Inovação organizacional: A eficácia do método de resolução criativa de
problemas
Tal como Huhtala e Parzefal (2007) mencionam, para se manterem competitivas no
mercado global, as organizações necessitam de desenvolver continuamente
produtos e serviços inovadores e de elevada qualidade e de renovar a forma como
operam, com base na capacidade continuada dos seus colaboradores para inovar.
Da mesma forma, e se bem que a inovação possa ter lugar através da adopção ou
desenvolvimento de um produto ou serviço existentes, através de investimentos
em I&D ou de aquisição de tecnologia, apenas através da criação e
sustentação de uma força de trabalho criativa, a organização poderá desenvolver
um potencial suscetível de ultrapassar problemas e situações difíceis, que não
podem ser resolvidas, exclusivamente, através de investimentos (Cebon, Newton e
Noble, 1999).
Este potencial criativo da força de trabalho consiste na capacidade de reter
gestores e colaboradores criativos (McAdam e McClelland, 2002) e,
simultaneamente, de proporcionar um ambiente de confiança, onde cada um se
sinta livre e interessado em contribuir para o sucesso da organização. Aspectos
tais como o aumento da complexidade do trabalho, autonomia dos colaboradores e
requisitos de tempo disponível, a par de um controlo organizacional reduzido
(na tomada de decisão, trocas de informação e sistemas de recompensa),
favorecem a criatividade dos colaboradores (Adams, 2006). No entanto, são
necessários mais factores para fazer com que as pessoas queiram colaborar na
eficácia da organização. Por exemplo, uma liderança de apoio, incentivos ao
conhecimento e processos de grupo que favoreçam a criatividade, podem ajudar ao
sucesso (Unsworth, 2005).
Pessoas criativas, gestores ou colaboradores, podem comprometer-se com o
trabalho e com a organização se a gestão de topo valorizar o seu trabalho e
ideias. De facto, de acordo com uma sondagem do Gallup Management Journal
(Hartel, Schmidt e Keyes, 2003), os empregados empenhados com a organização têm
mais possibilidades de «pensar fora da caixa» e de produzir ideias, do que
empregados menos empenhados, sendo também mais receptivos a novas ideias. A
pesquisa concluiu que as pessoas empenhadas tendem a encontrar e sugerir novas
formas de melhoria do trabalho e processos de negócio.
Em certa medida, tudo isto pode ser atingido elevando a importância da
criatividade na organização e fornecendo um sistema através do qual o potencial
individual possa ser canalizado para uma inovação rentável. Sobre este tema, as
questões que andam à volta do potencial de uma organização para inovar estão
ainda a dar os primeiros passos, mesmo tendo em consideração o trabalho
realizado por autores como Puccio, Firestien, Coile e Masucci (2006) e, em
especial, Basadur (1997, 1999).
Tal como Hartel, Schmidt e Keyes (2003) explicam, à medida que os colaboradores
de uma organização recebem treino nos procedimentos de resolução de problemas
em equipa e se envolvem em projectos de inovação, é de esperar uma melhoria na
sua implicação com a organização, seguida de uma sistematização do conhecimento
tornado explícito (Borghini, 2005), decorrente do registo do trabalho das
equipas necessário para levar a cabo as acções. O mesmo acontece com a melhoria
dos canais formais e informais de comunicação (Moss e Ritossa, 2007), devido ao
envolvimento de toda a organização em levar por diante projectos
interdisciplinares e interdepartamentais; e, finalmente, o movimento na
direcção de uma cultura de inovação, através da melhoria da qualidade da
liderança criativa.
A este propósito, Xu e Rickards (2007) descrevem a forma como a implementação
de projectos de inovação pode valorizar aspectos tais como a delegação, o
empowerment dos colaboradores, a confiança, o apoio ao trabalho criativo e, em
especial, a quebra constante das rotinas que conduzem à apatia e comprometem a
qualidade. Esta perspectiva de funcionamento favorece igualmente a investigação
(procura de novas formas de fazer as coisas) em detrimento da exploração (fazer
o que está a dar no imediato), tal como referem Vermeulen, Puranam e Gulati
(2010).
