A gestão da informação do conhecimento organizacional das empresas
Introdução
As mudanças resultantes da globalização das atividades económicas e dos
negócios e a internacionalização dos mercados, exigem cada vez mais
transparência. A crescente complexidade dos negócios, a competitividade das
empresas e o surgimento das novas tecnologias da informação e comunicação
(TICs), deram origem a uma nova realidade (Costa-Sánchez, 2014; de Pablos,
Soret & Lopez, 2013; Leidner, 2010; Webster, 2014). As empresas têm vindo a
desenvolver as atividades num ambiente que se caracteriza por uma economia
baseada no conhecimento, em tecnologia intensiva e em constante mudança. O
conhecimento tornou-se o motor do crescimento económico e da melhoria da
produtividade, tornando-se o principal fator produtivo (Bueno, 1998;
Dzinkowski, 2000; Sveiby, 1997) e o principal recurso das empresas (Grant,
1996; Nonaka & Takeuchi, 1995; Spender, 1996). Por outro lado, as TIC
impulsionaram a criação, produção, transmissão, distribuição e exploração de
todo o tipo de conhecimento (Linares, Piñero, Rodríguez & Pérez, 2014;
Nonaka e Takeuchi, 1995; Qureshil, Kamal & Wolcott, 2009), quer teórico
(científico e técnico) quer empírico (com base na experiência e através da
observação e experimentação). Este conhecimento tem servido para as empresas
lidarem com o aumento da competitividade e fazer face à necessidade permanente
de inovação (Guadamillas & Donate, 2006; Wijk, Jansen & Lyles, 2008).
Perante esse cenário, as empresas enfrentam o desafio de responder, mudando as
estruturas organizacionais, e a forma de fazer negócios, recorrendo a novas
técnicas de gestão. A capacidade de inovar das empresas pode ser considerada
como um dos principais fatores intangíveis que podem gerar vantagens
competitivas (Lascurain, Madera, Ortoll & Sanz, 2010; Miller, Samambaia
& Cardinal, 2007) através da incorporação do conhecimento em processos,
produtos, atividades, etc, (Seidler & Hartmann, 2008), tornando-se na pedra
angular da inovação e do desenvolvimento económico das sociedades (Bueno, 1998,
David & Foray, 2002; OECD, 1996).
Como resultado, a capacidade organizacional em adquirir informações,
transformá-las em conhecimento, incorporar como aprendizagem, compartilhá-la
rapidamente e implementá-la onde, como e quando necessário, é o mais importante
para lidar com a turbulência do ambiente (Grant, 1996; Nonaka & Takeuchi,
1995). É por isso que a informação e o conhecimento são considerados como as
principais fontes das vantagens competitivas (Davenport & Prusak, 1998;
Wijk, Jansen & Lyles, 2008). Elas estimulam o desenvolvimento económico,
criatividade, invenção e sua aplicação, em novos produtos, serviços e processos
que geram a criação de valor e aumentam a produtividade e a rentabilidade
(Drucker, 1993). Juntamente com os restantes recursos intangíveis disponíveis
nas empresas começaram a ter um interesse crescente por parte da comunidade
académica e ser objeto de estudo (Carrillo, Castillo & Tato, 2008).
Esses recursos têm origens diferentes como pessoas, organização e contexto
socioeconómico, formando o que é chamado de "Capital Intelectual".
Sveiby (1997) classifica-o em três tipos: competências dos colaboradores (ou
capital humano) refere-se ao conhecimento por parte das pessoas e que se
reflete na educação e experiência dos colaboradores; estrutura interna (ou
capital estrutural), que se refere ao conhecimento que vem da organização e que
se consubstancia em I&D, na tecnologia, no estilo de gestão, patentes,
cultura, processos e gestão; estrutura externa (ou capital relacional), que é o
conhecimento que vem de fora da empresa, inclui relações com clientes e
fornecedores, marcas e reputação. Tendo presente a importância da informação e
do conhecimento, este artigo incide sobre o estudo e análise do conhecimento
que as empresas têm sido capazes de internalizar e que permanece ao longo do
tempo dentro das mesmas (Bontis 2001; Euroforum, 1998), ou seja, o Capital
Estrutural. Isto inclui todos os conhecimentos estruturados dos quais depende a
eficácia e a eficiência interna das empresas: os sistemas de informação e de
comunicação, a tecnologia disponível, os processos de trabalho, as patentes, os
sistemas de gestão, a filosofia e a cultura da empresa (Sveiby, 1997).
