Varizes dos Membros Inferiores. Exame ecodoppler: classificação dos refluxos
venosos e estratégia de tratamento cirúrgico
INTRODUÇÃO
A possibilidade de estudo da circulação venosa com a ecografia Doppler tem
vindo a permitir um melhor conhecimento anatómico e hemodinamico da mesma.
A ecografia permite visualizar com pormenor a parede venosa, as válvulas
venosas, estruturas adjacentes como as fascias e gânglios linfáticos e o
próprio sangue circulante.
A análise Doppler permite estudar a direcção da circulação de retorno venoso
que em condições fisiológicas se faz no sentido proximal, de baixo para cima,
das extremidades inferiores em direcção à aurícula direita, fluxo venoso
normal, mas que em situações patológicas de incompetência valvular se verifica
um fluxo venoso em sentido distal, de cima para baixo, fluxo venoso retrógrado
ou refluxo venoso.
A possibilidade da adição da cor neste estudo eco-Dopller, ao permitir
codificar o sentido do fluxo, conforme este se aproxima ou se afasta da sonda,
codificando o fluxo normal que se aproxima da sonda com a cor azul e orefluxo
venoso que se afasta da sonda, com a cor vermelha facilitam estabelecer a
existência do refluxo de maneira rápida e fiável.
O exame ecodoppler venoso com cor, tem vindo a ter reflexos no conceito
tradicional do processo de início e evolução das varizes dos membros
inferiores, bem como no tratamento das mesmas.
ASPECTOS PRÁTICOS DO EXAME ECODOPPLER
Para estudos dos refluxos venosos o exame deve ser realizado com o doente de
pé, num estrado próprio, apoiando-se preferencialmente no membro contra
lateral, e em ligeira flexão e rotação externa.
O exame inicia-se com o estudo da veia grande safena (nomenclatura actual da
veia safena interna), a qual deve ser estudada desde a sua crossa (hoje
designada junção safeno - femoral) ao longo da coxa e perna até ao
maléolo interno.
Começa por se colocar a sonda na região inguinal, 2 a 3 cm para fora e para
baixo do tubérculo do púbis, identificando com facilidade a veia femoral comum
e a seguir visualiza-se a junção safeno-femoral, segmento que envolve a crossa
da grande safena e os primeiros 3 a 5 cm do tronco safeniano, e onde se abrem
as colaterais da crossa, que drenam regiões abdominoplelvicas e da coxa.
Esta junção safeno-femoral fica assim compreendida entre a válvula ostial (hoje
designada de terminal, pois nem sempre se situa exactamente no ostio) e a
válvula preterminal 3 a 5 cm abaixo (fig._1).
Em corte transversal a junção safeno-femoral, apresenta uma imagem conhecida
como imagem de "Mickey Mouse", por lembrar a cabeça deste célebre
personagem, sendo a cabeça representada pela veia femoral comum, e as orelhas
representadas pela grande safena e artéria femoral comum (fig._2).
É em regra bem visível a válvula terminal e os seus movimentos.
Introduzindo ao estudo ecografico o estudo Doppler procede-se à avaliação
hemodinâmica deste sector venoso usando duas manobras: a manobra de valsalva e
a manobra de compressão/ descompressão das massas musculares da perna.
A manobra de valsalva que consiste em inspiração mantida e seguida de expiração
profunda é a melhor maneira de estudar a competência da válvula terminal.
Se esta estiver incompetente, vai permitir refluxo na expiração, facilmente
identificável com uma onda de cor vermelha a seguir à onda de cor azul,
provocada pela inspiração. Esta manobra só tem interesse para estabelecer esta
incompetência. Estudo dos restantes seguimentos venosos, é feito com a manobra
de compressão /descompressão manual dos músculos da perna em estudo. A
compressão provoca uma onda bem visível de fluxo venoso normal de cor azul. Com
a descompressão muscular, se existir insuficiência venosa vai observa-se que
onda azul é seguida de uma onda de cor vermelha. Esta manobra é repetida com a
sonda de preferência longitudinal ao longo do trajecto da grande safena, na
coxa e na perna, até ao maleolo, bem como no exame das colaterais varicosas.
A grande safena na coxa e perna corre entre a aponevrose muscular e uma fascia
safeniana própria no chamado "compartimento safeniano "desenhando
uma imagem ecografica característica que lembra o "olho egípcio" e
por isso chamada de olho da safena (fig._3).
