Encontro anual da associação de geógrafos americanos 2009 (AAG ANNUAL MEETING
2009)
Encontro anual da associação de geógrafos americanos 2009 (AAG ANNUAL MEETING
2009)
Luís Carvalho*
*European Institute for Comparative Urban Research. Erasmus University
Rotterdam E:mail: decarvalho@ese.eur.nl
O encontro anual da Associação de Geógrafos Americanos (AAG) é uma das maiores
plataformas mundiais para discussão do avanço científico, metodológico, do
ensino e da prática em geografia física e humana. Reúne anualmente, durante uma
semana, geógrafos e outros profissionais provenientes das mais diversas partes
do mundo numa cidade americana, em carácter de rotatividade. durante essa
semana, para além das sessões de conferências e painéis com oradores
convidados, tem lugar uma grande diversidade de eventos, como por exemplo
workshopstemáticos, encontros de grupos de especialidade, sessões plenárias,
apresentações de livros, visitas de estudo, exibição de livros, novo software,
feira de emprego, exposição de posters, entre outros.
Durante uma semana, a AAG torna-se o epicentro mundial da geografia, um
clustertemporário de produção e difusão de conhecimento. A edição de 2009 teve
lugar em Las Vegas, Nevada, de 22 a 27 de Março. Contou com cerca de 7 000
participantes provenientes de 60 países, de entre os quais cerca de 4 000
apresentaram comunicações (artigos, comunicações em painel, posters),
organizados em torno de centenas de sessões e painéis nos mais diversos campos
de trabalho em geografia física e humana. Este ano, o plenário de abertura foi
dedicado a um tema de geografia física: o futuro dos recursos hídricos no Oeste
Americano. Seguiu-se uma recepção internacional de boas vindas. Durante a
semana foram realizados diversos workshopscom a duração de menos de um dia
destinados a explorar ferramentas, softwaree métodos de trabalho em geografia,
como por exemplo as mais recentes aplicações em Metadata, ArcGIS, suportes
visuais de apoio, calibração de modelos espaciais, técnicas de gestão de tempo,
metodologias de ensino da geografia, planeamento e técnicas de escrita e
publicação, passando ainda por um concorrido workshopde provas de vinhos
italianos. Tiveram ainda lugar diversas (16) visitas de estudo destinadas a
explorar o património cultural e físico de Las Vegas e sua envolvente. Entre as
mais populares estiveram This is Vegas! Or can I get a Deep Fried Twinkie with
that?,organizada pelo departamento de Geografia e Planeamento da Indiana
University of Pennsylvaniae as visitas aos Parques Nacionais do Grand Canyone
Death Valley, onde foi abordada sua história, geologia e desafios de
sustentabilidade.
A AAG ENQUANTO “BAZAR DE GEOGRAFIA”: VANTAGENS E DESVANTAGENS
A AAG dificilmente deixa alguém indiferente. Trata-se de uma conferência
bastante intensa, uma concentração maciça de delegados das mais diversas
idades, especializações e perfis académicos e profissionais, comparada por
alguns a um grande “bazar”. Na minha opinião, tal como visitar e comprar num
bazar tem vantagens e inconvenientes (independentemente dos custos de
oportunidade temporais e financeiros associados), também a AAG tem pontos
fortes e fracos que convém considerar ao planear uma participação.
Para além das evidentes vantagens associadas i) ao contacto e networking com
colegas e profissionais com interesses comuns e ii) à possibilidade de visitar
lugares no mínimo interessantes pessoal e profissionalmente, do lado dos pontos
fortes pesa ainda claramente iii) a concentração num só local de alguns dos
nomes mais importantes nos diferentes ramos da geografia a nível mundial. Esta
concentração torna possível a participação em sessões de discussão do estado-
da-arte ao mais alto nível e de trabalhos em curso na fronteira da(s)
disciplina(s). A organização da AAG encoraja os participantes a organizar
voluntariamente sessões temáticas, de comunicações ou painel, para a discussão
de temas específicos – por exemplo, em 2009, surgiram temas como “Local
Government Boundary Change”, “World Cities and Global Production Networks”,
“The Experiences of Immigrants and Refugees in Urban Areas: Canada and Europe”
ou “The institutional-evolutionary interface: challenges, contradictions and
conflicts in economic geography”. O encontro da AAG permite ainda tomar parte
em aulas patrocinadas por revistas científicas da especialidade e participar em
reuniões de reflexão de alto nível nas diversas sub-disciplinas (por exemplo,
em 2009, na sessão de discussão em torno dos desafios e respostas da geografia
económica ao prémio Nobel da Economia de Paul Krugman).
