O efeito de uma estratégia de atenção na aprendizagem do salto em distância
A aquisição de habilidades motoras é um processo complexo que envolve fatores
relacionados às características do aprendiz, ao sistema de prática adequado, à
complexidade da tarefa e à utilização de estratégias para facilitar e
simplificar a aprendizagem.
Para a seleção das estratégias apropriadas, o estágio de aprendizagem do aluno
é um aspecto importante a ser considerado, pois o controle da atenção é
particularmente difícil aos iniciantes, cuja organização se caracteriza pela
baixa velocidade de processamento de informações e a alta demanda nos processos
de atenção, dificultando a seleção de informações mais importantes ao
movimento.
No início do processo de aprendizagem, os iniciantes necessitam de informações
mais gerais que forneçam uma idéia geral sobre o movimento pretendido (Gentile,
1972). Com o avanço no processo de aprendizagem esses mecanismos de atenção se
tornam mais eficientes. O desafio do executante, portanto, é de, eficazmente,
priorizar as informações para tomadas de decisões corretas, ou seja,
estabelecer corretamente qual informação prestar atenção e como utilizá-la no
movimento. Além disso, o aprendiz deve ser capaz de diversificar a atenção
habilidosamente entre as diversas informações do contexto (Ladewig, 2000;
Schmidt & Wrisberg, 2001). De qualquer forma, conforme Ladewig (2000) pode-
se fazer uso de estratégias de atenção para facilitar a aprendizagem,
fornecendo dicas sobre os aspectos relevantes, diminuindo as exigências nos
processos de atenção dos alunos.
Nessa perspectiva, diversos estudos têm procurado investigar a influência do
direcionamento do foco de atenção no processo de aquisição de habilidades
motoras (Perkins-Ceccato, Passmore, & Lee, 2003; Poolton, Maxwell, Masters,
& Raab, 2006; Wulf, Hob, & Prinz, 1998; Wulf, Mcconnel, Gärtner, &
Schwarz, 2002; Wulf & Su, 2007). Os resultados demonstram que as instruções
que direcionam a atenção a um foco externo, tal como o efeito do movimento
corporal no ambiente, produzem maior eficiência na aprendizagem quando
comparadas ao uso da atenção direcionada a um foco interno (por exemplo,
direcionar a atenção ao movimento do próprio corpo), na aquisição de
habilidades motoras novas.
Quando os indivíduos direcionam a atenção ao seu movimento (foco interno) para
controlar uma habilidade motora eles exercem suas ações de maneira
relativamente consciente, o que tende a restringir o sistema motor e romper o
processo de controle automático. Diferentemente, um foco externo, por exemplo,
no efeito do movimento, promove o uso do processo automático (Poolton et al.,
2006; Wulf & Su, 2007). Assim, uma dica simples, mas direta e objetiva, tal
como uma frase curta e específica, uma informação visual ou palavra relevante à
tarefa, pode reduzir a quantidade de informações e destacar um ponto a ser
ressaltado no ambiente ou na própria tarefa, podendo reforçar a aprendizagem
(Eversheim & Bock, 2002; Landin, 1994; Masser, 1993; Pasetto, Araújo, &
Corrêa, 2006; Shim, Carlton, Chow, & Chae, 2005).
A dica de aprendizagem, cues em inglês, é uma estratégia cognitiva de
instrução utilizada para esse fim, pois se fundamenta na atuação do mecanismo
de atenção seletiva, ou seja, detectar uma informação relevante à tarefa e
descartar aquelas que não são importantes (Ladewig, Gallagher, & Campos,
1995; Landin, 1994; Lavie, 2005; Schmidt & Wrisberg, 2001). A dica é uma
estratégia muito utilizada na aprendizagem de diversas habilidades motoras
(Bertoldi, Ladewig, & Israel, 2007; Caçola & Ladewig, 2007; Cidade,
Tavares, Ladewig, & Leitão, 1998; Masser, 1993; Medina, Marques, Ladewig,
& Rodacki, 2008; Moura, 2007; Pasetto et al., 2006), podendo ser utilizada
como forma de instrução ou feedback prescritivo (Godinho, Mendes, Melo, &
Barreiros, 1999; Schmidt & Wrisberg, 2001).
