Da educação à comunicação: um mapeamento da utilização do vídeo online em
universidades portuguesas
Introdução
Num quotidiano cada vez mais povoado por ecrãs das mais diversas dimensões, o
consumo de vídeo online entrou na vida das pessoas, quer em novos lugares e
momentos, quer nos espaços até agora reservados ao seu consumo tradicional.
Isso foi possível, sobretudo, por se terem desenvolvido condições técnicas que
trouxeram conforto à sua visualização, mas também porque o vídeo se tornou num
produto francamente acessível de produzir e de divulgar, o que aumentou
exponencialmente a sua disponibilidade na internet. No epicentro destas
mudanças (quer na esfera do consumo, quer na da produção) estão,
maioritariamente, os mais jovens. É precisamente para eles, enquanto potenciais
clientes, que as Instituições de Ensino Superior (IES) dirigem a sua produção
de vídeo online. Estabelecendo relações entre o meio e o fim, nomeadamente a
partir da ideia de público(s)-alvo, esta utilização do vídeo é, assim,
enquadrada como estratégia de marketing, o que é evidenciado nos dados
recolhidos neste estudo sobre a realidade portuguesa. Assim, este artigo
explora o alargamento da utilização do vídeo para além da sua função pedagógica
primordial no contexto do ensino. Com esse intuito, está dividido em três
momentos: 1. a análise e explicitação do crescimento do vídeo enquanto
ferramenta de comunicação online no ensino superior, bem como os contextos que
favoreceram esse desenvolvimento; 2. o necessário mapeamento da utilização do
vídeo online pelas IES em Portugal; 3. a identificação e a análise de algumas
tendências e características da sua aplicação.
Desta forma, a partir do mapeamento das experiências existentes, procedemos a
uma sistematização das tendências mais relevantes da utilização do vídeo como
instrumento de comunicação e de promoção nas universidades escolhidas para
análise.
A emergência da educação superior como produto
A mais profunda transformação na rede de ensino superior portuguesa ocorre após
o fim do Estado Novo, em 1974. O grande crescimento do sector situa-se nesse
quarto de século, prolongando-se até à viragem do milénio, refletindo (e
refletindo-se) (n)o que é habitualmente considerada a fase de emancipação e
modernização do país (Neave & Amaral, 2012). Durante esse período,
verifica-se um enorme aumento e diversificação da oferta de instituições e
cursos e generaliza-se o acesso ao ensino superior. Este crescimento do ensino
superior português representa uma história de sucesso, mas é, paradoxalmente,
um processo desequilibrado devido à precipitação expansionista (Lynce, 2002).
A transformação da educação em produto e dos estudantes em clientes (Berger
& Wallingford, 1997) acontece em Portugal, como em muitos outros países do
mundo, sobretudo a partir da década de 80, devido à capilaridade da rede de
ensino superior. Com efeito, a competição aumentou, quer no contexto global,
quer no âmbito local (Marginson, 2006). E, sobretudo, no ocidente
industrializado (embora não se restringindo a ele) as últimas três décadas são
caracterizadas no ensino superior por uma tendência global para a adoção de
princípios e práticas orientadas para o mercado1. Os Estados Unidos da América
representam o pináculo deste modelo da educação-produto, sobretudo desde que
passou a haver uma maior recetividade à aquisição de serviços em assessoria,
conhecimento científico e educação (Bok, 2003). Mas mesmo os países nórdicos -
defensores de um modelo oposto - têm começado, mais recentemente, a implementar
algumas mudanças que refletem a influência dos valores do mercado (Brown,
2011).
Esta viragem para uma atitude mais competitiva no ensino superior foi-se
generalizando porque, a certa altura, ela passou a ser encarada pelos Estados
como a única forma de desenvolver o sector e de o sustentar num contexto de
competitividade global (Scullion, Molesworth & Nixon, 2011). Hoje, o
conhecimento e a cultura produzidos no âmbito do ensino superior são uma parte
inseparável da nova economia, como explicam Slaughter e Rhoades (2004:15):
"knowledge is raw material to be converted to products, processes or services".
A marketização do ensino superior teve, pois, motivações tanto políticas como
económicas (Furedi, 2011).
Esta tendência para a adoção de estratégias de mercado pelo ensino superior é
inegável, apesar das especificidades do sector e do próprio produto.
Primeiramente - e em rigor - deve referir-se que se trata de um quase-mercado,
devido ao papel que o Estado tem neste contexto fortemente concorrencial
(Brown, 2011; Furedi, 2011). Sem dúvida que o produto "ensino superior" possui
as caraterísticas de uma indústria de serviços (Canterbury, 2000: 15;
Nicolescu, 2009). No entanto, há diferenças que singularizam a escolha deste
produto. Desde logo, não é possível experimentá-lo antes e ele não é visível no
momento da escolha. Além disso, há limitações na possibilidade de renovadas
aquisições, como explica Brown (2011). Em princípio, será uma escolha única,
que mais se assemelha à escolha de um parceiro ou de uma opção de vida, como
ser militar ou sacerdote. Não obstante, as vantagens de optar por um caminho e
não por outro, também no caso das decisões únicas, podem ser objeto de um
processo de publicidade (no sentido de tornar públicas, ou pelo menos visíveis)
(d)as qualidades de uma alternativa, por oposição às outras.
Assim, a educação passou a ser vista em várias latitudes como uma indústria de
serviços que opera dentro de mercados competitivos e que requer a utilização de
estratégias de marketing para assegurar eficácia na atração de estudantes
nacionais e internacionais (Mazzarol, Soutar & Thein, 2001). Face à
crescente procura e também à multiplicação de IES e de ofertas de formação, a
segmentação do mercado tornou-se uma necessidade e a criação ou afirmação de
marcas identitárias das diferentes instituições passou a constituir uma
obrigação. Trata-se, afinal, da estratégia de posicionamento, uma das clássicas
ferramentas de marketing, definida por Kotler (2000) como o ato de desenvolver
a oferta e a imagem da organização para ocupar um lugar destacado na mente dos
clientes-alvo. Foi, portanto, neste contexto que as questões de marketing
passaram a ser dominantes em muitas das discussões dentro das IES (Temple,
2006). E, muito naturalmente, as ferramentas e o léxico do marketing passaram
igualmente a aplicar-se de forma cada vez mais generalizada a este universo,
mostrando a preocupação em tornar rentáveis a educação e a produção de
conhecimento.