E é na tentativa de comprovar a eficácia desta forma de desenvolvimento da
inovação que temos levado a efeito uma série de aplicações de uma metodologia
de trabalho de grupo que designamos por Resolução Criativa de Problemas (RCP),
como parte de um modelo global de investigação-acção (Sousa, Pellissier e
Monteiro, 2008), cujos primeiros resultados se enunciam neste artigo.
Procuraremos, assim, demonstrar a eficácia do método RCP na melhoria da atitude
face ao pensamento divergente, implicação com a equipa e utilização do
conhecimento explícito, antes de passarmos a uma etapa de maiores desafios, que
consistem em comprovar que as medidas obtidas em grupos se podem generalizar à
organização, por via do desenvolvimento de projectos de inovação, bem como em
definir critérios para avaliar o impacto da inovação organizacional na inovação
de produto e de processo (Wolfe, 1994).
Criatividade, inovação e resolução de problemas
Enquanto a inovação diz respeito aos domínios da implementação, produção,
difusão, adopção ou comercialização de criações, baseados, sobretudo, em
processos de poder e de comunicação (Spence, 1994), a criatividade mantém-se
exclusivamente ligada à relação que se estabelece entre o criador e o seu
produto, segundo os seus próprios critérios de originalidade e utilidade,
ligados aos processos cognitivos e emocionais que têm lugar ao nível do
indivíduo (Sousa, 2007). Logo que o resultado da acção individual é percebido
por outros como original e com valor, passam a estar incluídos fenómenos de
comunicação e começamos a falar de inovação. Assim, e apesar de a criatividade
ser um fenómeno individual, ela só se torna evidente quando percebida por
outros, indo de encontro à perspectiva de Czikszentmihalyi (1991), em que «a
criatividade não está localizada no criador nem no produto, mas sim na
interacção entre o criador e os responsáveis pela área em questão, que retêm ou
rejeitam selectivamente os produtos criativos».
Se relacionarmos a criatividade com a definição e resolução de problemas (Baer,
1993) e a inovação com a implementação da decisão (West e Farr, 1990), este
último passo requer definição e resolução de problemas, tendo em vista executar
a decisão ou a ideia, tornando muito difícil separar ambos os conceitos ao
nível organizacional. De facto, quando passamos do nível individual para o de
grupo e organizacional, os conceitos de criatividade e inovação ficam cada vez
mais difíceis de separar, de modo que podemos concordar com Basadur (1997),
quando ele diz que não existe diferença entre criatividade e inovação
organizacionais. Assim, sempre que abordarmos outros níveis para além do
individual, usaremos ambos os termos (criatividade e inovação) como sinónimos,
e referir-nos-emos à criatividade organizacional como «um sistema destinado a
desenvolver e canalizar a criatividade individual, através de equipas, para
inovações rentáveis para a empresa».
Quanto às várias abordagens para identificar tipos de inovação, quer separando
a adopção de produtos e processos do seu desenvolvimento (Cebon, Newton e
Noble, 1999) quer, de forma mais clássica, inovações de produto ou de processo,
a maioria dos autores concorda (Adams, 2006) que a capacidade inovadora, ou
inovação organizacional, constitui um terceiro e importante tipo de inovação,
que representa o potencial da força de trabalho para promover mudanças que
beneficiem a organização.
E, se bem que só alguns possam ser capazes de realizar algo ao nível de uma
invenção importante, todos detêm algum conhecimento exclusivo sobre o
funcionamento de uma organização que, se devidamente aproveitado, pode
acrescentar valor ao existente, aqui residindo a perspetiva da inovação como
criação de valor, que iremos utilizar neste trabalho (Shapiro, 2001; Robinson e
Stern, 1998).
O método de Resolução Criativa de Problemas
Vários sistemas de trabalho criativo de grupo foram ficando disponíveis desde
que Alex Osborn (Osborn, 1953) apresentou o brainstorming como método de
produção de ideias. Sidney Parnes e Ruth Noller (Parnes e Noller, 1972), por
exemplo, trabalharam no método de Resolução Criativa de Problemas (Creative
Problem Solving ' CPS), que tem sido sujeito a investigação por estudiosos tais
como Isaksen, Dorval e Treffinger (2000) e, em especial, Min Basadur.
