Luxação palmar isolada da quinta articulação carpo-metacárpica
INTRODUÇÃO
A queda com traumatismo do punho em extensão está associada a vários tipos de
lesão óssea ou capsuloligamentar, sendo determinante a posição na mão e punho
na altura do traumatismo. São mais frequentes afratura da extremidade distal do
rádio e cúbito, fratura do escafoide carpico, fraturas dos metacarpicos ou
falanges.
As lesões carpo-metacárpicas (CMC) são, na sua globalidade, pouco frequentes.
Estão relacionadas com traumatismos de alta energia e, como tal, com outras
fraturas ou lesões de partes moles (p.e. nervo cubital) associadas.
A fratura ou fratura-luxação CMC é mais frequente no 5º raio, sendo muito mais
comum a luxação dorsal[1,2.]. A luxação palmar isolada foi descrita em 1918[3],
e estão descritos dois tipos: 1) radial e 2) cubital[2].
A luxação CMC do tipo radial é mais frequente e resulta da rotura de todos os
ligamentos e inserções tendinosas da base do 5º metacárpico. Pela sua
instabilidade o tratamento conservador é insufi ciente, necessitando de
tratamento cirúrgico[4].
Na nossa revisão bibliográfica encontramos descritos dezanove casos de luxação
palmar isolada. Descrevemos um caso de luxação palmar isolada do tipo cubital,
o tratamento cirúrgico e o resultado aos 6 meses.
CASO CLÍNICO
Homem de 73 anos, reformado, ex-motorista de pesados, dextro, sem antecedentes
médicos ou cirúrgicos relevantes. Recorre ao Serviço de Urgência após queda da
própria altura sobre o punho e mão esquerda em extensão. Apresentava edema e
deformidade do bordo cubital da mão, com escoriação da base do 5º dedo e um
encurtamento do 5º raio e deformação palmar, em comparação com a mão
contralateral.
A palpação era dolorosa no bordo cubital do punho e mão, com incapacidade
funcional na extensão do punho e mobilização do 4º e 5ºdedos. Não apresentava
alterações neurológicas ou vasculares, nomeadamente parestesias do território
do cubital.
Constatou-se um encurtamento do 5º raio, em comparação com a mão contralateral
(Figura_1).
Figura_1
Radiologicamente constatou-se luxação palmar isolada da 5ª CMC do tipo cubital
(Figura_2).
Foi submetido, sob anestesia geral, a redução fechada e fixação percutânea com
2 fios de Kirschner, ao unciforme e à base do 4º metacárpico, tendo sido
imobilizado com tala gessada antebraqui-palmar posterior durante 6 semanas
(Figura_3).
Às 6 semanas procedeu-se à remoção dos fios, sendo permitida a mobilização
ativa sem restrições.
Aos 6 meses apresentava-se sem dor, com mobilização total do punho, mão e
dedos. O Score Dash era de 0.8 (Figura_4).
Figura_4
DISCUSSÃO
A luxação palmar CMC isolada é uma entidade rara, havendo poucos estudos
publicados na literatura internacional. Foi descrita inicialmente em 1918 por
McWorter, que preconizou tratamento cirúrgico com redução aberta. Encontrámos
19 casos publicados, dos quais 7 do tipo radial e 12 do tipo cubital[6,7,8,9].
O seu diagnóstico requer alto índice de suspeição, podendo passar despercebido
em doentes politraumatizados ou com lesões mais exuberantes em outras
localizações anatómicas. As manifestações clínicas chave são dor na base do
metacárpico e deformação com encurtamento e ligeira rotação externa do 5º dedo
[4]. O mecanismo de lesão poderá levar-nos a pensar nesta entidade, como por
exemplo nos acidentes de motorizada. No caso apresentado, o mecanismo de lesão
não é o mais habitual para a lesão apresentada.
As radiografias em AP e perfil poderão ser insuficientes, sendo importante a
radiografi a obliqua com a mão em 30º de pronação[5]. Nesta incidência é
possível observar a diastase entre a base do 4º e 5º metacárpicos. Permite
ainda avaliar a qualidade da redução.
Está descrita a lesão do nervo cubital associada, sendo que a recuperação total
após tratamento cirúrgico é a regra[10,11].
A redução anatómica é fácil se realizada precocemente. Devido à sua
instabilidade, sobretudo nas lesões do tipo radial, é difícil de manter.
A maioria dos autores preconiza fixação com fi os de Kirschner. Esta técnica é
simples, permitindo redução anatómica e mobilização do 5º dedo. Os resultados
publicados são bons ou muito bons[6,7-9] Não temos conhecimento de resultados
publicados de lesões tratadas tardiamente ou negligenciadas.
CONCLUSÕES
A luxação da 5ª CMC é uma lesão rara. O conhecimento desta entidade, uma
elevada suspeição clínica e uma avaliação radiológica adequada são pontos-chave
para o seu diagnóstico. O tratamento cirúrgico precoce com fixação percutânea é
simples, rápido, barato e permite obter um bom resultado funcional.