O impacto da inovação na rendibilidade empresarial: O caso do setor têxtil
português
Num mundo globalizado onde os desafios impostos pelos mercados são cada vez
maiores, a concorrência mais agressiva, os produtos mais complexos e os
consumidores mais exigentes, as empresas enfrentam novos desafios. Neste
contexto, têm necessidade de rever a sua estratégia sustentada não só numa
política de preços, mas sobretudo no desenvolvimento de competências e
capacidades, proporcionadas pela inovação dos produtos, dos serviços e de
processos (Dias, 2007; Merino, 2011). A inovação afirma-se como um fator
determinante da rendibilidade empresarial (Gopalakrishnan, 2000; Tidd, 2001) e
do desenvolvimento económico, contribuindo para a resolução dos problemas de
crescimento, produtividade e emprego (Kleinknecht e Oostendop, 2002; Kemp et
al., 2003). Num mercado cada vez mais competitivo e dinâmico, as empresas devem
adotar estratégias empreendedoras que lhes permitam reconhecer oportunidades,
assumir riscos, inovar e criar novos empregos (Spencer et al., 2008).
Este estudo tem por objetivo avaliar o contributo da inovação para a
rendibilidade empresarial no setor têxtil português. Esta opção prende-se com o
elevado dinamismo desempenhado na economia portuguesa e com o facto de absorver
uma parte muito significativa de mão-de-obra. Contudo, a concorrência das
economias asiáticas e da deslocalização geográfica, tem conduzido a que o setor
têxtil enfrente dificuldades acrescidas (Melo e Duarte, 2001; Vasconcelos,
2006). Neste âmbito, o caráter inovador de algumas empresas constitui um
elemento diferenciador, justificando algum do dinamismo que este tem vindo a
registar.
Para além desta secção de caráter introdutório, o estudo contempla quatro
secções. Na seguinte procura-se contextualizar a problemática da inovação e o
papel que esta desempenha na rendibilidade. Posteriormente, abordam-se a
formulação das hipóteses, a definição da população e amostra, as variáveis em
estudo e os procedimentos estatísticos. Depois analisam-se os resultados e na
última indicam-se as principais conclusões.
Este estudo sugere que as empresas que inovam apresentam níveis de
rendibilidade mais elevados, sendo ainda possível constatar que as empresas de
maior dimensão e as exportadoras são mais inovadoras.
Revisão da literatura
A globalização dos mercados, a emergência das novas tecnologias, a certificação
dos sistemas de qualidade e o advento de novos produtos e serviços, levam as
empresas a criarem estratégias sustentáveis para fazer face à concorrência
(Arruda e Barcelos, 2009; Almeida, 2010; Pinto e Pinto, 2011). Esta
intensifica-se com a globalização dos mercados e a internacionalização das
empresas (Elche e González, 2008) e no seu cerne está a inovação (Stevens e
Dimitriadis, 2005; Djellal e Gallouj, 2007).
A literatura evidencia um conjunto de fatores determinantes da rendibilidade
empresarial, nomeadamente: inovação, globalização, vantagens/estratégias
competitivas, formação de alianças, constituição de cluster e empreendedorismo,
centrando-se este estudo no primeiro.
A inovação constitui um elemento fundamental para o crescimento e
competitividade empresarial (Kaufmann e Todtling, 2001; Viotti, 2003; Anthony
et al., 2008; Sousa e Monteiro, 2010). De acordo com Schumpeter (1942), a
inovação manifesta-se através de: novos produtos ou melhoria de produtos
existentes; novos métodos de produção; abertura de novos mercados; acesso a
novas fontes de matérias-primas e novas formas de organização industrial.
As estratégias empresariais desenvolvem-se na competitividade e na criação de
valor, resultado da qualidade e diferenciação dos produtos e na resposta
oportuna às necessidades dos consumidores. Os fatores «não-preço» desempenham
um papel central na competitividade, exigindo um esforço permanente de inovação
(Andreasen et al., 1995; McDonough et al., 2008). Esta constitui a base do
crescimento sustentável, na medida em que: agrega valor aos produtos,
diferenciando-os da concorrência; permite conquistar novos conhecimentos e
mercados; aumenta a rendibilidade e realiza novas parcerias. Deste modo, a
inovação torna as empresas mais competitivas, diferenciando-as da concorrência,
e prescindindo de estratégias de «baixo preço» (Séulima, 2010). Em suma, a
inovação é um fator de alavancagem do desempenho económico-financeiro, expresso
em termos de quota de mercado, rendibilidade e crescimento (Kleinknecht e
Ostendoorp, 2002; Kemp et al., 2003).