Na realidade, o esforço das IES para diferenciarem a sua oferta não é um
processo novo. Já no início do século XX algumas universidades norte-americanas
tomavam medidas concretas para se tornarem mais visíveis que as concorrentes.
Como explica Bok (2003), o que mudou foi, simplesmente, a escala. Neste
ambiente mais competitivo, as IES passaram a definir as suas estratégias de
comunicação precisamente a partir da constatação de que a singularidade da
escolha de um aluno tem sempre a ver com duas ordens de razões: uma simbólica e
outra utilitária (Cambridge, 2002). Com efeito, a frequência de um curso
superior é considerada um bem posicional (Hirsch, 1977), ou seja, está
associada a um estatuto e a uma escala de preferências. No entanto, é
igualmente um investimento do qual se pretende ter um retorno. E nesse sentido,
um curso representa uma ligação temporalmente diferida a uma vida melhor, que
idealmente corresponde às expectativas dos estudantes (Haywood, Jenkins &
Molesworth, 2011).
Da televisão à internet, da educação à comunicação: apropriações tecnológicas e
funcionais do vídeo
A imagem videográfica surgiu nas IES como ferramenta associada ao ensino a
distância quase paralelamente ao desenvolvimento da televisão. A Universidade
do Iowa, nos Estados Unidos da América, começou em 1932 a transmitir
regularmente conteúdos educativos através do canal de televisão W9XK, que
permaneceu ativo até ao início da Segunda Guerra Mundial (Gerber, 2005). Mais
tarde, com a disseminação da cassete de vídeo, uma grande mudança foi operada:
algumas universidades norte-americanas passavam a permitir que determinadas
aulas pudessem ser gravadas para visualização em diferido. E essa flexibilidade
temporal - que, na verdade, existia já com os suportes escritos - veio criar
novas dinâmicas no processo de aprendizagem. Porém apesar dessa vantagem, ambos
os processos tinham uma enorme limitação que resultava da sua passividade
(Williams, Paprock & Covington, 1999). Efetivamente, durante muito tempo,
apesar de o vídeo ser considerado eficiente e apelativo, ele não permitia uma
comunicação bidirecional ou qualquer tipo de interatividade. E uma das grandes
mudanças na sua utilização no âmbito do ensino - porventura a maior - teve a
ver, precisamente, com o nível de interação permitido pela tecnologia. Aos
poucos, a tecnologia foi favorecendo, através do vídeo, uma comunicação em dois
sentidos e um grau crescente de interatividade, como o que mais tarde veio a
ser possível com as videoconferências, os suportes multimédia, a televisão
digital ou o vídeo na internet (Williams, Paprock & Covington, 1999).
Atualmente, o vídeo online tornou-se (quer seja em streaming, on-demand, em
videoconferência, em direto ou diferido) uma ferramenta essencial num contexto
educativo, permitindo uma utilização superadora dessa passividade inicial.
No campo específico do ensino superior, a evolução do vídeo teve, efetivamente,
um grande impacto nos processos de aprendizagem. Deve, porém, sublinhar-se que
a utilização do vídeo se foi generalizando neste contexto, acabando por
transpor o terreno original do ensino a distância. As mudanças no ensino
superior, nomeadamente, a diversificação do corpo discente, bem como a sua cada
vez maior aptidão natural com os interfaces informáticos acabou por levar à
inclusão natural de muitos materiais videográficos no processo de ensino, mesmo
que os alunos não estivessem formalmente distantes da instituição (Moskal &
Dziuban, 2001). As vantagens da utilização de vídeo com fins educativos são de
várias ordens (Barford & Weston, 1997) e estão hoje estudadas em vários
contextos, quer sob a forma de podcast (Copley, 2007), quer em streaming (Fill
& Ottewill, 2007). Efetivamente, ainda que não substituam a aula
propriamente dita (tempo de contacto), os vídeos vieram a revelar-se
extremamente úteis como reforço, antecedente ou complemento de uma atividade
docente (Bravo, 2010). Na sua enorme plasticidade, eles podem ilustrar,
esquematizar ou exemplificar, possibilitando maior clareza, simplicidade ou
atratividade. São, pois, ideais para ilustrar ações, para proporcionar exemplos
mais realistas, processos progressivos ou interações sociais.
Por vezes, a utilização de vídeo de natureza educativa acaba mesmo por exceder
essa função primordial, concretizando vários objetivos simultâneos, como
acontece com a gravação de aulas magistrais, ou conferências pronunciadas por
professores ou especialistas de reconhecido mérito (Recio & Ortega, 2012).
Neste caso, além da componente da divulgação científica, também poderá cumprir-
se o desiderato de afirmação da marca da instituição onde se procedeu ao
registo videográfico da aula, assim transfigurada em acontecimento.
Na atualidade, porém, o vídeo produzido pelas IES já não é só de natureza
educativa. De facto, assim que as condições de produção o permitiram, ele
deixou de estar estritamente ligado a objetivos pedagógicos. A novidade e a
frescura que lhe são intrínsecas e que podem ressaltar das dinâmicas e
características da linguagem audiovisual, tornaram-no no veículo ideal para a
comunicação (interna e externa) das IES. Daí, a escolha frequente do vídeo para
informar sobre o quotidiano da organização, através de notícias e reportagens
próximas da narrativa informativa da televisão (Werther, 1988).
Ao olharmos em retrospetiva para este processo de apropriação tecnológica,
constatamos que, se o apelo e a eficiência do vídeo foram os motivos que
levaram o ensino a recorrer pela primeira vez à tecnologia moderna, os
computadores constituem já a segunda etapa desse processo (Shih et al., 2007).
A informática constituiu uma nova fase no ensino a distância, sobretudo a
partir da década de 90, quando se tornaram acessíveis os computadores pessoais,
os materiais multimédia e o acesso à internet. Novas formas de ensino,
nomeadamente, o
e-learning2
ou o
b-learning3
foram entretanto surgindo a partir desta entrada das tecnologias da informação
no contexto educativo.