Este compartimento é essencial para se considerar que a veia em visualização é
a veia safena. As colaterais da safena ou colaterais safenianas não têm
envolvimento fascial sendo assim, mais vulneráveis à acção da força da gravidez
e a tornarem-se varicosas se existir fraqueza parietal das mesmas.
As principais colaterais na coxa são a colateral anteroexterna (que por vezes
tem protecção fascial e é chamada de safena anterior acessória, sendo mais
superficial e anterior que a situação da veia grande safena), é frequentemente
varicosa, e a colateral posterointerna.
Estas colaterais lançam-se na grande safena a distâncias variáveis da crossa,
mas podem abrir directamente nas veias femorais.
As colaterais mais frequentes na perna são a veia do arco anterior e a do arco
posterior que correm respectivamente nas faces anterointerna e posterointerna.
Ao realizar o exame ecodoppler devemos ter presentes algumas variaçõexes
anatómicas.
A duplicação da grande safena é rara, tendo-se verificado em > 3% dos doentes
com doença venosa. São pelo contrário frequentes casos de hipoplasia ou aplasia
de segmentos da grande safena.
Ter igualmente presente que a junção safenofemoral é envolvida por gânglios e
vasos linfáticos de fácil visualização ecográfica e que a grande safena tem no
seu trajecto na perna uma íntima proximidade com o nervo safeno, o que explica
a alta incidência de disestesias e parestesias no pós-operatório quando se
procedia a "stripping" da safena até ao maléolo interno. O exame
ecodoppler deve igualmente medir o diâmetro da grande safena abaixo da válvula
terminal, diâmetro que traduz o grau de dilatação da mesma e consequente
severidade e tempo evolutivo do refluxo.
A nível do terço médio da coxa poderão visualizar-se as perfurantes do canal de
Hunter e avaliada a sua competência. A nível das pernas deverão ser estudadas
as perfurantes internas (perfurantes de Cockett), as externas e as posteriores.
As perfurantes são em grande número (> 150) sendo no entanto estas as mais
constantes. As perfurantes tem um trajecto perpendicular às veias superficiais
e profundas e como o nome diz, perfuram a aponevrose muscular que é fácil de
visualizar por ser uma estrutura densa e ecogénica (fig._4).
As perfurantes fazem ligação das safenas e /ou colaterais superficiais, com as
veias profundas.
Devem também ser estudadas as veias femorais, no sentido de detectar refluxo,
ou obstrução.
Continuando com o doente de pé, mas agora de costas para o examinador e com o
joelho em ligeira flexão, procede-se ao estudo da veia poplítea, junção safeno-
poplítea e pequena safena (actual designação da safena externa). Identifica-se
a veia poplítea e de seguida a junção safeno-poplítea.
De lembrar que ao contrário da junção safeno-femoral que esta está sempre
presente e situação constante, a junção safeno-poplítea é de localização
inconstante podendo mesmo não existir.
Em regra lança-se na face poster externa da veia poplítea, podendo no entanto
lançar-se pelos lados externo ou interno.
A junção poderá situar-se no cavado poplíteo ou em cima, o que deve ser anotado
no exame, utilizando como referência a prega cutânea do cavado.
A pequena safena por vezes após lançar-se na poplítea, apresenta uma colateral
que ascende por toda a face posterior e interna da coxa indo lançar-se na
grande safena a nível variável, é chamada veia de Giacomini, que estabelece
assim uma ligação entre as duas safenas e poderá estar refluxiva. Noutros casos
a mesma ascende pela face posterior da coxa lançando-se nas veias femurais ou
perdendo-se em ramos superficiais da coxa, é o prolongamento axial posterior da
pequena safena. Por vezes não se observa junção safeno-poplítea.
Ao estudar a pequena safena devem igualmente visualizar-se as veias gemelares
que se distinguem da pequena safena por apresentarem um trajecto intermuscular
entre os músculos gémeos; e que poderão estar refluxivas.
Em cerca de ⅓ das pessoas as veias gemelares, não abrem directamente na veia
poplítea mas sim na própria veia pequena safena, originando um tronco safeno-
gemelar comum que se lança como tal na poplítea (fig._5).
Em 20% de casos pode observar-se uma pequena safena acessória, paralela mas
mais superficial.
Como guião para facilitar o exame ecodoppler venoso elaboramos o protocolo
anexo.
DEZ EVIDÊNCIAS RELEVANTES DO EXAME ECODOPPLER NOS DOENTES COM VARIZES DOS
MEMBROS INFERIORES
Entre os resultados do exame ecodoppler nos doentes com varizes, que tem vindo
a alterar conceitos e permitir novas formas de tratamento, dez apresentam-se na
nossa análise como relevantes.