A sua importância decorre da(o): globalização das economias; escassez de
recursos; desregulamentação; aumento da intensidade competitiva; aceleração da
inovação tecnológica; acréscimo da sofisticação dos clientes; redução do ciclo
de vida dos produtos; excesso da capacidade instalada e individualização da
oferta (Inova Mais, 2007).
Num estudo onde avalia a relação entre inovação e exportação, Wakelin (1998)
concluiu, para uma amostra de 320 empresas do Reino Unido, que aquela tem um
impacto positivo na abertura de novos mercados. Num trabalho levado a cabo na
Noruega, Sandven e Smith (2000) mencionam que as empresas inovadoras apresentam
taxas mais elevadas de crescimento de vendas, de emprego, de recursos (total do
ativo) e de produtividade, relativamente às restantes. Numa investigação
realizada sobre a indústria eletrónica de Taiwan, Yang et al. (2005) aludem que
os gastos em Investigação e Desenvolvimento (I&D) constituem um fator
determinante para o crescimento empresarial.
A inovação constitui: um motor do crescimento – a empresa deve aproveitar as
suas capacidades inovadoras para desenvolver novas atividades e criar novos
valores (Muller et al., 2005; Silvaet al., 2008) – e um fator-chave de
competitividade – desenvolvendo um esforço permanente para criar vantagens
competitivas sustentáveis (Silva et al., 2003).
Ferreira et al. (2007), num estudo realizado na Beira Interior, concluem que a
capacidade inovadora melhora o desempenho empresarial. Nesta linha, Marques
(2004) conclui que as empresas inovadoras têm melhor desempenho e uma maior
apetência para crescer e que o nível de intensidade tecnológica torna-se
relevante no desempenho a curto e médio/longo prazo. Num trabalho dedicado ao
tecido empresarial francês, Crépon et al. (1998) concluem que as empresas
envolvidas em atividades inovadoras apresentam produtividades mais elevadas.
Em jeito de síntese, os trabalhos anteriores salientam o papel determinante da
inovação no desempenho empresarial.
No entanto, o processo inovador está sujeito a constrangimentos de várias
ordens: económica, empresarial ou de índole diversa (Eurostat, 1997). Entre os
fatores económicos há a referir: riscos excessivos; custos elevados; escassez
de recursos financeiros e prazos muito dilatados na recuperação do
investimento. Relativamente aos fatores empresariais destacam-se: potencial de
inovação insuficiente; mão-de-obra pouco qualificada; ausência de informações
relativamente à tecnologia e aos mercados; difícil controlo dos gastos de
inovação; resistência à mudança; insuficiência no acesso a serviços externos e
inexistência de oportunidades em cooperar. Por fim, as razões de natureza
diversa: falta de oportunidade tecnológica; carência de infraestruturas;
ausência de necessidade em inovar (fruto de inovações anteriores); fraca
proteção dos direitos de propriedade e legislação, impostos e clientes
indiferentes a novos produtos e processos.
Metodologia
· Hipóteses formuladas
A revisão da literatura permitiu realçar o papel da inovação na melhoria dos
resultados empresariais. Neste sentido, e tendo presente o objetivo do estudo
(contributo da inovação para a rendibilidade empresarial), formula-se a
principal hipótese de investigação:
H1: A capacidade inovadora da empresa influencia positivamente a sua
rendibilidade.
Como expõe Schumpeter (1982), as empresas de maior dimensão têm maior apetência
para inovar. Seguindo este raciocínio, pretende-se avaliar se no setor têxtil a
dimensão empresarial está relacionada com a inovação. Assim, enuncia-se a
seguinte hipótese:
Ha: Quanto maior é a dimensão da empresa, maior é a propensão para inovar.
