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EuPTCVHe1646-107X2013000400012

EuPTCVHe1646-107X2013000400012

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN1646-107X
ano2013
Issue0004
Article number00012

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Instrumentos eletrónicos para avaliar atividade física em crianças: Uma revisão sistemática

A prática regular de atividade física (AF) promove benefícios à saúde das crianças (Bailey, McKay, Mirwald, Crocker, & Faulkner, 1999; Boreham et al., 2004; Freedman, Dietz, Srinivasan, & Berenson, 1999; Strong et al., 2005). Além disso, crianças fisicamente ativas tendem a manter esse comportamento na vida adulta, promovendo desfechos positivos à saúde (Paffenbarger Jr et al., 1993; Pate et al., 1995; Strong et al., 2005; Twisk, 2001). A atividade física em crianças resulta de uma combinação complexa de eventos estruturados ou não estruturados, planeados ou eventuais, que pode ser realizada individualmente ou em grupos, na escola, em competições, em casa ou no lazer (Dollman et al., 2009; Welk, Corbin, & Dale, 2000).

A avaliação da prática de atividade física, em crianças, pode ser realizada por métodos diretos ou autorreportados (Ridley, Ainsworth, & Olds, 2008).

Atualmente, existem diversos métodos autorreportados disponíveis para avaliar atividade física em adultos (Craig et al., 2003), adolescentes e crianças (Barros et al., 2007; Guedes, Lopes, & Guedes, 2005; Kowalski, Crocker, Donen, & Honours, 2004; Ridley et al., 2008; Sirard & Pate, 2001). As maiores vantagens no uso destes métodos são o baixo custo, a fácil aplicação e a agilidade na coleta de dados (Cale & Harris, 1994).

Na última década, a revolução tecnológica, proporcionou o avanço do uso de métodos eletrónicos (via internet), para avaliar diversos desfechos relacionados à saúde (Arab et al., 2010; Davis, 1999), inclusive à atividade física (Maher & Olds, 2011; McLure, Reilly, Crooks, & Summerbell, 2009; Olds, Ridley, Dollman, & Maher, 2010; Ridley, Olds, & Hill, 2006).

Assim, torna-se necessário analisar a qualidade das medidas obtidas por meio de instrumentos eletrónicos (Apovian et al., 2010; Chen & Li, 2010; Vereecken, Covents, Matthys, & Maes, 2005). A aplicação de um questionário eletrónico apresenta vantagens como acesso imediato ao banco de dados, dispensa a fase de digitação das informações, reduz o custo com a impressão dos formulários, proporciona maior velocidade na coleta das informações e, ainda, pode despertar maior atratividade às crianças no momento do preenchimento (Gwaltney, Shields, & Shiffman, 2008; Kongsved, Basnov, Holm-Christensen, & Hjollund, 2007; Omote, Prado, & Carrara, 2005). Apesar dessas vantagens, são escassas as informações sobre a qualidade e a confiabilidade dos dados oriundos da aplicação de questionários eletrónicos, principalmente, no campo da Educação Física.

Nesse sentido, trata-se de um desafio agregar recursos tecnológicos, como a informática e internet, na coleta de informações sobre a prática de atividade física em crianças. Diante do exposto, esta revisão sistemática teve como objetivos: i) identificar estudos que usaram instrumentos eletrónicos para avaliar a prática de atividade física em crianças e ii) verificar as evidências de validade e fidedignidade destes instrumentos.

MÉTODO Critérios de seleção dos estudos A presente revisão sistemática foi realizada observando os procedimentos metodológicos da The Cochrane Collaboration (Cochrane, 2012). O processo de busca foi realizado utilizando-se dos seguintes descritores: online questionnaire; web questionnaire; physical activity; motor activity; children; child. As buscas foram realizadas nos idiomas inglês e seus correlatos da língua portuguesa, utilizando-se os operadores booleanos and e or.

Pesquisas adicionais foram realizadas nas referências dos artigos selecionados.