Concretamente, a internet - que se constitui como o factor mais fraturante dos
últimos anos no domínio da comunicação, acabou por ter um impacto enorme na
educação. A maleabilidade na gestão do tempo, a conectividade, o acesso a uma
grande diversidade de conteúdos e fontes, a possibilidade de incluir outras
dinâmicas na investigação e na aprendizagem que tornassem o estudante mais
ativo, bem como a crescente ubiquidade, são dimensões que tornaram a internet
numa ferramenta essencial ao ensino contemporâneo. E no caso particular do
ensino não presencial, estas vantagens são ainda mais evidentes. Os cursos
online, ou que conjugam recursos online com aprendizagem presencial, tornaram-
se na opção mais lógica para o ensino superior vencer as barreiras geográficas
do campus e conseguir aumentar a sua oferta. Nos Estados Unidos da América, a
taxa de crescimento das matrículas para cursos que tenham alguma componente
letiva online tem sido superior ao aumento das matrículas em cursos
inteiramente presenciais (Betts, Hartman & Hoxholm, 2010). Estas opções
tornaram-se muito atrativas, sobretudo num contexto de crescente
competitividade formativa e contração económica. O processo revela-se vantajoso
para ambos os lados. As IES vencem barreiras geográficas, rentabilizando a sua
marca para além dos mercados. Além disso, podem aumentar a sua oferta, com
custos mais reduzidos e, em teoria, sem limitação de vagas. Os alunos também
podem beneficiar economicamente de vantagens, quer nas inscrições, quer nas
deslocações, na permanência, ou no próprio acesso a materiais de apoio (Betts,
Hartman & Hoxholm, 2010).
A explosão do vídeo na internet
A divulgação do conhecimento e o favorecimento da aprendizagem com recurso ao
vídeo vieram a tornar-se processos intrínsecos às próprias dinâmicas da
sociedade e da economia do século XXI. Basta pensar no lançamento, em 2006, da
Khan Academy4, ou no ano seguinte, do projeto iTunes U5, da Apple. O vídeo
parece ser o meio adequado à aprendizagem numa sociedade tendencialmente
seduzida pelo conhecimento, mas simultaneamente refém das inúmeras solicitações
do quotidiano.
Na verdade, esta aproximação da educação aos conteúdos videográficos é já muito
antiga. Já em 1913, Thomas Edison previa numa entrevista que não faltaria muito
para que a aprendizagem passasse a ser feita com base na imagem em movimento e
não nos livros. Estes, disse Edison, tornar-se-iam obsoletos (Shih et al.,
2007). Efetivamente, como já vimos, embora não faltasse muito tempo para que o
vídeo passasse a ser bastante popular como ferramenta formativa, a profecia de
Edison nunca se veio a concretizar. O vídeo popularizou-se, mas não levou ao
abandono do texto. Ao invés, a realidade veio mostrar que diferentes linguagens
se adequam com graus diversos de eficácia a contextos específicos. E
compreender a forma como o vídeo veio a tornar-se tão dominante na internet,
implica, precisamente, perceber a constante negociação entre a adequação ao
objetivo e a disponibilidade tecnológica.
Embora em contextos de aprendizagem sejam conhecidos os diferentes fatores que
determinam a maior eficácia de uma linguagem em relação à outra, a verdade é
que, muitas vezes, são as condicionantes técnicas que determinam a escolha. Com
efeito, embora o vídeo não seja um recurso online recente, o facto de
inicialmente ser difícil de pesquisar e, sobretudo, o peso dos ficheiros,
atrasaram a generalização do seu uso (Scott, 2010). Foi, precisamente, a partir
do momento em que houve condições técnicas que permitiram o seu consumo com
rapidez e qualidade e a sua produção de forma menos onerosa, que o vídeo se
começou a tornar num recurso amplamente usado. A questão do tempo de espera era
(e é) absolutamente determinante na utilização online (Weinberg, 2000). Por
isso, até a internet ter condições adequadas ao consumo de ficheiros mais
pesados, o texto assumiu uma preponderância que nem sempre se justificava por
motivos funcionais. Entretanto, à medida que os acessos de banda larga se foram
generalizando, o vídeo tornou-se uma experiência mais gratificante.
Concomitantemente, o texto foi perdendo espaço, sendo agora cada vez mais
escolhido apenas de acordo com a sua adequação à função e ao objetivo em causa.
Na vertigem do consumo de informação online, o vídeo tem uma enorme virtude que
resulta da sua aproximação à forma como percebemos o mundo, o que acontece
grandemente através de sons e imagens em movimento (England & Finney,
2002). É por isso que ele é tão interessante: há uma naturalidade na perceção
das mensagens, para a qual também contribui a larga exposição da sociedade à
televisão, apreendendo códigos complexos específicos da linguagem audiovisual
(England & Finney, 2002). Simultaneamente, não podemos esquecer a forma
como o cérebro humano reage, na sua herança mais primitiva, aos novos estímulos
existentes no espaço envolvente. A compreensão desse mecanismo biológico
chamado orienting response (Lang, 2000) é particularmente útil quando se pensa
na forma de captar ou manter a atenção dos utilizadores. E, efetivamente, se
nos focarmos no caso específico das páginas de internet, estas são duas ideias
centrais para entender o potencial apelativo do vídeo em relação ao texto
escrito: estímulo sensorial e aproximação à realidade. Além tudo isto, note-se
ainda a sua enorme plasticidade num meio multifacetado como é a internet. O
vídeo tanto se adequa à leveza dos conteúdos de entretenimento, como cria novos
objetos, articulando-se com outras linguagens e reforçando e ilustrando
mensagens complexas, como acontece com a sua associação ao texto.
Além destas questões relacionadas com as especificidades e a fruição da imagem
em movimento, há outras, de natureza tecnológica ou empresarial, que deram um
claro impulso à expansão online. Com efeito, as enormes virtudes de custo e
alcance acabaram por levar ao desenvolvimento de produtos cada vez mais
estruturados. As web TV - enquanto plataformas com vídeo organizado,
rapidamente revelaram enormes vantagens, sobretudo quando comparadas com
formatos pré-digitais (Villarreal et al., 2010): 1. possibilidade de grande
variedade de conteúdos disponibilizados, sendo as limitações de espaço ou
largura de banda praticamente inexistentes; 2. caráter global, sem limites
geográficos de difusão; 3. possibilidade de conhecimento dos públicos e dos
seus hábitos, através da contabilização das audiências e acompanhamento
rigoroso dos interesses dos espectadores; 4. baixo custo de produção
possibilitado pela disponibilidade de tecnologia que permite alta qualidade de
produção e difusão. Complementarmente, devem ainda referir-se as amplas
possibilidades de arquivamento e pesquisa (com o eventual benefício acrescido
do livre acesso a esses conteúdos).