Um número significativo de trabalhos indica que a concorrência empresarial se
intensificou, essencialmente fruto da globalização e internacionalização do
mercado. Neste âmbito, é importante aferir se as empresas com uma componente
exportadora apresentam uma maior capacidade para inovar, formulando-se a
seguinte hipótese:
Hb: As empresas que atuam em mercados geográficos mais abrangentes têm maior
propensão para inovar.
· População e amostra
O universo objeto de estudo é o setor têxtil português que assumiu um papel de
relevo na economia portuguesa pelo seu dinamismo. De acordo com os dados da
Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, em 2010, o setor contribuía com 10%
das exportações portuguesas, 19% do emprego, 8% do volume de negócios e 8% da
produção da indústria transformadora.
Os dados necessários para a elaboração deste estudo foram recolhidos do
Inquérito Comunitário à Inovação de 2008 (Community Innovation Survey –CIS) e
do Sistema de Análise de Balanços Ibéricos (SABI).
O CIS constitui o principal instrumento estatístico para medir os processos e
objetivos da inovação nas empresas europeias, sendo realizado sob as
orientações metodológicas do Eurostat (Sumários Estatísticos – CIS 2008). O CIS
2008 é a sétima operação estatística desta natureza realizada em Portugal,
sendo conduzido sob a responsabilidade do Gabinete de Planeamento, Estratégia,
Avaliação e Relações Internacionais, organismo do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior (GPEARI/MCTES).
A recolha de dados decorreu em Portugal de 21 maio de 2009 a 12 de abril de
2010, tendo sido validadas 6593 respostas das 7952 empresas que participaram no
inquérito, correspondendo a uma taxa de resposta de 83% (Sumários Estatísticos
– CIS 2008). A informação recolhida pretende caraterizar a atividade de
inovação ao nível do produto, processo, estrutura organizacional e marketing,
no tecido empresarial português entre 2006 e 2008.
Para este estudo, apenas se tiveram em conta as empresas do setor têxtil, sendo
631 as que tinham informação disponível. Complementou-se esta informação com
dados económico-financeiros extraídos da SABI[1] (versão 32.0). Os dados para
este estudo resultam, pois, de informação recolhida no CIS 2008 e na SABI,
sendo a amostra constituída por 418 empresas.
· Variáveis e procedimentos estatísticos
Para este estudo, consideraram-se duas formas de inovação, de acordo com os
dados do CIS 2008: inovação em produto[2] e inovação em processo[3] (Sumários
Estatísticos – CIS 2008).
A capacidade inovadora é medida por uma variável dicotómica que assume o valor
1 (um) quando a empresa introduz um produto ou processo novo ou
significativamente melhorado (para a empresa e/ou para o mercado) e 0 (zero)
nas restantes situações.
Através de varáveis binárias (1: sim; 0: não) foram identificadas as empresas
que inovam só em produto, só em processo, em ambos e, ainda, as empresas que
inovam em produto (independentemente de inovarem em processo) e em processo
(inovando ou não em produto).
Para caraterizar a percentagem do volume de negócios de 2008 que resulta da
inovação em produto, o CIS 2008 contempla três variáveis: percentagem do volume
de negócios de 2008 como resultado de produtos novos para o mercado da empresa;
percentagem do volume de negócios de 2008 resultante de produtos novos apenas
para a empresa e não para o mercado; e percentagem total do volume de negócios
de 2008 resultante de novos produtos (a soma dos anteriores).
Para medir o investimento em atividades de inovação, consideraram-se as
seguintes despesas: I&D realizada no seio da empresa: incorrida com a
introdução da inovação nas atividades de I&D ; aquisição externa de I&D:
suportada com as atividades de I&D realizadas fora da empresa; aquisição de
equipamento e software: correspondentes à aquisição de equipamentos e software
para a realização de atividades inovadoras; e aquisição de outros conhecimentos
externos: gastos suportados com a aquisição de conhecimentos externos, fruto
das atividades de inovação.
Foi também considerado o mercado de atuação da empresa, expresso pelas
seguintes variáveis: exportação – variável dicotómica que assume o valor 1 (um)
se a empresa exporta bens/serviços e 0 (zero) quando não exporta; e mercado
geográfico – identifica o mercado com maior representatividade no volume de
negócios, desagregando-se em mercado local/regional, mercado nacional para além
do local/regional e mercado internacional.
