Um modelo de investigação coletiva e internacional acerca da segurança:
Contribuição para a história das pesquisas sobre segurança do trabalho: Sinopse
da pesquisa da ceca sobre a segurança na siderurgia (1962-1966)
TEXTOS HISTÓRICOS
INTRODUÇÃO AO TEXTO HISTÓRICO
Um modelo de investigação coletiva e internacional acerca da segurança:
Contribuição para a história das pesquisas sobre segurança do trabalho: Sinopse
da pesquisa da ceca sobre a segurança na siderurgia (1962-1966)
Un modelo de investigación colectiva e internacional sobre la seguridad:
contribución a la historia de las investigaciones sobre seguridad en el
trabajo: resumen de la investigación ceca sobre la seguridad en la siderurgia
(1962-1966)
Un modèle de recherche collective et internationale sur la sécurité:
contribution à l’histoire des recherches sur la sécurité du travail: un aperçu
de la recherche de la ceca sur la sécurité dans la sidérurgie (1962-1966)
A group and international research model about safety: contribution for the
history of researches on safety at work: an overview of the escs research on
safety in the steel industry (1962-1966)
Jacques Leplat[1]
[1]Groupe de Recherche et d'Etude sur l'Histoire du Travail et de L'Orientation
(GRESHTO) Centre de Recherche sur le Travail et le Développement (CRTD)
Conservatoire National des Arts et Métiers(CNAM) 41, Rue Gay Lussac 75005 Paris
France
jacques.leplat@wanadoo.fr
A tradução deste artigo para português foi realizada por João Viana Jorge.
As pesquisas sobre segurança das pessoas nos diversos trabalhos a que estão
associadas têm uma longa história, frequentemente invocada nas numerosas obras
consagradas à segurança.
A psicologia moderna traduz também essa preocupação como testemunha,
nomeadamente, a literatura da psicologia dita aplicada desde o fim do século
XIX. A França forneceu contribuições importantes para estas pesquisas, como
atestam, nomeadamente, os trabalhos levados a cabo ou dirigidos por Lahy,
Pacaud, Reuchlin, Faverge no século XX. As pesquisas iniciais foram sobretudo
orientadas com referência à psicologia diferencial, com o uso frequente de
testes. O aperfeiçoamento da segurança foi procurado na perspectiva da melhoria
da adaptação do homem à sua tarefa. Porém, após a segunda guerra mundial
desenvolveram-se correntes de pesquisa visando estender o campo da psicologia
do trabalho no âmbito do estudo da segurança: dizendo de modo resumido, o
interesse deixou de se centrar apenas na adaptação do homem ao seu trabalho,
orientando-se para a questão da adaptação do trabalho ao homem e, finalmente,
para a concepção de situações de trabalho geradoras de uma melhor articulação
das condições humanas, organizacionais, técnicas e sociais adequadas à criação
de um ambiente de trabalho mais seguro. O texto aqui apresentado inscreve-se
nesse período de transição e permite detectar melhor a natureza e as
modalidades das evoluções ulteriores.
A breve apresentação deste texto está organizada em duas partes. A primeira
especifica o conjunto no qual se inscreve e a segunda fornece algumas
justificações da escolha da parte do Documento que se reteve para publicação
neste número de Laboreal.
O CONTEXTO DO TEXTO
O texto aqui apresentado é pois relativo a pesquisas conduzidas no quadro de um
vasto programa intitulado «Recherche communautaire sur la sécurité dans les
mines et la sidérurgie»: refere-se à parte respeitante à siderurgia, sendo
distinta e conduzida por uma outra equipa a respeitante às minas. As pesquisas
relatadas nesses documentos estão relacionadas com «acções empreendidas pela
Alta Autoridade da CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço) para o
progresso das pesquisas sobre prevenção de acidentes» (p. 5) [1]. A sua
concepção dá sequência a pesquisas anteriores oriundas de um programa elaborado
em 1959. Tal como este último, o programa sobre o qual nos debruçamos foi
preparado através de colaborações entre organizações profissionais e Institutos
de Investigação de cinco países-membros da CECA de então: Alemanha, França
Itália, Bélgica e Países Baixos. Faverge desempenhou um importante papel na
elaboração desse programa que foi colectivamente preparado e cuja realização se
escalonou entre 1962 e 1966. Tratava-se realmente duma pesquisa colectiva
periodicamente ponteada por reuniões, que agrupavam todas as equipas no
Luxemburgo para discussões durante dois dias que asseguravam assim uma
coordenação do desenrolar das pesquisas. Tinham também sido organizadas visitas
aos locais em que as pesquisas se desenvolviam. No final dessas pesquisas foi
estabelecido um relatório de síntese para cada equipa nacional e designado um
coordenador para a redacção do relatório de síntese geral. É deste último
relatório de 231 páginas que o presente texto foi extraído.
