Inteligência competitiva: percepções de valor no setor da bijuteria
Estamos imersos num vasto sistema interativo no qual a informação e, sobretudo,
o conhecimento estabelecem novos referenciais de equilíbrio entre forças
econômicas e sociais. As alternativas de substituição, apoiadas na inovação
tecnológica, criam constantemente novos fatores de diferenciação que ampliam o
acirramento da competição entre as empresas. A necessidade de continuidade
pressupõe inteligência na análise e ação, visando os ajustamentos necessários
aos desafios do mercado, mediante modelos e instrumentos de gestão adequados.
Nesse cenário competitivo complexo, os key-drivers representam, além da
aproximação aos clientes, também as alianças e envolvimento de toda a cadeia de
valor, visando a antecipação e a flexibilidade (McConnell e Ward-Perkins,
1996). As empresas melhor preparadas para interagir com tal complexidade são as
que demonstram capacidade para a integração e construção de estratégias
coletivas em rede.
A estrutura empresarial brasileira é composta predominantemente por micro e
pequenas empresas (MPE), que correspondiam em 2011 a 8,9 milhões de
estabelecimentos, responsáveis por 27% do PIB (Barretto, 2014). No setor de
bijuterias predominam as micro e pequenas empresas, sendo que na cidade de
Limeira, Estado de São Paulo, Brasil, se concentram cerca de 60% dos produtores
nacionais, com uma produção anual correspondente a US$132 milhões (Di Giulio,
2007). Essa concentração numa área geográfica específica fez surgir uma
estrutura de rede empresarial, denominada arranjo produtivo local (APL). Tais
formações empresariais desenvolveram-se em áreas geográficas específicas e, na
maioria das vezes, não optaram pela integração vertical, mas visaram ganhos de
eficiência coletivos (Suzigan et al., 2007).
As estratégias do setor de bijuterias têm sido construídas considerando um
pacto, de natureza tácita, que busca incorporar as necessidades do contexto
empresarial local, que é coordenado por uma associação de produtores. A partir
de 2003, os avanços no desenvolvimento da inovação e na capacidade instalada do
parque industrial brasileiro (Costa, 2013) projetaram o Brasil como um
potencial exportador de produtos associados à moda, como as bijuterias.
Todavia, a produção brasileira acompanha, em grande parte, a evolução do
mercado doméstico, em virtude do seu tamanho. Essa característica tende a
restringir o avanço das exportações que, por sua vez, limita a capacidade
competitiva das empresas ao cenário interno. Especificamente no APL de Limeira,
a quantidade de empresas que disputam o mesmo mercado (cerca de 600 empresas) é
significativamente alta, o que amplifica a competição dentro do mesmo segmento.
As intervenções preliminares desta pesquisa, no âmbito do APL de Limeira,
ocorreram no sentido de interpretar as condições de redução da taxa de
crescimento das atividades no APL, supostamente pelas dificuldades manifestadas
pelos produtores locais em manter alianças, em virtude do acirramento da
competitividade interna, que, por sua vez, passou a restringir o
desenvolvimento da inteligência competitiva (IC) para o setor.
Segundo Maguire e Davies (2007), as aglomerações industriais (APL) são
consideradas estratégias para impulsionar a competitividade de um setor e têm a
capacidade de promover simultaneamente a cooperação e a competitividade entre
as empresas. Nessas condições, normalmente os vínculos entre os agentes são
tácitos, informais, logo, de natureza qualitativa (Boschma e Lambooy, 2002;
Feser e Bergman, 2000). Dessa maneira, é possível inferir que o acirramento da
competitividade no APL consiste de uma situação que naturalmente tem origem
nessas estruturas empresariais e que tais condições refletem na redução da
competitividade global.
Sob esses pressupostos, identificou-se que o problema da presente pesquisa
passaria por organizar e analisar opiniões dispersas em uma rede de empresas,
sobre a efetividade da construção da inteligência competitiva para o APL de
joias folheadas de Limeira, mesmo estando ele exposto à competitividade
interna. Diante desse problema, em pesquisa realizada no setor de joias (Palma,
2011), utilizando análise univariada e bivariada com o objetivo de avaliar as
estratégias de sustentabilidade adotadas pelas empresas, se pôde observar, por
indicadores de desempenho, que os resultados das estratégias adotadas por
empresas isoladas não refletiram uma estratégia de grupo.
Da mesma maneira, visando analisar ganhos em termos de cooperação entre as
empresas do APL de joias de Guaporé, Rio Grande do Sul, Brasil, e utilizando um
questionário semiestruturado aplicado a oito empresas do APL, se constatou um
baixo nível de ganhos internos originados na cooperação entre as empresas
(Alberton, 2011). Constata-se, assim, que existe um nível muito baixo de
cooperação entre os agentes de um APL, cujas estratégias, predominantemente,
não convergem para a potencialização de resultados globais. Esta constatação é
também reforçada noutros setores, como por exemplo em APL de produção de
crustáceos, onde as empresas não são capazes de identificar benefícios de
estratégias conjuntas para a construção da IC (Medeiros et al., 2011).
