À frente do computador: a Internet enquanto produtora de dependência e
isolamento
Introdução
Entender como opera a Internet na vida quotidiana faz com que pesquisadores e
empreendedores de todo o mundo dediquem horas e horas a fio de trabalho
voltados à causa que tem (re)movido conceitos e vem construindo novas
perspetivas. A frase utilizada como epígrafe deste trabalho, dita pelo jovem e
visionário Mark Zuckerberg, criador do Facebook, no Web 2.0 Summit, em São
Francisco (CA), explicita algo evidente ' mas que nunca será tão óbvio: a Web
atua como um campo de possibilidades em que o indivíduo é o principal
responsável pela sua sobrevivência. No evento, Zuckerberg falava sobre o
lançamento de um novo aplicativo para o Facebook. No entanto, a frase encaixa-
se perfeitamente na proposta deste texto. Aqui, a abordagem não será comercial,
mas sim sobre o mundo promovido pela Internet e seus efeitos sobre o
indivíduo. Ao fechar mais a análise, a ideia é abordar a perspetiva da Internet
enquanto produtora de dependência e isolamento do homem. O resultado sobre a
sedução pelo virtual e, por consequência, a autoexclusão do convívio social.2
A análise terá como pano de fundo os estudos de Internet Addiction (IA),
liderados pela investigadora norte-americana Kimberly S. Young (1996, 1999), da
St. Bonaventure University (NY ' USA).Young tem desempenhado, há mais de dez
anos, pesquisas sobre dependência em Internet e os meios de diagnóstico e
tratamento. O assunto também tem sido refletido pela escola da psiquiatria.
Mesmo sendo considerada uma perturbação do controle dos impulsos que não
envolve uma substância tóxica (Young, 1996: 237), o uso excessivo da Internet
tem provocado colaterais desagradáveis na saúde e bem-estar dos indivíduos. Daí
a relevância e a preponderância das pesquisas. No entanto, entende-se aqui que
a ótica social que envolve o processo de dependência e isolamento também acaba
por ser essencial na análise. A sedução pelo simbólico e os recursos semióticos
aliciadores utilizados pelos meios para atrair o usuário à Internet realçam o
fator de que o meio social e a necessidade crescente de contacto com os
mediadesempenham um importante papel na dependência. Os estudos norte-
americanos de telepresença e mediasocial, por exemplo, focam em tal fator e
publicam, periodicamente, pesquisas a fim de comprovar a tese. Os trabalhos
demonstram os efeitos sociais que os mediatêm sobre o indivíduo, operando,
inclusive, na construção de uma nova identidade (Bracken e Skalski, 2010).
Isso porque o ser humano possui uma necessidade latente de ter contacto com os
mediae agir sobre eles. Tal necessidade tem uma explicação sociológica na
vertente dos estudos de Pierre Bourdieu. A partir de um pensamento
estruturalista-construtivista, Bourdieu abarca o conceito de que existem
estruturas sociais objetivas que operam sobre os indivíduos, dirigindo-os e
atuando sobre suas representações (Bourdieu, 1987). Para Bourdieu, há um certo
processo interativo entre as pessoas e as tais estruturas. Os indivíduos,
denominados por sujeitos, recebem os estímulos, codificam-nos, legitimam-nos e
os reproduzem. Para ele, os sujeitos estão inseridos na estrutura e operam como
força estruturante de um campo (Bourdieu, 1980: 70). Além de Bourdieu, outros
autores abraçam a ideia de que o processo de sedução por meio dos estímulos é
um forte denominador que influencia o contacto humano com o meio ' e, nesse
caso, os meios. Os computadores (e a Internet) acabam por liderar a lista. Isso
porque apresentam a possibilidade de novas e diferentes sensações aos usuários.
Sentimentos que, possivelmente, podem explicar os efeitos de dependência e, até
mesmo, isolamento (em casos mais extremos). A descoberta do novo, da sensação
indescritível de liberdade, a negação do eu, a criação de uma identidade
virtual, o anonimato e a facilidade de se relacionar estão entre os fatores que
atraem milhões de usuários para os computadores. Dos seios de suas casas (ou
mesmo da rua), homens e mulheres, de todas as idades, experimentam a
interatividade sem julgamentos externos ou políticas castradoras. E a
necessidade de ter contacto com essas sensações acaba por se tornar excessiva.
