Estudo do papel dos Controllers de Gestão em Portugal
O papel dos Controllers de Gestão alterou-se significativamente, ganhando
estatuto no decorrer dos últimos anos.
No passado, os Contabilistas de Gestão não eram participantes no processo de
decisão. Em vez disso, eles asseguravam funções de apoio ao staff para as
decisões dos gestores e eram frequentemente informados das decisões depois dos
factos. A maior parte do seu tempo era dispendida com tarefas mecânicas
contabilísticas.
No entanto, no presente, estes especialistas, ocupam-se cada vez mais a
analisar as operações das empresas e cada vez menos a calcular e a reportar o
custo dos produtos. Um número crescente de Contabilistas de Gestão ocupa a
maior parte do seu tempo como consultores internos ou analistas do negócio no
seio das suas empresas. Os avanços tecnológicos libertaram-nos das tarefas
mecânicas contabilísticas. Eles consomem menos tempo a preparar relatórios
padronizados e mais tempo a analisar e a interpretar informação. Os
Contabilistas de Gestão trabalham no seio das equipas da cadeia de valor das
empresas, comunicam face a face com as pessoas ao longo da organização e
participam activamente nos processos de decisão.
O papel dos Contabilistas de Gestão evoluiu da fase de servir os clientes
internos, para se tornarem parceiros de negócio, no sentido em que se
transformaram em membros da equipa dos decisores, iguais aos restantes. Como
parceiros de negócio, os Contabilistas de Gestão têm autoridade e
responsabilidade para dizer aos executivos operacionais porque é que
determinado tipo de informação pode ou não ser relevante para a decisão de
negócio, esperando-se também que sugiram formas de melhorar a qualidade da
decisão.
Os Controllers de Gestão modernos estão para além do papel de única e
exclusivamente providenciar números aos gestores, na maior parte dos casos,
tornaram-se actores directamente envolvidos no processo de decisão como
consultores de gestão. Muitos Controllers estão a adicionar valor às suas
funções, desenvolvendo parcerias com os gestores operacionais. A noção de
adicionar valor significa adoptar a perspectiva dos clientes ' os utilizadores
dos serviços dos Controllers ' e providenciar produtos e serviços inovadores.
Estes profissionais, apesar de incorporarem as funções tradicionais de
processamento de transacções, reporte financeiro e controlo, estão hoje para
além destas competências. De forma mais profunda, os Controllersacrescentam
valor, sendo membros das equipas dos líderes de negócio e consequentemente
fazem parte da mesa onde as decisões estratégicas e tácticas são tomadas. O
Controllerprovidencia uma importante contribuição e perspectiva na forma das
decisões e influencia positivamente os seus resultados.
Os Contabilistas de Gestão no futuro têm de incluir nas suas capacidades não só
as tradicionais áreas da contabilidade mas também conhecimentos ao nível da
microeconomia, gestão e finanças. O moderno Contabilista de Gestão deverá ser
mais um consultor do que um contabilista.
Dada a importância da Contabilidade de Gestão para o sucesso das empresas e
tendo em linha de conta, que os sistemas de Controlo de Gestão desempenham um
papel relevante na capacidade competitiva das empresas, este estudo ambiciona
compreender a importância que o Controlo de Gestão tem vindo a assumir nas
empresas portuguesas, ao longo das últimas décadas, bem como analisar a
natureza e as causas de eventuais mudanças ocorridas no papel dos Controllers
de Gestão.
Este artigo é composto, no total, por 5 secções. Para além desta secção
introdutória, apresentamos na secção seguinte um resumo bibliográfico sobre os
estudos académicos relativos ao papel dos controllers. Na secção 3,
contemplamos a metodologia aplicada e apresentamos a estrutura da pesquisa e a
forma como foi efectuada a recolha, a análise e a interpretação dos dados do
trabalho de campo. Na secção 4, incluímos a análise estatística das respostas
ao inquérito elaborado. Por fim, na secção 5, apresentamos as conclusões do
trabalho, relacionando a revisão da bibliografia com a análise estatística.
Mudanças na envolvente organizacional e no papel desempenhado
Os desenvolvimentos na envolvente organizacional e tecnológica ocasionam o
fenómeno de mudança que se repercute por todas as partes da organização. Logo,
a Contabilidade de Gestão não é excepção. Os sistemas e técnicas da
Contabilidade de Gestão, o papel dos contabilistas no negócio e, em geral, a
estrutura da função contabilística, têm sido sujeitos a consideráveis pressões
para serem alterarados, ao longo das últimas décadas.
Um dos desenvolvimentos tecnológicos significativos relaciona-se com a forma
como a informação é distribuída por toda a organização. Nos dias de hoje, a
maior parte do processo das transacções rotineiras encontra-se computorizado
incluindo muita informação de gestão de rotina. Esta informação pode ser
facilmente acessível a todos os níveis da organização, e os gestores, com os
seus PC nas suas secretárias, podem facilmente visualizar os seus desvios e
controlar a sua actualperformance,diariamente ou até mesmo em tempo real. Isto
substituiu o anterior sistema, em que os gestores tinham de esperar até ao
final do mês para que os Contabilistas de Gestão produzissem os seus números.
Como resultado, actualmente, os relatórios contabilísticos são extraídos do
sistema de informação, em vez de ser a base onde a informação é providenciada
para o resto da organização.
Neste enquadramento, pode dizer-se que o papel dos contabilistas se alterou de
um provedor de informação para um cliente do sistema de informação. A situação
anterior provocava a descentralização do conhecimento contabilístico,
significando que, dentro das diversas funções e diferentes áreas de negócio,
existiam numerosos indivíduos que entendiam de custos, desvios, relatórios de
contabilidade e mais termos relacionados com a contabilidade. Estes indivíduos
podiam ser contabilistas ou outros indivíduos treinados noutras áreas, mas que
obtiveram alguma formação ao nível da área financeira. São pessoas que, embora
tenham conhecimentos contabilísticos não são qualificados na área, e que,
podendo aceder à informação, analisam e usam a informação contabilística sem a
intervenção de um contabilista. Eles acedem à informação contabilística contida
no sistema de informação e analisam-na para responder aos seus objectivos ou
aos propósitos dos gestores, e isto pode ser efectuado no seu próprio local de
trabalho.