Fatores de crescimento do vídeo online nas IES
Nos últimos anos, a produção de vídeo tem-se vindo a tornar cada vez mais
acessível, porque menos onerosa. No entanto, durante muito tempo, produzir
vídeo numa IES era algo que implicava um enorme investimento em tecnologia,
nomeadamente em câmaras profissionais, régies e estúdios. Isto fazia com que a
produção de vídeo de qualidade estivesse vedada à larga maioria das
universidades. Posteriormente, a massificação da utilização de computadores
pessoais com uma capacidade de processamento cada vez maior constituiu a base
sobre a qual se pôde operar a mudança. Mas outros fatores houve: o aparecimento
e o desenvolvimento de material audiovisual destinado ao grande consumo, com
características de utilização avançada; bem como a melhoria do software, que
passou a ser francamente mais intuitivo, eficiente e até mesmo, em algumas
situações, gratuito. Assim, não só a necessidade de investimento em material
diminuiu grandemente, como a facilidade de utilização quer de hardware quer de
software aumentou. E desta forma, nos últimos anos, tornou-se possível fazer
vídeo de qualidade com tecnologia destinada ao grande consumo.
Esta democratização do acesso à produção de vídeo não pode apartar-se da
transformação mais ampla que deu origem ao prosumer (Toffler, 1980), no âmbito
da web 2.0. Com efeito, não foi só a produção que se tornou acessível. Foi
também a distribuição de vídeo online que passou a ser um processo francamente
simples, o que resultou numa multiplicação exponencial de conteúdos na web. É
nesse contexto que estudos recentes (Madden, 2009) mostram como o vídeo na
internet começou a fazer cada vez mais parte da vida das pessoas, invadindo
espaços de consumo habitualmente reservados à visualização de conteúdos em
broadcast. Isso tem sido muito visível desde que a banda larga se espalhou, e o
caso português ilustra-o bem (Obercom, 2012). Por outro lado, esta apropriação
de novos espaços tem sido recentemente impulsionada pela cada vez maior
ubiquidade dos ecrãs. Num quotidiano cada vez mais exposto a uma enorme
variedade de dispositivos, a diversificação da plataforma de recepção é uma das
tendências mais relevantes do consumo de conteúdos videográficos online e
espelha-se no enorme crescimento da utilização de tablets, bem como no aumento
de vendas de smartphones (aparelhos com ecrãs de dimensões cada vez maiores,
precisamente para proporcionar a melhor experiência de visionamento possível6).
Com efeito, o vídeo na internet expandiu-se para além do ecrã do computador e
da web e o suporte de visionamento deixou de definir o meio.
A contextualização do investimento das IES no vídeo online implica, ainda, uma
referência ao seu público-alvo. Com efeito, sabemos hoje que é nos jovens que
reside o mais acelerado processo de mutação, quer no consumo mediático, quer
nos hábitos comunicacionais. Claro que o principal vetor dessa mudança são os
dispositivos móveis, com destaque para o telemóvel, que é pequeno, é
relativamente barato e representa o ideal da convergência comunicacional
(Thulin & Vihelmson, 2007). Sabemos, também, que o consumo deste grupo
etário é cada vez mais não linear, independentemente da plataforma que usam.
Assim, a internet é o meio natural de uma fatia significativa deste público que
as IES pretendem atingir. No contexto específico de Portugal, cerca de 90% dos
jovens entre os 15 e os 24 anos são utilizadores da internet (Obercom, 2012). E
se é verdade que a parte do público-alvo das IES dedicada à docência e
investigação tem uma idade superior, também é um facto que a utilização da
internet aumenta à medida que a escolaridade é mais alta (Obercom, 2012).
De facto, a internet é uma plataforma muito atrativa e cada vez mais importante
no processo de marketing das IES (Rolfe, 2003). Não só há esta forte
identificação com o público-alvo, como também há diversas vantagens no
planeamento estratégico de comunicação: diminui os custos de distribuição de
conteúdo (custos diretos, ainda que não porventura custos totais), permite a
interatividade, elimina as barreiras de entrada/acesso e possibilita a promoção
cruzada com outros objetos. Esta última dimensão vem potenciar o efeito de
outras formas de comunicação, já que através da internet podem criar-se novas
visibilidades para outros suportes (como por exemplo as brochuras de divulgação
da oferta formativa), ou promover-se eventos [pseudo-acontecimentos criados
pelas próprias IES, na aceção de Daniel Boorstin (1992)] para que o seu eco na
ciberesfera possa ser ainda mais consequente do que o evento em si.
O vídeo online como ferramenta de comunicação das IES
No domínio empresarial, a utilização do vídeo como instrumento de comunicação
interna e externa explodiu nos anos 80 (Werther, 1988), embora nessa altura
claramente ainda limitado por questões económicas. No sector da educação, a
Universidade de Vanderbilt, nos EUA, terá sido pioneira, nessa altura, com a
produção de vídeos nos quais um aluno da instituição recebia um caloiro,
tratando-o pelo nome (Kirp, 2003). No entanto, a gestão interna da produção de
imagem videográfica e a sua integração em televisões em circuito fechado,
broadcast ou internet, é um processo que só se generalizou mais recentemente,
coincidindo com a já referida facilidade de acesso aos meios de produção e
distribuição. Mais do que isso, só recentemente, o vídeo se tornou parte de
políticas articuladas de comunicação das IES. A comunicação corporativa
(Argenti & Forman, 2002) encontrou neste tipo de suporte uma ferramenta com
múltiplas valências: comunicação interna entre funcionários, docentes e
estudantes; comunicação com os principais stakeholders, gestão da marca em
torno de valores previamente identificados e, sobretudo, aproximação a
potenciais alunos nacionais e internacionais. É precisamente esta última que
pretendemos destacar: a integração do vídeo nos processos de comunicação das
IES destinados a influenciar a escolha dos prospetivos alunos.