O presente trabalho, na ampliação e aprofundamento dos estudos desenvolvidos,
visa investigar o potencial de construção da IC no APL de Joias Folheadas de
Limeira. No pressuposto de que o acirramento da competição influencia as
opiniões coletivas e restringe ações efetivas no sentido da cooperação, busca-
se caracterizar a cadeia de produção e distribuição de bijuterias e analisar o
impacto das tecnologias da informação na condução de estratégias conjuntas, de
maneira a contornar o restritor imposto pelo acirramento da competição.
Considerando a especificidade do cenário, os agentes envolvidos e a natureza da
informação que se deseja relatar, utilizou-se nesta pesquisa a técnica Delphi,
que se configura um instrumento eficiente para estruturação de informações
qualitativas, provenientes de opiniões de agentes especialistas, e que se
encontram dispersas em um cenário complexo.
Breve revisão da literatura e enquadramento conceptual
Considerando que um modelo de decisão ocupa sempre o centro do processo
decisório e se pode definir como uma representação da realidade (Murakami,
2003), que a realidade é algo subjetiva e depende diretamente da capacidade de
interpretação humana (Ballone, 2005) que, por sua vez, se referencia ao
conhecimento construído pelo indivíduo, que os problemas complexos são
problemas mal estruturados e de difícil resolução por meio de algoritmos
conhecidos, particularmente devido às suas características multidisciplinares
(Morita et al., 1999), podemos afirmar que um problema complexo demanda, para a
sua resolução, o envolvimento coordenado de conhecimento de diferentes áreas,
que contribuirão para a construção conjunta de um único modelo de decisão, que
deverá ser compartilhado por todos os agentes.
A partir da década de 1950, pela Teoria Geral dos Sistemas (Von Bertalanffy,
1956), emerge a ideia de que o mundo é composto de partes que não podem ser
vistas e estudadas sem a compreensão e aceitação do todo em que figuram. Sobre
essa abordagem, sustenta-se o conceito de que a estrutura lógica da maioria dos
cenários que envolvem decisão não pode ser mapeada, pois não é possível
relacionar todas as causas a todos os efeitos. Essa condição, comum na maioria
dos sistemas humanos, dá origem a um dos pressupostos dos sistemas complexos
(Morin, 1990).
Segundo esse novo ideário, as organizações humanas são sistemas complexos,
compostos de fluxos tangíveis, onde circulam conteúdos materiais e fluxos
informacionais que auxiliam na compreensão dos fatos ou eventos e que permitem
a tomada de decisão (Rascão, 2007).
A complexidade, encontrada nos sistemas organizacionais, reduz a possibilidade
da utilização de modelos matemáticos, considerando que estes são adequados
apenas para a solução de problemas estruturados. Modelos empíricos mostram-se
mais adequados a questões complexas, que são marcadas pela ocorrência de dados
qualitativos, e não quantitativos, os quais correspondem a representações
simbólicas atribuídas a manifestações de eventos qualitativos. Integram
estratégias de classificação de fenómenos aparentemente imponderáveis que,
fixando premissas de natureza ontológica e semântica, instrumentalizam o
reconhecimento dos eventos, a análise de seu comportamento e suas realizações
com outros eventos (Pereira, 2006).
Algumas questões relativas a falhas de interpretação do processo decisório se
iniciam pela dificuldade de analisar as informações qualitativas, já que as
mesmas estão sujeitas à parcialidade, limitação da sensorialidade, e distorção
intuitiva do decisor. Com o objetivo de mitigar problemas decorrentes dessas
limitações, foram criados inúmeros instrumentos de análise qualitativa, dentre
eles, a técnica Delphi.
· Técnica Delphi
A técnica Delphi (Dalkey e Helmer, 1963), pela sua natureza qualitativa e
preditiva, afigura-se relevante ao estudo proposto. Pautada por quatro vetores
– anonimato, emprego de especialistas, aplicação de rondas interativas com
feedback, e busca de consensos -, esta técnica tem por objetivo permitir que um
grupo de agentes explore um sistema complexo, combinando opiniões de maneira
interativa e estruturada, buscando consenso. Embora as opiniões dos
especialistas se completem, a heterogeneidade e o anonimato entre as opiniões
são considerados pontos fortes de análise. Essa consideração é relevante e
concorre para preservar a independência das opiniões, além de conter possíveis
influências tendenciosas (Helmer, 1966).
A característica de informar os especialistas sobre os resultados obtidos em
cada ronda de opiniões (feedback) é também muito importante, pois atua como
meio de validação e integração das opiniões. Dessa maneira, constrói-se um
modelo partilhado de compreensão do problema complexo, que fomenta o
aprendizado em grupo e a melhoria contínua, sob os conceitos de visão
compartilhada (Senge, 2006). A interatividade do processo pressupõe uma
estrutura não hierárquica, de partilha equânime das respostas, onde as
excentricidades são excluídas e a reciprocidade fomentada. A Figura_1 demonstra
o processo de aplicação da técnica Delphi.