Neste âmbito, cabe aos Contabilistas de Gestão assegurar que a Contabilidade de
Gestão não é usada inapropriadamente. Tendo em conta a crescente dispersão da
informação contabilística dentro da organização, e a crescente importância
atribuída às medidas não financeiras, o futuro papel dos contabilistas deve ser
razoavelmente questionado.
Na maior parte das empresas, os relatórios contabilísticos são produzidos
frequentemente, com periodicidade mensal, para os gestores locais como também
transmitidos para a hierarquia organizacional e finalmente para o quadro de
directores.
A forma típica de ver os contabilistas é deduzida do comentário do director de
gestão de uma empresa estudada pelos autores Scapens et al. (2002), que
descreve a apresentação das contas de gestão na reunião mensal nos seguintes
termos: «O contabilista apresenta as contas de gestão no início da reunião e
isso demora 20 minutos, incluindo as brincadeiras». O significado do comentário
é o de que os Contabilistas de Gestão dão o «pontapé de saída» para a discussão
subsequente da reunião, mas não divulgam novas informações. O director de
gestão da empresa citada explica que ficaria preocupado se os Contabilistas de
Gestão possuíssem informação que ele não tivesse. E elucidou ainda que ficaria
também preocupado se existisse alguma informação de gestão que os seus colegas
de gestão não dispusessem. A informação deve ser antecipadamente colocada à
disposição no sistema e continuamente controlada. Na sua opinião, é muito tarde
esperar pela produção das contas mensais. Acrescentando ainda que a informação
do sistema não é uma ferramenta de gestão só por si, simplesmente agrega os
resultados financeiros do mês, possibilitando que toda a equipa de gestão se
previna relativamente à posição geral da organização.
A informação do sistema providencia um guia para o progresso, mas só no
contexto da vasta informação disponibilizada, ou seja, a informação deve ser
interpretada no contexto das medidas de performanceutilizadas pela organização,
ligando os resultados financeiros às consequências estratégicas das actividades
desenvolvidas. Por outro lado, também é verdade que a tecnologia informática
simplificou consideravelmente as tarefas de rotina contabilísticas, que agora
necessitam de menos tempo e acrescentam benefícios reduzindo os custos,
melhorando o processamento da informação e aumentando a informação acessível. A
simplificação acrescenta ainda benefícios indirectos ao melhorar as relações
com os fornecedores na cadeia de valor, as relações entre os clientes das
contas de gestão e as relações com os bancos e outros financiadores.
Como resultado, as tarefas de rotina contabilísticas tornaram-se menos
importantes e os avanços tecnológicos transformaram-nas em tarefas mais simples
e mais automáticas. Deste modo, verificou-se uma mudança na Contabilidade de
Gestão dos anos 1990, deixando de ser relevantes as actividades de rotina
contabilísticas (por exemplo, no processamento das transacções, no reporte
financeiro e nos aspectos financeiros de controlo) e passando a um papel mais
pró-activo e central dentro do processo de gestão.
Relativamente à percepção exterior do papel dos contabilistas no Reino Unido,
os autores Beard em 1994, e Smith e Briggs em 1999, notaram que existe um
problema familiar e intratável relacionado com a imagem negativa dos
Contabilistas de Gestão que querem desempenhar as suas actividades. Scapens et
al. (2002), ilustraram através dos seus estudos, como é importante a atitude
das pessoas e as percepções quando consideramos o papel da Contabilidade de
Gestão e dos contabilistas. No número de empresas que os autores Scapens et al.
(2002) estudaram, é interessante constatar a mudança nos títulos de profissão,
de Contabilistas de Gestão para analistas financeiros, conselheiros de negócio
ou consultores de processo. Em anos recentes, tem ocorrido alguma discussão nas
revistas profissionais de contabilidade sobre este tema do papel dos
Contabilistas de Gestão, em particular tem sido argumentado que o título de
contabilista (orientado para aspectos monetários) tem sido substituído por
consultor de negócio (Matthews, 1998 e Sheridan, 1998).
No entanto, é difícil assumir que mudanças superficiais ao nível do título da
profissão, ou ao nível de um crescente contacto pessoal, alterem as percepções
negativas enraizadas, tal como Jablonsky et al. (1993) remarcou. Através de um
estudo de seis empresas norte-americanas, estes autores detectaram que, apesar
dos próprios contabilistas se encararem como advogados do negócio, muitos dos
não contabilistas encaram os colegas contabilistas como polícias do negócio. A
aproximação física, em termos de localização, da Contabilidade de Gestão às
equipas do processo de negócio, é essencial para capacitar os contabilistas a
construir relações e confiar na necessidade de estabelecer sérios diálogos com
outros gestores do processo.
Metodologia adoptada
O método de pesquisa utilizado baseou-se em consultas bibliográficas e na
distribuição de um inquérito, para dar resposta à questão de investigação
principal: Q1.«Qual o papel dos Controllers de Gestão nas empresas Portuguesas,
no século XXI» dividida em quatro subquestões:
* Q1.1. «Quais os factores geradores de mudança das funções desempenhadas pelos
Controllersde Gestão?»;
* Q1.2. «Qual a natureza e o grau de importância das funções atribuídas aos
Controllersde Gestão na organização?»;
* Q1.3. «Quais as técnicas e ferramentas importantes para o efectivo
cumprimento das funções dos Controllers de Gestão?»;
* Q1.4. «Qual a natureza e o grau de importância das capacidades dos
Controllers de Gestão na organização?».
