Intervenção com Mães de Crianças Hospitalizadas
Intervenção com Mães de Crianças Hospitalizadas
Introdução
A hospitalização de uma criança transporta consigo grandes mudanças na vida
quer da criança, quer dos pais. A minimização desta mudança ou transição
situacional no ciclo vital passa pela presença contínua dos pais durante as 24
horas do dia.
São indiscutíveis as vantagens da permanência dos pais durante a hospitalização
da criança, quer para esta quer para aqueles. As mudanças verificadas implicam
adaptações dos pais a uma nova realidade que só será ajustada de forma
equilibrada se o hospital oferecer condições físicas e humanas para isso. Estas
condições passam por um acolhimento capaz de dar respostas às suas necessidades
perspectivando uma continuidade do papel parental.
O modo como a família se adapta à situação de ter uma criança doente e
hospitalizada, depende dos seus próprios recursos intrínsecos, bem como de
suportes familiares e sociais disponíveis. A atenção passa por conhecer os seus
medos, dificuldades, sentimentos e necessidades, respeitando o conhecimento
parental da criança e o seu direito a participar na tomada de decisões e no
processo de prestação de cuidados.
Encontramos como respostas comuns dos pais da criança hospitalizada, a negação
(habitualmente reacções iniciais), sentimentos de culpa, medo e ansiedade
(relacionados com a gravidade da doença e tipo de procedimentos/ tratamentos
necessários e consequente trauma e dor que passam provocar na criança),
depressão (que pode surgir após a crise aguda e recuperação total, sendo muitas
vezes acompanhada de exaustão física e mental), impotência, revolta, e
intensificação de problemas preexistentes (Bicho & Pires, 2002 ao citar
Cárter), tudo isto associado a níveis elevados de stress. Estas reacções
ocorrem porque, segundo Schmitz (in Bicho & Pires, 2002), são muitos os
problemas que os pais enfrentam perante a hospitalização de um filho: medo da
doença e do desconhecido; ambivalência para com o filho; ausência de controlo
em relação ao meio hospitalar (pessoas, rotinas e equipamentos); mudanças de
hábitos de vida e no atendimento das necessidades do filho doente e dos outros
filhos; insegurança quanto aos tratamentos e seus resultados; problemas
financeiros, de emprego e outros de natureza social e por último padrões
comportamentais solicitados, diferentes dos habituais.
Reis & Santos (1996), consideram que os cuidados centrados na família,
prestados em parceria com esta, são a filosofia da enfermagem, sendo o
Enfermeiro Especialista de Saúde Mental e Psiquiatria o mais apto para tal. As
crenças e valores que sustentam essa filosofia incluem o reconhecimento de que
os pais são os melhores prestadores de cuidados à criança. Para que os pais
sejam um elemento efectivo da equipa assistencial, necessitam ser ajudados
desde o primeiro momento na realização do seu papel dentro da mesma (Jorge,
2004).
Os defensores da humanização do atendimento (Moleiro, 1991; Reis & Santos,
1996; Marinheiro, 2002) na saúde/ doença, preconizam a presença do Enfermeiro
de Ligação "todos os escritos de autores interessados (...) acentuam o papel da
enfermeira (...) como alguém que ajude e trate a família e a pessoa toda de
cada um" (Gomes, 1999: 153). A presença do enfermeiro de ligação da área da
saúde mental e psiquiatria é incontestavelmente uma mais-valia para a equipa
multidisciplinar, quer em termos directos destes profissionais na sua prática
dos cuidados, quer na colaboração que é prestada à equipa na prestação dos
cuidados (Mota, 2000).
Neste sentido, efectuaram-se intervenções de ajuda às mães durante a
hospitalização da criança, tendo como finalidade o apoio emocional. Estas
tiveram um carácter individual, assentes na criação de uma relação de confiança
e empática, onde se pretendeu identificar e dissecar o problema precipitador da
crise, identificar e implementar recursos emocionais, familiares, entre outros,
que melhorassem o funcionamento emocional face à situação.