A escolha de uma universidade ou de um curso é, naturalmente, complexa, não só
pela existência de várias opções, mas sobretudo pela diversidade de factores
envolvidos (Briggs, 2006). Além disso, à partida, há cada vez menos tolerância
para o erro. Como explicam Slaughter e Rhoades (2004), a subida das propinas
tem tornado os alunos cada vez mais conscientes do investimento que fazem e do
retorno que esperam obter. Existe a perceção de que esta escolha terá
implicações pessoais grandes, não só monetárias como emocionais, que vão para
além da satisfação imediata com o produto escolhido. Naturalmente, além dos
dados recolhidos pelo potencial aluno durante a pesquisa que faz, outros
factores são decisivos na escolha, alguns dos quais estão presentes bem antes
do final do ensino secundário, como a influência dos pais e do meio envolvente,
entre outros (Kinzie et al., 2004). A própria reputação da instituição pode
bastar-se a si própria na decisão do estudante.
Constata-se, pois, que o comportamento dos consumidores num processo de compra
é influenciado por diversos fatores, nomeadamente sociais, culturais e
psicológicos. O modelo mais usado para explicar esta escolha - apesar de
algumas variações - centra-se em cinco fases que ilustram o processo de
resolução de um problema: 1. despertar da necessidade; 2. pesquisa de
informação; 3. avaliação de alternativas; 4. decisão de compra; 5. reações pós-
compra (McCarthy & Perreault 1987; Lilien, Kotler & Moorthy, 1992).
Naturalmente, nem todos os consumidores passam por estas fases da mesma forma.
Afinal, usando uma comparação prosaica mas eficaz, comprar o mesmo pão todos os
dias na padaria não implica uma ponderada avaliação diária de alternativas e o
comprador pode saltar essa fase. Por isso, devem ser diferenciados os graus de
envolvimento que uma decisão pode requerer: desde os que têm uma natureza
rotineira, até aos mais complexos e menos frequentes, nos quais o consumidor
passa por todas as fases do processo. Claramente, a escolha de um curso
superior encaixa-se nestes processos extensivos.
Escolhas que requerem um envolvimento maior dependem mais da possibilidade de
recolher informação. Essa necessidade é ainda mais premente porque, no caso da
eleição de um curso, grande parte do serviço é de natureza intangível, pelo que
o estudante não pode experimentá-lo antes de o escolher (Moogan, Baron &
Harris, 1999). Assim, a quantidade e, sobretudo, a qualidade de informação
disponibilizadas pela IES são essenciais para aumentar a confiança na escolha
do produto. E aí, estudos como o de Briggs (2006) demonstram a crescente
relevância da internet como fonte de informação sobre a instituição.
Note-se, porém, que o processo de recolha de informações é agora bem mais
completo e intrincado do que há anos atrás (Kinzie et al., 2004). Embora a
internet permita pesquisas mais focadas e contactos por vezes mais diretos
entre a instituição e o candidato, a rede também implica que o aluno tenha
agora de desbravar caminho entre muito mais informação. Daí que uma IES pode
ter mais dificuldade em fazer sobressair a sua oferta, sobretudo se não existir
uma boa notoriedade da marca a priori.
Uma estratégia articulada de comunicação deve partir do princípio de que há
diferentes objetivos a cumprir, consoante o estágio em que se encontra o
destinatário em relação à IES. E o vídeo online tem a plasticidade para se
adaptar e articular (com os outros objetos de comunicação) de forma a
constituir essa resposta diferenciada. Desde logo, os vídeos adequam-se bem a
três objetivos comunicacionais básicos explicados por Berger e Wallingford
(1999): potenciar a consciência acerca da existência da IES, desenvolver o
conhecimento sobre a instituição e despertar o gosto por esta. Mas, como
referem os autores, é no reforço do "gosto" que o vídeo pode ser
particularmente eficaz.
De facto, o vídeo tem uma capacidade única para comunicar o pessoal e o íntimo,
mostrando aos potenciais estudantes que a instituição vai ao encontro das suas
necessidades individuais (Berger & Wallingford, 1997: 69). Trata-se, no
fundo, de uma cada vez maior concretização da experiência. Por um lado, os
vídeos promocionais são frequentemente protagonizados por atuais alunos,
antigos alunos com sucesso7 e professores. A facilidade de colocar testemunhos
nos conteúdos de vídeo é uma das mais-valias desta ferramenta e muitas
instituições já identificaram o enorme potencial publicitário dos alumni. Por
outro lado, a par com informações de fundo, de natureza curricular,
administrativa ou ligada ao quotidiano dos estudantes, há uma enorme vantagem
em ilustrar alguns dos bens e objetos tangíveis que compõem o produto global. A
existência desses bens, como explicam Kotler e Lee (2007), será muitas vezes
essencial no processo de tomada de decisão. E o vídeo é uma ferramenta ideal
para essa informação ligeira, de fácil consumo, que promove um conhecimento de
outra natureza no prospetivo aluno. Aí se incluem os vídeos que mostram os mais
diversos aspetos da vida no campus, ou a divulgação de serviços específicos,
como uma lavandaria ou uma linha de apoio telefónico. Mas não só: o vídeo é
cada vez mais usado para dar conta de todo o envolvimento, da própria vida
social e da dinâmica da cidade. E esses são fatores que também pesam no momento
da escolha. Efetivamente, o vídeo mostra e permite um contacto e uma comparação
de aspetos que, de outra forma, poderiam não acontecer, como a possibilidade de
ver as instalações da IES ou da cidade, por exemplo. Na era da internet, tem
todo o sentido transpor o princípio dos desdobráveis para a web.
Além da identificação com as preferências individuais dos alunos a atingir, a
estratégia de marketing das IES tem também como objetivo criar uma imagem de
marca da instituição. O branding constrói-se de variadas maneiras, no sentido
de tentar criar uma top of mind awareness (TOMA) em relação à IES em causa.
Esta traduz-se na medida da reputação global da instituição e na qualidade e no
nível de reconhecimento no mercado em causa. A importância deste fator é
comprovada pelo estudo de Mazzarol, Soutar e Thein, levado a cabo em 2001, que,
ao avaliar os fatores críticos para a seleção de instituições de ensino
superior, conclui que existe uma significativa influência (ou perceção de
influência) da sua imagem de mercado. A TOMA aparece também como indicador em
vários rankingsde classificação do ensino superior, que são com frequência
ingredientes do caldo que dá origem à escolha de uma IES em detrimento de
outra.