Viciante. A psiquiatria entende, hoje, que a Internet promove dependência sim e
busca soluções para catalogar e acordar protocolos de atendimento. Cruza os
sintomas de dependência, impulsividade e compulsão com outros transtornos
mentais, e propõe tratamento a partir de técnicas terapêuticas, intituladas
Terapias Cognitivo- Comportamentais (TCC) (Pujol et al., 2009). Não há o
emprego de drogas no tratamento, mas pode viciar tanto como algumas drogas
ilícitas. Pode alterar, inclusive, funções no sistema nervoso e provocar
sintomas semelhantes aos da depressão. A reclusão e a perda gradativa do
convívio sadio com amigos e familiares também são facilmente diagnosticadas nos
chamados adictos. A relação viciante do indivíduo com o meio on-lineem
detrimento do off-lineestá mais viva, latente, diária, corriqueira. Os
usuários, muitas vezes em decorrência da veloz vida quotidiana, preferem os
ecrãs dos computadores às pessoas e compartilham experiências muitas vezes com
desconhecidos. Um processo que envolve um mundo paralelo ' virtual ' e que
transforma as pessoas em seus próprios personagens, num processo de second
life. Serão reforçados, aqui, os temas dependência e isolamento na Internet. A
intenção é apresentar um cruzamento de ideias com relação à necessidade dos
indivíduos em ter contacto com a Web. A análise circunscreverá o assunto à
hipótese de que o indivíduo se abstém do convívio social (off-line) para
dedicar-se ao mundo virtual (on-line). Para isso, serão analisados
questionários dissertativos acerca do assunto, realizados por meio de fóruns na
própria Internet.
A proposta será um passeio pelo mundo virtual através da reflexão dos
verdadeiros atores.
1. Internet em foco ' dependência e isolamento
Praticamente desde o aparecimento da Internet, nos anos 90, assuntos
relacionados com os possíveis malefícios que o novo meio poderia acarretar no
indivíduo começaram a surgir. Uns dos primeiros alertas foi levantado pelo
jornal norte-americano New York Times, em março de 19953 . A partir de então,
estudos começaram a ser recorrentes e temas como dependência e isolamento,
discutidos por pesquisadores de todo o mundo. No entanto, tratar de temas como
esses, sem cair no campo da psiquiatria, acaba por ser um grande desafio por
parte dos pesquisadores das ciências sociais. Aqui, a abordagem proposta visa
navegar pelos dois campos. Isso porque, nos estudos sociais, não há
dissociações dessa natureza. Entende-se o indivíduo como um todo e sua relação
com o meio social. A dependência é um sintoma já estudado profundamente pela
psiquiatria e psicologia. No entanto, é preciso frisar que os estudos estavam
voltados à dependência que advém de um fator químico. E essa é a grande questão
das pesquisas que envolvem a Internet. A psiquiatria levou alguns anos para
assumir a adição à Internet como distúrbio (Pujol et al., 2009), pois entendia-
se que, cientificamente, era complicado relacionar uma dependência com fatores
não químicos. A partir de então, o relacionamento foi para o campo da
psicologia e as práticas comportamentais (behavior). E foi nesse metierque se
encontram as pesquisas da doutora Kimberly S. Young, atual docente e
pesquisadora da St. Bonaventure University (NY ' USA). Detentora do sítio de
Internet www.netaddiction.com, Young publica periodicamente pesquisas acerca do
tema e norteia os centros de estudos e tratamento em escala global. No Brasil,
há também um centro de pesquisa e tratamento de adictos à Internet, capitaneado
pelo Prof. Doutor Cristiano Nabuco de Abreu, na Universidade de São Paulo. Lá,
os adictos têm acompanhamento psicológico e psiquiátrico. A adição à Internet é
uma realidade crescente na atualidade e inúmeros fatores desencadeiam tal
situação. Os defensores ferrenhos da Webfocam seus argumentos no facto de que,
por não existir envolvimento de substâncias químicas, o contacto com a Internet
pode também ser positivo (e, de facto, é). Mas o cerne do problema, na
realidade, está no excesso. O contacto diário e excessivo com o meio virtual
pode acarretar dependência e, com ela, o isolamento gradativo do indivíduo. Tal
isolamento se dá em função da não interação do indivíduo com o meio social
(face-to-face). O sujeito resguarda-se das trocas sociais não mediadas, pelas
mediadas pelos ecrãs dos computadores. A família e os amigos, geralmente, são
deixados em segundo plano. A relação com a Internet promove a criação de
barreiras virtuais que circunscrevem a presença física dos usuários. O que
acontece depois disso (e paralelo a isso) é a criação de identidades virtuais e
processos de supervalorização do eu (Westerman e Skalski, 2010: 78-80). O
indivíduo retira suas mazelas e recalques da vida quotidiana e os resolve no
novo eu (ou na fragmentação do eu). No eu virtual. A promoção da
dependência é silenciosa. O sujeito vai adquirindo-a, gradualmente, sem
perceber (ou questionar). O isolamento ' enquanto causa resultante de todo esse
processo ' também surge de forma natural. Isso porque o meio virtual estabelece
padrões de convivência semelhantes ao da vida off-line. Indivíduo
versuscomputadores é igual a indivíduos versusmeio social. Uma relação
virtualmente idêntica (Reeves e Nass, 1996). Em suma, o sujeito é absorvido
pelo meio virtual e, quando dá por si, já está submerso. E essa submersão é o
que gera a dependência. Com o objetivo de buscar as características desse
indivíduo e propor maneiras de reversão do quadro de dependência, Young (1996)
desenvolveu um critério de diagnóstico que visa mapear, por meios subjetivos,
os adictos de Internet (ver quadro_1). São oito questionamentos livremente
respondidos pelos pacientes, em posição de conforto. Em caso de cinco ou mais
respostas positivas, configura-se dependência.