Quando utilizada como feedback a dica tem o objetivo de ressaltar os erros
pertinentes na performance da habilidade realizada (Janelle, Barba, Frehlich,
Tennant, & Cauraugh, 1997; Wulf et al., 2002) e como instrução a dica tem o
intuito de destacar na tarefa ou no ambiente, a informação mais importante para
direcionar o foco de atenção do executante na aprendizagem da habilidade
(Eversheim & Bock, 2002; Masser, 1993). Dessa forma, a dica é a maneira ou
estratégia utilizada para reduzir a informação transmitida, podendo se referir
ou não aos principais erros de performance. Por exemplo, Janelle et al. (1997)
testaram a efetividade do uso de feedback por meio de dicas para corrigir os
principais erros de performance dos executantes durante a aprendizagem de um
arremesso. Já no estudo clássico de Masser (1993), a autora utilizou dicas
verbais como forma de instrução para as crianças inexperientes aprenderem o
rolamento para frente (faça seu corpo como uma bola e testa nos joelhos) e
a parada de mãos (ombro sobre as falanges).
Embora os estudos demonstrem a eficiência das dicas como estratégia na
aprendizagem de habilidades motoras ou cognitivas (Landin, 1994), ainda há
carência na literatura de estudos que explorem sua eficiência na área de
esportes, particularmente em tarefas de campo (Mota, Estrázulas, Rocha Jr.,
& Stoffels, 2001). Especificamente no salto em distância, alguns pré-
requisitos fundamentais são necessários para que se alcance um bom desempenho,
entre outros podemos citar a velocidade da corrida, a posição corporal adequada
no momento do vôo e a precisão do toque do pé na tábua (Hay, 1985). É quanto à
posição corporal adequada que a dica de aprendizagem pode auxiliar no
direcionamento da atenção do aprendiz para alcançar uma maior distância no
processo de aquisição dessa habilidade do atletismo.
Tendo em vista a importância da atuação dos mecanismos de atenção seletiva na
seleção dos pontos importantes da tarefa e descarte de possíveis informações
irrelevantes, o direcionamento do foco de atenção é um tema fundamental que tem
sido abordado por pesquisadores no entendimento do processo de aprendizagem de
habilidades motoras. Para isso, é importante considerar as dicas apropriadas.
No presente estudo, adotou-se, conforme Mota et al. (2001), um alvo fixo na
parede para encorajar os aprendizes a ganhar velocidade ótima associada a um
ajustamento corporal apropriado no momento do toque do pé na tábua para o salto
em distância. A dica foi utilizada como forma de instrução para direcionar a
atenção das crianças a um foco único, o que possibilitaria fornecer informações
ao aprendiz sobre o objetivo e forma de realização da habilidade (Godinho et
al., 1999).
Assim, o objetivo desse estudo foi verificar o efeito de uma estratégia de
atenção para aprendizagem do salto em distância por crianças da quinta série do
ensino fundamental.
MÉTODO
Amostra
A amostra foi composta por 55 escolares brasileiros (25 meninas e 30 meninos),
com idades entre 11 e 12 anos (11.21 ± .45), de duas turmas da 5ª série do
ensino fundamental de um colégio da rede pública de ensino. As crianças não
tinham experiência anterior na modalidade de atletismo e nem sobre a execução
técnica da habilidade do salto em distância. Os pais ou responsáveis assinaram
um termo de consentimento livre e esclarecido, autorizando a participação das
crianças. O estudo foi parte de uma pesquisa ampla sobre a avaliação da
aprendizagem e desenvolvimento motor de escolares, o qual foi aprovado pelo
Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de
Londrina ' Brasil (242/07).