Nesse sentido, a publicação de informação voluntária das empresas sobre o
capital estrutural é uma ferramenta valiosa de informação para todas as partes
interessadas (stakeholders), porque estes querem ter mais informação sobre os
recursos que criam riqueza nas empresas, tornando-se num elemento essencial da
prestação de contas para as pessoas com interesses legítimos nas empresas. A
divulgação desta informação pode melhorar a confiança e comprometimento dos
colaboradores, dar mais legitimidade às atividades da empresa, atrair melhores
parceiros e, em geral, melhorar a reputação da empresa (Carrillo, Castillo
& Tato, 2008; Freitas & Lobão, 2011).
No entanto, mesmo quando há divulgação de informação, as empresas usam uma
variedade de relatórios e recursos (imprensa especializada, folhetos,
relatórios anuais, relatórios de capital intelectual, relatórios de
responsabilidade social, apresentações, conversas telefónicas, etc.). O
relatório anual é a via mais utilizada pelas empresas para divulgar
informações. Isto deve-se a duas razões principais: primeiro, a empresa tem o
controlo editorial sobre o documento e, segundo, é o documento mais amplamente
distribuído pela empresa. Para esse fim, o objetivo deste trabalho centrou-se
na análise das informações sobre o conhecimento organizacional (Capital
Estrutural) divulgado pelas empresas nos seus relatórios anuais obtidos através
da sua página da internet, bem como a evolução sofrida nos anos em estudo. Para
alcançar este objetivo, foram colocadas as seguintes questões de investigação:
- Qual é a quantidade de informação sobre o capital estrutural
divulgado pelas empresas?
- Qual é a evolução do nível de informação relativa ao capital
estrutural divulgado pelas empresas?
- Existem padrões comuns de comportamento em relação à divulgação de
informações sobre o capital estrutural entre as empresas?
A metodologia utilizada foi a análise de conteúdo (Krippendorff, 2004), para a
qual foi criada um índice de divulgação de capital estrutural, e cinco
subíndices correspondentes às subcategorias do mesmo, o que nos permitiu
quantificar a quantidade de informações voluntárias prestadas pelas empresas.
Enquadramento teórico
O interesse pelo conhecimento e os intangíveis reflete-se numa série de estudos
cobrindo várias áreas que vão desde a mensuração e a divulgação, gestão e
administração de empresas e o impacto sobre o crescimento económico (Bueno,
1998; Guthrie, Petty & Ricceri, 2006; Tejedo & Tejada, 2013; Vickery,
1999). Estudos realizados mostram que a perspectiva da gestão do conhecimento
envolve a criação de valor a partir dos ativos intangíveis (PWC, 2001; de Tena
& Ongallo, 2005). Assim, a gestão do conhecimento terá reflexo na melhoria
de processos, produtos e serviços, inovação e desenvolvimento, novos produtos e
serviços, maior motivação, satisfação e produtividade dos funcionários e
melhoria nas relações com os clientes. Ela vai permitir aumentar o capital
intelectual das empresas devido à criação de intangíveis. Sveiby (2001, p.
347), partindo da Teoria sobre Organizações do Conhecimento, define uma
estratégia para maximizar o valor da empresa. O autor defende que o
conhecimento dentro da empresa pode ser encontrado nos empregados e executivos,
seus fornecedores e clientes, nas suas relações com seus pares da indústria e
nos sistemas de informação da empresa. Assim, a criação de valor é alcançado
por meio de uma eventual transferência de conhecimento, bidireccional, que está
representada na Figura_1.
Os diferentes fluxos de conhecimento estão ligados aos vários blocos que
compõem o capital intelectual de uma empresa (Capital Humano, Relacional e
Estrutural). As pessoas (capital humano) são aqueles que têm o conhecimento,
este é partilhado, utilizado e divulgado (Capital Relacional), sendo finalmente
institucionalizado e codificado pelas empresas (Capital Estrutural). Neste
sentido, este trabalho concentra-se no estudo do Capital Estrutural, analisando
as informações divulgadas pelas empresas. No entanto, a dificuldade neste tipo
de estudos no que concerne à identificação e definição com precisão dos
intangíveis fez com que não exista uma padronização ou qualquer estrutura
conceitual sobre esta questão. Há uma variedade de estruturas que têm sido
utilizadas por académicos para classificar e definir os intangíveis (Brooking,
1997; Euroforum, 1998; Sveiby, 1997). A maioria dos estudos baseiam-se no
modelo desenvolvido por Sveiby (1997), que foi posteriormente alterado por
Guthrie & Petty (2000). Nesse sentido, e seguindo o quadro inicial de
Sveiby (1997), montamos um modelo conceptual para nos ajudar a compreender o
que entendemos por Capital Estrutural. A categoria de capital estrutural é
constituída por um número de subcategorias e itens específicos (ver Tabela_1).