Os campos de pesquisa escolhidos por cada equipa eram diferentes.
- Alemanha: laminadores, fundições, acabamentos.
- Bélgica: altos-fornos.
- França: transportes.
- Itália: laminadores.
- Países-Baixos: reparações.
Os títulos dos diferentes capítulos do relatório demonstram bem a diversidade
dos temas abordados.
- Recolha e exploração preliminar de informações sobre a segurança e o
trabalho.
- Organização do trabalho.
- A segurança e o grupo de trabalho.
- Instrumentos e condições de trabalho.
- Características individuais.
- Propostas concretas para a melhoria da prevenção de acidentes.
JUSTIFICAÇÃO E CONTEÚDO DO TEXTO
O documento do qual este texto foi extraído relata os trabalhos executados no
decurso dos anos '60, numa época em que o estudo dos acidentes se centrava
ainda nas características das pessoas neles implicados. Desde o fim do século
XIX era esta a concepção vigente e explanada em múltiplas publicações como
atesta, por exemplo, uma bibliografia dos trabalhos de Lahy (1872-1943)
elaborada por Turbiaux (1982-3). O «factor humano» era nomeadamente explorado
para a selecção de agentes diversos, em particular condutores de comboios e de
maquinaria variada. Um artigo, particularmente bem documentado, publicado por
Lahy e Korngold Pacaud, em 1936, intitulado «Recherches expérimentales sur les
causes psychologiques des accidents du travail», ilustra bem esta concepção do
acidente. Vejam-se por exemplo alguns elementos dos títulos das suas diferentes
partes: O factor humano em geral e o factor individual nos acidentes de
trabalho; A tese da «predisposição» estudo da fatigabilidade; A prática da
selecção preventiva. Nesta mesma publicação pode ler-se que em 1928, no
congresso internacional de psicotécnica, a calamidade dos acidentes foi
comparada à das doenças e devia assim relevar de uma profilaxia análoga.
É numa perspectiva completamente diferente que irá ser concebida a pesquisa
CECA. O seu documento preparatório, que tinha sido redigido por uma equipa
englobando representantes dos meios profissionais, científicos e
governamentais, «exprimia o desejo de que em vez dum estudo abarcando um campo
muito vasto se optasse por um outro incidindo sobre efectivos limitados,
escolhidos numa determinada unidade operacional» (p. 11). Ao mesmo tempo
sublinhava-se a «necessidade de uma análise muito concreta das condições da
actividade e de um esforço para interligar o acidente com as próprias condições
de trabalho» (id.). Era igualmente solicitado que essa limitação do campo de
extensão orientasse a investigação para uma verdadeira análise dos mecanismos
geradores dos acidentes e permitisse assim extrair aplicações precisas no plano
da segurança no trabalho» (id.). As pesquisas relatadas no presente texto
aderiram a estes princípios que se destacavam, nessa época, pela sua
originalidade e exprimiam uma rotura com as pesquisas anteriores. Às pesquisas
centradas no papel do operador, sucediam as centradas em situações de trabalho
e a entrada em linha de conta das suas diversas dimensões: psicológica,
técnica, organizacional, sociológica, social. Em outras publicações da CECA
dessa época encontram-se as mesmas características. Por exemplo, um fascículo
colectivo da mesma colecção intitula-se «Fiabilité et sécurité» (1972) e
comporta textos de síntese que colocam a tónica nos incidentes tanto quanto nos
acidentes e atribuem uma importância acrescida às condições organizacionais.
Todos esses trabalhos iriam contribuir para a renovação dos quadros da pesquisa
em segurança do trabalho. Sendo limitado o espaço reservado à publicação do
presente texto, tornava-se necessário escolher um extracto dessa obra que dela
revelasse os traços originais mais característicos. Pareceu assim que a parte
introdutória intitulada «considerações gerais sobre os trabalhos da pesquisa
comunitária», que define as exigências, forneceria os elementos essenciais para
a sua apresentação. Extraímos portanto os elementos mais originais, aplicando
alguns cortes destinados a eliminar as passagens respeitantes a conhecimentos
mais clássicos. O leitor interessado neste texto encontrará no Documento
referido desenvolvimentos que se mantiveram até hoje cheios de interesse.