Metodologia para um mapeamento
O número total de IES em Portugal, incluindo ensino universitário e
politécnico, público e privado, é de 121 (FENPROF, 2012). No entanto, para este
estudo de natureza exploratória foi definido um universo de IES que corresponde
às instituições que integram o Conselho de Reitores das Universidades
Portuguesas (CRUP)8: Universidade Aberta (UAB), Universidade de Coimbra (UC),
Universidade do Porto (UP), Universidade de Lisboa (UL), Universidade Técnica
de Lisboa (UTL), Universidade Nova de Lisboa (UNL), Universidade da Beira
Interior (UBI), Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD),
Universidade Católica Portuguesa (UCP), ISCTE - Instituto Universitário de
Lisboa (ISCTE), Universidade do Minho (UM), Universidade de Aveiro (UA),
Universidade de Évora (UE), Universidade dos Açores (UAC), Universidade do
Algarve (UALG) e Universidade da Madeira (UMA).
Esta opção pela circunscrição da análise às IES do CRUP (deixando de fora o
ensino politécnico, a generalidade do privado, bem como o ensino superior
policial e militar), justifica-se pelo facto de este representar a parte mais
significativa do sistema9 (FENPROF, 2012), bem como por se tratar de um
universo que, apesar de espelhar a diversidade social e geográfica do país,
apresenta uma coerência enquanto corpo de análise.
Importa ressalvar que a presença videográfica das IES na internet constitui um
objeto de estudo em permanente mudança, pelo que os resultados aqui
apresentados constituem um retrato cronologicamente datado. Não obstante, houve
uma opção pela recolha de dados em dois momentos, de forma a permitir uma maior
solidez dos resultados apresentados. Pretendeu-se que a sistematização proposta
a partir dos dados observados resista melhor às mudanças que eventualmente
venham a registar-se nos processos e formatos de produção ou nas plataformas
utilizadas para disseminação dos conteúdos vídeo.
Assim, num primeiro momento, foram contactados os serviços das reitorias ou das
administrações das IES e identificadas as estruturas responsáveis pela produção
de televisões web nas instituições centrais. Foram contactados e entrevistados
os coordenadores ou responsáveis destas estruturas ou, na ausência de canais
web definidos, os coordenadores da produção de vídeo da respetiva instituição
central. As entrevistas semiestruturadas foram realizadas presencialmente, por
telefone ou por correio eletrónico no verão de 2012 e visaram obter informações
sobre três dimensões: características gerais do canal (objetivos, definição de
público-alvo e plataformas de divulgação), conteúdos (periodicidade da
produção, formatos produzidos e autoria) e recursos humanos (quantidade de
colaboradores, vínculo à entidade e formação). Nesta fase foram ainda
visualizados os sites das IES referidos nas entrevistas para validação de
dados.
Num segundo momento da investigação, durante a primavera de 2013, foi
aprofundado o foco de análise. Foram visualizados os sites destas IES, e foi
alargada a observação aos das respetivas faculdades ou unidades de ensino
hierarquicamente ao mesmo nível. Foi ainda feita uma pesquisa nas plataformas
de vídeo YouTube e Vimeo, a partir dos nomes da instituição ou faculdade (por
extenso e enquanto sigla).
Foram, assim, articulados os dados qualitativos e quantitativos obtidos nestes
dois momentos, contextualizando as estruturas de produção de vídeo online, bem
como as práticas desenvolvidas por estas, de forma a construir um mapeamento
das práticas mais representativas desta realidade em Portugal. De acordo com a
natureza do estudo, a dimensão do universo e a quantidade de práticas
identificadas, optou-se por ilustrar apenas as tendências mais relevantes e não
a totalidade dos procedimentos, sob pena de tal opção resultar numa análise
demasiado dispersa.
O vídeo nas instituições de ensino superior em Portugal
A chegada do vídeo online às IES portuguesas é recente. De forma geral, é na
primeira década do novo milénio que são criados canais de natureza diversa em
todas as instituições centrais do CRUP. O desenvolvimento desses canais veio
refletir, sobretudo, preocupações ligadas à comunicação da imagem da
instituição. Com efeito, os objetivos mais frequentes da produção videográfica
nas IES são a comunicação corporativa da instituição (81,25%) e a captação de
futuros alunos (75%). A divulgação científica é apenas o terceiro objetivo
(69%)10. Apesar destes resultados, a dimensão formativa dos projetos de web TV
está presente em muitos casos, como veremos adiante.
Por vezes, a internet constitui-se como o caminho natural para o alargamento de
uma prática já existente na instituição, como nos casos da UBI ou da UAb.
Efetivamente, a UBI havia já implementado a TUBI em 1997, como canal de
distribuição em circuito interno e, mais tarde, em 2003, expandiu-se para a
web. É por isso considerado um dos projetos pioneiros neste domínio em
Portugal. A Universidade Aberta, por outro lado, tinha uma experiência de outra
natureza, uma vez que já produzia conteúdos educativos para televisão desde
1990. Neste caso, a expansão para a internet chegou em 2002. De forma
generalizada, e sob as formas mais distintas, o vídeo online foi-se estendendo
a todas as IES do CRUP.
Efetivamente, quase todas as IES (87,5%) têm uma estrutura central que produz
vídeo. No entanto, a generalidade destas estruturas não se pode dedicar em
exclusivo ao apoio ou à produção audiovisual para os canais web. Isso acontece
porque, frequentemente estão sob a alçada de serviços de comunicação da
Reitoria, ou em serviços de apoio audiovisual que têm nas web TV apenas mais
uma de muitas tarefas. Porém, a análise dos sites das instituições, bem como a
pesquisa feita nas plataformas de alojamento de vídeo mais comuns (YouTube e
Vimeo) revela que todas as IES usam, de alguma forma, o vídeo na internet.
Neste universo, e tendo em conta a sua dimensão, o vídeo é implementado sob
formas de tal maneira diversificadas, que acabam por impossibilitar uma
tipificação que contemple perfis com identidades bem diferenciadas. Ainda
assim, é possível identificar tendências, partindo da referência a alguns dos
casos. Os dados recolhidos no âmbito desta investigação revelam que quase
metade (cerca de 43%) das universidades desenvolveram um canal dedicado com
identidade própria, associado à instituição central. Estas web TV são canais
assentes em plataformas que não sejam o YouTube ou o Vimeo. Note-se, que no
caso específico das web TV, se verificou que a quantidade de práticas distintas
corresponde praticamente ao número de instituições.