1. O ecodoppler mostra com clareza que as veias safenas não são veias
superficiais, mas sim veias interfasciais, situadas entre aponevrose muscular e
uma fascia safeniana própria. Esta observação levou a um novo conceito de
ecoanatomia, que considera três compartimentos venosos nos membros inferiores o
compartimento das veias superficiais (colaterais safenianas ou não safenianas),
o das veias interfasciais (safenas e safenas acessórias) e o das veias
profundas, (fig._6) conforme bem descrito por A. Cagggiati [1,2].
A fascia da safena é provável factor explicativo da maior resistência das veias
safenas em relação às colaterais à dilatação venosa.
2. Nas novas técnicas endovasculares, a oclusão da grande safena é iniciada,
apenas 2 a 3 cm abaixo da crossa, deixando assim sem oclusão colaterais da
crossa. O controlo eco-Dopller pós-operatório mostra fluxo venoso fisiológico
nestas colaterais. Esta observação veio questionar o dogma da laqueação
juxtafemoral da crossa que era considerado gesto essencial na cirurgia das
varizes.
3. O ecodoppler revela com frequência varizes com junção safenofemoral
competente [3] bem como doentes com refluxo na junção safeno-femoral mas com
tronco normal da safena abaixo da junção [4,5]. O ecodoppler tem também
mostrado não ser obrigatória nos casos de incompetência da válvula terminal a
extensão sistemática do refluxo ao longo de toda a grande safena até ao maleolo
[6].
Estes achados questionam o dogma da clássica teoria da insuficiência venosa
descendente progressiva a partir da incompetência valvular da crossa. A
hipótese de que os refluxos venosos das safenas e mesmo das veias profundas
possam ter como ponto de partida colaterais varicosas, que iriam provocar
dilatação das veias onde se abrem devido a um aumento do débito venoso,
"overload", tem assim vindo a ser sugerida de maneira crescente.
4. Os estudos ecodoppler tem revelado a existência de segmentos hipoplásicos da
grande safena, mais frequentes nos indivíduos com varizes e nos quais a safena
distal é competente [7].
5. Com frequência na nossa prática clínica, temos encontrado varizes da
colateral anteroexterna /safena acessória anterior, com refluxo na crossa, mas
sem refluxo na safena troncular distal ao ponto de convergência da colateral
com a safena.
Nico Labropoulos encontrou 9% destes casos nas suas séries [4,5].
Tem-se verificado que nestes casos, facto que temos confirmado na nossa pratica
clínica, o simples tratamento da colateral refluxiva com flebectomias sem
crossectomia nem "stripping da grande safena é seguido de bons
resultados, mantendo-se a grande safena sem progressão de refluxo e mesmo
recuperação da insuficiência que existia préoperatoriamente na crossa [8,9].
6. O ecodoppler tem mostrado refluxos isolados do sistema da pequena veia
safena, limitados ao seu prolongamento axial posterior ou à veia de Giacomini
[10,11].
7. O ecodoppler tem mostrado doentes com varizes, nos quais o refluxo está
apenas presente em colaterais 9,7% em certas séries das quais 10% são
colaterais não safenianas [5,12].
8. Estudo ecodoppler tem mostrado que nas fases iniciais das varizes dos
membros inferiores, as mesmas são predominantes no ⅓ inferior da coxa, joelho e
⅓ superior da perna, sem varizes visíveis na coxa superior ou região inguinal
[13], o que foi confirmado em estudo recente que mostra serem, nos jovens, as
colaterais safenianas ou não safenianas as mais envolvidas com baixo
envolvimento da crossa [14].
9. O papel das veias perfurantes incompetentes no desenvolvimento dos sintomas
e/ou na doença venosa crónica, continua não esclarecido.
Os achados no exame eco-Dopller sugerem que o número de perfurantes
incompetentes é maior nas classes 4,5 e 6 da classificação CEAP15, que
perfurantes incompetentes isoladas são raríssimas e que quase sempre as
perfurantes incompetentes estão associadas a insuficiência das veias
superficiais e/ou profundas.
O ecodoppler permitiu também verificar que a correcção dos refluxos
superficiais, normaliza o fluxo venoso das perfurantes incompetentes desde que
o sistema venoso profundo esteja sem alterações [16].
10. Estes achados eco-Dopller sugerem que as alterações parietais que estão na
origem da dilatação varicosa com consequente insuficiência valvular, podem
ocorrer em qualquer segmento venoso e a partir daí progredir em sentido
ascendente ou descendente, pelo aumento do débito venoso,
"overload" [13].