Instrumentos e Procedimentos
A habilidade motora avaliada foi o salto em distância, que consistiu em saltar
a maior distância possível após impulsão em um ponto marcado no solo. A
habilidade motora consta de cinco fases, quais sejam: fase de corrida, batida
da marca de salto, impulsão, fase aérea e a queda.
Durante as sessões, seguiu-se a progressão pedagógica para o ensino de cada uma
das fases de acordo com a execução técnica da habilidade. Os instrumentos
utilizados para as aulas e nas avaliações foram: uma folha branca de papel
colada na parede como dica visual, cal para a marca de impulsão, uma trena para
a medição da distância saltada pelas crianças e uma folha de anotações. Todos
os procedimentos foram realizados no espaço gramado da escola.
O estudo contou com um delineamento composto por um pré-teste (PRÉ), dois
períodos de intervenção, dois pós-testes (PÓS1 e PÓS2) e um teste de retenção
(RET). O objetivo do PRÉ foi estabelecer o desempenho inicial das crianças no
salto em distância. A fase de intervenção 1 foi composta de sete sessões de
prática, duas vezes por semana, durante 40 minutos cada. O objetivo dessa fase
foi adquirir a idéia geral do movimento seguindo o método de prática global, no
qual os participantes vivenciaram os movimentos requeridos no salto através de
exercícios educativos e técnicos para cada uma das fases da habilidade −
corrida, batida da marca de salto, impulsão, fase aérea e a queda.
O PÓS 1 foi conduzido após essa prática inicial de 7 sessões e, após isto, as
crianças foram divididas em dois grupos ' grupo com dicas de aprendizagem (GCD)
e grupo sem dicas de aprendizagem (GSD) ' sendo submetidos à segunda
intervenção, composta de três sessões de prática, nas quais as crianças também
realizaram exercícios técnicos de salto. Nessas sessões, o grupo com dicas
(GCD) recebeu uma informação visual com o direcionamento da atenção para um
foco externo (alvo fixado na parede em frente ao salto, posicionado a 1.40 m de
altura do solo), enquanto o grupo sem dicas (GSC) não recebeu essa informação
para a aprendizagem do salto em distância.
Ao final desse período de intervenção as crianças foram avaliadas, no PÓS 2, e
novamente 24 horas depois na RET. A figura 1 demonstra o delineamento
experimental do estudo.
Figura 1. Delineamento do estudo e grupos experimentais
As sessões de intervenção e as avaliações foram realizadas nas dependências do
colégio, nos horários das aulas de Educação Física. Todas as crianças foram
avaliadas no PRÉ, PÓS1, PÓS2 e RET, seguindo os mesmos procedimentos, nos quais
cada criança realizou individualmente três saltos consecutivos anotando-se,
para efeito de análise, a maior distância alcançada.
Antes da realização dos saltos todas as crianças receberam as seguintes
instruções verbais: corra, bata o pé na marca e salte o mais distante
possível. Durante a segunda intervenção, o GCD recebeu esta informação seguida
da instrução para olhar no alvo fixado na parede durante o salto. Esta
instrução foi fornecida somente antes dos saltos, durante a segunda
intervenção.
Análise estatística
A variável dependente foi a maior distância saltada das três tentativas em cada
avaliação da performance. Os resultados foram expressos pela média e desvio-
padrão. O teste de Shapiro-Wilk's foi aplicado para verificar a normalidade da
variância e Anova two-way (2 grupos x 4 avaliações) com medidas repetidas no
último fator para verificar as diferenças entre os grupos e entre as
avaliações, seguido do post hoc de Tukey (HSD). O nível de significância para
todas as análises foi de p < .05.