Dos restantes métodos, os mais conhecidos são o Six Sigma (Universidade da
Motorola), Synectics (Gordon, 1961), TRIZ (Altshuller, 1979), Soft Systems
(Checkland e Poulter, 2006) e os Six Thinking Hats (De Bono, 1965) que,
entretanto, não se aplicam da mesma forma aos casos que estamos a tratar, nem
possuem uma base de investigação idêntica ao CPS. A designação de «criativo»
tem, também, sido substituída pela de «colaborativo», quer por autores
centrados em sistemas de gestão da informação (Ciurea, 2010; Svieby, 1997),
quer por outros mais virados para os processos organizacionais e de grupo
(Basadur, Pringle, Speranzini e Bacot, 2000 ; Sawyer, 2007; Strauss, 2002).
Da abordagem inicial do CPS, Basadur (1997) propôs um modelo, o Simplex Model
(Basadur, 1999), constituído por oito passos: encontrar o problema, analisar os
factos, definir o problema, encontrar as soluções, tomar a decisão, planear a
acção, planear a aceitação e implementar a decisão.
Mediante o recurso a um método de trabalho, coordenado por uma liderança
específica, consegue-se potenciar o desenvolvimento da imaginação (na fase
divergente), permitindo depois (na fase convergente) escolher as melhores
opções entre as geradas em cada etapa do processo. É um método dirigido à
promoção da inovação na empresa através da valorização da experiência e do
conhecimento dos membros do grupo, numa sinergia dirigida para um objectivo da
organização.
É, também, uma forma de implicar os membros do grupo na decisão tomada e,
assim, melhorar a ligação entre os indivíduos e a organização a que pertencem,
pois potencia as capacidades criativas de um grupo que, à partida, está em
condições de adquirir os conhecimentos necessários para produzir resultados
originais e com valor.
Depois de uma série de aplicações no contexto empresarial português e de
reduções de duração motivadas, principalmente, pela pouca disponibilidade das
equipas empresariais para frequentarem módulos extensos, foi decido reduzir o
modelo de Basadur para cinco passos (ver Figura 1), tendo em vista adaptá-lo a
duas sessões de quatro horas cada.
Figura 1
Processo RCP (Resolução Criativa de Problemas)
Neste modelo, descrito em pormenor em Sousa e Monteiro (2010), considerámos que
o objectivo da sessão, definido pela administração durante a chamada pré-
consulta, não fazia parte do ciclo, bem assim como a implementação da acção,
que é feita fora do quadro das sessões, constituindo o projecto de inovação
propriamente dito.
De acordo com a investigação de Puccio et al. (2006), o impacto do CPSno local
de trabalho pode ser analisado em três áreas: as atitudes individuais
(entendidas como predisposição para responder negativa ou positivamente a
algo), os comportamentos individuais e os seus efeitos nos grupos. Por exemplo,
no seu estudo, Basadur e Hausdorf (1996) concluíram que os procedimentos do CPS
produziram mudanças no comportamento quando as atitudes em relação ao
pensamento divergente evoluíram positivamente, bem como melhoraram a fluência
na resolução dos problemas. Relativamente aos grupos, o treino em CPS melhorou
o clima do grupo, bem como a comunicação, relações interpessoais e resultados
da resolução dos problemas.
Finalmente, Puccio et al. (2006) relataram vários estudos relativos ao impacto
do CPS na eficácia organizacional, que revelaram aspectos tais como a redução
de custos, retornos elevados dos investimentos ou uma cultura mais favorável à
inovação sem, contudo, especificarem em que medida os resultados foram devidos
ao método ou, também, à envolvente de liderança e de gestão das pessoas. Mesmo
assim, caso funcione com sucesso, o método pode contribuir para a criação de
uma cultura de inovação na empresa, à medida que um número cada vez maior de
colaboradores desenvolve projectos de inovação rentáveis (Basadur e Paton,
1993; Isaksen, Dorval e Treffinger, 2000).