Este envolvimento segmentar é em regra multifocal, facto também confirmado em
estudos de morfologia e bioquímica [17] e é a base do novo conceito de evolução
das varizes de fora para dentro e de forma ascendente ao contrário do conceito
tradicional de evolução de dentro para fora e de forma descendente, como já
anteriormente escrito.
TIPO DE REFLUXOS VENOSOS E ESTRATÉGIA DE TRATAMENTO CIRÚRGICO DAS VARIZES DOS
MEMBROS INFERIORES
As decisões terapêuticas são e sempre foram, baseadas nas evidências /
conhecimentos ou seja no "estado da arte", na experiência clínica
individual e no envolvimento do próprio doente.
A decisão terapêutica é e deve ser sempre iniciada com a história e exames
clínicos e complementada com exames, por isso chamados de exames complementares
da clínica.
No tratamento das varizes dos membros inferiores também assim deve ser e tudo
deve começar com um completo e correcto processo clínico e é este que virá
indicar a necessidade de pedir o exame ecodoppler.
A clínica de um doente com varizes, deve hoje preencher os items clínicos da
classificação CEAP.
Esta classificação representa uma forma de uniformizar os dados do processo de
doença venosa possibilitando análises comparativas.
As suas iniciais representam respectivamente a clínica (C), a etiologia (E), a
anatomia (A) e as alterações patológicas (P).
A clínica pode apresentar-se em sete classes diferentes.
A classe designada como classe Zero (C0) aplica-se a um doente com sintomas
sugestivos de doença venosa crónica, mas que não apresenta qualquer sinal de
doença. É uma classe que identifica uma doença venosa numa fase apenas
sintomática.
A classe C1, aplica-se a um doente com telangiectasias ou varizes reticulares,
ou seja varizes com dimensões inferiores a 3 mm e por isso não palpáveis.
A classe C2, aplica-se ao doente com varizes, ou seja veias superficiais
dilatadas e tortuosas, visíveis e palpáveis.
A classe C3, traduz a presença de edema maleolar.
A classe C4aplica-se a doente com alterações de pigmentação castanha e fibrose
cutânea, no terço inferior da perna.
A classe C5,aplica-se aodoente com úlcera venosa cicatrizada.
A classe C6, traduz-se uma ulcera venosa aberta.
Nas classes C1a C6os doentes podem ou não referir sintomas de doença venosa e
serão assim classificados como sintomáticos (s) ou assintomáticos (a).
Os doentes das classes C0 ou C1sintomático,apenas necessitam de tratar os
sintomas ou seja apenas necessitam de prescrição de meias elásticas e
medicamentos venoactivos, e não tem indicação para o estudo com exame
ecodoppler.
Por razoes estéticas doentes de classe C1 poderão ter indicação para tratamento
com esclerose.
Os doentes das restantes classes poderão ter indicação para tratamento
cirúrgico alem de medicamentos venoactivos e meias elásticas pelo que devem ser
enviados ao cirurgião.
A indicação de cirurgia torna necessário um exame ecodoppler venoso com cor, de
modo a estabelecer quais os sistemas venosos patológicos, superficial (s)
perfurante (p) ou profundo (d) e qual a alteração patológica, refluxo (r) e/ou
obstrução (o) venosas.
O exame ecodoppler deve em princípio ser feito ou pedido pelo cirurgião.
Como referido, o ecodoppler tem revelado vários tipos de refluxo, que além de
terem questionado o conceito de doença varicosa têm vindo a possibilitar
cirurgia selectiva adoptada ao tipo de refluxos em vez da tradicional cirurgia
igual para todos os doentes.
O conceito evolutivo descendente e progressivo a partir da crossa e de dentro
para fora conceito centrífugo (fig._7), tem vindo a dar lugar como vimos a um
conceito centrípeto, de fora para dentro (fig._8) em que as varizes surgem como
uma doença focal e multisegmentar que se pode iniciar em qualquer segmento
venoso e daí progredir em sentido ascendente ou descendente. As colaterais
superficiais são mais frequente e inicialmente envolvidas.
De facto o exame ecodoppler tem mostrado, que os refluxos podem estar presentes
apenas em colaterais superficiais, apenas em segmentos venosos da safena, que
podem incluir ou não a junção safeno-femoral, ou em padrões associados.
Labropoulos, Pitalluga, Pichot entre outros e nós próprios, procedemos à
classificação destes vários tipos de refluxo [18,19,20,21].
Estas classificações revelaram no entanto pela sua multiplicidade, difícil
reprodução na prática clínica.