Para a revisão foram incluídos artigos que apresentaram os seguintes requisitos: a) utilização de instrumento eletrónico para avaliar a atividade física; b) envolveram amostras de crianças com idades entre 7 e 14 anos; c) somente artigos originais; d) artigos publicados nos idiomas inglês e português. Foram excluídos livros, capítulos de livros, monografias, dissertações, teses, artigos de revisão, resumos, cartas ao editor e editoriais. Além disso, estudos que utilizaram amostras de crianças com necessidades especiais.

Bases de dados e estratégia de pesquisa As buscas dos artigos foram conduzidas em três etapas nas principais bases de dados eletrónicas disponíveis (Scopus, PsycINFO, SPORTDiscus, Web of Science, ScienceDirect, Medline, Scielo e Lilacs) compreendendo um intervalo temporal entre janeiro de 2000 e julho de 2011. Na primeira etapa foram selecionados todos os artigos que continham em seu título algum dos descritores utilizados nas buscas. Nessa etapa foram localizados 962 artigos nas seguintes bases de dados (ver Figura_1): Scopus (n= 328), Psycinfo (n= 5), SportDiscus (n= 8), Web of Science (n= 198), ScienceDirect (n= 375), Medline (n= 44), Scielo (n= 2), Lilacs (n= 2).

Após a leitura dos títulos, os pesquisadores excluíram 923 artigos, por não terem relação com o tema. A segunda etapa compreendeu a realização da leitura dos resumos (n= 39, 4%), ao final dessa etapa foram eliminados 13 artigos, sendo: 12 artigos de revisão da literatura e um estudo realizado com grupo de crianças com necessidades especiais. Consequentemente, os pesquisadores selecionaram 26 (2.7%) artigos que para serem lidos na íntegra. Após a leitura desses manuscritos, foram selecionados oito artigos (0.8%) que atenderam aos critérios de inclusão; além desses, foram incluídos mais três estudos, que foram localizados a partir das referências dos artigos previamente selecionados.

As buscas dos artigos foram realizadas por dois pesquisadores de maneira independente. Ao final de cada etapa os pesquisadores realizaram uma reunião para discutir a inclusão ou exclusão dos estudos. Nesse processo, os itens que apresentaram concordância entre os dois pesquisadores foram considerados adequados e incluídos na revisão; entretanto, quando houve divergência entre os dois pesquisadores quanto à inclusão ou exclusão de algum estudo, consultou-se a opinião de um terceiro pesquisador.

Avaliação da qualidade metodológica e extração dos dados Para a coleta dos dados e avaliação da qualidade metodológica dos estudos, foi elaborada uma tabela sinóptica, na qual foram inseridas informações detalhadas sobre cada estudo incluído na revisão: a) ano de publicação; b) instrumento eletrónico utilizado; c) faixa etária das crianças; d) método de seleção amostral; e) cálculo amostral; f) período de referência da medida de AF; g) método de referência adotado para comparação; h) número de sujeitos; i) tipo de validade analisada; j) procedimentos estatísticos para testar a validade; e, l) procedimentos estatísticos para testar a reprodutibilidade do instrumento.

RESULTADOS Dos 11 artigos selecionados para esta revisão, oito utilizaram em suas amostras crianças australianas (Maher & Olds, 2011; Olds et al., 2010; Ridley, Dollman, & Olds, 2001; Ridley, et al., 2006) e canadenses (Lévesque, Cargo, & Salsberg, 2004; Storey et al., 2009; Storey & McCargar, 2012; Woodruff & Hanning, 2010). A idade média das crianças variou de 8.8 a 14 anos. Seis estudos realizaram procedimentos de seleção amostral probabilístico (Maher & Olds, 2011; McLure et al., 2009; Olds et al., 2010; Pearce, Williamson, Harrell, Wildemuth, & Solomon, 2007; Ridley et al., 2006; Storey & McCargar, 2012), os demais utilizaram processo de amostragem por conveniência ou intencional, apenas um estudo relatou ter realizado o cálculo do tamanho da amostra (Pearce et al., 2007).