Relativamente à bibliografia, foram consultadas obras editadas, artigos
publicados em revistas da especialidade, sítios na web e monografias. Ao nível
da evidência empírica, distribuímos um inquérito aos gestores (controllers de
gestão/directores financeiros) de grandes, médias e pequenas organizações a
operar em Portugal.
No sentido de dar resposta ao presente estudo, o inquérito englobou um total de
12 perguntas. A primeira e a segunda perguntas do inquérito relacionam-se
directamente com a segunda sub-questão de investigação «Competências e funções
dos Controllers de Gestão»; a terceira e a quarta perguntas do inquérito são
relativas à terceira subquestão de investigação «Técnicas e ferramentas»; a
quinta pergunta do questionário foi elaborada no sentido de dar resposta à
forma como os gestores de topo entendem o papel e função dos Controllers de
Gestão; a sexta pergunta do questionário serviu para responder à primeira sub-
questão de investigação «Factores de Mudança»; a sétima e a oitava relacionam-
se com a quarta subquestão de investigação «Capacidades»; a nona e a décima
forneceram informação acerca da localização física dos Controllersde Gestão
dentro da organização e sobre quais os principais problemas sentidos por eles
na realização das suas funções e competências; e finalmente as duas últimas
questões do inquérito destinavam-se a obter informação acerca do perfil pessoal
do inquirido e da organização.
Para a concretização deste estudo utilizou-se uma listagem de 7793 empresas,
fornecida pelo Instituto Nacional de Estatística. Admitindo um nível de
confiança de 95% e uma margem de erro de 3,5%, estabelecemos que o número de
empresas a inquirir seria de 997. Esta amostra total, posteriormente, foi
dividida pelos vários estratos de escalão: valor do volume de negócios/número
de pessoas ao serviço, tendo em conta, aproximadamente, a representatividade de
cada escalão no total da população de 7793 empresas.
A recepção dos inquéritos desenrolou-se entre o mês de Janeiro e Junho de 2006.
O total de inquéritos recebidos foi de 142, uns recepcionados via e-mail e
outros via correio. Tendo em conta este número, verificou-se uma taxa de
resposta na ordem dos 14%.
Na análise estatística foi utilizada a abordagem univariada, nomeadamente,
frequências relativas, média, moda e mediana.
Para o tratamento estatístico dos dados foi utilizado o programa SPSS (versão
16.0), e após uma leitura dos dados foram seleccionados os aspectos mais
relevantes para a nossa análise.
Análise e discussão dos resultados
Nesta secção, iremos examinar os resultados obtidos a partir dos inquéritos,
tendo por base as quatro subquestões de investigação formuladas aquando da
secção da metodologia e com vista a extrair mais algumas informações acessórias
para o estudo do papel dos Controllers. Para esse efeito, os dados obtidos dos
inquéritos foram tratados utilizando o cálculo de frequências relativas, média,
moda e mediana.
A nossa análise irá contemplar ainda, a comparação entre os resultados obtidos
em Portugal e os obtidos, sobre o mesmo tema, no Reino Unido. Importa referir
que relativamente a esta comparação, os dados do Reino Unido dizem respeito ao
período compreendido entre 1995 e 2005 e que os dados portugueses incidem sobre
o período de 2000 a 2010 (projectado).
Factores geradores de mudança das funções
Acerca da subquestão de investigação Q1.1. «Quais os factores geradores de
mudança das funções desempenhadas pelosControllers de Gestão?», analisámos as
respostas à pergunta n.º 6 do questionário, que solicitava aos inquiridos a
classificação, em termos de importância, de 14 geradores de mudança das funções
dos Controllers de Gestão.
O aspecto «objectivos e estratégias desenvolvidas pela administração» foi
considerado, pelos inquiridos portugueses, como o factor mais importante
gerador de mudança nas funções dos Controllers(ver Quadro 1). Para além deste
item, são ainda considerados importantes, com mais de 50% de classificação na
opção de extremamente importante, os seguintes factores: novas técnicas e
metodologias de gestão (Activity-Based Costing, ABC ou CBA, custeio baseado nas
actividades, The Balanced Scorecard, etc.); novos estilos e práticas de gestão;
evolução e acessibilidade de novas tecnologias de informação e comunicação;
reestruturação organizacional e iniciativas de negócio orientadas para o
mercado. Como factores de menor importância para a mudança das funções dos
Controllers, foram consideradas as fusões e aquisições e o e-commerce/negócio
electrónico.
No Reino Unido, os factores mais importantes condutores de mudança nas tarefas
e no papel dos Controllers de Gestão são outros: a evolução e a acessibilidade
de novas tecnologias de informação e comunicação; os novos softwares de
contabilidade e também a reestruturação organizacional. São também importantes
as iniciativas de negócio orientadas para o mercado e os novos estilos e
práticas de gestão. Os factores menos importantes, para as empresas do Reino
Unido, no período compreendido entre 1995 a 2000, são as fusões e aquisições de
empresas, o aconselhamento de consultoria externa e as novas técnicas e
metodologias de gestão (ABC,The Balanced Scorecard, etc.).