Por isso, e uma vez que o método de trabalho em equipa é apenas um dos aspectos
da inovação organizacional, torna-se necessário perceber como é que o sucesso
produzido pelo sistema, nos indivíduos e equipas, pode ajudar a conseguir
inovações rentáveis para a organização. Uma das possibilidades consiste na
identificação de problemas organizacionais que, uma vez resolvidos, podem
aumentar a eficiência interna e a melhoria consequente na adaptação ao mercado.
Por isso, esta investigação focalizar-se-á no desenvolvimento da criatividade
organizacional, usando a metodologia RCP, com a finalidade de demonstrar a sua
eficácia na evolução das atitudes face ao pensamento divergente, na melhoria da
implicação com a equipa e na sistematização do conhecimento explícito para
melhor identificar os problemas organizacionais.
Método
O processo de RCP foi implementado, numa primeira oportunidade, em sete
empresas (das áreas do turismo, mediação imobiliária, informática, construção
civil, distribuição e agricultura), tendo envolvido, em cada organização, uma
equipa de 5 a 10 pessoas, num total de 48 participantes, cujas idades variavam
entre os 24 e os 59 anos (42,5 de média) e possuindo, a maioria, um curso
superior. Os membros das equipas foram designados pela respectiva administração
como conhecedores do problema a tratar. Em cada sessão estiveram presentes os
membros da equipa, o facilitador (líder do processo RCP) e um ou dois
observadores externos que registaram toda a produção do grupo (transcrição das
folhas do flip chart preenchidas pelo facilitador) e ajudaram a analisar as
dinâmicas em cada uma das equipas.
Numa segunda oportunidade, o método foi aplicado com dois grupos de alunos do
Mestrado em Educação Artística, um grupo de uma Instituição Particular de
Solidariedade Social e outro de uma empresa de distribuição, num total de 41
participantes, cujas idades variavam entre os 24 e os 49 anos (32 de média),
com uma distribuição variada de habilitações e a maioria exercendo uma
actividade profissional.
Cada equipa participou em duas sessões de RCP (de quatro horas cada): a
primeira sessão era dedicada à definição do problema e a segunda à sua
resolução e elaboração de um plano de acção.
Em cada organização, a gestão (ou a direcção de curso) definiu o objectivo da
intervenção e interveio para sancionar a definição do problema e a decisão,
ajudando depois a definir o plano de acção.
Um questionário de 14 itens, contendo as duas escalas propostas por Basadur e
Finkbeiner (1985) ' Preferência pela geração de ideias (6 itens) e Evitar o
julgamento prematuro das ideias (8 itens) ', foi aplicado a todas as equipas.
As escalas foram construídas no pressuposto de que a imaginação necessária ao
pensamento divergente sai beneficiada quando o indivíduo tolera melhor as
ideias dos outros e censura menos as suas próprias.
Ao segundo grupo de organizações mencionado foi igualmente administrado um
questionário de 13 itens, adaptado de Almeida, Faísca e Jesus (2007), a partir
do questionário original de Meyer e Allen (1997), para avaliar a implicação com
o grupo, com três subescalas: afectiva, normativa e instrumental. Para
responder a cada item recorreu-se, no questionário relativo a aspectos do
pensamento divergente, a uma escala em 5 pontos (1 discordo em absoluto e 5
concordo em absoluto), sendo a resposta mais próxima de 5 mais favorável a cada
aspecto; no questionário de implicação para com o grupo utilizou-se uma escala
de sete pontos com a mesma orientação. Os efeitos do processo RCP (X) foram
testados comparando a variação da O1(observação inicial) com a O2(observação no
final da segunda sessão).
Como referido na descrição do método RCP, a partir do objectivo definido pela
gestão, os membros das equipas divergiram activamente para encontrar os factos
mais relevantes que iriam ajudar a definir o problema. O número médio de factos
produzidos pelas equipas foi de 80, dando assim uma contribuição importante ao
transformar o conhecimento tácito em explícito e permitindo ampliar a
compreensão dos problemas organizacionais. Todos os factos foram registados
pelos observadores externos e, posteriormente, agrupados em categorias, de modo
a reduzir a sua complexidade, permitindo uma maior compreensão dos processos e
a sua visualização em mapas perceptivos através do programa DTMc40 (Lebart e
Salem, 1994).