Em 2009, um Grupo de Consenso de nomenclatura nas doenças venosas (The Vein-
Term) sistematizou os refluxos venosos em dois grandes tipos de refluxo:
refluxo axial e refluxo segmentar [22].
O refluxo axial (Ra) é um refluxo contínuo da safena da região inguinal até à
perna (fig._9). O refluxo segmentar (Rs) é um refluxo venoso localizado a
segmentos venosos, sejam eles colaterais superficiais ou segmentos da safena,
mas sem continuidade da região inguinal até á perna.
Na nossa experiência, este padrão de refluxo segmentar apresenta 3 subtipos.
Doentes com varizes em que o refluxo está limitado a ramos superficiais (Rs1),
pouco frequente (fig._10). Estes ramos poderão ser colaterais da safena ou
ramos não safenianos.
Doentes em que o refluxo envolve os ramos superficiais e igualmente segmentos
venosos da safena em regra adjacentes ao lançamento dos ramos da safena (Rs2/
fig.11).
Doentes em que o refluxo envolve a colateral anteroexterna da coxa, ou a safena
acessória anterior e a junção safenofemoral estando a grande safena competente
para baixo da entrada da colateral/ safena acessória (Rs3/ fig.12). Este padrão
é frequente no sexo feminino.
A estes padrões de refluxo poderão estar associados refluxos de veias
perfurantes e/ou veias profundas.
Esta simplificação do tipo de refluxos venosos é facilmente reprodutível e leva
a uma estratégia de cirurgia selectiva no tratamento das varizes dos membros
inferiores.
Se o doente com varizes apresenta refluxo do tipo axial, a cirurgia envolve o
tratamento da safena, ou seja a abordagem tradicional de crossectomia,
"stripping da safena e excisão das colaterais varicosas.
Se o doente apresenta um refluxo do tipo segmentar, podemos preservar a safena
e apenas tratar as colaterais varicosas, reservatório varicoso superficial, com
flebectomias.
Quando o refluxo segmentar, apenas envolve ramos superficiais (Rs1) é fácil
aceitar que apenas estes sejam retirados.
Já a preservação dos segmentos patológicos da safena (Rs2) ou (Rs3), poderá ser
questionada.
No entanto a retirada dos ramos superficiais varicosos, (reservatório varicoso
superficial) mais ou menos extensos, preservando segmentos safenianos
patológicos parece retardar ou mesmo reverter o processo patológico destes
segmentos venosos safenianos preservados, a exemplo do que se verifica com
perfurantes insuficientes, facto que favorece o conceito centrípeto da evolução
das varizes.
Pittaluga na sua série publicada verificou que tal aconteceu em 2/3dos casos
[14].
A nossa prática clínica tem confirmado estes achados.
Tendo iniciado esta abordagem de cirurgia selectiva com conservação da safena
com casos observacionais, os bons resultados clínicos (fig._13), e de
ecodoppler (fig._14) do seguimento destes doentes, levou-nos a partir de 2010 a
um protocolo de preservação sistemática da grande safena nos doentes com
refluxos segmentares, com excepção dos casos com insuficiência da válvula
terminal, nos quais o diâmetro da grande safena abaixo da válvula seja superior
a 8mm.
Estes doentes estão a ser objecto de seguimento clínico anual, e realização do
ecodoppler de controlo, seguimento que tem vindo a confirmar os bons resultados
(trabalho em preparação).
CONCLUSÕES
1. A determinação e classificação com o ecodoppler dos tipos de refluxo axial
ou segmentar tem vindo a permitir uma estratégia selectiva de tratamento
cirúrgico das varizes dos membros inferiores:
2. O exame ecodoppler completo com a classificação do tipo de refluxo em axial
e segmentar, é indispensável para a realização desta cirurgia selectiva em
detrimento da cirurgia tradicional igual para todos os doentes. Isto obriga a
um estudo completo da veia grande safena desde a junção, incluindo estudo da
válvula terminal, até à perna.
3. No refluxo segmentar a preservação da grande safena, mesmo que com sectores
patológicos, é seguida de resultados clínicos, pelo menos iguais à cirurgia
tradicional (não inferioridade) e mesmo com normalização do fluxo venoso em
cerca de 2/3 dos doentes conforme controlos ecodoppler.
4. Necessidade de continuar o estudo de seguimento clínico e com exame
ecodoppler das safenas patológicas preservadas, o que permitirá compreender
melhor o conceito evolutivo das varizes e validar este cirurgia selectiva
conservadora.