O isolamento está nos estudos de Young quando a pesquisadora comenta que as
sessões de Internet chegam a ocupar cerca de 80 horas semanais ' com períodos
de até 20 horas consecutivas (1999). Para complementar, outros efeitos nocivos
surgem, inevitavelmente, como problemas familiares e laborais (1999). É o que
Matthew Lombard (2010: 209-216) endossa ao elaborar sobre os perigos que o
contacto com oespaço virtual pode oferecer. Os afetados chegam a perder seus
empregos e, muitas vezes, colocam em risco os relacionamentos. Optam, seduzidos
pelo meio virtual (e suas inúmeras possibilidades), por relacionamentos
pautados na fantasia, em detrimento dos da realidade tradicional. Estabelecem
os chamados cyberaffairs e desestruturam instituições familiares em processos
de divórcio (Quittner, 1997). Os relacionamentos produzidos em chatsou outros
sítios de Internet voltados aos relacionamentos cooperam com a ação desses
cyberaffairs .O sujeito perde horas em frente ao computador, fantasiando
momentos ilusórios e vende ' ao outro ' situações que, muitas vezes, são
inalcançáveis por ele mesmo. A vida é construída por meio de uma rede social
on-line, em que personagens são idealizados como reais (e vice-versa).
1.1. O viés social
O tema que encerrou a primeira parte deste texto converge com um estudo
elaborado pelos pesquisadores da Carnegie Mellon University, Robert Kraut e
Sara Kiesler, entre outros (2002). Eles analisaram o impacto social e
psicológico da Internet no ambiente social. O resultado apontou que uma
utilização intensa de Internet está ligada à diminuição da comunicação
familiar, da dimensão do círculo social e ao aumento da depressão e solidão dos
participantes, como apresenta Manuel Castells (2011). No entanto, para
Castells, o contacto com a Internet tem seu lado positivo. No entanto, o autor
entende que a relação dos usuários com o meio on-linepode ter um tipo de laço
fraco. Na Rede, segundo o autor, os laços são especializados e
diversificados, à medida que os sujeitos constroem as suas próprias pastas
pessoais' (Castells, 2011: 470). O termo fraco, apontado por Castells, está
relacionado ao movimento de troca de informações à baixo custo. As relações
podem ser efêmeras e romper ao toque de um click (2011). Como abordado na
introdução deste artigo, o indivíduo opera no meio social, interagindo. Ele é
parte integrante de um processo, no qual atua como protagonista. E é através
desse mecanismo que as relações virtuais se estabelecem. O sujeito recebe
incontáveis estímulos da Internet (textuais ou não) e, sob o efeito constante e
acelerado de codificação, acaba sendo seduzido pelo meio, promovendo a
dependência. A palavra sedução, aqui, é empregada no sentido mais semiótico
possível. Os modos de sedução, interação, ação e atuação envolvem o
indivíduo, mostrando-o um novo mundo de possibilidades através da perspetiva do
texto, apontadas pelas Análises dos Discursos Sociais (AD). Mundo este tão
próximo ao que o sujeito almeja que deixá- lo para trás é uma questão pouco
cogitável. A sedução pelo meio virtual está no campo do simbólico e, por isso,
a oportunidade da criação de identidades virtuais e personalidades se
compreende (Turkle, 1995). O usuário busca o real-ideal através da
verossimilhança do meio. Ao se deparar com o mundo que sempre sonhou para si '
em que os desafios e oportunidades são comandados pelo próprio indivíduo, com
total responsabilidade pela sua formação ' a necessidade de isolar-se do meio
off-linecresce em larga escala.