Resultados
Na apresentação dos resultados deste trabalho, prossegue-se o objectivo
múltiplo de avaliar a eficácia do processo RCP a dois níveis. Primeiro, ao
nível individual, numa análise quantitativa, na melhoria de aspectos relativos
ao pensamento divergente (preferência pela geração de ideias e evitar o
julgamento prematuro) e na implicação com o grupo, comparando as respostas aos
questionários administrados antes e depois do processo. Em seguida, ao nível de
grupo, mediante uma abordagem qualitativa destinada a sistematizar a informação
tornada explícita para uma primeira visão dos problemas com que as empresas se
debatem actualmente, passíveis de serem solucionados de forma inovadora.
Em vez de forçar as escalas numa análise factorial confirmatória, preferimos
verificar a forma como os sujeitos se agrupavam. Assim, as respostas aos
questionários relativos a aspectos do pensamento divergente, preenchidos por
todos os sujeitos (89), foram submetidas a análise factorial, por extracção de
componentes principais, seguida de rotação varimax, tendo resultado uma
separação coincidente com ambas as escalas de Basadur e Finkbeiner (1985):
oEvitar o julgamento prematuro das ideias, que explicava 32% da variância, com
um Alfa de Cronbach de .72, agregando 5 itens, tais como: Eu devia julgar mais
as minhas ideias antes de as partilhar com os outros (R), ou Devíamos eliminar
imediatamente as ideias menos apropriadas e focarmo-nos nas outras (R); o
factorPreferência pela geração de ideias (explicando 27% da variância),
definido por outros 5 itens, tais como: Um grupo deve estar focalizado na
produção de ideias relevantes (R), ou Gosto de ouvir as ideias mais descabidas
porque, até mesmo a mais estranha, pode dar origem à melhor solução, que
apresentou um Alfa de Cronbach de .76. Por não ancorarem nesta estrutura
bifactorial com saturações maiores ou iguais a .50, foram eliminados 4 itens,
reduzindo o questionário de 14 para 10 itens.
Um teste t evidenciou diferenças significativas nas preferências das pessoas,
em ambos os momentos, em cada factor, como mostra a Tabela 1.
Tabela 1
Teste de significância para a diferença de médias, nos factores «Evitar o
julgamento prematuro das ideias» e «Preferência pela geração de ideias», antes
e depois das sessões de RCP
Como se pode ver na Tabela 1, ambas as variáveis mostram uma melhoria
significativa após as sessões de RCP, o que significa que os membros das
equipas mudaram de preferência ao considerar que devem adiar o julgamento e
evitar concentrar-se apenas na qualidade das ideias, com maior intensidade do
que antes das sessões. Assim, constata-se que, em ambas as dimensões, se passou
da discordância (inferior a 3) para a concordância com atitudes e estratégias
favoráveis ao pensamento divergente.
As respostas ao questionário de implicação para com o grupo foram organizadas
de acordo com os três factores da versão normalizada ' implicação afectiva,
implicação normativa e implicação instrumental ' e os resultados expressos na
Tabela 2, em que Um t teste evidencia diferenças significativas apenas no
factor implicação emocional.
Tabela 2
Teste de significância para a diferença de médias, nos factores implicação
afectiva, implicação normativa e implicação instrumental, antes e depois das
sessões de RCP
Como se pode ver, apenas o factor implicação emocional (ex. Gosto de falar
sobre a minha equipa, fora da empresa/universidade; Esta equipa tem um grande
significado para mim; Sinto realmente como se os problemas desta equipa fossem
meus) evidencia diferenças significativas antes e depois das sessões de RCP,
demonstrando que os participantes pensam que estão mais comprometidos com a sua
equipa, em termos emocionais, após as oito horas de aplicação do método.
Quanto aos restantes factores, não se registaram diferenças significativas,
atestando que o processo não foi suficiente para alterar o sentido do dever
para com a equipa (ex. Mesmo que fosse vantajoso para mim, sinto que não seria
correcto deixar a minha equipa neste momento; Sentir-me-ia culpado se, neste
momento, deixasse a minha equipa), bem como as vantagens pessoais (ex. Não
deixaria agora a equipa pelo que poderia perder; Deixar agora a equipa exigiria
um sacrifício pessoal considerável).
