteve mais relacionada com a prática de
atividade física para os homens, enquanto para as mulheres essa relação não foi
significativa. Quando Ransford e Palisi (1996) investigaram as diferenças na
relação entre a saúde percebida e prática de atividade física de homens e
mulheres, haviam criado a hipótese de que as mulheres seriam mais beneficiadas
com a prática, mas essa hipótese não foi confirmada consistentemente por sua
pesquisa. Dentre quatro grupos praticantes de atividade física (caminhada,
natação, dança e corrida), apenas se diferenciaram os homens e mulheres que
praticavam caminhada, mais válida para as mulheres, e corrida, mais válida para
os homens.
A presença de problemas de saúde parece estar associado com níveis elevados de
estresse (Lundberg, 2005). Essa relação parece bem estabelecida, corroborando
com nossos resultados, onde os bancários que auto-avaliam a saúde mais
positivamente são menos estressados. Devido às características da presente
pesquisa, existe a limitação de não sabermos se é o estresse que provoca uma
maior frequência de adoecimento nos bancários ou se são as doenças que elevam
os níveis de estresse dessa população; mas parece clara, segundo nossos
resultados, a associação entre essas variáveis.
Pesquisadores acreditam que ainda são limitadas as pesquisas na área de
atividade física e saúde (Plotnikoff et al., 2004), sendo necessários estudos
que investiguem diferentes grupos, para que se possa intervir de maneira mais
específica e efetiva. É necessário que se tenha uma visão mais crítica sobre a
realidade e se ponha em questão nessa área também temas já considerados
resolvidos. Sugerem-se novos estudos que destaquem não apenas as diferenças
entre os sexos, mas também entre diferentes idades, população urbana e rural,
classe econômica, dentre outras.
CONCLUSÕES
O presente estudo indicou a existência de relações entre o nível de atividade
física, o estresse e a saúde de bancários. Separando as análises por sexo,
observou-se as seguintes diferenças entre bancários e bancárias: a) A prática
de atividade física está associada com menores níveis de estresse apenas para
as bancárias; b) O nível de atividade física esteve associado com a percepção
da saúde e frequência de adoecimento, sendo mais saudáveis os bancários mais
ativos, porém os resultados só foram significativos para os homens; e, c)
Grupos com pior percepção da saúde são mais estressados, tanto para os homens
quanto para as mulheres, porém a frequência de adoecimento só esteve associada
com o nível de estresse das mulheres. Estes resultados indicam a necessidade do
controle da variável sexo quando tais variáveis forem investigadas, e
demonstram que as relações entre estas são complexas e ainda não conclusivas.
É importante considerar que a população de trabalhadores investigada nesta
pesquisa é bastante específica, tendo características peculiares por seu tipo
de ofício. Abordar novas possibilidades de estudos em outras regiões ou
populações de trabalhadores é válido, pela possibilidade de se encontrar novos
resultados que auxiliem no entendimento da problemática ora investigada.
Considerando que a população dos bancários é uma das mais acometidas pelo
estresse, e que este tem implicações negativas à saúde, a presente pesquisa
contribui na soma de informações aos envolvidos nesse tipo de trabalho ao
apontar a atividade física como uma possível ferramenta para uma saúde mais
positiva. Desta forma, levando-se em conta o baixo nível de atividade física da
amostra investigada, programas que favoreçam a adoção de um estilo de vida mais
saudável, incluindo a prática de exercícios físicos, podem ser benéficos para
uma melhor qualidade de vida para essa população.