RESULTADOS
De maneira geral, os resultados indicaram um aumento significativo no
desempenho de ambos os grupos quanto à distância saltada, atestando que houve
aprendizagem da habilidade. No pré-teste, os resultados apontaram que os grupos
obtiveram uma média de desempenho semelhante (GCD = 2.68 m, GSD = 2.79 m),
apresentando diferença de apenas .11 m (F(1,53)= .79, p= .37). Essa diferença
foi eliminada após as primeiras sete aulas, sendo que os dois grupos alcançaram
o resultado de 2.81 m no PÓS1. Isso significa que nesse momento os dois grupos
se encontraram nivelados no desempenho da habilidade (F(1,53)= .00, p= .99),
ressaltando o papel desempenhado pela intervenção 1 em fornecer a idéia geral
do movimento.
A tabela 1 apresenta os resultados descritivos dos grupos em cada avaliação.
Tabela 1
Média (M) e desvio-padrão (DP) dos grupos com dicas (GCD) e sem dicas de
aprendizagem (GSD) no pré-teste (PRÉ), pós-teste 1 (PÓS1), pós-teste 2 (PÓS 2)
e retenção (RET)
Grupos PRÉ PÓS1 PÓS2 RET
M ± DP M ± DP M ± DP M ± DP
GCD (n = 29) 2.68 ± .112.81 ± .123.07 ± .133.08 ± .11
GSD (n = 26) 2.79 ± .072.81 ± .073.06 ± .093.16 ± .09
Do PÓS1 para o PÓS2, momento no qual houve a intervenção associada à
apresentação ou não da dica visual, os desempenhos se mantiveram muito
semelhantes, com aumento na distância saltada para ambos os grupos. O GSD
apresentou marca ligeiramente superior ao GCD na avaliação da retenção, sendo
esta diferença não significativa.
Figura 2. Performance (média e erro padrão da média) dos grupos GCD e GSD na
aprendizagem do salto em distância
O comportamento dos dois grupos manteve-se crescente, sem, contudo, apresentar
diferença entre eles, ou seja, os grupos não demonstraram alteração com o uso
da dica de aprendizagem (F(1,53)= .12, p= .73). As diferenças significativas
observadas foram somente entre as avaliações, especificamente do PRÉ para o
PÓS2 (F(1,53)= 51.21, p< .01), do PRÉ para a RET (F(1,53)= 47.96, p< .01), do
PÓS1 para o PÓS2 (F(1,53)= 47.19, p< .01) e do PÓS1 para a RET (F(1,53)= 46.41,
p< .01).
DISCUSSÃO
A dica visual foi utilizada como forma de instrução para o direcionamento da
atenção dos participantes para aprendizagem do salto em distância. Vários
estudos confirmaram a efetividade de uma estratégia de direcionamento para um
foco externo de atenção na aprendizagem de habilidades motoras (Perkins-Ceccato
et al., 2003; Poolton et al., 2006; Wulf et al., 1998, 2002; Wulf & Su,
2007). Conforme os achados, direcionando a atenção para um foco externo os
aprendizes utilizam um tipo de controle automático da ação, diferentemente de
quando eles direcionam a atenção para o movimento do seu corpo de forma
consciente, o que tende a degradar a performance (Poolton et al., 2006).
Embora esses estudos tenham comprovado a eficiência do foco externo de atenção
na aprendizagem de habilidades motoras, no estudo de Perkins-Ceccato et al.
(2003) os autores compararam grupos de iniciantes e habilidosos na performance
da tacada do golfe, e confirmaram essa premissa somente para o grupo mais
experiente na habilidade. Ou seja, os resultados desse estudo demonstraram que
para os participantes que não tinham experiência na habilidade praticada as
instruções com um foco interno de atenção foram mais eficientes para
aprendizagem da tacada do golfe.