Do lado dos pontos fracos, tal como num grande “bazar”, tende a pesar i) a
elevada impessoalidade do evento e ii) as dificuldades logísticas inerentes a
uma conferência da dimensão da AAG. A concentração de pessoas não é por si só
garante de interacção e networking e pode até torná-los relativamente mais
difíceis, dada a grande diversidade de especialidades e interesses académicos
representados na AAG. Por outro lado, a dimensão da AAG tende a gerar
dificuldades logísticas e aspectos organizacionais menos bem conseguidos. Na
edição de 2009 é de salientar a fragmentação do espaço físico da conferência
entre dois centros de congressos relativamente distantes entre si, implicando
dificuldades de movimentação entre sessões, bem como a quase não
disponibilização de internet e postos de acesso (5 computadores no total para 7
000 participantes). A divulgação durante a semana de 3 números da newsletter
AAGeogrampermitiu relembrar a realização e localização de alguns eventos e
facilitou, dentro do possível, a comunicação entre a organização e os
delegados. O envolvimento da organização é mantido ao mínimo durante toda a
conferência. Após definido o programa e reservadas as salas, a conferência
funciona praticamente em regime de “laissez-faire”.
COMO PREPARAR A PARTICIPAÇÃO NUMA AAG?
De seguida ficam algumas notas breves sobre questões a ter em conta na
preparação de uma participação – apresentação de uma comunicação – na AAG
(i)
.
Em primeiro lugar, é importante estabilizar o tópico com alguma antecedência e
prestar atenção às datas chave no website. Não é necessário ter um artigo
escrito, mas é importante procurar antecipadamente a sessão mais adequada. No
momento de registo, a organização apenas requer a submissão de um pequeno
resumo da comunicação, ao qual atribui um código. Após a submissão, existem
três alternativas:
– Por defeito, deixar a organização encaminhar a comunicação para uma sessão em
função das palavras-chave, com o risco de esta ser encaminhada de modo
semialetório para uma sessão mais generalista ou de um tema apenas
indirectamente relacionado. Por exemplo, quando submeti ao websiteuma
comunicação para a discussão de “mecanismos evolucionistas na geografia
económica” fui encaminhado para uma sessão sobre comércio internacional de
commodities, dado que duas das palavras-chave da comunicação eram “Brasil” e
“biofuels”.
– Procurar sessões específicas, individualmente organizadas, no websiteda
conferência ou outros contactos. O organizador pode ser contactado sobre o
interesse de incluir a comunicação na sessão. Estas sessões são geralmente
melhores para todos: tendem a ser mais focadas, fomentam um networking mais
orientado e por vezes dão origem a convites para números especiais de revistas
científicas e outras publicações. Por exemplo, estando insatisfeito com a
sessão e o tema para onde fui encaminhado, contactei o organizador de uma
sessão sobre “geografia económica evolucionista”, no sentido de incluir a
comunicação na sua sessão;
– Tomar a iniciativa de organizar uma sessão específica. A organização avaliará
a relevância e adequação do tema (por exemplo, pelo potencial de mobilização e
interesse dos participantes) e verificará se existem sobreposições com outras
sessões, podendo sugerir uma eventual fusão. O organizador pode convidar
participantes para a sessão. A organização de um painel ou de um workshopsegue
um procedimento semelhante.
Em segundo lugar, dada a dimensão deste “bazar”, convém fazer antes uma “lista
de compras”. Se é verdade que podemos encontrar agradáveis surpresas pelo
caminho, é conveniente definir a priori sessões a não perder a par de outras
alternativas em segundo grau de prioridade. O programa deverá estar disponível
no websitecerca de um mês antes da conferência. Estes podem parecer os
procedimentos óbvios das “boas práticas de participação numa conferência”, mas
aqui ganham particular importância dada a dimensão da conferência e as
múltiplas actividades paralelas. Importa também não esquecer que as
comunicações duram cerca de 20-25 minutos incluindo discussão e que uma parte
significativa da discussão e networking tenderá a tomar lugar fora da sala da
conferência. Vale ainda a pena pensar na inscrição em workshopse visitas de
estudo com alguma antecedência – as mais populares esgotam rapidamente, mas são
importantes para respirar um pouco e desanuviar da agitação do “bazar”.
(i)
As próximas AAG 2010 e AAG 2011 terão lugar em Washington e Seattle,
respectivamente.