Para aferir a relevância da dimensão empresarial na capacidade inovadora,
subdividiu-se a amostra em empresas pequenas, médias e grandes[4].
A importância atribuída a determinados objetivos da inovação (de produtos ou
processos) para o período de 2006-2008 foi também ponderada neste trabalho. Os
dados do inquérito CIS 2008 incluem informação sobre 13 rubricas que medem a
importância atribuída a diversos objetivos para a inovação de produto ou
processo.
As rubricas contempladas no CIS 2008 são as seguintes: alargamento da gama de
produtos; substituição de produtos ou processos desatualizados; entrada em
novos mercados; aumento da quota de mercado; melhoria da qualidade dos
produtos; melhoria da flexibilização na produção; aumento da capacidade de
produção; melhoria da saúde e segurança; redução dos custos de trabalho por
unidade produzida; redução do material utilizado por unidade produzida; redução
da energia utilizada por unidade produzida; redução do impacto ambiental e
estar de acordo com as regulamentações ambientais, de saúde e de segurança.
Quanto à variável dependente – desempenho empresarial – é expressa por:
rendibilidade dos capitais investidos (RCI = Resultado Líquido 08 / Ativo Total
08) – indica o resultado líquido gerado por unidade de capital investido;
rendibilidade operacional do ativo (ROA = Resultado Operacional 08 / Ativo
Total 08) – quantifica o resultado operacional por unidade de capital
investida; e rendibilidade operacional do volume de negócios (ROVN = Resultado
Operacional 08 / Volume de Negócios 08) – exprime o resultado operacional por
unidade vendida.
A análise de dados foi efetuada com o recurso à comparação de grupos e à
estimação de modelos de regressão linear e logística. Adicionalmente, recorreu-
se à análise fatorial que permitiu reduzir o número de variáveis explicativas
dos objetivos de inovação. Variáveis contínuas são expressas através da média ±
desvio padrão e variáveis categóricas através de percentagens. A comparação de
grupos para variáveis quantitativas foi levada a cabo pelo Teste T e/ou pelo
Teste de Mann-Whitney, bem como pelo Teste de Kruskal-Wallis. Para variáveis
categóricas utilizou-se o Teste de Qui-quadrado. A aplicação destas técnicas de
análises de dados foi levada a cabo com recurso ao software Statistical Package
for Social Sciences (SPSS), versão 19.0.
Para testar as hipóteses formuladas, utilizou-se como referência para aceitar
ou rejeitar a hipótese nula um nível de significância de 0,05.
Análise de dados e resultados
· Caraterização da amostra
Neste trabalho, consideram-se inovadoras as empresas que inovam em produto ou
em processo, sendo a amostra em estudo constituída por 418 empresas, das quais
273 (65,31%) não inovam e 145 (34,69%) inovam.
Quanto à dimensão das empresas, a amostra em estudo é constituída
maioritariamente por pequenas empresas (54,78%), seguindo-se as médias (37,32%)
e por último as grandes empresas que perfazem (7,89%).
Ao nível de exportação, há um maior número de empresas que exportam (61%)
relativamente às que só atuam no mercado doméstico (39%).
Quanto ao mercado com maior peso no volume de negócios, para 38,5% das empresas
analisadas, o mercado com maior peso no volume de negócios é o mercado local/
regional em Portugal; este mercado alarga-se a nível nacional para 32,06% das
empresas e a nível internacional para 29,43%.
· Inovação e rendibilidade
Para avaliar a principal hipótese em estudo, comparou-se o desempenho das
empresas que inovam (em produto ou em processo) com as que não inovam.
Constatou-se que as empresas que inovam apresentam valores significativamente
mais altos de RCI (0,0143 ±0,11017 versus -0,0332 ±0,17458; p=0.001), assim
como de ROVN (0,0143 ±0,1016 versus -0,0149±0,15720; p=0.007) e de ROA
(0,0420±0,12202 versus 0,0036±0,17767; p=0.002).
Aferida a relevância da inovação na rendibilidade, o passo seguinte consiste em
avaliar o papel da dimensão empresarial e do mercado geográfico como
determinantes do caráter inovador, como preconizam as hipóteses Ha e Hb.