Como no estudo de Mota et al. (2001), os autores confirmaram a eficiência de
uma dica visual, que consistiu em um alvo/marca fixo na parede no fundo da
pista, com o objetivo de direcionar a atenção dos participantes no momento da
execução da corrida de velocidade no atletismo (foco externo), acreditando-se
que essa estratégia causaria efeito significante no processo de aprendizagem do
salto em distância. Os resultados do estudo de Mota et al. (2001) demonstraram
que houve melhora no controle da postura e na mecânica do movimento,
consequentemente, na técnica da corrida de velocidade. Assim, os autores
concluíram que a dica utilizada influenciou na mecânica do movimento,
possibilitando uma postura adequada e coordenação do movimento. Isto é,
verificou-se que a melhora na qualidade do movimento propiciou um aumento no
desempenho, ou o resultado quantitativo máximo.
Diferentemente, nos resultados analisados no presente estudo, pôde-se verificar
mudança similar na performance dos grupos ao longo do tempo de prática, mas não
demonstrando efeito do uso da dica de aprendizagem. Algumas possíveis
explanações para a não diferença entre os grupos podem ser levantadas.
Primeiramente, considerando o estágio de aprendizagem das crianças pode ser que
uma dica com instruções para um foco interno de atenção (no próprio movimento
corporal, por exemplo) resultasse em melhores efeitos no inicio da
aprendizagem. Assim, pode-se supor que o tempo destinado para o ensino dessa
habilidade motora, após a separação dos grupos, não tenha sido suficiente para
que as crianças utilizassem eficientemente a dica visual, seja pelo estágio de
desenvolvimento ou pela fase de aprendizagem motora. As sete sessões de
práticas iniciais foram importantes para o nivelamento dos grupos, entretanto,
as três sessões seguintes com o uso das dicas parecem ter sido insuficientes
para provocar alterações significativas na performance do grupo que contou com
esta informação.
Além disso, considerando a importância do fator instrucional no processo de
aprendizagem motora e a relevância dessa informação para o aprendiz que está
adquirindo uma idéia sobre a ação pretendida, a dica de aprendizagem utilizada
pode não ter sido relevante o suficiente para garantir algum diferencial na
aprendizagem do salto em distância. Considerando que as crianças eram
iniciantes na aprendizagem desta habilidade, mesmo que a dica tivesse sido
adequada, pode ser que não tenha havido tempo suficiente para que o grupo a
assimilasse e a utilizasse na realização da tarefa.
Na intervenção 1 verificou-se que os dois grupos modificaram o seu
comportamento, aumentando a performance na tarefa. No entanto, nas três aulas
seguintes em que o GCD contou com a informação visual para direcionamento da
atenção eles não superaram os resultados do grupo que não recebeu a dica. Por
outro lado, pôde-se perceber que durante as três sessões na intervenção 2, o
GCD modificou qualitativamente o seu comportamento motor em relação ao seu
posicionamento corporal, controlando melhor a postura do tronco durante o
salto. Nesse ponto, pode-se supor que a dica visual possa ter influenciado
nessa mudança, contudo, além de não ter sido avaliada objetivamente, não
refletiu na melhora imediata da performance. Isso nos leva a questionar a
utilização de uma medida de desempenho quantitativa ' a maior distância no
salto ' ou seja, saltar mais deve refletir um saltar melhor?
Dentro dessa perspectiva, Medina et al. (2008) investigaram a eficiência de
três dicas verbais de aprendizagem na aquisição de uma habilidade motora da
ginástica artística, adotando uma análise qualitativa e uma análise
quantitativa do movimento. O estudo foi conduzido com crianças com e sem
transtorno do desenvolvimento da coordenação (TDC), que foram divididas em
grupos com dicas e sem dicas de aprendizagem. A habilidade analisada foi o
rolamento peixe, o qual envolve uma fase aérea caracterizada por um salto. Na
análise dos dados qualitativos do movimento, realizado por meio de um check-
list, os autores detectaram modificações significativas importantes no
desempenho das crianças, e que foram atribuídas às alterações no padrão do
movimento ao longo das aulas. Dessa maneira, acredita-se que futuros estudos
possam analisar os aspectos qualitativos de mudança na performance do salto em
distância e o quanto o uso de uma estratégia cognitiva de atenção influencia no
processo de aprendizagem.