De acordo com Sackman (1975), a aplicação da técnica Delphi se inicia pela
definição do problema, da área de pesquisa e dos especialistas. Com base nessas
características, é proposto um questionário aberto, uma entrevista pessoal ou
mesmo uma sessão de perguntas on-line. Seja qual for o modelo, no entanto, o
questionário deve ser estruturado, seguindo um projeto prévio que contemple as
especificidades de cada situação. Essas especificidades, que devem ser
respeitadas pelo questionário, podem ser contempladas utilizando escalas
semelhantes, com padrões qualitativos ou quantitativos, que atendam às
necessidades previamente determinadas. Os meios de coleta podem ser realizados
pelos participantes ou pelo coordenador da pesquisa, indistintamente, desde que
sigam o mesmo padrão. Esses questionários devem ser acompanhados pelas suas
diretrizes e serão aplicados em duas ou mais rondas, dependendo da necessidade,
como por exemplo, quando há surgimento de inconsistências. Cada momento de
interação deve ser precedido de um feedback estatístico, que pode envolver
indicadores estatísticos de tendência ou dispersão.
Na Figura_1, as linhas tracejadas indicam as possibilidades de repetição dos
questionários que se sucederão até que ocorra consenso entre os participantes.
O consenso entre os agentes é fundamental para a construção de uma opinião
compartilhada, base para a formação da inteligência competitiva.
· Inteligência competitiva, organizacional e antecipativa
Segundo Kahaner (1997), IC consiste no processo de monitoramento do ambiente
competitivo, o qual deve corresponder a um programa sistemático e ético para
coleta, análise e gerenciamento de informações que podem afetar os planos da
empresa, das suas decisões às operações. Esse programa, em um ciclo virtuoso
contínuo, deve ser dividido em cinco fases: planejamento e gestão, onde os
tomadores de decisão descobrem e aprimoram suas necessidades de inteligência;
atividades de recolha de dados, que devem ser legais e eticamente conduzidas;
análise, que consiste na interpretação dos dados e elaboração de ações
recomendadas; divulgação, onde se apresentam os resultados aos tomadores de
decisão; e realimentação, onde se consideram as respostas dos tomadores de
decisão e as necessidades de perpetuação do processo de construção da
inteligência (Herring, 1998).
A IC corresponde assim à auscultação do ambiente envolvente da empresa com o
propósito de conduzi-la de um cenário de completa incerteza para outro menos
inóspito, onde se possa qualificar e quantificar risco, a partir de um
diagnóstico do ambiente, objetivando o estabelecimento de estratégias de ação a
curto, médio e longo prazo (Valentim et al, 2003).
A vantagem competitiva de uma organização será sustentável se ocorrer um fluxo
de recursos que seja compatível com o ambiente contingencial (Anunciação e
Zorrinho, 2006), condição que exige a demanda de um correto posicionamento do
conhecimento dos gestores (Le Boterf, 2001; Tarapanoff, 2001).
Esse fluxo de recursos pressupõe não apenas a existência de sistemas de
informação (SI) mas também um conhecimento profundo da arquitetura dos mesmos,
da dinâmica associada à informação (origem, natureza, oportunidade, qualidade e
quantidade). Dessa ampla compreensão, decorrerá a criação de valor econômico
para o consumidor ou para o mercado superior aos concorrentes (Barney e Clark,
2007; Porter, 1998; Hitt, et al., 2013).
O âmbito da IC embora atenda predominantemente ao ambiente empresarial externo
e às relações com a empresa, deve também considerar as relações internas à
própria organização, de onde se origina o conceito de Inteligência
Organizacional (IO). Os estudos sobre IO, iniciados por Wilensky (1967),
descrevem-na como uma maneira de coletar, processar e interpretar as
informações provenientes do ambiente interno e externo empresarial com o
objetivo de tomada de decisão. Partindo desse pressuposto, Choo (1996) propõe
que os processos de IO, que consideram tais informações, estejam apoiados sobre
dois pilares, que são o cálculo racional, que considera a avaliação das
consequências do processo decisório, e o aprendizado pela experiência, que
considera as regras construídas por processos similares já vivenciados. Matsuda
(1992) aproxima a IO de conceitos de gestão do conhecimento quando a descreve
como a integração da inteligência humana com a tecnologia da informação,
entendendo o produto da atividade de inteligência como o resultado prático das
decisões tomadas e o processo como a integração de pessoas e máquinas com um
objetivo comum.
Tal como a IC, a IO deve apoiar-se em boas arquiteturas, SI e bases de dados
que facilitem uma exploração multidimensional (sistemas de business
intelligence). Deve permitir a extração e integração de informações de
múltiplas fontes, fazendo uso da experiência e levantando hipóteses para
desenvolver uma perspetiva precisa da dinâmica dos negócios (Rezende e Abreu,
2002).
A IO deve suportar-se numa visão sistémica da organização (Senge, 2006),
integrando as funções organizacionais bem como os respetivos sistemas e
tecnologias da informação (Tarapanoff et al., 2000), visando facilitar as novas
dinâmicas a que a empresa está exposta (Rezende e Abreu, 2002; Rezende, 2003).
Ambas, IC e IO, visam imprimir comportamentos adaptativos à organização, nos
objetivos, estrutura, produtos e serviços, em resposta às exigências do
ambiente, como é possível observar na Figura_2.