A UAlgTV (da Universidade do Algarve) está alojada numa plataforma de blogues,
o Blogger. Para o alojamento de vídeo, o canal recorre ao YouTube. O URL da
UAlgtv situa o canal fora da estrutura online da instituição11, o que se
compreende pelo facto de se tratar de um projeto de dimensão curricular
implementado na Escola Superior de Educação e Comunicação (ESEC). Estas opções
de alojamento têm um perfil de utilização muito acessível, o que, certamente,
facilita a manutenção do projeto por grupos de alunos ano após ano, mas,
simultaneamente, permitem um controlo muito limitado sobre as opções do
interface, o que - em regra - pode implicar penalizações estéticas e de
usabilidade. Neste caso, as emissões são garantidas pelos alunos no âmbito de
uma disciplina de produção televisiva que decorre apenas no segundo semestre,
com o apoio de um técnico da escola. É por isso que esta televisão tem uma
produção sazonal. A UAlgTV tem também um canal no You Tube, no entanto, não se
assume como o canal de divulgação privilegiado da UAlg. Esta universidade tem
um canal no You Tube com um ritmo de carregamento de conteúdos mais intenso do
que o projeto de televisão da ESEC. No entanto, o canal da IES é mais disperso
do que a UAlgTV: inclui conteúdos de clipping de televisão e rádio, vídeos
promocionais, registos de eventos institucionais e vídeos focados no testemunho
de alunos.
A ligação da UAlgtv ao contexto letivo é apenas um dos casos exemplificativos
no seio das IES estudadas, apesar de este modelo operacional não constituir a
prática mais seguida. Com efeito, de forma mais ou menos intensa, os alunos
participam na produção de vídeo em cerca de metade das IES que têm uma unidade
centralizada de produção, o que acaba por ter uma relação direta nos 50%12 de
estruturas de produção de vídeo que assumem ter uma componente de apoio à
atividade letiva.
A TUBI é outro projeto essencialmente letivo. Assim, na Covilhã, a produção
também é sazonal, correspondendo à lecionação de disciplinas da área da
comunicação. No entanto, o ritmo de produção é bem distinto do que se encontra
no Algarve. A TUBI é uma das estruturas que mais conteúdos produz em Portugal.
E, ao contrário da UAlgtv, assume-se de forma mais evidente como o canal da
Universidade da Beira Interior. Assim, embora exista um canal da UBI no You
Tube, este tem uma dimensão residual, quando comparado com o que o site da TUBI
disponibiliza13. É na TUBI que, efectivamente, se encontram reportagens e uma
visão ampla e organizada da atividade na IES e na região envolvente. Esse
posicionamento face à IES também se reflete no facto de o canal se encontrar
dentro da estrutura do site da UBI14
No caso da UTADTV há também uma ligação curricular vincada, uma vez que os
conteúdos são feitos por alunos de comunicação. Esta web TV tem a
particularidade de ter transmissão de conteúdos apenas uma vez por semana. Os
programas são transmitidos em streaming e só depois são disponibilizados em
arquivo. Relativamente à prática em contexto letivo, deve ainda ser referida a
Escola das Artes da Universidade Católica no Porto, cuja produção de vídeo
neste contexto não tem paralelo no universo de IES estudado. A quase totalidade
dos vídeos são realizados no âmbito de disciplinas ligadas à área, uma vez que
se trata de uma escola direcionada para a formação artística e audiovisual. Os
conteúdos podem ser vistos na própria página da escola, bem como no canal que a
instituição mantém no You Tube15.
Embora a ligação aos alunos esteja sempre presente, ela não é tão preponderante
noutras estruturas de produção. A UCV (Coimbra) e a TVUP (Porto) são canais
mais profissionalizados, com estruturas fixas de produção que constituem o core
destas unidades. Isso reflete-se na dinâmica produtiva das respetivas web TV.
Ambas têm uma média de produção de cerca de 40 conteúdos mensais16.
Efetivamente, o ritmo de produção é muito díspar entre os vários projetos que
têm canais dedicados. Estas duas instituições são as mais produtivas, no que
diz respeito ao carregamento de vídeos online. No extremo oposto, podemos
classificar a web TV da UE como um projeto estagnado que não renova
conteúdos17. Importa referir que estas duas instituições (UCV e TVUP) têm
equipas de trabalho dedicadas (totalmente ou quase em exclusividade) ao
projeto, o que não representa a situação mais comum. Nesse aspeto particular,
encontrou-se também uma diversidade que impede qualquer tipificação no universo
deste estudo, com estruturas que têm em graus diferentes a colaboração de
alunos, de professores, de técnicos ligados aos meios audiovisuais ou à
informática.
A existência de canais de web TV dedicados não exclui a presença das IES nas
plataformas mais comuns de alojamento de conteúdos. De facto, três quartos das
IES (75%) têm canais da instituição central no You Tube ou no Vimeo, quer seja
em nome próprio, quer seja através da própria web TV. Efetivamente, a prática
menos comum consiste na existência de um único canal, independentemente da
plataforma, para divulgação exclusiva de vídeo da IES: apenas 25% das
universidades implementam essa solução mais focada. Para compreender esta ideia
de dispersão, atente-se na rede de canais da UC. Além do canal dedicado, a UCV,
a universidade tem um canal no Vimeo18 (sem utilização aparente), quatro canais
no YouTube (um com a designação da instituição19, outro para a rede de antigos
estudantes20, outro chamado "Estou na UC"21, e um último aparentemente
abandonado22), para além de uma extensão da própria UCV23. Muitos dos vídeos
são comuns entre os vários canais, o que é visível, sobretudo nos conteúdos
carregados após a data de criação da UCV, no final de 2010.
Efetivamente, verifica-se que são poucas as IES que não têm um espaço de oferta
estruturada de vídeos online. Só a UM, a UAC e a UCP não têm um canal num dos
formatos já referidos. Estas universidades optam por outra estratégia na
divulgação de vídeo. Partindo destes casos, há duas realidades que importa
destacar e distinguir: por um lado, a colocação de vídeo no portal da IES, por
outro, a atividade diferenciada e autónoma das unidades orgânicas e cursos das
universidades24. A UM coloca vídeo na home page do siteda universidade. Mas,
além disso, são rastreáveis sete canais oficiais mantidos por unidades
orgânicas, cursos e projetos da UM no You Tube e no Vimeo25. A UCP tem uma
situação com bastantes paralelismos, mas constitui uma teia bem mais densa do
que a da UM. Entre centros regionais, faculdades, institutos e cursos, a UCP
tem um total de 15 canais no YouTube e no Vimeo26. Além disso, algumas unidades
orgânicas têm vídeo inserido na respetiva home page, como é o caso da Faculdade
de Ciências Humanas, do Instituto de Bioética ou da Faculdade de Economia e
Gestão.