Este tipo de intervenção, pretende contribuir para uma melhoria da qualidade
dos cuidados em enfermagem, tendo como parceiros efectivos na prestação dos
cuidados os pais/conviventes significativos e reforçar a importância do
Enfermeiro de Ligação em Enfermagem de Saúde Mental no Serviço de Pediatria.
São objectivos deste trabalho:
- Avaliar as respostas humanas das mães face à hospitalização das crianças
(ansiedade, depressão e stresse);
- Identificar a relação existente entre as características sócio-demográficas
das mães e as respostas humanas face à hospitalização das crianças;
- Identificar a relação que existe entre as características das crianças e as
respostas humanas das mães;
- Identificar a relação existente entre as características da hospitalização
das crianças e as respostas humanas das mães.
Metodologia
Participantes
Participaram neste estudo 47 mães que acompanharam os filhos hospitalizados. A
média de idade das mães é de 33,17 anos (DP= 6,66), variando entre os 16 anos e
os 50 anos.
Instrumentos
Para dar cumprimento aos objectivos do trabalho, foi seleccionado o seguinte
instrumento de colheita de dados:
- Caracterização da amostra em estudo que incluiu dados relativos aos pais e
crianças: idade dos pais e crianças, condições sócio-demográficas (estado
civil, sexo, habilitações literárias, idade, situação laboral), e familiares
(numero de irmãos). Incluiu ainda o conhecimento das características da
hospitalização (hospitalizações anteriores, inicio da doença e parentesco de
quem acompanha a criança).
- Como instrumento de medida para o estudo foi utilizado a Escala de Ansiedade,
Depressão e Stress (EADS) (Lovibond & Lovibond, 1995) ' Versão Portuguesa
de Pais-Ribeiro, Honrado e Leal (2004). Trata-se de uma escala constituída por
21 itens, estando organizada em três sub-escalas: Depressão, Ansiedade e
Stress, cada uma das quais constituída por sete itens. A pontuação total da
escala é fornecida através dos resultados de 3 sub-escalas, variando de 0
(mínimo) a 21 (máximo), no qual resultados mais elevados significam maiores
níveis de ansiedade, depressão e stresse.
Procedimento
A recolha de dados foi realizada entre Janeiro de 2009 e Maio de 2010, no
Hospital de Santarém, nomeadamente, no Serviço de internamento de Pediatria. O
questionário foi preenchido pelas mães que acompanhavam o filho(a) internado.
Foi explicado a finalidade e os objectivos principais do estudo a cada
participante, e, obtido o seu consentimento informado.
Os critérios de inclusão foram os seguintes:
- Pais que estivessem a acompanhar o filho durante a hospitalização;
- Pais de crianças com idades compreendidas entre 1 mês de idade e os catorze
(14) anos;
- Pais referenciados pela equipa de Enfermagem do Serviço.
Análise dos Resultados
Características das Mães
Relativamente à variável parentesco de quem acompanha a criança, incluída no
instrumento de colheita de dados, não é efectuada qualquer referência a valores
absolutos atendendo a que, durante o período de colheita de dados, somente as
mães/mulheres acompanharam as crianças hospitalizadas. Apesar de a legislação
prever a permanência de acompanhante da criança, independentemente do sexo, no
período de recolha de dados estiveram presentes somente as mães o que não
significa que estas crianças, ao longo da hospitalização, não usufruíssem
também da presença do pai ou outros elementos significativos. A maior
representatividade de indivíduos do sexo feminino no acompanhamento dos filhos
hospitalizados, também foi confirmada no estudo de Jorge (2004). A autora
afirma que culturalmente, continua, ainda, a ser atribuído um maior peso de
responsabilidade à mulher, relativamente ao acompanhamento da criança nos
momentos em que esta necessita de mais cuidados particularmente nos períodos de
doença. Um outro estudo realizado por Pedro (2009), faz referência como sendo a
mulher em 70% dos casos que assume a função de cuidados ao membro doente, no
papel da mãe, fruto de influências culturais.