Este modelo que configuramos será utilizado para estudar se as empresas estão a
fornecer informações sobre o seu Capital Estrutural.
Metodologia
A análise proposta foi realizada através do emprego da metodologia de análise
de conteúdo (Krippendorff, 2004). Para assegurar a confiabilidade da análise de
conteúdo foram consideradas as indicações de Guthrie, Petty & Ricceri
(2006) que consideram que, no caso de um único codificador, se tiver sido
determinado um período suficiente de formação e as decisões de codificação
chegarem a um nível aceitável na amostra piloto realizada, pode-se testar a
fiabilidade no processo de depuração dos dados. No entanto, para suprir a falta
de transparência na codificação de dados (Beattie & Thomson, 2007), foram
realizados os passos que são apresentadas abaixo.
Período do estudo
O período escolhido abrange cinco anos, de 2004 a 2008 (inclusive). Esta
escolha é motivada na sequência da aprovação, em Espanha, da Lei 26/2003, de 17
de Julho, sobre transparência das informações, que regula todos os emitentes de
valores mobiliários e instrumentos financeiros admitidos à negociação em bolsa,
onde se afirma no parágrafo 2 do artigo 117, que as empresas devem ter uma
página na internet para divulgar informações que facilite o acesso, a partir de
2004, aos documentos analisados de forma mais fácil e acessível. O período de
2009-2013 será deixado para estudos posteriores em virtude da existência de uma
série de fusões de empresas que distorceram a série de dados.
Definição da população e escolha da amostra
As empresas listadas no mercado contínuo espanhol que foram incluídos no índice
de ações IBEX 35, no período 2004-2008 são a população de partida, uma vez que
estas são as mais suscetíveis a maior transparência. Opta-se por um desenho da
amostra dirigido ou não probabilística, considerando-se as empresas incluídas
no índice em 2008 (já que nos últimos anos tem havido fusões e algumas empresas
deixaram este índice) e mantendo o resto fixo durante anos, tendo como
referência o ano de 2004. A amostra é constituída por 23 empresas,
representando 65,7% da população inicial. A distribuição por setores das 23
empresas da amostra é apresentada na Figura_2.
Seleção e definição das unidades de análise
A seleção das unidades de análise mais adequadas é uma questão importante na
coleta de dados (Camões, 2012), uma vez que se pretende codificar informações
em diferentes categorias. Deve ficar claro que dados são analisados, como são
definidos e de que documentos são extraídos. Assim, as unidades de amostragem
foram os relatórios anuais, os de registro são a presença ou ausência de
informação e para as unidades de contexto foi analisada a informação ao nível
das frases.
Adoção de um modelo para classificar a informação
Para a codificação dos dados foi seguido um modelo conceptual que foi definido
na secção anterior.
A categoria de Capital Estrutural é constituída por 6 subcategorias e um total
de 12 elementos intangíveis.
Definição do sistema de quantificação mediante as regras de recontagem
A quantificação das unidades de registro foi realizada através da análise de
presença/ausência (Krippendorff, 2004), dos diferentes elementos intangíveis.
Para o estudo das seis subcategorias de Capital Estrutural foram utilizados
índices não ponderados, a fim de agrupar os ativos intangíveis em suas
subcategorias para quantificar o nível de informações divulgado:
Onde Ij é o índice de divulgação não ponderado da empresa j, i é o elemento
intangível, Xij a pontuação obtida pela empresa j do elemento i.
Consequentemente, Xij tomará o valor de 1 se a empresa j divulgou o elemento
intangível i e, em caso contrário tomará o valor de 0 se não foi divulgado.
Finalmente, foi obtido um índice de divulgação do Capital Estrutural, na mesma
linha que os anteriores, que serão a agregação dos mesmos, ou a agregação de
todos os elementos intangíveis:
Análise dos dados e resultados
Para atingir o objetivo e, portanto, para resolver as questões de pesquisa
levantadas para esse fim, realizou-se uma análise descritiva de cada um dos
elementos intangíveis que constituem o Capital Estrutural, a fim de verificar
se eles são comunicados ou divulgados pelas empresas durante os anos em estudo.