Quadro 1: Frequência relativa dos factores extremamente importantes de mudança
nas funções dos Controllers de Gestão em Portugal e no Reino Unido
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________
|_____________________________PORTUGAL______________________________|%_|____________________________REINO_UNIDO____________________________|%_|
|Objectivos e estratégias desenvolvidas pela administração |73|Evolução e acessibilidade de novas tecnologias de inf. e |73|
|___________________________________________________________________|__|comunicação______________________________________________________|__|
|Novas técnicas e metodologias de gestão (ABC ou CBA, The Balanced|59|Reestruturação organizacional |53|
|Scorecard,_etc.)___________________________________________________|__|___________________________________________________________________|__|
|Novos_estilos_e_práticas_de_gestão_______________________________|59|Novos_softwares_de_contabilidade___________________________________|41|
|Evolução_e_acessibilidade_de_novas_tecn._de_inf._e_comunicação_|56|Iniciativas_de_negócio_orientadas_para_o_mercado__________________|39|
|Reestruturação_organizacional____________________________________|55|Novos_estilos_e_práticas_de_gestão_______________________________|36|
|Iniciativas_de_negócio_orientadas_para_o_mercado__________________|54|E-commerce/negócio_electrónico___________________________________|32|
|Iniciativas_de_negócio_orientadas_para_a_qualidade________________|47|Exigências_e_obrigações_impostas_em_termos_de_reporting_externo_|24|
|Processo_mundial_de_globalizaçãode_mercados_e_negócios__________|46|Objectivos_e_estratégias_desenvolvidas_pela_administração_______|23|
|Novos_softwares_de_contabilidade___________________________________|44|Processo_mundial_de_globalização_de_mercados_e_negócios_________|23|
|Exigências_e_obrigações_impostas_em_termos_de_reporting_externo_|43|Fusões_e_aquisições_____________________________________________|20|
|Novas_tecnologias_de_produção____________________________________|26|Iniciativas_de_negócio_orientadas_para_a_qualidade________________|18|
|Aconselhamento de consultoria externa |24|Novas técnicas e metodologias de gestão (ABC ou CBA, The Balanced|16|
|___________________________________________________________________|__|Scorecard,_etc.)___________________________________________________|__|
|E-commerce/negócio_electrónico___________________________________|21|Aconselhamento_de_consultoria_externa______________________________|12|
|Fusões_e_aquisições_____________________________________________|18|Novas_tecnologias_de_produção____________________________________|8_|
Antes de efectuar a comparação, interessa ressalvar que os dados do Reino Unido
estão compreendidos para o período de 1995 a 2000 e os de Portugal foram
obtidos para o período de 2000 a 2005.
Em termos de semelhanças, comparando os dois países, verifica-se a extrema
importância das tecnologias de informação e das novas práticas e estratégias de
gestão. E por outro lado, verifica-se a reduzida importância dos factores
«fusões e aquisições» e «consultoria externa» para gerar mudança nas funções
dos Controllers de Gestão.
Em termos de diferenças, entre os dois países, interessa destacar a posição de
baixa importância do factor das novas tecnologias de gestão nas empresas do
Reino Unido, e a posição de extrema importância assumida por este factor, ao
nível das empresas portuguesas. Para além deste factor, e em situação inversa,
constata-se que o e-commerce/negócio electrónico, nas empresas do Reino Unido,
assume importância ao influenciar a mudança das funções dos
Controllers,enquanto, nas empresas portuguesas, este factor é encarado como de
reduzida importância para causar mudanças nas competências dos Contabilistas de
Gestão.
Concluímos que, nas empresas do Reino Unido, se atribui maior importância, para
a mudança do papel dos Controllers, às novas tecnologias de informação,
enquanto, em Portugal, a importância incide principalmente sobre as novas
estratégias ou práticas de gestão e sobre as novas técnicas de Contabilidade de
Gestão.
Competências e funções dosControllersde Gestão
Na pergunta número n.º 1 do questionário, os inquiridos tinham de classificar
33 competências dos Controllers de Gestão, como função extremamente importante,
de importância média ou de importância reduzida. Os resultados desta pergunta
permitiram responder à segunda sub-questão de investigação: Q1.2. «Qual a
natureza e o grau de importância das funções atribuídas aos Controllersde
Gestão na organização?».
Importa antes de mais elucidar que esta questão no Reino Unido foi estudada
relativamente a dois períodos, o primeiro compreendido entre o ano de 1995 a
2000 e o segundo para os anos de 2000 a 2005. Por seu turno, a primeira parte
do estudo português foi projectado para os anos de 2000 a 2005 e a segunda
parte relativamente ao ano de 2010.
Para o período de 2000 a 2005, concluímos que, os inquiridos portugueses
consideraram como de importância elevada as funções de controlo de custos,
análise das contas/resultados da organização, redução de custos e análise da
estrutura de custos. Ao analisar a média verificamos que às funções anteriores
devemos acrescentar a avaliação da evolução da performancedo negócio. Por outro
lado, como funções menos importantes, os inquiridos consideraram as seguintes:
a análise e avaliação de fusões e aquisições, as actividades de investigação e
desenvolvimento e a gestão da cadeia de fornecedores. Considerando a moda,
verificamos que a classificação mais frequente, para a função da análise e
avaliação de fusões e aquisições, é de importância reduzida. Para a projecção
para 2010, não existem diferenças significativas relativamente à relevância das
funções dos Controllersna organização. Verifica-se a continuidade da extrema
importância atribuída à função da avaliação da performancedo negócio e do
controlo de custos.
Por seu lado, a importante mensagem a retirar dos resultados do inquérito
realizado às empresas do Reino Unido é a de que as funções mais importantes
usadas no período de 1995 a 2000 são as chamadas funções tradicionais da
Contabilidade de Gestão. Por exemplo, a avaliação da evolução da performance do
negócio, o controlo de custos, a análise das contas/resultados da organização e
o planeamento e gestão de orçamentos.
Se analisarmos as respostas das funções mais importantes para os inquiridos,
relativamente ao período de 2000 a 2005, constatamos que as funções
tradicionais da Contabilidade de Gestão surgem igualmente, posicionadas nos
níveis mais elevados de importância. A avaliação da evolução da performance do
negócio surge no topo de importância dos factores, mas é espectável que esta
avaliação incorpore crescentemente indicadores não financeiros para além dos
indicadores financeiros. Outras competências tradicionais da Contabilidade de
Gestão continuam a ser importantes, tais como, o controlo de custos e a análise
das contas/resultados da organização.