Constatou-se que 11 mães têm o 3º Ciclo do ensino básico (23,4%) e 10 mães
concluíram o ensino superior (21,3%). Com o 1º Ciclo e 2º ciclo, temos em igual
número, 9 mães (19,1%), e 8 mães com o secundário (17%).
No que diz respeito ao estado civil, 40 são casadas ou vivem em união de facto
(85,1%), seis são divorciadas (12,8%) e 1 é viúva (2,1%).
Relativamente à residência, 27 mães (57,4%) vivem em meio rural, as restantes,
que corresponde a 20 mães (42,6%) vivem em meio urbano.
Quanto à situação profissional, sobressai que, no momento da recolha dos dados,
27 mães (57,4%) encontravam-se empregadas, estando as restantes desempregadas,
20 mães (42,6%).
Características das Crianças
No que diz respeito à idade das crianças hospitalizadas, a média de idades é de
3,13 anos (DP= 1,895), variando entre 1 mês de vida e os 14 anos.
Relativamente ao número de irmãos, este varia entre nenhum e três, verificando-
se que 20 das crianças são filhos únicos (42,6%), número que se repete para as
crianças que tem pelo menos um irmão. Neste estudo é pouco representativo o
número mais elevado de irmãos.
Características da Hospitalização
Passando agora aos dados específicos da hospitalização, verifica-se que a
maioria das crianças não tinha tido hospitalizações anteriores (85,1%) o que
está associado ao tipo de patologia e início da doença, sendo de aparecimento
súbito em 83,0% dos casos.
Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress (EADS)
Analisando o quadro nº 1, que reporta para a análise descritiva da nossa
amostra, verificamos estar perante uma distribuição normal, uma vez que os
valores de Skewness (assimetria) e Kurtosis (achatamento) encontram-se dentro
do intervalo ] -1,1 [. Consequentemente, foram utilizados testes paramétricos
para efectuar as análises estatísticas consideradas como pertinentes para a
compreensão da problemática em causa.
Quadro nº 1 ' Análise das variáveis EADS-21
A resposta mais representativa das mães face à hospitalização das crianças, foi
o stresse (M= 10,30; DP= 4,288), seguindo-se a ansiedade (M= 8,38; DP= 5,156) e
por último a depressão (M= 8,11; DP= 5,503).
Relação da Idade das Mães com as Variáveis Dependentes
Categorizando a variável independente idade da mãe aplicou-se o One Way Anova
para comparação de médias nas variáveis dependentes: ansiedade, depressão e
stress. As mães com idades compreendidas entre os 26 e 36 anos, obtém médias
mais altas para o stresse (M = 10,97, com DP= 3,980) e ansiedade (M= 9,17; DP=
5,176), com excepção para os sintomas de depressão, que apresenta uma média
mais elevada na faixa etária superior, dos 36 aos 46 anos (M = 9,88, com DP=
5,793) (Quadro 2).
Quadro nº 2 ' Análise comparativa das variáveis por grupos de idade das mães
Relação da Escolaridade das Mães com as Variáveis Dependentes
Correlacionando a variável da escolaridade da mãe, com as nossas variáveis
dependentes (ansiedade, depressão e stresse), verificou-se, em todas elas, uma
média mais elevada nas mães que concluíram o 3º ciclo do ensino básico (stresse
M= 11,91; ansiedade M= 9,70; depressão M= 9,45, quadro 3).
Quadro nº 3 ' Análise comparativa das variáveis pelas habilitações literárias
das mães
Estes resultados foram obtidos a partir do teste One Way Anova, não se
encontrando diferenças estatisticamente significativas.