Com recurso ao Teste do Qui-quadrado, constatou-se que a percentagem de
empresas inovadoras se diferencia em função da dimensão, estando, pois, esta
relacionada com a capacidade de inovar (p<0.0005). São as empresas de maior
dimensão as que apresentam maior capacidade inovadora. Apenas 26% das pequenas
empresas são inovadoras. Nas médias empresas esta percentagem sobe para 42% e
nas grandes empresas para 61%.
Quanto ao caráter exportador, o Teste do Qui-quadrado evidencia que há mais
empresas inovadoras no grupo das empresas que exportam do que no grupo das que
não exportam (43% versus 22%, p<0.0005).
Para reforçar esta análise, considera-se o mercado geográfico com maior peso no
volume de negócios da empresa. Mais uma vez, encontram-se diferenças
significativas (p<0.0005, Teste do Qui-quadrado), verificando-se que a
capacidade inovadora aumenta com a dimensão do mercado. De facto, a percentagem
de empresas que inovam é de 25% no grupo das empresas que tem como principal
mercado o local/regional, crescendo para 35%no grupo das empresas que alargam o
seu mercado a nível nacional e para 47% no grupo das que atuam em mercados
internacionais.
As conclusões anteriores são reforçadas numa análise multivariada, através da
construção de modelos de regressão logística. A inovação é, pois, a variável
dependente destes modelos, onde se explora o efeito conjunto dos atributos
anteriores, como determinantes da propensão à inovação.
A Tabela_1 apresenta os modelos de regressão logística ajustados, primeiramente
com o ROVN como variável explicativa para medir a rendibilidade da empresa,
depois substituindo esta variável pelo RCI e, por último, considerando a ROA.
Note-se que, na dimensão da empresa, a categoria de pequenas empresas foi
tomada como referência e na variável de exportação tomou-se como referência a
categoria «não exporta».
Os modelos estimados revelam que, independentemente da variável utilizada para
aferir a rendabilidade empresarial e do facto de exportar ou não, as grandes
empresas apresentam significativamente maior capacidade inovadora relativamente
às pequenas, verificando-se o mesmo para as médias empresas relativamente às
pequenas.
Confirma-se, também, a relação já citada entre a rendibilidade empresarial e a
capacidade inovadora: maiores rendibilidades estão associadas a maior propensão
para inovar, independentemente do tamanho da empresa e de esta exportar ou não.
A exportação revela-se também como um fator independente de propensão à
inovação.
Os três modelos estimados revelam resultados bastante semelhantes,
independentemente da variável utilizada para aferir a rendibilidade (ROA, RCI
ou ROVN), sustentando a sua robustez.
Acrescente-se que o mercado geográfico com maior peso no volume de negócios só
se revela um fator relevante da propensão à inovação, se não tivermos em conta
o tamanho da empresa e a sua situação relativamente à exportação. Os modelos
logísticos estimados com esta variável são apresentados na Tabela_2. Estes
modelos evidenciam que, independentemente da rendibilidade da empresa, as
empresas que atuam em mercados mais abrangentes têm maior apetência para serem
inovadoras.
Os resultados obtidos validam as hipóteses formuladas em Ha e Hb. Relativamente
a Ha, o estudo apresenta-se em sintonia com os resultados obtidos por
Schumpeter (1942), Marques (2004), Ferreira et al. (2007), contudo contrariam
Rothwell e Dodgson (1994) e Tidd (2001) que referem que a dimensão tem um
efeito negativo na capacidade inovadora. Quanto a Hb, os resultados obtidos
estão em sintonia com os trabalhos de Silva et al. (2003), não validando, no
entanto, as conclusões de Ferreira et al. (2007).
· Objetivos de inovação
Com o recurso à análise fatorial, reduziu-se o número de fatores que explicam o
padrão de respostas relativas aos objetivos de inovação. Estes objetivos são
medidos por um conjunto de 13 rubricas constantes do questionário CIS 2008 e
enunciados na secção sobre «Variáveis e procedimentos estatísticos». A análise
realizou-se a partir da matriz das correlações e para a extração dos fatores
recorreu-se ao método das componentes principais. Adotou-se o critério de
Kaiser para determinar o número de fatores a reter. Segundo este critério, são
retidos os fatores associados a valores próprios superiores a 1, obtendo-se
três fatores que, no seu conjunto, explicam 72,1% da variação total registada
nas 13 rubricas empregues.