No entanto, um número razoável de novas competências de Contabilidade de Gestão
surge no top ten das funções importantes, tais como, o planeamento estratégico/
análise de decisões estratégicas, a implementação de estratégias de negócio, a
análise de criação de valor, a concepção e implementação de novos sistemas de
informação e a análise e interpretação de informação operacional. Algumas
destas funções também se encontram na listagem das dez funções mais importantes
do período anterior, mas a redução de custos e a avaliação e controlo dos
custos de capital foram substituídas pela análise de criação de valor e pela
análise e interpretação de informação operacional.
Quadro 2: Top tende importância das funções dos Controllers de Gestão em
Portugal e no Reino Unido
__________________________________________________________________________________________________________________________________
|Top| PORTUGAL (2000-2005) | REINO UNIDO (1995-2000) | REINO UNIDO (2000-2005) |
|ten|____________________________|________________________________________________|________________________________________________|
|_1_|Controlo_de_custos__________|Av._evolução_performance_do_negócio__________|Av._evolução_performance_do_negócio__________|
| 2 |Análise contas/resultados |Controlo de custos |Controlo de custos |
|___|organizativos_______________|________________________________________________|________________________________________________|
| 3 |Análise da estrutura de |Análise contas/resultados organizativos |Análise contas/resultados organizativos |
|___|custos______________________|________________________________________________|________________________________________________|
|_4_|Redução_de_custos_________|Planeamento_e_gestãode_orçamentos_____________|Análise_da_estrutura_dos_proveitos_____________|
| 5 |Av. evolução performance d|Análise e interpretaçãode informação operac|Planeamento e gestão de orçamentos |
|___|negócio____________________|________________________________________________|________________________________________________|
| 6 |Planeamento e gestão de |Análise da estrutura dos proveitos |Planeamento estratégico/análise de decisões |
|___|orçamentos_________________|________________________________________________|estratégicas___________________________________|
| 7 |Análise da estrutura dos |Concepção e implementação de novos sistemas |Implementação de estratégias de negócio |
|___|proveitos___________________|informação____________________________________|________________________________________________|
|_8_|Reporte_externo_financeiro__|Implementação_de_estratégias_de_negócio_____|Análise_de_criação_de_valor__________________|
| 9 |Análise de produtividade |Redução de custos |Concepção e implementação de novos sistemas |e
|___|____________________________|________________________________________________|informação____________________________________|
|10 |Av. e controlo dos custos do|Av. e controlo dos custos do capital |Analise e interpretação de inf. operacional |
|___|capital_____________________|________________________________________________|________________________________________________|
Ao comparar os dois países (ver Quadro 2), verificamos uma maior proximidade
entre a listagem das dez funções mais importantes para o desempenho das tarefas
dos Contabilistas de Gestão no período de 2000 a 2005 de Portugal com a
listagem de 1995 a 2000 do Reino Unido, do que entre a primeira e a listagem de
2000 a 2005 do Reino Unido.
Concluímos que a Contabilidade de Gestão portuguesa tem registado uma evolução
mais lenta relativamente à do Reino Unido, encontrando-se ainda muito ligada às
funções tradicionais e à visão da Contabilidade de Gestão como disciplina
vocacionada para controlar custos, avaliar a performance e servir de suporte ao
reporte externo financeiro.
Técnicas e ferramentas utilizadas
Para responder à terceira subquestão de investigação: Q1.3. «Quais as técnicas
e ferramentas importantes para o efectivo cumprimento das funções
dosControllers de Gestão?», colocámos aos inquiridos a pergunta n.º 3 do
questionário, que solicitava a classificação, numa escala de importância
extremamente importante, média ou reduzida, de 15 técnicas e ferramentas
utilizadas pelos Controllers de Gestão no efectivo cumprimento das respectivas
competências e funções, ao longo dos anos de 2000 a 2005.
As duas técnicas mais importantes para esse período, na opinião dos inquiridos
portugueses, são os orçamentos e a análise de desvios, e as duas menos
importantes são o sigma 6 e o througput accounting.As cinco técnicas mais
importantes que, na perspectiva dos Controllers de Gestão, poderão ter uma
importância acrescida em 2010 são igualmente os orçamentos e a análise de
desvios, surgindo de seguida por ordem decrescente de importância, o ABC ou
CBA, o The Balanced Scorecard e a Contabilidade de Gestão Estratégica. Surgem
com maior importância, para este período, algumas das chamadas novas técnicas
de Controlo de Gestão.
Os resultados do Reino Unido indiciaram que as técnicas tradicionais de
Controlo de Gestão foram amplamente utilizadas ao longo dos anos 1990. Os
orçamentos foram inclusive as técnicas consideradas mais importantes,
encontrando-se logo de seguida a análise de desvios. Por outro lado, constatou-
se que as novas técnicas, tais como o EVA, o The Balanced Scorecard e o ABC, se
encontravam em níveis mais baixos de importância, enquanto as previsões
flexíveis e a Contabilidade de Gestão Estratégica se encontravam,
comparativamente com as anteriores, mais bem posicionadas em termos de
importância. Provavelmente estas últimas estavam a ser utilizadas conjuntamente
com as técnicas tradicionais de Contabilidade de Gestão, complementando-as ao
invés de as substituir.
Analisando, agora, as respostas relativas ao período de 2000 a 2005,
verificamos que os orçamentos e a análise de desvios continuam a figurar nos
níveis mais elevados de importância, mas os investigadores constataram que esta
última tinha sido substituída pela Contabilidade de Gestão Estratégica. Por
outro lado, as previsões flexíveis continuam bem posicionadas, indicando que as
organizações em vez de substituírem os orçamentos por completo, complementaram-
nos com previsões flexíveis e com mais informação estratégica. Relativamente às
novas técnicas, em particular, à contabilidade de valor acrescentado, ao ABC e
ao The Balanced Scorecard, verificamos que estas se tornaram mais importantes.