Relação do Estado Civil das Mães com as Variáveis Dependentes
Da análise do quadro nº 4, observa-se que o stresse continua a ser a dimensão
percepcionada como sendo a mais afectada, com uma média mais elevada para o
estado civil de viuvez (M=12,00). As mães casadas são as que apresentam valores
mais elevados de ansiedade (M= 8,67, com DP= 5,259). Isto poderá indicar que os
níveis de comprometimento, responsabilidade, aliados à pressão social, podem
influenciar positivamente a ansiedade das mães. Por sua vez, o estado civil,
divorciada tem uma correlação mais elevada na depressão (M= 10,00, com DP=
5,431). Estes resultados foram obtidos a partir do teste One Way Anova, não se
encontrando diferenças estatisticamente significativas.
Quadro nº 4 ' Análise comparativa das variáveis pelo estado civil das mães
Relação da Residência das Mães com as Variáveis Dependentes
Para análise dos resultados relativos às variáveis ansiedade, depressão e
stresse com a residência das mães, realizou-se o T-test de Student, onde mais
uma vez não existe diferenças estatisticamente significativas entre as
variáveis dependentes e a residência das mães. Verificou-se uma média de
stresse mais elevado nas mães que vivem em meio urbano (Média=11,05, com DP=
4,488) comparativamente às que vivem em meio rural (Média=9,74, com DP= 4,166),
ao contrário da ansiedade (Média=8,67, com DP= 5,088) e depressão (Média=8,19,
com DP= 6,020) com médias superiores para as mães que vivem em meio rural
(quadro 5).
Quadro nº 5 ' Análise comparativa das variáveis pela residência das mães
Relação da Situação Profissional das Mães com as Variáveis Dependentes
Correlacionando as variáveis dependentes com a situação profissional da mãe,
constata-se pela análise do quadro 6, que as mães desempregadas, relativamente
às mães empregadas são as que apresentam pontuações mais satisfatórias nas três
dimensões da EADS-21 (apesar das diferenças não serem estatisticamente
significativas, com a aplicação do T-test). O stresse foi o sintoma mais
representativo, com uma média de 10,50, a ansiedade 8,89 e a depressão 8,85.
Quadro nº 6 ' Análise comparativa das variáveis pela situação profissional das
mães
Relação da Idade das Crianças com as Variáveis Dependentes
Um outro dado interessante refere-se à idade das crianças hospitalizadas. Nesta
variável, o grupo de crianças com mais de 12 anos (apesar de as diferenças não
serem significativas com realização teste One Way Anova), é aquele que
apresenta pontuações mais satisfatórias nas dimensões ansiedade (M= 10,29; DP=
5,908) e depressão (M= 10,38; DP= 6,423) da EADS-21. A dimensão stresse tem uma
média mais elevada de 11,43 para as mães de crianças na faixa etária dos 9-12
anos (quadro 7).
Quadro nº 7 ' Análise comparativa das variáveis por grupos de idade das
crianças
Relação do Número de Irmãos da Criança com as Variáveis Dependentes
Compararam-se os valores de depressão, ansiedade e stresse com o número de
irmãos das crianças hospitalizadas, pela análise do quadro 8 verificou-se que a
dimensão stresse tem uma média mais elevada, de 12,50 nas mães em que as
crianças têm mais 2 irmãos. A dimensão depressão apresenta uma média de 8,37
nas mães em que as crianças têm apenas 1 irmão.
Quadro nº 8 ' Análise comparativa das variáveis por número de irmãos das
crianças
Na ansiedade, ao contrário das outras dimensões, temos uma média mais elevada
(M=9,44; DP= 4,938) nas mães de filho único, ou seja o filho que está
hospitalizado.
Relação do Inicio da Doença com as Variáveis Dependentes
O quadro 9 representa a comparação entre as médias das variáveis dependentes
com a forma como a doença se manifestou nas crianças, aplicou-se o T-test de
Student onde mais uma vez não se verificou diferenças estatisticamente
significativas. Constatou-se que a dimensão stresse e a depressão têm uma média
mais elevada nas manifestações de doença de início insidioso (stresse M= 12,50;
DP= 5,767 e depressão M= 9,29; DP= 7,017) ao passo que a ansiedade tem valores
mais elevados na doença de início súbito (M= 8,41; DP= 4,924).