Além disso, e para conhecer o comportamento de todas as variáveis que foram
consideradas no estudo foram obtidas as principais medidas de tendência,
dispersão de distribuição de frequência. Usando esta técnica obtém-se uma
compreensão básica dos dados, bem como a importância de cada categoria das
variáveis avaliadas.
Uma vez realizada esta análise descritiva inicial, em seguida, e antes de
conhecer qual será o teste estatístico a utilizar, serão realizados testes de
normalidade (Teste de Kolmogorov-Smirnov e Teste de Shapiro-Wilks, ver Tabela
9). De tal forma que, se é sustentável que as variáveis são normais aplicam-se
testes paramétricos e, caso contrário, testes não paramétricos.
Para a realização da análise de conteúdo foi utilizado o programa MAXQDA,
apesar da codificação ter sido realizada manualmente. As técnicas estatísticas
utilizadas foram realizadas com o SPSS 19.
A Tabela_5 mostra que, em 2004, 2005 e 2006, a Filosofia de Gestão foi o
elemento mais divulgado com 86,96% das empresas a fornecem informações, sendo
os Segredos Comerciais e os Copyrights os menos relatados. No ano de 2007 o
elemento mais divulgado foi referente a Sistemas de Rede, Processos de Gestão e
Cultura Corporativa, com uma média de 82,61% de empresas divulgaram esta
informação. No ano de 2008, há mais uma empresa a fornecer informações sobre os
Sistema de Rede e sobre os Processos de Gestão, com 86,96% das empresas que
divulgam esta informação. Por outro lado, verificou-se que, como ocorreu nos
anos anteriores, em 2007 e 2008 não há empresas a divulgar informações sobre os
Segredos Comerciais e Copyrights.
Na Tabela_6, podemos ver que para os anos de 2004, 2005 e 2006, a Filosofia de
Gestão foi a subcategoria mais difundida com uma média de 87%, sendo a menos
divulgada a subcategoria de Propriedade Intelectual. No entanto, para os anos
de 2007 e 2008 a subcategoria mais divulgada foi a Cultura da Empresa, com uma
média de 83%. Assim, para a média do período 2004-2008 a subcategoria mais
divulgada foi Filosofia de Gestão, com uma média de 84%, e a Propriedade
Intelectual a menos divulgada, com uma média de 5%.
No mesmo sentido, a Tabela_7 mostra que, para o período em análise, a maioria
das empresas fornecem informações sobre a Filosofia da sua organização, com um
valor médio que ascende a 0,84.
Finalmente obtivemos o índice de difusão do Capital Estrutural (ver Tabela_8),
o qual reflete que, para o período de 2004-2005, quase metade das empresas
fornecem informações sobre o seu Capital Estrutural, especificamente 49% das
empresas. Além disso, o índice está próximo do valor médio, e a dispersão,
medida pelo desvio padrão não é muito elevada, cerca de 0,23.
Depois de fazer a análise da evolução da política informativa do Capital
Estrutural das empresas do IBEX 35 é importante saber se a mudança no nível de
divulgação, para cada um dos anos objeto do estudo medido pelo índice de
Capital Estrutural, tem sido muito importante para as empresas. Com o objetivo
de testar essa afirmação e responder à segunda pergunta de investigação, foram
formuladas as seguintes hipóteses nula e alternativa:
H0: A quantidade de informação relativa ao Capital Estrutural para os anos do
período compreendido entre 2004-2008 não difere entre si (é igual).
ICE2004=ICE2005=ICE2006=ICE2007=ICE2008
H1: A quantidade de informação relativa ao Capital Estrutural para os anos do
período compreendido entre 2004-2008 difere entre si (é diferente).
ICE2004≠ICE2005≠ICE2006≠ICE2007≠ICE2008
A fim de verificar a existência de comportamentos diferentes entre os anos em
estudo, foram aplicadas técnicas estatísticas para contrastar se esses
comportamentos são significativos. Em primeiro lugar, será verificado o
cumprimento dos pressupostos de normalidade. Para verificar se são atendidos
esses pressupostos foi utilizado o Teste de Kolmogorov-Smirnov com a
modificação de Lillierfors e o Teste de Shapiro-Wilks. O Teste de Kolmogorov-
Smirnov é o mais utilizado e é considerado um dos testes mais poderosos. Para
este teste as hipóteses são as seguintes:
H0: O conjunto de dados segue uma distribuição normal.
H1: O conjunto de dados não segue uma distribuição normal.