Quadro 3: Top tende importância das técnicas dos Controllers de Gestão
____________________________________________________________________________________________________________________________
|Top| PORTUGAL (2000-2005) | REINO UNIDO (1995-2000) | REINO UNIDO (2000-2005) |
|ten|________________________________________|_______________________________________|_______________________________________|
|_1_|Orçamentos_____________________________|Orçamentos____________________________|Orçamentos____________________________|
|_2_|Análise_de_desvios_____________________|Análise_de_desvios____________________|Cont._gestão_estratégica_____________|
| 3 |Análise de Cost Drivers (geradores de |Rolling forecasts(Orçamentos/previsõe|Análise de desvios |
|___|custo)__________________________________|flexíveis)____________________________|_______________________________________|
| 4 |Rolling forecasts(Orçamentos/ previsõe|Cont. gestão estratégica |Rolling forecasts(Orçamentos/previsõe|
|___|flexíveis)_____________________________|_______________________________________|flexíveis)____________________________|
|_5_|Activity_Based_Costing(ABC)_____________|Custeio_standard/Custos_Padrões_______|Cont._valor_acrescentado_______________|
|_6_|Contabilidade_de_gestão_estratégica___|Total_Quality_Management(TQM)__________|Activity-BasedCosting(ABC)_____________|
|_7_|The_Balanced_Scorecard__________________|Cont._valor_acrescentado_______________|Total_Quality_Management(TQM)__________|
|_8_|Economic_Value_AddedTM_(EVA_TM)_________|Economic_Value_AddedTM_(EVA_TM)________|The_Balanced_Scorecard_________________|
|_9_|Cus_teio_standard/Custos_Padrões_______|Balanced_Scorecard_____________________|Custeio_standard/Custos_Padrões_______|
|10_|Total_Quality_Management(TQM)___________|Activity-Based_Costing(ABC)____________|Economic_Value_AddedTM_(EVA_TM)________|
De uma forma geral, comparando as três listagens inseridas no Quadro 3,
verificamos que existe em qualquer dos casos uma elevada importância das
técnicas tradicionais: orçamentos, análise de desvios e previsões flexíveis.
Efectuando, agora, a comparação entre países, observamos que o ABC e a análise
de cost driversassumem maior importância nas empresas inquiridas em Portugal
comparativamente com as do Reino Unido, e o mesmo também se constata
relativamente ao The Balanced Scorecard, mas não de forma tão proeminente. Pelo
contrário, verifica-se que as empresas do Reino Unido atribuem maior
importância à técnica da contabilidade de valor acrescentado, com vista ao
efectivo cumprimento das funções dos Controllers de Gestão, do que as empresas
respondentes portuguesas.
Capacidades dos Controllers de Gestão
Relativamente à sub-questão de investigação Q1.4. «Qual a natureza e o grau de
importância das capacidades dos Controllers de Gestão na organização?», os
consultados na pergunta n.º 7 classificaram de extremamente importante, acima
dos 75 %, as seguintes aptidões: capacidade analítica e crítica, postura e
ética profissionais, capacidade de trabalho em equipa e capacidade de gestão e
adaptação à mudança.
Analisando a pergunta n.º 8 do questionário no sentido de inferir quais seriam
as capacidades mais importantes para os Controllers de Gestão no ano de 2010,
denota-se, também, o predomínio das capacidades no âmbito do apoio à gestão. No
entanto, por um lado, observa-se um declínio acentuado de importância da
postura e ética profissionais e da capacidade de trabalho em equipa e, por
outro, verifica-se um crescimento de importância da capacidade de liderança,
posicionando-se, em termos de importância, em quarto lugar.
Relativamente aos resultados do Reino Unido, os autores verificaram que as
capacidades mais importantes se encontravam relacionadas com o facto dos
Controllersde Gestão executarem as suas funções no campo de trabalho, apoiando
os gestores de negócio. Essas capacidades eram a analítica e crítica, os
conhecimentos aprofundados do negócio e respectiva gestão e a capacidade de
trabalho em equipa. Deste modo, os Contabilistas de Gestão têm de estar
preparados para trabalhar em toda a organização, apoiando os seus colegas de
gestão, e em particular devem estar aptos para integrar as dimensões
estratégicas, operacionais e financeiras do negócio.
Comparando a listagem das dez capacidades mais importantes no caso do Reino
Unido, no período de 1995 a 2000 e no período de 2000 a 2005 (ver Quadro 4),
constata-se que não existem diferenças significativas, sendo de notar
simplesmente o crescimento de importância, entre os dois períodos, do domínio
das tecnologias de informação e também do pensamento e raciocínio estratégico.