Quadro nº 9 ' Análise comparativa das variáveis por início da doença da criança
Relação de Hospitalizações Anteriores da Criança com as Variáveis Dependentes
Um outro dado analisado refere-se à experiência das mães face a hospitalizações
anteriores do filho doente. Nesta variável, o grupo que referiu ter tido
experiencias com hospitalizações anteriores do filho doente (apesar de as
diferenças não serem significativas com realização T-test de Student), é aquele
que apresenta pontuações mais satisfatórias nas dimensões stresse e depressão
da EADS-21 (stresse M= 10,71 e DP= 4,889 e depressão M= 9,29 e DP= 6,525). Na
ansiedade o mesmo não sucedeu, as mães sem experiência de hospitalizações do
filho apresentaram pontuações mais elevadas, com uma média de 8,66 (quadro 10).
Quadro nº 10 ' Análise comparativa das variáveis por hospitalizações anteriores
da criança
Discussão dos Resultados
Os dados obtidos indicam que, tal como a literatura sugere, a hospitalização da
criança desencadeia sentimentos de insegurança, medo, depressão, stresse e
ansiedade, provocando uma crise emocional na família, sendo consideradas
reacções normais e adaptativas (Ferreira, 2010; Jorge, 2004; Pedro, 2009).
As mulheres casadas apresentam uma maior incidência de doenças mentais
(ansiedade, depressão e stresse), do que as solteiras, exceptuando-se as
mulheres separadas ou divorciadas (Silva,1999). Estes dados estão de acordo com
o estudo, as mães casadas foram as que apresentaram uma média mais elevada de
ansiedade, as mães divorciadas apresentaram uma média maior na depressão e o
stresse esteve mais presente nas mães viúvas.
De acordo com os resultados verificou-se que ser mãe mais velha está associado
ao facto de apresentar mais sintomas depressivos (Baião, 2009).
As mães com menos escolaridade apresentam ainda, índices de ansiedade,
depressão e stresse. No entanto estes dados vem confirmar os resultados de
outros estudos, onde relacionam as habilitações literárias e respostas humanas
(ansiedade, stresse e depressão), concluindo-se que as últimas assumem-se de
forma mais expressiva em elementos da amostra que possuem habilitações
literárias iguais ou inferiores ao 9º ano de escolaridade (Silva, 1999). Numa
tentativa de explicação deste facto, Vaz Serra (2002) refere que o grau de
instrução determina comummente a forma como a pessoa se descreve. Se o grau de
educação é elevado as queixas tendem a ser "intelectualizadas",
enquanto os grupos iletrados incidem a sua atenção nas perturbações físicas.
Viver em meio rural, fora da abrangência do hospital provoca nas mães índices
de ansiedade e de depressão mais elevados. O facto de as mães não residirem na
zona de abrangência do hospital influencia positivamente o seu estado emocional
(Jorge, 2004).
A profissão parece ser protectora para as manifestações psíquicas, estatutos
sócioeconómicos mais desfavorecidos resultam em níveis mais elevados de
stresse, ansiedade e depressão (Baião, 2009). Estes dados reforçam os
resultados do estudo, em que as mães desempregadas, com estatutos
socioeconómicos mais desfavorecidos, foram as que apresentaram maiores níveis
de stresse, ansiedade e depressão.
Verificou-se, contrariamente ao esperado, que as mães de crianças mais velhas
são as que apresentam maiores índices de ansiedade, depressão e stresse. O
mesmo sucedeu num estudo realizado por Baião, 2009, em que as mães de crianças
mais velhas revelaram, níveis de stresse mais elevados em comparação com as
mães de bebés. Tendo em conta a literatura, os resultados obtidos poderão estar
relacionados com o estado clínico favorável dos bebés-alvo.