Identificação dos problemas organizacionais
Cada uma das administrações definiu um objectivo (todos relacionados com o
mercado e as necessidades do cliente), que exigia mudanças nos processos
organizacionais internos. Nas sete empresas em que se implementou o processo
foram produzidos 586 factos (frases de 3-6 palavras), que foram categorizados
de modo a reduzir o corpus e a facilitar a realização da análise de
correspondências necessária para elaborar o mapa perceptivo, que se apresenta
na Figura 2.
Figura_2
Mapa perceptivo dos factos produzidos durante as sessões de RCP
Como se pode constatar, os dois eixos organizam os factos em quatro quadrantes,
assim designados por análise das categorias que se concentram nos vários
quadrantes: o eixo vertical opõe a Flexibilidade à Eficiência(que explica 33,1%
da inércia total); e o eixo horizontal, o enfoque Interno ao Externo(22,4%).
Assim, no pólo externo, e numa posição de equilíbrio entre a flexibilidade e a
eficiência, situa-se um hotel de cinco estrelas (01), mais próximo dos
objectivos, marketing, imagem e emprego, e uma empresa de construção civil
(07), mais próxima das exigências do mercado e parcerias.
No quadrante definido pelos eixos Interno e Eficiência, encontram-se duas
empresas: uma da área da distribuição (02) cujos factos se relacionam mais com
a motivação, facturação e dificuldades dos clientes; e uma empresa que opera no
sector da construção civil (04), mais próxima de problemas de tempo,
administração e comunicação com o cliente.
Finalmente, no quadrante definido pelo foco Interno e pela Flexibilidade, três
empresas: uma na área das tecnologias de informação (03), outra no sector
agrícola e a última (06) na construção e mediação imobiliária. As duas
primeiras, mais próximas, apresentam factos como a confiança, comunicação,
incentivos, mudança, estrutura e processo; enquanto a terceira se aproxima mais
de problemas de identidade, qualidade e competição. Nesta distribuição ficaram
bem patentes as diferentes fundamentações que os colaboradores consideram
pertinentes para análise dos objectivos definidos pela administração das
empresas, tornando evidente a necessidade de equilíbrio entre a adaptação ao
exterior e o funcionamento interno da organização.
Discussão
O método RCP demonstrou eficácia na capacidade de alterar as preferências
individuais favoravelmente ao pensamento divergente, em especial evitando o
julgamento prematuro, aceitando as ideias dos outros e fazendo menos
autocensura, bem como aumentando o sentimento de pertença à equipa. Estes
resultados são consistentes com a investigação de Basadur e Ausdorf (1996) e
Puccio et al. (2006). E se a tolerância às ideias dos outros e a redução da
autocensura são fundamentais para a emergência criativa, a implicação com o
grupo e, por arrastamento, com a organização, constitui uma condição sine qua
nonpara a existência de inovação, face à persistência que é necessário ter para
desenvolver novos conhecimentos e para vencer as barreiras que se colocam em
qualquer actividade relativa à inovação, quer por parte das equipas de projecto
quer pela própria gestão.
Com efeito, a questão decisiva prende-se com uma clara orientação para a
inovação colaborativa por parte da gestão de topo, cuja acção consiste em
incentivar as chefias no sentido da facilitação de projectos de equipa, sendo o
método apresentado apenas uma forma de trabalho para lá chegar.
A inovação ocorre durante o ciclo de criação do conhecimento, entre a definição
do problema e a sua resolução, não podendo desenvolver-se sem primeiro
identificar as questões relevantes sobre o conhecimento existente acerca de um
problema. Assim, a inovação reside na aprendizagem que as equipas vão
realizando ao construir um novo conhecimento, o que só pode ocorrer a partir da
implementação de um projecto concreto. Trata-se, pois, de um processo de
investigação-acção decorrente do aprender-fazendo. Nesta perspectiva, a
inovação reside no processo de resolução de problemas, que conduz à tomada de
decisão e ao planeamento da acção. Os objectivos iniciais, o problema definido,
as ideias sugeridas e a decisão tomada podem ser consideradas como ferramentas
de coesão e de colaboração, essenciais à inovação, mas é na acção, no
desenvolvimento dos projectos, que ocorre a verdadeira criação do conhecimento
e a inovação.