É necessário estudar a significância estatística do índice de capital
estrutural (ICE), para um nível de confiança de 95% e um nível de significância
de 5% para que, se o valor-p que está associado é menor que α (determinada em
0,05) a hipótese nula é rejeitada. Assim, de acordo com o Teste de Kolmogorov-
Smirnov, observa-se que todos os valor-p são inferiores a 0,05. Por
conseguinte, o referido índice, em cada um dos anos analisados, não se
comportou normalmente. Ao analisar o Teste Shapiro-Wilk sobre a normalidade dos
dados obtém-se as mesmas conclusões.
A conclusão da análise do teste de normalidade leva a considerar um forte
incumprimento da hipótese da normalidade por parte desse índice. No entanto,
justifica-se quando se considera que, de acordo com o Teorema do Limite
Central, uma das condições para o cumprimento da normalidade das variáveis é o
número de indivíduos (observações) da amostra que tem de ser superior a 30.
Esta falta de normalidade exige a utilização do teste não paramétrico, ou seja,
o Teste de Friedman, que é usado para testar a possível existência de
diferenças significativas nas médias das variáveis analisadas para conhecer se
houve modificações no nível de divulgação ao longo do tempo. Também se utiliza
o coeficiente de concordância W Kendall para medir o grau de relação entre os
diferentes exercícios económicos analisados, que é baseado nos mesmos
intervalos atribuídos ao Teste de Friedman. Portanto, neste caso, o resultado
do Teste de Friedman está totalmente relacionado ao valor de correlação de
Kendall, permitindo a confirmação do resultado obtido.
H0: Os postos somados para cada variável são iguais.
H1: Os postos somados para cada variável não são iguais.
No caso em que, com o contraste a priori de Friedman, são significativos com
valor-p <0,05 rejeita-se a hipótese nula, o que é uma evidência de diferenças
significativas entre os anos do período de 2004-2008, contudo não se conheceria
em que pares de anos se registam essas diferenças. Assim, é necessário realizar
testes post-hoc. Especificamente, o Teste de Wilcoxon Signed Ranks é adequado
para este caso.
Estes intervalos indicam que nos exercícios de 2006 e 2007 as empresas
apresentaram níveis maiores de divulgação do Capital Estrutural. Observando o
teste estatístico de contraste χ2 (4) = 1,813 o valor-p é maior que 0,05, não
se podendo rejeitar a hipótese nula. Portanto, uma vez que as diferenças
observadas entre as 5 medições de intervalos não são estatisticamente
significativas, de acordo com o Teste de Friedman, podemos afirmar que o nível
de divulgação do Capital Estrutural não variou significativamente durante os
exercícios analisados. Por outro lado, o coeficiente de concordância de Kendall
permite verificar se para "k" amostras relacionadas elas provêm da
mesma população. Assim, quanto mais iguais são os intervalos médios, menos
concordância haverá. Este teste pode ser interpretado como uma medida de
concordância, variando de 0 (ausência de acordo) a 1 (com concordância). No
presente estudo, o coeficiente de Kendall W é igual a 0,020, o que, ao estar
próximo de zero indica uma falta de concordância no nível de divulgação de
informação sobre o Capital Estrutural entre os vários exercícios analisados.
Como não existem diferenças significativas, entendemos que não é necessário
aplicar o teste de Wilcoxon para cada ano fiscal a comparar (para cada par).
Podemos afirmar que, para o período 2004-2008, a quantidade de informações
fornecidas pelas empresas sobre o Capital Estrutural não foi significativamente
modificado para cada um dos anos.
Finalmente, para abordar a existência de padrões de comportamento nas empresas
da amostra, foi formulada a seguinte hipótese:
Os diferentes setores produtivos têm diferentes níveis de capital estrutural:
H0: Os diferentes setores produtivos não têm diferentes níveis de
divulgação sobre o Capital Estrutural
H1: Os diferentes setores produtivos têm diferentes níveis de divulgação sobre
o Capital Estrutural
Para testar essa hipótese, começamos por agrupar a variável setor de acordo com
os seis setores aos quais pertencem as empresas que fazem parte do estudo.
Assim, após verificar os pressupostos de não normalidade para os dados,
utilizamos o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis (que se assemelha ao teste
paramétrico ANOVA) para corroborar a hipótese nula. Este teste analisa se as
discrepâncias entre os seis períodos médios são suficientemente grandes para
considerar que há diferenças significativas entre setores ou não.