O facto de ter mais filhos associa-se a um maior número de acontecimentos
stressantes, os resultados estão de acordo com os estudos (Baião, 2009; Jorge,
2004), em que ter mais filhos associa-se a um maior número de acontecimentos
stressantes. A hospitalização da criança traz dificuldades essencialmente a
nível familiar e, mais relacionadas com o filho doente e os outros filhos,
imaginando como suporte a família nuclear e de origem (Jorge, 2004). Foi
possível verificar neste estudo que as grandes fontes de stresse na família
foram os filhos doentes, o hospitalizado e os outros.
As crianças hospitalizadas por doença de início súbito provocaram nas mães
níveis mais elevados de ansiedade, contrariamente à depressão e stresse que se
relacionam com doenças de início insidioso. Nas doenças de início súbito, as
mudanças comportamentais e afectivas requerem dos pais e família uma rápida
mobilização das suas competências para lidar com a situação de crise, enquanto
nas doenças de aparecimento prolongado existe um período de maior adaptação
(Jorge, 2004). Estes dados vêm confirmar os resultados de um estudo realizado
por Pereira e Lopes (2005), em que os autores referem que após o primeiro
impacto do diagnóstico da doença, os pais passam por uma fase tipicamente
caracterizada por um período de ansiedade, raiva, protesto, associado com
sentimentos de culpabilização.
A fase de início insidioso, corresponde neste estudo às doenças crónicas, nesta
fase ocorre o reconhecimento de que a condição de doença crónica existe. Nesta
fase podem surgir sentimentos de depressão, desespero e isolamento, no qual
prevalece e encontra-se exacerbado um sentimento de vulnerabilidade e solidão
associado a um sentido marcado de perda (Pereira & Lopes, 2005). Nesta fase
de doença foram manifestados sentimentos de stresse por parte das mães,
pressupõe-se que esteja relacionado com o facto de uma nova confrontação com o
processo de hospitalização. A experiência da família de doença e/ou
hospitalização, pode conduzir a situação de crise ou numa situação de
crescimento ou maturação da família (Pedro, 2009).
Conclusões
A hospitalização da criança é um importante acontecimento na vida familiar
podendo apresentar-se como uma emergência, atendendo a que a família necessita
de ajuda externa para se proteger de uma mudança não desejada. Pode ser o ponto
de partida para a crise, quando o auxílio externo não é suficiente para evitar
a necessidade de uma mudança qualitativa.
O modo como a família se adapta à situação de ter uma criança doente e
hospitalizada, depende dos seus próprios recursos intrínsecos, bem como de
suportes familiares e sociais disponíveis. A atenção passa por conhecer os seus
medos, dificuldades, sentimentos e necessidades, respeitando o conhecimento
parental da criança e o seu
direito a participar na tomada de decisões e no processo de prestação de
cuidados.
As respostas dos pais à hospitalização dependem da gravidade e eminência de
ameaça ao filho doente, capacidade de mobilização dos recursos familiares,
experiências anteriores, crenças e valores e outros. A culpa é uma resposta
quase universal para os pais (Jorge, 2004).
Os cuidadas de enfermagem devem dar resposta as necessidades cognitivas,
emocionais, comportamentais dos pais. Para estes, é importante: ver que os
filhos estão a receber os cuidados físicos competentes, compreender a situação
clínica, sentir que são importantes para os seus filhos e capazes e que tenham
oportunidade de discutir os sentimentos sobre a hospitalização.
O papel do enfermeiro na ajuda aos pais passa pelo reconhecimento e a
descoberta dos seus potenciais recursos, de acordo com a sua própria
personalidade, para a resolução dos seus problemas. A ajuda só será eficaz
quando o enfermeiro interiorizar que só o ajudado possui os recursos base para
resolver o seu problema; este, apenas deve orientar e assistir e nunca decidir
ou substituir no processo de resolução de problemas. Assim, a ajuda faz com que
haja no outro crescimento, desenvolvimento, maturidade, um melhor funcionamento
e uma maior capacidade para enfrentar a vida (Chalifour, 1993; Lazure, 1994).
Com a noção de relação subentende-se a presença de elos de contactos, de uma
forma de coexistência.