Editorial
EDITORIAL
Editorial
Marta Santos*
*Centro de Psicologia da Universidade do Porto
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, Rua
Alfredo Allen 4200-135 Porto
marta@fpce.up.pt
Neste número apresentamos um dossiê construído a partir de uma seleção de
trabalhos expostos no simpósio “Ergonomic Analisys of Work and Training” no
âmbito do Congresso da International Ergonomics Associationque ocorreu em 2012
no Recife, Brasil. Na verdade, trata-se de um simpósio que se concretiza desde
1991, sendo organizado por investigadores de diferentes países pertencentes a
uma rede de investigação multicêntrica preocupada com as relações entre o
projeto de transformação das condições de trabalho visado pelas intervenções
ergonómicas e a formação. Estes simpósios têm dado origem, desde a sua primeira
edição, a publicações de contributos relevantes e originais sobre esta
temática. Foi o que nos propusemos fazer desta vez na Laboreal.
Mas o dossiê que agora oferecemos tem duas especificidades.
A primeira é o facto de ser organizado em conjunto com a revista Pistes (http:/
/pistes.revues.org/) com quem, desde um primeiro momento, temos uma relação de
estreita colaboração editorial (verificada, nomeadamente, na publicação em
ambas as revistas dos artigos que selecionamos para a rubrica “Textos
Históricos”). Esta opção editorial tem como consequência a publicação tanto em
português/espanhol como em francês de todos os textos que foram aceites após o
procedimento de peritagem científica. Decisão que terá, muito provavelmente,
como consequência a difusão dos textos a um público mais alargado,
possibilitando, nomeadamente, à Laboreal ver o seu papel ampliado junto de
novas comunidades de saberes.
A segunda especificidade reside na publicação deste dossiê em dois tempos tendo
em conta o número de contributos recebidos. Assim, três textos serão agora
apresentados (os artigos de: Vidal-Gomel, Delgoulet, & Geoffroy; Duarte
& Vasconcelos; Fernandes & Santos). E os restantes serão publicados em
Dezembro. Céline Chatigny redigiu o texto introdutor onde enquadra, de forma
mais detalhada, a especificidade do projeto e apresenta este primeiro grupo de
textos.
Contudo, obviamente, esta edição de Laboreal não se limita a este dossiê.
Publicamos ainda uma pesquisa empírica conduzida por Dominique Cau-Bareille
sobre o grupo profissional dos professores com o objetivo de compreender as
razões que os levam a fazer o pedido de uma reforma antecipada. A adoção de uma
perspetiva de género na leitura dos seus dados permite uma identificação mais
rigorosa e circunscrita do conjunto de dificuldades que se colocam aos
professores no final da sua carreira. O exemplo aqui privilegiado, embora
situado na França, poderá ter algum eco noutros países e talvez outros
continentes.
Quanto à rubrica “Resumos de Tese”, ela permite-nos apresentar o trabalho
desenvolvido por Duarte Rolo. Mobilizando o contributo teórico-metodológico da
psicodinâmica do trabalho, conduziu o seu estudo empírico em centrais de
atendimento telefónico procurando analisar o impacto psicológico dos modos de
organização do trabalho, e mais concretamente, as situações em que estes
incentivam o uso da mentira, tornando-a num elemento central da atividade dos
operadores. O seu trabalho mostra como a avaliação de desempenho individual,
pela atribuição de prémios aos “melhores” vendedores, acaba por recompensar
aqueles que nem sempre atendem aos pedidos do cliente nem às suas verdadeiras
necessidades.
Para a rubrica “textos históricos”, Régis Ouvrier Bonnaz escolheu um texto de
Hans Aebli de 1951, devidamente enquadrado por Janine Rogalski. Procurou, com
esta escolha, dar visibilidade a um autor e a uma obra que, na história das
disciplinas que se preocupam com a atividade de trabalho nas práticas docentes,
acabou por passar despercebido. A originalidade de Aebli recai na utilização da
teoria psicológica de Piaget para o desenvolvimento de uma didática que poderia
ser aplicada, nomeadamente, ao ensino da matemática.
Finalmente, no dicionário apresentamos definições para as letras G e H.
Repetimos, pela primeira vez, um vocábulo: retomamos a palavra Género. No nº 2
de 2007 (http://laboreal.up.pt/files/articles/2007_12/pt/88_89pt.pdf), Karen
Messing situava essa palavra face às pesquisas que têm em conta as
características determinadas socialmente nos homens e nas mulheres; desta vez,
o referencial teórico é o da Clínica da atividade e, obviamente, Yves Clot
refere-se ao género enquanto conjunto de normas historicamente construídas por
um coletivo profissional, realçando em contraponto um estilo, que nasce deste
coletivo (e alimenta-o, também) mas se revela no trabalhar idiossincrático.
No que diz respeito à letra H, de Historicidade, só nos poderia levar ao
contributo de Milton Athayde - que evidencia, como costuma fazê-lo, o quanto a
adoção de uma perspetiva temporal significa mais do que ter em conta a história
apenas como pano de fundo. Na verdade, “apreender na historicidade” é o que
garante a possibilidade de produção de sentido nas nossas vidas.
Não poderíamos terminar este Editorial sem agradecer aos colegas que, não sendo
colaboradores regulares da Revista, nos ajudaram nas peritagens dos artigos
publicados neste número: Maristela França, Ana Luíza Teles e Marcelo
Figueiredo.
Fazemos também um agradecimento muito especial a João Viana Jorge que, desde o
primeiro momento, nos tem acompanhado no desenvolvimento deste projeto
editorial e cuja preciosa ajuda nas traduções tem sido inestimável.
Votos de uma boa leitura,
Pelo Comité Editorial,
Marta Santos
Como referenciar este artigo?
Santos, M. (2014).Editorial. Laboreal, 10 (1), 8-9.