Ao proporcionar a identificação dos factos relacionados com os problemas
organizacionais, o método permitiu fazer o diagnóstico das áreas principais de
preocupação nas empresas, do ponto de vista dos colaboradores, e construir uma
tipologia de problemas, ajustando cada empresa a categorias pré-estabelecidas,
em quadrantes definidos por um sistema de eixos. Se bem que todas as sessões
tenham começado com objectivos de carácter externo à empresa, definidos pela
administração, as equipas forneceram dados com orientações distintas.
A maior concentração deu-se à volta da flexibilização interna, incluindo três
empresas, cujos problemas reflectem a necessidade de melhoria na comunicação.
Outro quadrante ' o da eficácia interna ' encerra duas empresas menos
dependentes da tecnologia, que necessitam de melhorar a organização interna
para estabelecerem uma relação mais eficaz com os clientes. Por último, na
orientação externa, situam-se duas empresas que se encontram ameaçadas pela
recessão do mercado, necessitando de reorientação urgente para sobreviverem.
Se bem que se torne necessária uma evidência baseada em mais casos, tornou-se
claro que os mecanismos de inovação e as prioridades diferem de empresa para
empresa, o que implica que os modelos de inovação não possam ser utilizados
como se todas as empresas funcionassem da mesma forma. De facto, tal como
demonstra a evidência empírica, as equipas tendem a definir como áreas de
melhoria as que se encontram à volta da eficiência interna, tais como o
controlo de gestão, comunicação, motivação, supervisão e relações com os
clientes. Desta forma, os problemas organizacionais, vistos segundo a
perspectiva dos colaboradores, tendem a contradizer a necessidade de inovação
ou, dito de outra maneira, a realçar a necessidade da empresa se adaptar às
mudanças do mercado, tecnológicas e de gestão, proporcionando alguma
estabilidade interna.
As pressões constantes da gestão e do tempo sobre os colaboradores não
proporcionam condições para que estes vejam a inovação como um benefício em si
próprio, mas esta atitude pode modificar-se se lhes for dada a possibilidade de
balancear constrangimentos e iniciativas e de fazerem da inovação um esforço
colectivo interno de adaptação ao exterior. É por isso que a existência de
sistemas internos de inovação organizacional se torna fundamental para promover
e sustentar uma mudança contínua de adaptação ao mercado.
Este método de resolução de problemas provou ser capaz de dar ajudas úteis para
a inovação organizacional, contribuindo, assim, para o sucesso do modelo global
em que se insere (Sousa, Monteiro e Pellissier, 2008; Sousa e Monteiro, 2010).
E se bem que as ferramentas de resolução de problemas já tenham demonstrado a
sua utilidade na procura de soluções e em ajudar as organizações a melhorar, o
que falta ainda provar é até que ponto a implicação com a equipa se mantém ao
longo do projecto e, por essa via, se estende à própria empresa. Da mesma
forma, interessa ver se as preferências face ao pensamento divergente tendem a
melhorar ou, pelo menos, a manterem-se estáveis durante todo o processo.
O processo de desenvolvimento da criatividade e inovação organizacional é
complexo e curvilinear, com pontos altos e baixos, que podem dar lugar a uma
cultura favorável à inovação, apenas se a gestão de topo se encontrar
totalmente empenhada, como já referido. A investigação futura permitirá testar
o modelo, na sua complexidade mais vasta, e fornecerá novos insights para a
compreensão do processo de criatividade organizacional.
O uso de medidas de controlo de gestão, tal como as descritas por Adams (2006),
no sentido de avaliar os impactos dos projectos de inovação nos resultados
finais da organização, fornecerá as referências principais para a avaliação do
progresso de outras variáveis organizacionais. Em primeiro lugar, a
investigação futura deverá coligir casos de mais empresas e analisar o que se
passa depois do planeamento da acção, ou seja, na fase da implementação dos
projectos de inovação, de modo a analisar o que pode ser feito para melhorar a
sua eficácia no desenvolvimento da inovação.