2. Metodologia
A linha mestra deste pensamento está desenvolvida sob o método hipotético-
dedutivo, que visa comprovar a hipótese de que o indivíduo se abstém do
convívio social para dedicar-se ao mundo virtual, causando dependência e
isolamento. Para isso, elaborou-se um breve levantamento teórico (supracitado),
que será cruzado com a sondagem realizada por meio de questionário on-line.
Trata-se de uma primeira análise empírica, utilizada apenas para fins de
elaboração deste artigo. A ideia é criar um ambiente de conforto para aplicação
do breve questionário4 . Para isso, a opção foi que os usuários estivessem em
locais de eleição própria e já em contacto com o computador para que as
impressões coletadas estivessem latentes, no momento de imersão.
2.1. Objetivo
Para fins de análise, foram realizados inquéritos aleatórios e randómicos,
mediados pelo computador. As respostas, de cunho dissertativo, visam um
levantamento quantitativo e qualitativo para a elaboração de uma análise acerca
do tema proposto. O objectivo passa por, a partir dos resultados, fazer um
cruzamento objetivo entre o fator dependência e a necessidade de contacto com
a Internet.
2.2. Amostragem
Os questionários contaram com três perguntas, de caráter anónimo, e a pesquisa
foi realizada entre os dias 20 de Dezembro de 2010 e 30 de Dezembro de 2010. Os
inquéritos foram enviados por e-maile postados em redes sociais. Do total,
foram selecionadas 50 entrevistas para análise e o critério de exclusão baseou-
se na tangibilidade das respostas arguidas.
Perguntas: 1. Você acredita que o indivíduo se abstém do convívio
social para dedicar-se à Internet? Seja para relacionamentos, jogos
ou estudos? Conhece algum caso? 2. Você se abstém (ou já se absteve)
do convívio social para ficar na Internet? 3. Para você, quais
fatores fazem com que um indivíduo abandone o convívio social em prol
de horas na internet?
3. A sedução pode promover dependência
Como abordado, a pesquisa realizada para a elaboração deste texto teve o
objetivo de comprovar a hipótese de que o indivíduo se abstém do convívio
social ( off- line) em prol da Internet. No entanto, as respostas coletadas
permitiram, não só comprovar tal hipótese, como também geraram a possibilidade
de elaborar sobre o fluxo da dependência pelo meio on-line. A análise contou
com dois fatores principais: um quantitativo (ver quadro_2), a fim de mensurar,
em números absolutos, a perceção acerca da abstenção; e outro qualitativo (ver
quadro_3), no qual foi possível propor uma análise inicial sobre o processo de
dependência pela Internet, a partir dos fatores coletados.
No âmbito do levantamento quantitativo, frisa-se que das 50 pessoas
pesquisadas, 39 delas (78%) entendem que o indivíduo se abstém do convívio
social ( off-line). Essa abstenção, segundo os pesquisados, é proveniente de
inúmeros fatores de naturezas diversas. O curioso é que as nove pessoas que
afirmaram que não háabstenção, apresentaram, da mesma forma, fatores de
abandono do convívio social (pergunta 3). Ou seja, pode-se arguir que há um
certo grau de incerteza por parte desses entrevistados. Na verdade, a incerteza
se dá devido ao facto de que, para os entrevistados, existem fatores de
abandono do convívio social (off-line) que não simbolizam, necessariamente,
total abstenção. Ao se trabalhar o viés qualitativo da pesquisa, propõe-se uma
análise dos fatores apresentados pelos pesquisados (pergunta 3). Foram
contabilizados 35 fatores (muitos deles elencados por várias pessoas
diferentes), que foram subdivididos em três grupos (ver quadro_3), sendo cada
grupo responsável por uma parte do processo de dependência. A ideia neste
campo da pesquisa foi elaborar um raciocínio objetivo e lógico a fim de
endossar a hipótese comprovada.
Cada grupo de fatores/palavras foi desenhado seguindo as óticas
abaixo: Grupo_I Fatores inerentes à Internet no quesito atração dos
usuários. Grupo_II Fatores que fazem com que os usuários acedam à
Internet de forma constante. Meio_potencializante Três fatores
apresentados que são entendidos como características corroborativas
de aceleração da dependência. Grupo_III Fatores ocasionados pelo
excesso do Grupo II. Características motivadas pela dependência
(adição à Internet).