Proatividade, antevisão e reorganização expressam competências da gestão por
meio da IC das organizações face aos sinais do mercado. Assim, as perceções de
mudança detetadas pela capacidade de antevisão devem justificar a mobilização
dos recursos e os investimentos, enquadrando propostas de reorganização para
produção de ciclos virtuosos de geração de valor em cenários de proatividade
(MacMillan et al., 2003). O trajeto para a IO pode ser percecionado por meio da
Figura_3.
No centro de ambas, IC e IO, encontram-se os SI. A imprescindibilidade de
informação rápida, suficiente e fiável pressupõe a existência de uma
flexibilidade urbanística ao nível dos SI (Anunciação e Zorrinho, 2006).
Sabendo que a qualidade das decisões da gestão depende da informação, o
enquadramento e desenvolvimento dos SI afigura-se crítico. Deve ter por base um
quadro de referência que permita a «leitura» da informação e o seu emprego
inteligente no desenvolvimento das atividades e dos negócios. A adoção de
soluções urbanas ou urbanizáveis ao nível organizacional e dos SI melhora a
compreensão da organização, racionalizando e flexibilizando a sua estrutura e
os sistemas de suporte. Dessa maneira evita aquilo que Mitchell (2000) designa
de «erro caleidoscópico», que é a visualização parcelar da globalidade das
atividades econômicas, que induz à incapacidade de percepção de todas as
atividades desenvolvidas pelos diversos intervenientes.
Todavia, tanto a IC quanto a IO estão também associadas ao pressuposto das
mudanças descontínuas ou bruscas ocorrentes nos fluxos de informação
organizacionais. Sob essa abordagem, os SI, tradicionalmente propostos pelas
organizações empresariais, se encontram fragilizados, pois as empresas se
expõem a uma carga enorme de informações subjetivas, replicadas de maneira não
convencional que degradam as tentativas de controle dos gestores, induzindo a
ocorrência de problemas fortuitos.
Sob esses pressupostos, Lesca e Blanco (2002) sustentam a necessidade da
construção do que denominam inteligência antecipativa (IA). Essa abordagem
parte do conceito de «sinais fracos», também chamados de «sinais de alerta
precoces» descritos inicialmente por Ansoff (1975) e propõe o monitoramento de
informações ou eventos, aparentemente desconexos, com o objetivo de obter
padrões de relacionamento gradativos, com os quais se possa antecipar condições
futuras do ambiente no qual a empresa está inserida.
Tais sinais podem ser detetados e capturados pela IA, em duas fontes
principais: bibliográficas (bases de dados, publicações, Internet, etc.) e
fontes de «campo». Tais fontes têm origem no trabalho de vendedores,
compradores, técnicos, pesquisadores, etc. Esses agentes adquirem essas
informações por seus contatos relacionais, suas observações visuais, lendo
jornais ou documentação de outras empresas, etc.
Setor em estudo
O setor de bijuterias no Brasil é estruturado em redes de micro e pequenas
empresas de capital familiar denominado de APL. Existem três APL de produção de
bijuterias significativos no Brasil, segundo Di Giulio (2007): um em Limeira,
no Estado de São Paulo, outro em Guaporé, no Estado do Rio Grande do Sul, e
outro em Juazeiro do Norte, Estado do Ceará.O APL de Limeira é reconhecido como
o principal polo produtor, concentrando 60% da produção nacional do setor,
correspondente a US$132 milhões em 2006 (Di Giulio, 2007). Sua produção é
vendida predominantemente no atacado. Produz peças de ligas metálicas comuns,
banhadas com metais preciosos e também fundidos de prata que se destinam ao
mercado de acessórios de moda. Em virtude da presença de metais nobres e pedras
semipreciosas na confeção dos produtos, convenciona-se designar bijuterias
também como «semijoias» ou «joias folheadas».A importância do setor de
bijuterias no Brasil pode ser explicada por dois fatores: nível de exportações,
que, em 2006, atingiu US$220 milhões, correspondendo a 9,2% do total das
exportações realizadas pelas micro e pequenas empresas brasileiras, e o fato de
o setor estar em busca de construir diferenciais competitivos com base na
inovação (Di Giulio, 2007).Os estabelecimentos se situam em uma restrita área
geográfica, e se caracterizam, segundo Cassiolato e Szapiro (2003), como um
APL, considerando os vínculos de articulação entre os atores locais.O perfil da
gestão do APL encontra-se fundacionado na experiência de vida dos respetivos
empresários. Sem departamentos de design e inovação, a produção é
frequentemente canalizada para varejistas e sacoleiros, que utilizam sua
sensibilidade, adquirida pelo contato direto com os clientes, para a escolha e
oferta de produtos. Essa conduta acirra a competição interna no APL e culmina
em estratégias de reduções de preços em detrimento da inovação e qualidade,
reduzindo a competitividade externa.O acirramento da competitividade interna,
por sua vez, atua como fator impeditivo para a implantação de formas e
dinâmicas organizativas, produtivas e comerciais mais eficientes que possam
fazer frente às pressões do mercado.