Quadro 4: Top tende importância das capacidades dos Controllers de Gestão
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
|Top| PORTUGAL (2000-2005) | REINO UNIDO (1995-2000) | REINO UNIDO (2000-2005) |
|ten|____________________________________________________________|____________________________________________________________|____________________________________________________________|
|_1_|Capacidade_analítica_e_crítica____________________________|Capacidade_analítica_e_crítica____________________________|Capacidade_analítica_e_crítica____________________________|
|_2_|Postura_e_ética_profissionais______________________________|Conhecimentos_aprofundados_do_negócio_e_respectiva_gestão_|Domínio_de_tecnologias_de_informação_____________________|
|_3_|Capacidade_de_trabalho_em_equipa____________________________|Capacidade_de_trabalho_em_equipa____________________________|Conhecimentos_aprofundados_do_negócio_e_respectiva_gestão_|
| 4 |Capacidade de gestão e adaptação à mudança |Capacidade de expressão e comunicação oral |Capacidade de integração de informação financeira e não|
|___|____________________________________________________________|____________________________________________________________|financeira__________________________________________________|
| 5 |Conhecimentos aprofundados do negócio e respectiva gestão |Capacidade de integração de informação financeira e não|Capacidade de trabalho em equipa |
|___|____________________________________________________________|financeira__________________________________________________|____________________________________________________________|
|_6_|Capacidade_de_análise_prospectiva_de_gestão_______________|Domínio_de_tecnologias_de_informação_____________________|Capacidade_de_gestão_e_de_adaptação_à_mudança__________|
| 7 |Capacidade de integração de informação financeira e não|Postura e éticas profissionais |Pensamento e raciocínio estratégico |
|___|financeira__________________________________________________|____________________________________________________________|____________________________________________________________|
|_8_|Capacidade_intelectual______________________________________|Capacidade_de_relacionamento_pessoal________________________|Orientação_comercial______________________________________|
|_9_|Domínio_de_tecnologias_de_informação_____________________|Apresentação_e_imagem_pessoal_____________________________|Capacidade_de_tomada_de_decisão____________________________|
|10_|Pensamento_e_raciocínio_estratégico_______________________|Orientação_comercial______________________________________|Apresentação_e_imagem_pessoal_____________________________|
Ao comparar os dois países, constata-se que a capacidade analítica e crítica é
consensualmente aceite como a mais importante para o exercício das funções dos
Controllers de Gestão. Relativamente às diferenças, verifica-se que em Portugal
se atribui importância elevada às capacidades relacionadas com o apoio que
estes profissionais prestam à gestão. Para além disso, os resultados indiciam
que as questões estratégicas e o domínio das tecnologias de informação são
encaradas como sendo capacidades mais importantes no Reino Unido do que em
Portugal.
Outras informações do inquérito
· Percepções dos gestores sobre o papel dosControllersde Gestão
A pergunta n.º 5 do questionário «De que forma os gestores de topo entendem o
papel dos Controllers na organização?» foi estruturada no sentido dos
inquiridos concordarem totalmente, mostrarem algum desacordo ou não concordarem
com 8 possíveis percepções dos gestores relativamente aos Controllers de
Gestão. Foi possível concluir, através das organizações que responderam ao
inquérito, que a maior parte dos gestores de topo entende a função
dosControllers como analistas de negócio ou como analistas financeiros. A
perspectiva associada ao papel dos Controllers,relativamente à qual os gestores
de topo mostraram maior desacordo, foi a de sócios do negócio (ao analisar a
moda, verificamos que nesta perspectiva a classificação mais frequente foi a de
desacordo).
· Localização física dosControllersde Gestão na organização
Através da pergunta n.º 9, «Onde se encontram fisicamente, na organização, os
Controllers de Gestão» constatámos que, em 72 % das organizações que
responderam ao inquérito, todos osControllers de Gestão se encontram instalados
num só local central, compartilhando o espaço com outros colaboradores da
função financeira. Em 13% das organizações todos os Controllers de Gestão se
encontram instalados de um modo disperso e de forma descentralizada na
organização. Também 13 % dos inquiridos responderam que, na sua organização,
mais de metade dos Controllers de Gestão se encontram instalados num único
local central, e os restantes dispersos pela organização. Apenas 2% dos
indagados responderam que mais de metade dos Controllers de Gestão se encontram
dispersos e de forma descentralizada na organização, sendo que os restantes se
encontram concentrados num único local.
· Principais dificuldades sentidas pelosControllersde Gestão
Na pergunta n.º 10 «Quais as dificuldades sentidas pelosControllers de Gestão
na execução das suas funções?» era solicitado aos inquiridos que
classificassem, em elevado, médio ou reduzido, várias situações de dificuldade
na concretização das funções dos Controllers. A situação descrita como de
dificuldade mais elevada foi o domínio insuficiente de conhecimentos de
natureza financeira por parte dos gestores operacionais. No entanto, a
generalidade dos inquiridos consideraram as diversas situações com um grau
médio de dificuldade, não se observando extremos de importância elevada ou
reduzida relevantes. De qualquer forma, com respostas mais frequentes no grau
de dificuldade reduzido, ou seja, com moda igual a 3, encontrámos a situação da
falta de confiança nos Controllers de Gestão por parte dos gestores do negócio.
· Dados de informação pessoal acerca do inquirido
Através da análise às respostas da pergunta n.º 11 do inquérito, conseguimos
averiguar as características dos respondentes, em termos de função profissional
e respectiva área funcional, número de anos de trabalho na organização, número
de anos de TOC e idade.
Relativamente à função profissional, constatámos que a maior fatia do perfil do
inquirido recai nos directores da área administrativa e financeira. De seguida,
surgem os Controllers, os directores gerais/administradores/sócios da empresa e
também com alguma representatividade os TOC (técnicos oficiais de contas).
Quanto aos anos de trabalho, verifica-se que cerca de 49% das pessoas que se
encarregaram do preenchimento do inquérito estão há menos de cinco anos na
organização, 24% entre 6 e 10 anos e apenas 27% há mais de 10 anos. Portanto, a
maior parte, cerca de 73% dos respondentes, estão há menos de 10 anos na
empresa.
Quanto aos anos de exercício da actividade de técnico oficial de contas (TOC),
apurámos que a maior percentagem de inquiridos, cerca de 39%, não é, na
realidade, TOC, 31% são-no há menos de 10 anos e os restantes, cerca de 30%,
são-no há mais de 10 anos.
No que diz respeito à idade, a maior parte das pessoas que responderam ao
inquérito encontram-se no intervalo entre os 31 e os 40 anos. A nível geral,
verificámos que cerca de 67% das pessoas têm menos de 40 anos e que os
restantes 33% são mais velhos.
Conclusões
Este estudo teve como propósito principal responder à questão de investigação
«Qual o papel dos Controllers de Gestão nas empresas portuguesas, no século
XXI?» e baseia-se num trabalho de investigação original realizado no Reino
Unido.