A UAC não tem canais de vídeo da IES. Encontram-se, porém, no YouTube, um canal
do Gabinete de Relações Internacionais27e um outro do Departamento de
Oceanografia e Pescas da UAC28, com imagens resultantes da investigação
científica sobre a vida marítima.
Da observação dos sites destacam-se ainda algumas constatações que importa
referir. A existência de canais sem atividade é frequente. Isso é visível em
canais dedicados (UEvoraTV), em canais do YouTube (é o caso - entre outros - de
um dos dois canais do ISCTE29, cuja última publicação tem dois anos) e no Vimeo
(como se verifica no canal da UC, com apenas uma publicação datada de 200930).
Outro aspeto relevante é a quase ausência de vídeo em destaque na home page da
IES. De facto, apesar desta proliferação do vídeo sob a alçada das
universidades, há uma fraca aposta na colocação destes conteúdos na home page:
apenas 12,5% das universidades optam por lhe dar destaque na principal página
da instituição. Relativamente ao iTunesU, a plataforma da Apple que aloja e
distribui conteúdos educativos, há seis IES em Portugal que participam no
projeto. Dessas, apenas a UC está inserida no universo deste estudo. No caso da
UC, todos os conteúdos são de natureza educativa, e a maior parte não está
disponível fora desta plataforma.
Discussão
A utilização do vídeo online nas universidades portuguesas constitui uma
realidade generalizada e diversa. Em Portugal, tal como noutros países, a
transformação do ensino superior num produto e o endurecimento da luta pela
captação de alunos condicionou fortemente o desenvolvimento e a aplicação deste
instrumento. Efetivamente - e isso é muito visível no âmbito das instituições
centrais, a intenção da produção videográfica prende-se, maioritariamente com a
comunicação corporativa e com a atração de novos alunos.
Os canais de vídeo online surgem, pois, nas IES como uma forma de diversificar
as plataformas de comunicação da marca, reforçando-a e fortalecendo a relação
desta com os (potenciais) consumidores (Nysveen, Thorbjornsen, & Pedersen,
2005).
Este estudo mostra que, apesar de ser considerada importante, a comunicação
através do vídeo online, nem sempre é articulada. As instituições centrais,
normalmente através das reitorias ou dos serviços de administração, desenvolvem
canais que por vezes acabam por coabitar com outros produtos semelhantes
associados à mesma instituição, o que pode ter consequências na harmonia da
chamada arquitectura da marca (Hemsley-Brown & Goonawardana, 2007). Duas
leituras podem ser feitas dessa realidade: uma passa pela inadvertida dispersão
da eficácia, a outra pode decorrer de uma estratégia voluntária de
multiplicação das portas de entrada, segmentando os públicos (com os mesmos
conteúdos), com o objetivo de chegar a mais pessoas. Independentemente da
motivação que leva a essa divisão e dos resultados que esta produz, constata-se
que raramente há uma articulação global visível da oferta videográfica dentro
das unidades que compõem as IES. Isto é: produz quem tem os meios e a
sensibilidade para essa linguagem. De outra forma, não seria possível explicar
a aleatoriedade da existência de canais em determinados cursos ou faculdades,
perante a ausência nas restantes estruturas da mesma universidade.
Relativamente à organização e apresentação de conteúdos, alguns canais espelham
uma preocupação vincada de criar um registo dinâmico da vida na instituição. E
uma das formas mais consistentes usadas com esse intuito é a constituição de
canais dedicados, por oposição a apresentações não estruturadas ou à simples
disponibilização em plataformas de alojamento. As web TV surgem como
plataformas online dedicadas e organizadas pelas IES, como contraponto à opção
tomada por algumas universidades de disponibilizar vídeos de forma errática,
sem periodicidade definida, nem alinhamento temático ou página de alojamento
estável. Efetivamente, a criação de uma web TV tem claras vantagens em relação
a essa prática, uma vez que se constrói uma visão de conjunto assente numa
continuação temporal. A perceção de que há um canal estruturado, com diversos
conteúdos organizados que refletem a imagem e a marca da instituição, pode
representar uma abordagem mais interessante em relação à informalidade e
dispersão de outras soluções, sobretudo quando se quer promover um regresso
regular à página para visualização de novos conteúdos. A quantidade e a
diversidade dos eventos registados acabam também por tornar-se num espelho da
marca da IES, que assim tenta associar-se a uma imagem ativa. De todo o modo, a
existência de grelhas de programas definidas não constitui o modelo maioritário
neste universo. Com efeito, ainda há varias universidades que produzem vídeos
para a web só e apenas quando há motivo de reportagem.
A natureza do projeto condiciona igualmente a periodicidade e a regularidade da
produção. Os alunos são uma peça fundamental deste puzzle, mesmo quando estão
só do lado de fora. O pulsar das IES implica, embora com diferentes graus, uma
sazonalidade na produção. Há universidades que produzem todo o ano, mas que
baixam a sua produção nas férias letivas. Há outras que produzem apenas quando
os alunos têm trabalhos em cadeiras audiovisuais, normalmente ligadas às áreas
do jornalismo.
O contexto revela também algumas disparidades na denominação da autoria dos
vídeos em plataformas externas de alojamento. Efetivamente, podem questionar-se
os esforços desenvolvidos para tornar os vídeos visíveis, pesquisáveis e
rapidamente associados à instituição. A denominação do autor pode ser um
obstáculo à consulta da página e à pesquisa da informação, sobretudo se este
for uma entidade hierarquicamente intermédia na organização da IES que, naquele
contexto, pretende representar toda a instituição.
Este é, pois, um terreno em clara expansão. O vídeo espalhou-se pelos sites,
subsites e plataformas de alojamento, mas raramente de forma articulada e
objetiva. Essa poderá ser a fase seguinte, porventura alavancada pela escassez
de meios provocada pela crise, ou pela procura de uma maior eficiência
produtiva: a articulação da oferta em vídeo dentro das IES.