Considerando a ausência de estrutura formal e de informações que relacionassem
os atores do APL e a quantidade de dados qualitativos existentes, a equipa de
investigação iniciou seu trabalho buscando o reconhecimento da estrutura
operativa, à luz do conhecimento dos atores locais. Tais informações submetidas
à técnica Delphi (Dalkey e Helmer, 1963) culminaram por revelar a estrutura de
relacionamentos, as oportunidades e ameaças a que o setor está exposto, bem
como sua sensibilidade relativamente ao paradigma da informação e do
conhecimento como fator determinante de competitividade e sustentabilidade
econômica.
Metodologia de aplicação da técnica Delphi
Um APL notadamente é composto por um conjunto significativo de empresas
dedicadas a atividades distintas, com objetivos que recaem sobre um mesmo
mercado. Essas empresas interagem em um reduzido espaço geográfico e criam
redes de relacionamento, que ora apresentam características de cooperação, ora
de conflito. Tais relações não podem ser claramente mensuradas, dessa maneira o
APL objeto desta pesquisa será interpretado como um sistema complexo, conforme
descrito no tópico «Breve revisão da literatura e enquadramento conceptual».
Os agentes, segundo dados preliminares obtidos, possuem uma retórica
aparentemente homogênea em torno da necessidade de melhoria da competitividade
e entendem que essa competitividade pode ser apenas obtida em rede, e não em
cada nó (empresa) separadamente.
A análise proposta foi realizada a partir da abordagem de sistemas complexos,
considerando os seguintes pressupostos iniciais: as informações serão válidas
se forem assim julgadas por especialistas; para interpretação de sistemas
complexos os modelos de análise não estruturados são mais adequados, e os dados
obtidos nesse cenário são qualitativos. Diante desses pressuposto, optou-se
pela aplicação da técnica Delphi (Dalkey e Helmer, 1963).
· Definição do problema
A partir das necessidades apresentadas pelos próprios agentes, configurou-se
como problema a organização e análise de opiniões dispersas na rede de
empresas, sobre a oportunidade de se construir efetivamente a IC no APL, de
acordo com seus agentes.
Observa-se que, no caso do APL, o acirramento da competitividade interna
representa um entrave ao crescimento das empresas globalmente. Uma das
expetativas levantadas pela aplicação do método seria a ampliação da
compreensão do grupo de agentes sobre esse entrave.
· Definição da área de conhecimento e seleção dos especialistas
A pesquisa foi conduzida com o auxílio da entidade de classe patronal dos
produtores de bijuterias de Limeira. Considerando ser esse o órgão
representativo das empresas na região, o acesso aos agentes detentores da
informação foi mais objetivo. Foram escolhidos agentes atuantes em cada elo da
cadeia de produção, respeitando a diversidade das áreas de conhecimento e a
necessidade de compreensão do conceito de IC distribuído na rede de empresas.
Todos os agentes especialistas participantes também são dirigentes da entidade
de classe que representa o conjunto dos produtores de bijuterias no APL de
Limeira. Essa característica atende às prerrogativas da técnica Delphi,
considerando que os membros da entidade foram eleitos por toda a comunidade
produtora, que ratifica, assim, a representatividade desses agentes.
· Preparação e distribuição do questionário
Embora seja reconhecido oficialmente, o APL de Joias Folheadas de Limeira, no
início da presente pesquisa, não havia formalizado uma estrutura de elos da
cadeia de produção e distribuição, reconhecida por todos os representantes de
cada elo da cadeia de produção.
Visando atender esse requisito, bem como ao problema central de análise, o
questionário foi estruturado em quatro segmentos:
· Caracterização da organização empresarial, cujo objetivo foi definir as
relações do agente com a empresa, o nível de poder e sua experiência pregressa
na área. A empresa foi analisada sob o aspeto de enquadramento fiscal (pequena
ou micro empresa);
· Caracterização do elo da cadeia produtiva, cujo objetivo foi possibilitar ao
agente reconhecer em qual instância se localiza a empresa, sob o aspeto de
adição de valor ao consumidor;
· Caracterização da estrutura informacional da organização empresarial, que
objetivou coletar impressões sobre a necessidade da informação do meio
envolvente, práticas e instrumentos supostamente utilizados;
· Caracterização da competitividade, com o objetivo de analisar a existência de
sistemas de apoio à decisão e conhecimento teórico/prático sobre IC.
O questionário foi realizado em duas rondas, sendo a primeira desenvolvida a
partir de questionário aberto, aplicado em um processo de entrevista realizado
em cada empresa durante um período de um mês.
A estruturação obtida, após o primeiro feedback aos participantes, permitiu que
na segunda ronda fosse estruturado um questionário fechado, entregue por
correio aos mesmos participantes da primeira ronda.
Análise das respostas
Para a primeira e a segunda rondas foi utilizada a mesma estrutura de
questionário, visando à comparação das respostas relativas aos quatro segmentos
previamente descritos. Dessa maneira, foi possível observar o amadurecimento
dos agentes inquiridos relativamente às respostas dadas.