A Tabela_11 mostra que há discrepâncias entre os seis setores, determinando que
eles não são iguais. Além disso, analisando detalhadamente o índice pode-se
afirmar que:
ICE: os setores mais representativos em termos de maior nível de divulgação de
Capital Estrutural são o de Tecnologia e Telecomunicações e o de Indústria e
Construção. Observa-se também que X2(5) tem um valor de 15.362, com um p =
0,009, o que confirma a existência de diferenças significativas entre os
setores analisados, de acordo com o nível de divulgação sobre o Capital
Estrutural. Neste sentido, podemos afirmar que existem diferenças
significativas entre o nível de divulgação do Capital Estrutural e o setor
produtivo a que pertencem as empresas. O setor produtivo, com maior nível de
divulgação é o de Tecnologia e Telecomunicações. É um dos setores mais ativo na
criação de Capital Estrutural, por se tratar de alta tecnologia, e portanto
intensivo em intangíveis. Isto é consistente com a classificação das atividades
baseadas no conhecimento definido pela OCDE (2001, p. 126-205 e 208). Em
relação ao nível de divulgação, o setor de Serviços de Consumo apresenta uma
média de 0,24. Esta é coincidente com a classificação da OCDE (2001), que a
considera como uma atividade não baseada no conhecimento e, portanto, não é um
setor intensivo em Capital Estrutural. Neste sentido, os setores mais
intensivos na criação de Capital Estrutural são os que realizam mais
divulgação.
Conclusão
As novas tecnologias de informação e comunicação deram origem a uma nova
realidade no mundo dos negócios. O desenvolvimento da internet, como meio para
a divulgação da informação corporativa criou uma nova forma de comunicação
entre as empresas e os seus grupos de interesse. Apesar da importância que tem
para as empresas fornecer informações sobre o Capital Estrutural, uma vez que
pode conduzir a uma melhoria da sua imagem e da reputação para os stakeholders,
e proporcionar um aumento da confiança das empresas que divulgam essa
informação, este estudo mostra que há pouca divulgação sobre o conhecimento
organizacional. Tal pode resultar do receio que possa existir em algumas
empresas em divulgar informações que possam ser úteis para os concorrentes, o
que pode ser uma fonte de vantagem competitiva a longo prazo. Convém contudo
salientar que a maioria das empresas estão a divulgar informações sobre a sua
filosofia e cultura de forma voluntária, enviando sinais para o mercado das
boas práticas da empresa, e da sua maneira e forma de atuar. A informar por
parte das empresas o seu capital estrutural pode ser uma boa ferramenta de
comunicação entre estas e os seus stakeholders, permitindo dar a conhecer de
maneira efetiva o modelo de gestão que está implementado no seio da empresa.
Assim, uma vez que disponham dessa informação os stakeholders devolverão valor
à empresa sob a forma de reputação corporativa. Por esta razão, deve-se
incentivar as empresas a boa gestão da informação relativa ao seu conhecimento
organizacional para que esta chegue aos stakeholders e estes o reconheçam e
possam devolver valor à empresa sob a forma de confiança, credibilidade e
fidelidade, ou seja, sob a forma de reputação. Também ficou demonstrado que as
empresas ao longo dos anos em análise, mudaram pouco os níveis das informações
divulgadas, não sendo significativas as alterações realizadas. Elas mantiveram
ao longo do tempo a quantidade de informação divulgada sobre o Capital
Estrutural, apesar de estarem envolvidas na Era do Conhecimento.
Os setores mais intensivos em conhecimento são aqueles que estão a divulgar
maior quantidade de informações sobre o seu Capital Estrutural. Destaca-se o
setor das Tecnologia e Telecomunicações que divulga mais informações. Tal deve-
se principalmente ao facto destes setores realizarem grandes investimentos em
novas tecnologias e I&D, querendo divulgar informação para o exterior sobre
o investimento realizado e que se espera irá criar riqueza para a empresa a
longo prazo. Não obstante, acreditamos que seria conveniente que as empresas,
independentemente do setor industrial a que pertençam, divulguem informação
sobre o seu conhecimento organizacional com a finalidade de aumentar o valor
percebido pelos stakeholders sobre elas.
A principal limitação deste estudo refere-se principalmente à fonte de recolha
de dados que foi limitada aos relatórios anuais das empresas. Seria útil que
futuros estudos analisassem outros meios de comunicação utilizados pelas
empresas, como por exemplo a imprensa. Uma futura linha de investigação poderia
ser o estudo dos fatores que tornam as empresas mais susceptíveis de levar a
cabo uma estratégia de comunicação do Capital Estrutural.