Há vários estudos que demonstraram a eficiência no processo de aprendizagem com
a inclusão de dicas apropriadas. Um exemplo clássico foi o estudo conduzido por
Masser (1993) sobre a aprendizagem do rolamento para frente grupado (faça seu
corpo como uma bola e testa nos joelhos) e da parada de mãos (ombro sobre
as falanges), o qual demonstrou eficiência das dicas para a aprendizagem de
crianças do ensino básico.
Bertoldi et al. (2007), Caçola e Ladewig (2007), Eversheim e Bock (2002),
Medina et al. (2008) e Pasetto et al. (2006) verificaram que a dica de
aprendizagem, seja verbal, visual ou auditiva, parece atuar positivamente nos
processos de atenção seletiva de forma a proporcionar maiores possibilidades ao
aprendiz de compreender e utilizar a informação no momento adequado.
Por outro lado, pode-se citar o trabalho de Cidade, Ladewig e Tavares (1999)
que encontraram dificuldades ao investigar a eficiência de dicas específicas
como estratégia de atenção seletiva em crianças com Síndrome de Down. Neste
estudo, pode-se perceber claramente a importância de se utilizar estratégias de
aprendizagem adequadas considerando o estágio de desenvolvimento e aprendizagem
dos participantes. Os autores utilizaram no estudo um jogo de computador em que
as crianças tinham que manipular um joystick e observar as dicas que apareciam
na tela no intuito de eliminar as naves inimigas. Foi verificado que embora o
grupo com dicas não tenha demonstrado melhora no seu desempenho, os dois grupos
conseguiram completar a tarefa proposta. Entretanto, os autores sugeriram que a
demanda exigida na tarefa foi muito complexa para o nível de desenvolvimento
motor das crianças, sugerindo adaptação do instrumento de medida conforme as
suas necessidades.
No presente estudo, de maneira similar, a utilização da dica visual não
influenciou na performance do GCD. Tendo em vista os resultados conflitantes na
literatura, a dica de aprendizagem apresenta-se como um importante tema a ser
investigado. O que se depreende é que a seleção das dicas de aprendizagem a
serem adotadas na aquisição de habilidades motoras requer uma atenção especial
sobre as características da habilidade, do estágio de desenvolvimento do
praticante e da estratégia instrucional para a aquisição de habilidades
motoras, para que assim o aprendiz possa compreender a dica e seja capaz de
realizá-la com sucesso. O desconhecimento dessas premissas pelo profissional de
Educação Física pode levar à utilização de uma dica inadequada à tarefa,
dificultando o processo de aprendizagem ao invés de auxiliar.
Os resultados permitiram concluir que não houve efeito da dica visual na
aprendizagem do salto em distância visto que o desempenho foi muito semelhante
entre os grupos ao longo das sessões de prática. A fase de aquisição da idéia
geral do movimento ' intervenção 1 ' foi favorável ao estudo para nivelar o
desempenho dos dois grupos. Os resultados obtidos nas fases seguintes de
aprendizagem sugerem que a dica parece não ter sido específica o suficiente,
pois, embora tenha havido um aumento na distância saltada, não houve diferença
entre os grupos.
Acredita-se que seja necessário testar essa dica por um período de tempo maior
e focar nas mudanças qualitativas do movimento, devido ao objetivo da dica de
melhorar o controle postural durante o salto. Sugere-se, assim, que outros
estudos sejam conduzidos para se verificar o efeito de estratégias de
aprendizagem, como as dicas, adotando-se observações quantitativas da
performance aliada a uma medida qualitativa de análise do movimento, auxiliando
na compreensão do processo ensino-aprendizagem do salto em distância.