Nos tópicos seguintes se busca caracterizar a evolução das respostas nas rondas
e depois apresenta-se a análise conclusiva, pautada nas respostas da segunda
ronda do questionário.
· Primeira ronda do questionário
A primeira ronda de levantamento de informações ocorreu por meio da aplicação
de um questionário aberto, como descrito no tópico «Preparação e distribuição
do questionário». Ao final do questionário, após a tabulação das respostas e
construção dos gráficos necessários, foi realizada uma sessão de feedback, da
qual participaram todos os especialistas envolvidos.
Não ocorreram divergências de opiniões sobre as informações do primeiro
segmento do questionário (Caracterização da organização empresarial).
Possivelmente, isso se deve ao fato de que as informações são de origem interna
às empresas, e dificilmente seriam contestadas por especialistas de outras
empresas durante a sessão de feedback realizada.
Quanto ao segundo segmento do questionário (Caracterização do elo da cadeia
produtiva), ocorreram inúmeras controvérsias.
A estrutura da cadeia de produção foi identificada pelos especialistas como
organizada em dois níveis denominados Auxiliar e Produção. O Quadro_1 demonstra
a estrutura idealizada pelos especialistas, após a primeira ronda.
Observa-se que a composição do APL se estrutura sobre nove elos, sendo que dois
deles (Aço Inox e Ouro) são específicos e não possuem relações mais densas com
os demais elos. Dos especialistas participantes, 20% julgaram que essas
empresas não estão associadas ao APL, possuindo estratégias e mercados
específicos, diferentes dos demais. Sob essa argumentação, as opiniões sobre a
estrutura do APL se dividiram e essa falta de consenso foi o primeiro indicador
da necessidade de realização da segunda ronda.
O terceiro e quarto segmentos do questionário (Caracterização da estrutura
informacional e Caracterização da competitividade) foram realizados a partir de
uma pergunta aberta sobre o julgamento dos agentes especialistas acerca das
oportunidades e ameaças a que estão expostas as empresas. Solicitou-se, nessa
oportunidade, uma reflexão sobre o uso de tecnologia da informação com foco na
competitividade.
Foram extraídas das respostas abertas, os substantivos mais frequentes, que
pudessem apontar com mais precisão as ferramentas, objetos, técnicas e
sentimentos capazes de expressar de maneira abrangente, as opiniões dos
agentes. Essas palavras-chave, após serem validadas pelos especialistas durante
a sessão de feedback que sucedeu ao questionário, serviram de base para a
estruturação das questões fechadas da segunda ronda.
· Segunda ronda do questionário
A segunda ronda foi aplicada sobre a mesma estrutura de questionário,
considerando, agora, perguntas fechadas. As preocupações iniciais foram as de
formalizar a estrutura do APL a partir do consenso dos agentes especialistas,
ocorrida na sessão de feedback posterior à aplicação do primeiro questionário.
Após a aplicação do segundo questionário, foi realizada uma nova sessão de
feedback, seguindo o protocolo de aplicação da técnica Delphi, sendo que
prevaleceu o consenso dos especialistas em todos os segmentos do questionário.
Nos tópicos seguintes, apresentam-se os resultados finais do questionário, bem
como uma análise das respostas.
Caracterização dos inquiridos
Dos inquiridos, 40% desempenham funções superiores ou de topo, 40% funções
operacionais e 20% funções superiores e operacionais, conforme é possível
observar no Gráfico_1.
Verifica-se que todos os inquiridos (100%) possuem uma experiência pessoal no
setor entre os 10 e os 30 anos. Nesta primeira dimensão de análise, se pode
constatar que, embora sendo todos proprietários e com sólida experiência
pessoal no setor, uma parcela significativa (40%) dos entrevistados opta por
assumir funções meramente operacionais. Neste caso, fica a dúvida sobre quem
exerce as funções superiores nas respetivas organizações.
Caracterização das organizações
Segundo consenso entre os agentes especialistas, a estrutura do APL de Joias de
Limeira se apoia em sete elos, divididos em dois níveis, conforme demonstrado
no Quadro_2.
No que respeita à caracterização das organizações, se constata que 40% das
organizações inquiridas são microempresas, com uma receita operacional bruta
anual menor ou igual a R$ 2,4 milhões e 60% são pequenas empresas, com uma
receita operacional bruta anual maior que R$ 2,4 milhões e menor ou igual a R$
16 milhões. Essas empresas se dividem entre prestadores de serviços de banhos
(galvanoplastias) ou produção de peças estampadas ou fundidas, que serão unidas
para compor os produtos finais. O Gráfico_2 demonstra a divisão dessas empresas
pela natureza de sua atividade.
Observa-se que as empresas entrevistadas se distribuem equitativamente entre as
diversas atividades da cadeia produtiva de bijuterias. Entretanto, também é
possível observar que, predominantemente, as empresas têm a produção de
produtos entre as atividades desenvolvidas (60%). A maioria dos
estabelecimentos se ocupa da produção de bijuterias semiacabadas, considerando
que a designação «brutos» refere-se a produtos que apenas não passaram pela
etapa de «banho». Nota-se, portanto, uma tendência entre as empresas de se
ocuparem cada vez mais da produção de peças como um todo e não apenas de
partes.