No sentido de dar resposta à questão colocada e de confrontar os resultados das
empresas portuguesas com as do Reino Unido, foi desenvolvida a necessária
pesquisa, e distribuído um inquérito aos gestores de grandes, médias e pequenas
organizações a operar em Portugal.
Da revisão da bibliografia depreendemos que a mudança do papel dos
Contabilistas de Gestão resulta da pressão dos desenvolvimentos na envolvente
organizacional e tecnológica. De facto, os autores descrevem que os
desenvolvimentos tecnológicos têm provocado, por um lado, a descentralização do
conhecimento contabilístico, devido à maior acessibilidade da informação por
todos os níveis da organização, e, por outro, a simplificação das tarefas de
rotina contabilísticas. Daqui resulta que, dentro das diversas funções e
diferentes áreas de negócio, existem diversos colaboradores que entendem
custos, desvios, relatórios de contabilidade e outros conceitos relacionados
com a contabilidade, quer sejam eles contabilistas ou outros indivíduos com
conhecimentos contabilísticos mas não qualificados na área.
Estamos, pois, na presença de uma ameaça para a profissão dos Controllers de
Gestão. De qualquer forma, a simplificação das tarefas de rotina
contabilística, origina que os Contabilistas de Gestão disponham de mais tempo
livre para o desempenho de outras funções mais importantes, tais como a
interpretação da informação financeira e não financeira, e a integração dos
aspectos operacionais, financeiros e estratégicos.
Sendo assim, nos nossos dias, a principal função dos Contabilistas de Gestão
consiste em relacionar os aspectos financeiros com os operacionais e com as
prioridades estratégicas do negócio. Para fazer face a este novo papel, os
Contabilistas de Gestão necessitam de um amplo conhecimento do negócio e das
suas operações, devendo ser integrados nas mesmas equipas de trabalho dos
gestores e possuir capacidades de relacionamento pessoal para interagir com
todas as pessoas da empresa.
Em qualquer situação, é crucial que os Contabilistas de Gestão proporcionem
criação de valor nos serviços que oferecem ao negócio, tanto nas transacções de
negócio, como no controlo financeiro, no suporte ao negócio ou no reporte
externo financeiro.
Para o Chartered Institute of Management Accountants (CIMA), o desafio
relativamente ao futuro é o de capacitar os seus membros para assegurarem um
papel muito mais abrangente dentro do negócio da empresa. A preocupação desta
organização internacional centra-se em adequar os programas das escolas e os
estágios profissionais a este novo papel dosControllers de Gestão que requer um
conhecimento mais amplo do negócio da empresa. Adicionalmente, ao conhecimento
contabilístico e do negócio, os estudantes de Contabilidade de Gestão
necessitam de desenvolver as suas capacidades de relacionamento pessoal, para
no seio de uma organização trabalharem próximo dos outros membros da equipa de
gestão.
Quanto aos factores geradores de mudança do papel dos Controllers,
especificamente e através das respostas aos inquéritos, concluímos que as
empresas do Reino Unido atribuem maior importância, no período de 1995 a 2000,
às novas tecnologias de informação e a outros factores externos à empresa,
enquanto, em Portugal, a alteração das funções dos Contabilistas de Gestão, no
período de 2000 a 2005, verificou-se, na opinião dos inquiridos, devido às
novas estratégias ou práticas de gestão e às novas técnicas de Contabilidade de
Gestão.
A importante mensagem a retirar da análise à sub-questão de investigação do
grau de importância das funções atribuídas aos Controllersde Gestão, é a de
que, tanto a Contabilidade de Gestão do Reino Unido como a Contabilidade de
Gestão Portuguesa, se encontram ainda muito ligadas às chamadas funções
tradicionais da Contabilidade de Gestão. De facto, verifica-se que as funções
de controlo de custos, análise de contas/resultados da organização e
planeamento e gestão de orçamentos se encontram nas primeiras posições da
listagem das dez funções mais importantes dos Controllers de Gestão, nos dois
países. De qualquer forma, para o período de 2000 a 2005, nas empresas do Reino
Unido, verifica-se o aparecimento de novas funções da Contabilidade de Gestão,
tais como o planeamento estratégico, a análise da criação de valor e a
concepção de novos sistemas de informação. Conclui-se que as funções dos
Contabilistas de Gestão Portugueses têm evoluído de forma mais lenta,
comparativamente com as funções dos Controllers do Reino Unido.
Concentrando na avaliação da importância das técnicas de Controlo de Gestão,
constatamos a relevância das ferramentas tradicionais: orçamentos, análise de
desvios e previsões flexíveis. Comparando os dois países, verificamos que o
ABC, em Portugal, se encontra numa posição mais elevada de importância,
relativamente às outras técnicas. Por outro lado, verificamos ainda que a
contabilidade de gestão estratégica e a contabilidade de valor acrescentado
assumem maior importância no Reino Unido do que em Portugal.
De notar relativamente às capacidades dos Controllers de Gestão que há um
consenso ao nível dos dois países sobre a importância da capacidade analítica e
crítica. Em termos de dissemelhanças constata-se, em Portugal, o predomínio da
importância das capacidades ligadas ao apoio dos Contabilistas de Gestão à
gestão da organização, e no Reino Unido a importância de aptidões ligadas às
tecnologias de informação e ao posicionamento estratégico da empresa.
No futuro, o papel dos Contabilistas de Gestão, muito provavelmente, irá ser
refinado continuamente pelas alterações da estrutura organizacional e pelos
novos modelos de trabalho. Por isso, é essencial que, os Contabilistas de
Gestão recebam adequada educação e treino.
No futuro, existirão oportunidades, mas também desafios e ameaças. O desafio
dos profissionais da Contabilidade de Gestão passa pela capacidade de retirarem
vantagem das oportunidades que surgem à nova visão da função de contabilista.