O período de referência da coleta das medidas de atividade física obtida por meio dos acelerómetros variou de um dia (Ridley et al., 2001, 2006), 2 dias (Moore et al., 2008) e 5 dias (McLure et al., 2009). Para a maioria dos estudos que empregaram um questionário eletrónico, o período de referência para as medidas de atividade física foi o recordatório do dia anterior (Moore et al., 2008). O tempo despendido em atividade física moderada e vigorosa foi utilizado como referência na maior parte dos estudos (McLure et al., 2009; Moore, et al., 2008). O método de referência mais utilizado para comparar as medidas de atividade física foi o acelerómetro seguido do pedómetro (Moore et al., 2008).

A Tabela_1 apresenta as principais características dos estudos que utilizaram questionários eletrónicos para avaliarem a atividade física (AF) em crianças.

Dos 11 estudos analisados (ver Tabela_1), quatro realizaram a validação das medidas de AF obtida por meio de questionários eletrónicos versus as medidas de AF obtidas por acelerómetros (McLure et al., 2009; Moore et al., 2008; Ridley et al., 2001, 2006), as correlações encontradas variaram de fraca (Pearce et al., 2007) a moderada intensidade (Olds et al., 2010). Três estudos (Maher & Olds, 2011; Olds et al., 2010; Storey & McCargar, 2012) utilizaram as medidas de AF obtidas pelo pedómetro para validar as informações obtidas pelos questionários eletrónicos. Dois estudos relataram apenas a validade de conteúdo (Lévesque, et al., 2004; Pearce, et al., 2007). Medidas adicionais de AF, aptidão aeróbia e frequência cardíaca, foram coletadas para realizar a validade convergente dos instrumentos eletrónicos (Ridley et al., 2001; Storey & McCargar, 2012).

Quanto aos procedimentos de reprodutibilidade, os coeficientes de correlações intraclasse variaram de .75 a .98; destes, dois estudos adotaram estratégias estatísticas diferentes para determinar a precisão das medidas de AF obtidas pelo questionário eletrónico versus as medidas de AF obtidas pelo acelerómetro (Moore et al., 2008a; Ridley et al., 2006). Nesse particular, os autores relataram que os questionários eletrónicos subestimaram a AF de moderada intensidade com um erro sistemático de menos 4 minutos nessas medidas (Moore et al., 2008). A Tabela_2 apresenta um sumário sobre as evidências de validade e reprodutibilidade dos estudos.

DISCUSSÃO No processo de revisão sistemática foram encontrados 11 artigos que utilizaram questionários eletrónicos para avaliar AF em crianças. Dentre eles, seis estudos (54.5%) realizaram os procedimentos de validade com medidas diretas de AF (acelerómetros ou pedómetros), os procedimentos de reprodutibilidade teste e reteste, foram realizados em apenas quatro estudos (36.3%). Isso demonstra a escassez de estudos dessa natureza, tanto na literatura nacional, quanto internacional.

Embora os estudos selecionados para esta revisão apresentem diferenças nas suas metodologias, nos critérios das medidas de AF e nas análises estatísticas, a maioria concluiu que os questionários eletrónicos desenvolvidos são ferramentas inovadoras, de fácil aceitação por parte das crianças e apresentam potencial para avaliar o envolvimento das crianças na atividade física de forma ampla.

A identificação das propriedades psicométricas adequadas, validade e reprodutibilidade, são requisitos indispensáveis, quando se pretende utilizar esses instrumentos (Olds et al., 2010). A maioria dos estudos analisados nesta revisão demonstrou que os questionários eletrónicos apresentaram baixas correlações com as medidas diretas (acelerómetros e pedómetros).

Valores de correlação mais elevadas foram encontrados quando se comparou as medidas de AF obtidas pelo questionário Multimedia Activity Recall for Children and Adolescents (MARCA), com as medidas de AF obtidas por meio dos pedómetros e acelerómetros (Olds et al., 2010; Storey & McCargar, 2012) e ainda quando utilizaram o período recordatório de AF de um dia. Isso se explica pelo fato de que em crianças, o monitoramento diário sobre o comportamento de AF pode superar problemas de recordatório de memória (Cale & Harris, 1994), sendo que essa informação pode ser corroborada pelos dados de Ridley et al. (2006), em que afirmam que períodos entre um e três dias melhoram significativamente a validade dos questionários que medem AF. Quando efetuados procedimentos de validação convergente, as correlações observadas entre os métodos foram fracas (r= .28) para ambos os estudos (Olds et al., 2010; Storey & McCargar, 2012).