As empresas produtoras de bijuterias utilizam poucos canais de distribuição,
que, predominantemente, são atacadistas, como é possível verificar no Gráfico
3.
Nos canais de distribuição predominam os atacadistas e «sacoleiros», que são
vendedores autônomos ou informais. Apenas 20% das empresas produtoras de
bijuterias se ocupam também da distribuição da sua produção.
Nesta segunda dimensão se pode notar que a totalidade das organizações são
pequenas ou microempresas, que possuem ciclos de produção complementares e
distintos, sendo que algumas delas combinam mais que uma fase do ciclo
produtivo. Esta dimensão da pesquisa revela também que embora a grande maioria
das empresas se ocupe da produção de peças semiacabadas (brutos), ainda opta
por não assumir políticas comerciais mais ativas dentro dos 4P do marketing-
mix, mantendo-se confinadas no universo de possibilidades e restrições imposto
pelos atacadistas e sacoleiros.
Práticas organizacionais adotadas para a competitividade
Nas práticas organizacionais adotadas para a competitividade evidencia-se que
80% consideram que a obtenção de informação sobre o meio envolvente para a
definição das estratégias de competitividade e sustentabilidade organizacional
é relevante e 20% consideram que não é relevante. É possível também observar
que 60% dos entrevistados desenvolvem práticas sistemáticas de obtenção de
informação sobre o mercado e meio envolvente para a formulação das estratégias
e 40% não as desenvolve. Tais práticas são conduzidas considerando três
domínios: novas tendências de moda; oportunidades de mercado nacional e
internacional e novos produtos; novos produtos e oportunidades de mercado
nacional e internacional. Essas práticas são produzidas em proporções similares
(33%), conforme é possível observar no Gráfico_4.
Se for analisado o peso por domínio da informação procurada, 20% procura novas
tendências de moda, 40% oportunidades de mercado nacional e internacional e as
restantes 40% novos produtos.
Os instrumentos utilizados pelas empresas que procuram informação se distribuem
em: 33,3% utilizam o benchmarking, o pós-venda e a Internet; 33,3% o
benchmarking e a Internet; e 33,3% apenas a Internet. Analisando o peso de cada
um dos instrumentos, pela sua natureza, se verifica que o benchmarking tem um
peso de 33,3%, o pós-venda tem um peso de 16,7%, e a obtenção de informação por
meio da Internet um peso de 50%.
A frequência adotada para esta pesquisa de informação é mensal, trimestral e
semestral em 33,3% das organizações, respetivamente. O Gráfico_5 compara as
duas informações.
Observa-se que, para as empresas que adotam regularmente essas ferramentas de
obtenção de informação, o benchmark é o mais expressivo, considerando a
frequência com que é utilizado. A Internet, embora seja mais amplamente
utilizada, não é tão expressiva se comparada ao benchmark, em razão da
frequência com que é utilizada.
Os principais problemas de competitividade mencionados pelos entrevistados
correspondem à ausência de competências técnicas (20%), aos elevados custos de
produção (20%), à ausência de competências técnicas e aos elevados custos de
produção (40%). Uma outra parcela dos entrevistados (20%) afirma que, além dos
problemas já apontados, também existem problemas de design, desconhecimento do
cliente, desconhecimento da concorrência e da inovação. Relativamente ao peso
da natureza dos problemas, o Gráfico_6 demonstra o ajuste do impacto para cada
problema.
Quanto aos sistemas de informação direcionados para o apoio à tomada de
decisão, apenas 20% das organizações afirma possuir e, mesmo em relação a
organizações que possuem tais sistemas, a maioria se restringe às planilhas
eletrônicas, como se observa no Gráfico_7.
Do total de instrumentos utilizados para gestão da informação, 66,7% são
planilhas eletrónicas enquanto 33,3% são sistemas integrados de gestão (como o
SAP, por exemplo). Entretanto, 80% dos entrevistados afirma que não possuem,
atualmente, informação e conhecimento suficientes para a tomada de informações
estratégicas, e apenas 20% afirmam que sim. Essa condição atua como uma
restrição, que reduz drasticamente a capacidade real de utilização dos
instrumentos existentes efetivamente na tomada de decisão estratégica, conforme
é possível observar no Gráfico_6.
A este nível de análise, se nota que uma em cada cinco organizações consideram
não ser relevante a obtenção de informação sobre o meio envolvente, ficando a
dúvida como é que definem as respetivas estratégias. Estas serão organizações
com dificuldade na sustentabilidade dos respetivos negócios a médio prazo.
Outro aspeto relevante é que das organizações que consideram relevante obter
informação sobre o meio envolvente, apenas cerca de metade efetua esta prática
de forma sistemática, procurando realizar um acompanhamento do mercado. Estas
procuram essencialmente novas oportunidades de mercado e novos produtos e o
instrumento principal de pesquisa é a Internet.
No que se refere aos problemas de competitividade, constata-se que a maioria
menciona a ausência de competências técnicas e os elevados custos de produção.