A adequabilidade dos dados à análise fatorial avaliou-se através da estatística
KMO, que apresentou um valor de 0,848, sendo um indicador que aconselha a
utilização desta técnica.
A Tabela_3 apresenta os pesos fatoriais (loadings), a partir dos quais se
atribuiu um significado a cada um dos fatores.
Da análise à Tabela_3, verifica-se que o fator 1 está associado à importância
dada aos objetivos ambientais, de poupança e de saúde/segurança; o fator 2 aos
objetivos de melhoria de produção; e o fator 3 aos objetivos de melhoria de
produtos e mercado.
Para analisar a consistência interna utilizou-se o Alfa de Cronbach, obtendo-se
0,924 para o fator 1, 0,876 para o fator 2 e 0,812 para o fator 3. Estes
valores são indicativos de boa consistência interna.
Os fatores extraídos através desta técnica são utilizados nos modelos de
regressão linear da secção seguinte, ajudando a explicar a rendibilidade das
empresas inovadoras.
· Determinantes da rendibilidade nas empresas inovadoras
Pretendendo-se investigar que atributos condicionam a rendibilidade das
empresas que inovam, consideraram-se modelos de regressão linear múltipla com
as variáveis de rendibilidade como dependentes. Através de métodos automáticos
de seleção de variáveis, explorou-se a relevância estatística do conjunto de
variáveis explicativas apresentadas na secção «Variáveis e procedimentos
estatísticos», com os objetivos de inovação medidos através dos três fatores
descritos na secção anterior.
Os resultados estão sumariados na Tabela_4, constatando-se que a rendibilidade
dos capitais investidos é positivamente influenciada pelas despesas em
atividades de I&D externa e negativamente pelo fator atribuído à importância de
objetivos de melhoria de produtos e mercado, sugerindo que as empresas que dão
maior importância a este objetivo incorrem em gastos que se refletem
negativamente na rendibilidade. O modelo evidencia, ainda, que a inovação
apenas em processo tem um impacto negativo na rendibilidade, embora com pouca
significância.
Quando se adota a rendibilidade operacional do volume de negócios como variável
dependente, os resultados revelam um impacto positivo da percentagem do volume
de negócios de novos produtos para a empresa e negativo na importância
atribuída aos objetivos de melhoria de produtos e mercado.
Quanto à rendibilidade operacional do ativo, a única variável que se apresenta
estatisticamente significativa é a importância atribuída aos objetivos de
melhoria de produtos e mercado, sendo a sua influência negativa.
Dos modelos estudados, o que apresenta maior poder explicativo, quando há
rendibilidade, é aquele em que se considera a rendibilidade dos capitais
investidos como variável dependente, com 11,3% de variação explicada.
Conclusões
Os resultados deste estudo sugerem que as empresas que inovam apresentam maior
rendibilidade, que as empresas de maior dimensão são as que mais inovam e que
há mais empresas inovadoras entre as que atuem em mercados geográficos de maior
dimensão.
Para as empresas que inovam, identificou-se um conjunto de atributos associados
à inovação que condicionam a rendibilidade. Verificou-se que as despesas com
atividades de I&D externas, a importância atribuída aos objetivos de melhoria
de produto e mercado e a inovação apenas em processo explicam 11,3% das
variações da RCI, tendo as duas últimas um impacto negativo e a primeira um
efeito positivo. Relativamente à ROVN, a percentagem do volume de negócios de
novos produtos para a empresa tem um efeito positivo e a atitude face aos
objetivos de melhoria de produto e mercado tem um efeito negativo, explicando
estas variáveis 5,6% da variação do ROVN. Também os objetivos de melhoria de
produto e mercado têm um impacto negativo no ROA, justificando 5,5% da sua
variabilidade.
Em síntese, os resultados alcançados permitem validar as hipóteses inicialmente
formuladas, tornando evidente que as empresas que inovam apresentam maior
rendibilidade. A inovação surge como um elemento determinante para a criação de
riqueza e elemento diferenciador face à concorrência.
Como principal limitação deste trabalho, refere-se o facto de um número
reduzido de empresas inquiridas desenvolveram atividades de inovação. Um número
mais elevado permitiria uma melhor identificação da dimensão em estudo e
ampliar o seu âmbito.