Em geral, os questionários eletrónicos apesar de apresentarem baixa validade para uso individual, no entanto, os mesmos podem coletar informações detalhadas quanto ao tipo, frequência, duração e o contexto onde essas atividades são realizadas pelas crianças, sobretudo, em estudos epidemiológicos, de intervenção ou de acompanhamento (Maher & Olds, 2011; Olds et al., 2010; Storey & McCargar, 2012). Igualmente, esses resultados são consistentes com outros estudos que utilizaram instrumentos tradicionais, como papel e caneta (Da Costa, 2011; Kowalski, Crocker, & Kowalski, 1997).

Dessa forma, dos 11 estudos analisados nesta revisão, cinco relataram o uso de procedimentos estatísticos adequados de reprodutibilidade. Os valores de correlação intraclasse relatados nos estudos foram elevados (Moore, et al., 2008). Isso demonstra que os instrumentos eletrónicos possuem uma excelente estabilidade temporal. Esses resultados são superiores aos encontrados em outros estudos (Barros, Assis, Pires, Grossemann, Vasconcelos, Luna & Barros, 2007; Costa, 2010).

Os questionários eletrónicos estão gradativamente sendo incorporadas nas pesquisas epidemiológicas. De fato, isso deve contribuir para o avanço dessa área do conhecimento, sobretudo, com crianças, pois, permite que escolas que possuam uma sala equipada com computadores e com acesso a internet, possam realizar diagnósticos, com economia de tempo e recursos financeiros. Embora ainda tenhamos grandes desafios a enfrentar quando se trata de usar dados autorreportados, o uso de instrumentos eletrónicos, pode proporcionar uma série de vantagens, dentre as quais podemos destacar: a garantia de anonimato oferecido pelas ferramentas baseadas na web, a atratividade, a flexibilidade, a agilidade nas coletas e armazenamento dos dados. Tudo isso faz com que os questionários eletrónicos sejam uma opção prática e eficiente para a coleta de informações sobre os comportamentos de atividade física em crianças.

Apesar das estratégias de busca dos artigos terem sido realizadas nas principais bases de dados indexadas, esse procedimento não descarta a possibilidade de algum manuscrito ter ficado fora dessa revisão. Dentre as limitações desse estudo podemos destacar o pequeno número de artigos incluídos na revisão e a dificuldade em delimitar a faixa etária para as buscas, pois no idioma inglês a definição de criança (children), pode englobar sujeitos de idades de 5/6 anos até 14 anos. Esse detalhe dificultou a seleção dos estudos a serem incluídos na revisão, impossibilitando a utilização de critérios de inclusão mais rigorosos.

CONCLUSÕES O baixo número de artigos encontrados sobre o tema evidencia a escassez de estudos relacionados aos questionários eletrónicos para avaliar atividade física em crianças. De um modo geral, a maioria dos estudos analisados nesta revisão demonstrou que os questionários eletrónicos apresentaram correlações fracas ou moderadas com medidas objetivas.

Dos 11 estudos analisados nesta revisão, cinco relataram o uso de procedimentos estatísticos adequados de reprodutibilidade. Os valores de correlação intraclasse relatados nos estudos foram elevados. Além disso, a maioria dos autores destacou que os questionários eletrónicos oferecem algumas vantagens sobre os instrumentos impressos, pois, são ferramentas inovadoras e úteis para avaliar atividade física em crianças, o seu tempo de aplicação é reduzido, sobretudo, porque podem ser mais atraentes para as crianças preencherem.

Portanto, os autores desse estudo sugerem que os questionários eletrónicos são ferramentas úteis para avaliar a prática da AF em crianças.


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