Curiosamente, é dada pouca relevância ao conjunto de informações decorrentes do
mercado e que podem condicionar estrategicamente a sustentabilidade das
organizações, como seja o design, o conhecimento dos clientes ou o conhecimento
da concorrência.
A maioria não possui sistemas de informação de apoio à tomada de decisão. De
entre os 20% que referem possuírem, apenas 33,3% utilizam sistemas integrados
de gestão, garantindo, aparentemente, um maior nível de integração da
informação entre as diferentes áreas de gestão. Verifica-se que a utilização da
informação e do conhecimento como recurso vital para o posicionamento econômico
é muito reduzido, assim como a sua utilização como recurso de gestão para
conhecimento organizacional.
Relevância da inteligência competitiva
No que respeita à relevância da IC, constata-se que a totalidade (100%) das
organizações inquiridas afirma conhecer o conceito de IC, e que um sistema de
IC pode trazer benefícios à gestão.
Quanto aos principais benefícios que podem ser usufruídos, 40% das organizações
considera a obtenção de mais e melhor informação sobre o mercado, a melhoria da
eficiência organizacional, a previsão das ações da concorrência, a proatividade
competitiva, o desenvolvimento de processos de inovação e criatividade e o
acompanhamento da concorrência; 20% considera a obtenção de mais e melhor
informação sobre o mercado, a melhoria da eficiência organizacional e o
acompanhamento da concorrência; outros 20% considera a obtenção de mais e
melhor informação sobre o mercado; e os restantes 20% mais e melhor informação
sobre o mercado e o acompanhamento da concorrência.
Se forem analisados os pesos de cada um dos benefícios mencionados, verificam-
se as proporções apresentadas no Gráfico_8.
Relativamente às informações consideradas críticas e que devem ser
disponibilizadas às organizações de forma sistemática, constata-se que 20% das
organizações referem as tendências de mercado e fornecedores de componentes,
outras 20% referem as tendências de mercado e as estratégias e ações da
concorrência, 40% as preferências dos consumidores e os fornecedores de
componentes, e as restantes 20% as tendências de mercado, as preferências dos
consumidores e os preços da concorrência. Os pesos das informações mencionados
estão organizados no Gráfico_9.
A totalidade (100%) considera que a criação de um Centro de Inteligência
Competitiva deve ser gerido por uma entidade autónoma e que seria uma medida
adequada ao incremento da competitividade das diversas organizações do setor.
Nesta última dimensão, podemos constatar que o tema da IC é do conhecimento
geral, assim como existe a convicção de que um sistema de IC pode trazer
benefícios às organizações, nomeadamente, ao nível do conhecimento sobre o
mercado e, de alguma forma, a melhoria da eficiência organizacional.
A totalidade acredita que a criação de um Centro de Inteligência Competitiva,
transversal ao setor, seria uma iniciativa interessante para o aumento da
competitividade das respetivas organizações.
Conclusões
O objetivo da presente pesquisa foi o de investigar o potencial de construção
da IC no APL de Joias Folheadas de Limeira, considerando a alta competitividade
interna entre as empresas. Partiu-se do pressuposto de que o acirramento da
competição influencia as opiniões coletivas e restringe ações efetivas no
sentido da cooperação e da construção da IC.
Em virtude da existência de um grupo de especialistas detentores da informação
e pelo fato das informações recolhidas serem de natureza qualitativa, a escolha
do instrumento de análise recaiu sobre a técnica Delphi, cujas características
atendem a esses requisitos.
Por meio de uma entrevista estruturada, na primeira ronda da aplicação da
técnica Delphi, foram constatadas divergências entre os agentes especialistas,
o que motivou a aplicação de uma segunda ronda, por meio de um questionário
estruturado, que evidenciou uma forte convergência de opiniões.
Dessa maneira, caracterizou-se a estrutura da cadeia de produção e distribuição
de bijuterias, até então inexistente. Além disso, foi possível demonstrar o
consenso das respostas quanto aos domínios sobre os quais devem recair as
próximas estratégias adotadas em rede, que consideram como relevantes os
estudos sobre as novas tendências de moda, o mercado internacional e nacional e
o desenvolvimento de novos produtos. Evidenciou-se, também, que a informação
estratégica do setor é obtida predominantemente por meio de benchmarking, de
maneira não sistemática, e que a gestão da informação estratégica é realizada
de maneira precária por planilhas eletrónicas, o que torna o setor vulnerável
na competição internacional.
Quanto à questão da competitividade, houve consenso sobre os benefícios de se
concentrar esforços para a criação de um centro autónomo de IC, que tenha como
objetivo propor estratégias coletivas para o setor.
Trabalhos futuros, que possam contribuir com as questões levantadas nesta
pesquisa, devem considerar a aplicação de tecnologia da informação de maneira
eficiente para a análise de tendências de moda no mercado nacional e
internacional, possibilitando a construção de IA como base para a IC. Essa
abordagem, no entanto, deve ser disponibilizada para todo o APL de bijuterias,
garantindo a equanimidade no acesso à informação estratégica. Tais condições
são fundamentais para ampliar a confiança e a cooperação entre os agentes,
mitigando os problemas oriundos do acirramento da competição interna.