Gestão dos manuscritos submetidos à Revista Portuguesa de Medicina Geral e
Familiar nos últimos cinco anos
EDITORIAL
Gestão dos manuscritos submetidos à Revista Portuguesa de Medicina Geral e
Familiar nos últimos cinco anos
Daniel Pinto*
*Editor da Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar
Endereço_para_correspondência | Dirección_para_correspondencia | Correspondence
Gerir uma revista científica com um corpo editorial composto por voluntários
que trabalham gratuitamente e um secretariado profissional de uma só pessoa com
um reduzido número de horas semanais dedicadas à revista não é tarefa fácil,
mas é isso que têm feito sucessivos editores da Revista Portuguesa de Medicina
Geral e Familiar. Há que receber cada manuscrito, verificar se cumpre as normas
de apresentação, confirmar aos autores a entrada, atribuir o manuscrito a um
editor, analisá-lo, discuti-lo em reunião do corpo editorial e decidir o seu
envio para revisão interpares, escolher e contactar os revisores, escrever
pedidos de reformulação, contactar os autores, voltar a enviar o manuscrito aos
revisores, aprovar a versão final, enviar o manuscrito para o revisor técnico,
fazê-lo seguir para paginação, verificar as provas e finalmente ver o artigo
publicado e começar tudo de novo com o seguinte. Em cada momento, um editor
estará a gerir cerca de cinco manuscritos em diferentes fases deste processo.
Esta complexidade inerente às tarefas editoriais é propensa a falhas e erros.
Por isso, na ausência de outros recursos de gestão editorial com custos fora do
alcance da nossa revista, criámos em 2008 uma ferramenta electrónica a que,
entre os editores, apelidámos de "Gestor de artigos", ou
simplesmente gestor. No gestor dão entrada todos os novos manuscritos e para
cada um são registados os dados dos autores e dos revisores, a fase em que se
encontra no processo editorial, as datas de conclusão das fases anteriores, o
editor responsável, etc. Desde o segundo semestre de 2008 o gestor é utilizado
de forma regular para todos os novos manuscritos, tendo-se tornado num auxiliar
indispensável às tarefas dos editores. Além disso, o gestor colecciona
informação interessante acerca do funcionamento da revista e do seu corpo
editorial, como o número de manuscritos recebidos, a taxa de aceitação ou a
demora até à decisão final de recusa ou aceitação. Neste editorial partilhamos
com os nossos leitores a informação acerca dos manuscritos recebidos nos
últimos cinco anos (entre Julho de 2008 e Junho de 2013) e que se encontra
resumida no quadro_I.
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O número de manuscritos submetidos à Revista Portuguesa de Medicina Geral e
Familiar conheceu um aumento substancial, sobretudo na categoria de artigos
breves, que o corpo editorial tem procurado incentivar. Contudo, o número de
trabalhos de investigação original, onde a revista tem por política publicar o
maior número de artigos, não tem aumentado. Para aumentar a divulgação dos
resultados de trabalhos de investigação, o corpo editorial decidiu sugerir a
alguns autores a transformação dos seus manuscritos para as secções de artigos
breves (um manuscrito) ou cartas de investigação (dois manuscritos). O mesmo já
foi feito com quatro manuscritos na categoria de relatos de caso, transformados
durante o processo editorial em artigos breves. No quadro_I, estes artigos
foram contabilizados na secção final em que foram publicados.
O aumento do número de submissões não foi acompanhado de maior espaço para
publicação, o que tem naturalmente como consequência uma diminuição da taxa de
aceitação dos manuscritos recebidos. Isto quer dizer que o corpo editorial pode
agora seleccionar para publicação apenas os artigos de maior qualidade. O
número de artigos publicados tem como principal factor limitante a edição da
revista em papel e os respectivos portes de correio. O aumento do número de
páginas tornaria a revista economicamente inviável. Encurtar a periodicidade da
revista (de bimestral para mensal) também não parece actualmente viável, uma
vez que o número de manuscritos com qualidade para publicação é ainda
insuficiente para alimentar 12 números por ano. Além disso, tal representaria
um aumento muito significativo do trabalho do corpo editorial, com necessidade
de repensar a organização da revista.
Já o número de cartas ao director, apesar de ter aumentado nos últimos dois
anos, continua a ser inferior ao desejável. O corpo editorial gostaria de
receber um maior número de comentários aos artigos que publica, bem como de
cartas de investigação relatando resultados de pequenos estudos (estudos
piloto, observações em listas de utentes ou unidades de saúde, confirmação de
resultados obtidos noutros locais, etc.) que, pese embora as suas limitações,
possam trazer novo conhecimento científico. A taxa de publicação de 100% das
cartas recebidas nos últimos cinco anos deve servir de estímulo aos autores
para que submetam os seus comentários e trabalhos.
Em contraponto, o número de manuscritos de revisão que temos vindo a receber
nos últimos três anos é excessivo face ao espaço que existe para publicação
(seis artigos por ano), do que resulta ser esta a secção com mais baixa taxa de
aceitação. Assim, os autores interessados em publicar trabalhos de revisão na
nossa revista devem saber que apenas aqueles com maior pertinência para a
prática dos médicos de família e qualidade metodológica acima da média serão
considerados para publicação.
A demora mediana até à decisão de aceitação ou recusa foi de 3,9 meses no total
dos últimos cinco anos, sendo maior para os manuscritos que vieram a ser
publicados (6,4 meses) do que para os artigos que foram recusados (2,5 meses).
Esta diferença é ilustrativa do esforço conjunto de autores, revisores e
editores para melhorar os manuscritos com potencial de publicação ao longo do
processo de revisão interpares, garantindo que o resultado final tem a melhor
qualidade possível.
É notória uma diminuição substancial da demora até à decisão editorial ao longo
dos últimos cinco anos, de 9,7 meses no período de Julho de 2008 a Junho de
2009 (8,2 meses para os manuscritos que vieram a ser publicados e 11,5 meses
para os que foram recusados) para 2,0 meses no período de Julho de 2012 a Junho
de 2013 (3,2 meses para os manuscritos que vieram a ser publicados e 1,7 meses
para os que foram recusados). Esta diminuição reflecte um esforço continuado do
corpo editorial para agilizar o processo de gestão dos manuscritos no sentido
de dar uma resposta célere aos autores. Para esta diminuição do tempo de
resposta têm contribuído o aumento do número de revisores e a rapidez do seu
trabalho, o esforço do corpo editorial para transmitir rapidamente aos autores
o parecer da revisão e a decisão para recusar alguns manuscritos após
apreciação do corpo editorial sem necessidade de obter o parecer de revisores
externos (poupando os revisores para aqueles manuscritos com potencial de
publicação).
Nos próximos anos a Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar continuará
o seu processo de evolução na gestão de manuscritos, esperando o corpo
editorial que dentro de algum tempo o processo de submissão passe a ser feito
através da ferramenta Open Journal Systems, que actualmente utilizamos para
gerir a nossa página electrónica. Esta ferramenta permitirá realizar todo o
processo editorial de forma integrada, com possibilidade de autores, editores e
revisores conhecerem o estado de cada manuscrito em qualquer momento. O
objectivo final será sempre o mesmo: levar aos nossos leitores uma revista de
elevada qualidade e contribuir para o conhecimento científico na área da
Medicina Geral e Familiar.
Endereço_para_correspondência | Dirección_para_correspondencia | Correspondence
danielpinto@rpmgf.pt
Conflito de interesses
O autor foi o criador da ferramenta "gestor de artigos" utilizada
pelo corpo editorial da Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, tendo-
o feito a título gratuito.