A partir de divisão proposta, o primeiro ponto observado é que os fatores
apresentados pelos pesquisados estão mais focados no Grupo III. Isso demonstra
que a dependência está no radar dos internautas e que pode, inclusive, fazer
parte de suas vidas. A linha que divide os grupos II e III é muito ténue e, por
isso, o tema tem gerado tanta preocupação por parte dos estudiosos. O que
acontece, na verdade, é que a sedução pelo simbólico e a necessidade crescente
de imersão por parte dos indivíduos fazem com que a passagem do Grupo II para
o Grupo III ocorra de maneira veloz. As inúmeras possibilidades da Internet
promovem sensações de poder e segurança. São modos subjetivos de interação
entre as estruturas, que colocam o sujeito em posição de rendição. Um
processo eficaz e altamente produtor de alienação. Com isso, a autoexclusão do
convívio social (off-line) e a opção pela vida virtual (on-line) acontecem
naturalmente. São possibilidades ao alcance de um click. Clique este que
chancela independência e soberania. Um novo e paralelo mundo, onde há literacia
e código de ética próprios. Lugar onde viver com intensidade e verdade é
essencial para o jogo e a partilha de emoções (Hartmann, Klimmt e Vorderer,
2010). E aí configura-se a sedução pelo virtual: uma arena em que é dada ao
sujeito a oportunidade de conhecer o desconhecido. O modelo de representação
dos grupos demonstra que existe um fluxo, de foro psicológico e social, para a
adição à Internet. Os tratamentos propostos visam a (re)sociabilização das
pessoas envolvidas e a promoção do autocontrole. Desafios da vida real para
quem está excessivamente imerso na vida virtual.
Conclusão
A crescente necessidade de contacto com a Internet em função da atratividade,
novidade e descoberta tem preocupado grande parte dos pesquisadores pela
promoção de dependência e isolamento dos indivíduos. No entanto, é facto que
existe uma outra corrente de teóricos que entende a Internet como um grande e
promissor campo para o franco desenvolvimento da sociedade. As correntes são
congruentes e têm sua importância. Não se buscou neste texto fazer qualquer
tipo de campanha negativa ou demonizar a Internet. Pelo contrário. Tencionou-se
refletir e fazer um alerta com relação à saúde e bem-estar dos usuários pelo
uso exagerado do meio on-line. Foi apontado aqui sobre a necessidade constante
que os indivíduos têm de interagir com a Internet (Lévy, 1997b: 93-95) e
realçou-se que este pode ser um dos fatores que gera dependência e promove o
isolamento. No entanto, a pesquisa realizada demonstrou que questões de foro
psicológico também são promotoras de dependência. A Internet, por sua natureza
sedutora (pelo novo, moderno,...), pode estimular o acesso excessivo, mas,
geralmente, só ficam adictos os sujeitos psicologicamente propensos. Na
realidade, entende-se que os fatores são externos. Esse facto já é aceite pela
psiquiatria. Essa também é a conclusão dos trabalhos de Young. A propensão está
no indivíduo e não na Internet. O efeito é gradiente e não osmótico. A partir
desse ponto de vista, entende-se a defesa de Pierre Lévy quando diz que a
Internet é uma arena em que é permitida a coordenação das inteligências em
tempo real e que atinge uma mobilização efetiva das competências (Lévy, 1997a:
34). Ou seja, para Lévy, a Internet surgiu para promover o desenvolvimento.
Notas
1 Jornalista licenciado no Rio de Janeiro (Brasil) e mestrando em Comunicação
Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), da
Universidade Técnica de Lisboa (Lisboa, Portugal). E-mail:
gustavosa2010@gmail.com
2Cabe ressaltar que a Internet também promove o convívio social. No entanto,
para fins desta análise, entenda-se o termo convívio social como o contacto
face-to-face. Ou seja, a interação direta do indívíduo com o outro sem a
mediação do computador.
3 O artigo The Lure and Addiction of Life On Line, escrito por Molly O`Neill
(1995), foi publicado no New York Times em 08.03.1995.
4 A opção pelo breve questionário (três perguntas) foi pautada em dois
critérios: adesão dos usuários e otimização da análise. Pautou-se,
principalmente, pela objetividade das respostas, assim como é realizado no
Questionário de Diagnóstico (ver Quadro_1), elaborado por Young (1996).