Conteúdo e interatividade nos portais das revistas brasileiras: uma proposta
para análise da cobertura pré-eleitoral
Introdução
Com a crescente importância da internet no dia a dia dos brasileiros, verifica-
se que veículos da imprensa nacional estão se adaptando e migrando também para
a produção online. As revistas "Veja" e "CartaCapital"
são exemplos dessa mudança. Além de circularem semanalmente como revistas
impressas, os dois veículos produzem, constantemente e sem periodicidade
definida, matérias para seus portais. Essa mudança na produção jornalística
para a internet também desperta o interesse de pesquisas, antes voltadas apenas
aos impressos e outros veículos tradicionais, como as desenvolvidas na relação
comunicação e política. No entanto, dada a possibilidade de produzir conteúdos
novos a todo momento, sem depender da periodicidade da versão impressa, os
portais eletrônicos tornam-se uma fonte independente de conteúdos, mais ampla e
atualizada, da revista propriamente dita. Além disso, os portais de conteúdos
permitem analisar em parte os efeitos que os conteúdos têm no público, pois
abrem espaço para manifestações dos webleitores, tais como a possibilidade de
compartilhamento de conteúdos em redes sociais ou a partir de comentários sobre
os textos no próprio portal.
Este artigo propõe testar uma metodologia para análise da cobertura eleitoral
em portais de revistas, considerando a possibilidade de o webleitor procurar o
conteúdo que tem interesse por meio das ferramentas de busca nos portais,
considerando um relativo distanciamento da eleição, pois estudamos um período
que antecede em mais de um ano a disputa eleitoral. Assim, replicamos aqui os
passos seguidos por um webleitor de cada uma das revistas para buscar textos
sobre a campanha eleitoral de 2014 no período de mais de um ano que antecede o
início da campanha. Com isso, pretendemos estudar a produção de conteúdo e o
nível de interação com o público de Veja e CartaCapital em seus portais
noticiosos na internet. O estudo parte da verificação da visibilidade dada aos
pré-candidatos, antes do período eleitoral. Partimos do pressuposto que mesmo
antes do eleitor começar a se interessar pelo tema é possível analisar a
tematização da política a partir das opções editoriais dos veículos de
comunicação. Para tanto são analisadas as citações de quatro pré-candidatos:
Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva
(PSB)2. Portanto, trata-se de um trabalho comparativo da produção de conteúdos
de duas revistas brasileiras, semanais e concorrentes. Em segundo momento,
analisamos as interações, a partir do número de compartilhamentos dos
webleitores com os textos que citam pelo menos um dos pré-candidatos à
presidência.
Pretendemos responder as seguintes perguntas: como os portais cobriram cada um
dos pré-candidatos no período anterior ao ano eleitoral? Ao se comparar os
conteúdos é possível encontrar traços próprios das linhas editoriais e escolhas
em cada uma das revistas? Seguindo as particularidades da cobertura, os
webleitores de cada um dos períodos também apresentam padrões próprios em
relação aos pré-candidatos à presidência do Brasil?
Três hipóteses movem esta pesquisa. A primeira é a de que o tema eleições 2014
aparece muito cedo na agenda da mídia e que os webleitores. Depois, há a
suposição de que a cobertura pré-eleitoral das duas revistas tende a ser
personalizada, focada nos pré-candidatos, com variações entre os candidatos
mais citados entre as revistas por conta de diferenças nas linhas editoriais e
preferências predominantes dos leitores de cada um dos periódicos. A revista
Veja, por ser oposicionista ao governo Dilma Rousseff, tenderia a dar mais
espaço aos candidatos de oposição; ao contrário da revista CartaCapital, que,
mais próxima do governo, daria mais visibilidade à pré-candidata à reeleição.
Ou seja, a produção dos conteúdos seria determinada por uma soma de fatores
internos e externos. Por último, também há a hipótese de que os portais das
revistas possibilitam a participação do público por meio dos mecanismos de
interatividade disponível na internet, que, em parte, reproduz as preferências
expressas nas escolhas editoriais de cada portal, o que representa um ganho
analítico em relação aos estudos de publicações impressas.
Nesta pesquisa utilizamos o banco de dados produzido pelo Grupo de Pesquisa em
Comunicação Política e Opinião Pública da Universidade Federal do Paraná (CPOP
- UFPR). O estudo considera a quantidade de posts3 disponibilizados pelos
dois portais a partir da busca sobre a palavra-chave "Eleições
2014", entre janeiro de 2013 e fevereiro de 2014. Foram registrados o
número de publicações, os títulos dos posts e os textos das chamadas. As
citações dos nomes dos quatro pré-candidatos também foram quantificadas, além
dos números de interações de cada post gerou por meio de compartilhamentos com
as redes sociais Facebook e Twitter. Utiliza-se a análise de conteúdo para
quantificar determinadas características dos textos, identificando o que e como
o conteúdo está sendo tratado. No caso do jornalismo, o que o veículo está
oferecendo para o debate público.
Não é objetivo deste trabalho uma revisão aprofundada da literatura sobre o
tema. Serão elencados apenas conceitos e teorias que fundamentam pesquisas
sobre a produção de conteúdo, a adaptação de veículos para a internet e a
comunicação política, especialmente a pré-eleitoral. Apesar de levantar
considerações sobre a possibilidade de participação do webleitor na internet,
também não se tentará comprovar, aqui, a influência dessa ação sobre a produção
de notícias dos portais.
A partir daqui, este estudo está dividido em cinco partes. A próxima faz uma
breve retomada dos principais conceitos utilizados em estudos sobre a cobertura
eleitoral, para justificar as pesquisas nessa área. Em seguida, apresentamos as
características de cada uma das revistas analisadas aqui, com a finalidade de
mostrar as particularidades das linhas editoriais em cada uma e, com isso,
justificar a proposta de análise comparativa. O tópico seguinte apresenta a
metodologia de análise, as frequências de citações de candidatos por portal e
período analisado. Após isso, é expomos a análise das interações de webleitores
com as publicações dos dois portais eletrônicos. Por fim, são apresentadas
algumas conclusões.
Estudos sobre Cobertura Eleitoral
Gomes (2011) identifica três fases de estudos sobre a relação entre comunicação
e política. A primeira engloba pesquisas iniciais sobre votos e propaganda,
desenvolvidas principalmente entre 1920 e 1940. A segunda se impõe a partir de
1960, quando a comunicação de massa, enquanto indústria, passa a ser o centro
da cena das instituições sociais. O terceiro período tem início na transição do
século XX ao XXI, quando se consolida a comunicação política como especialidade
(GOMES, 2011). Para Lima (2007, p. 84), os estudos sobre as relações entre
comunicação e política ganharam impulso, estimulados pelo debate da importância
da mídia no período de disputa eleitoral.
As teorias e estudos sobre a comunicação se desenvolveram acompanhando e
refletindo a dinâmica global e as fases vividas pela sociedade na época (WOLF,
2012; HOHLFELDT et al, 2013). Ou seja, não é possível estudar a comunicação em
uma sociedade sem considerar suas características de sociais, políticas e
econômicas. Pode-se considerar que, hoje, ao se estudar as relações entre mídia
e política, são analisados o processo democrático e o papel da comunicação
nele. As informações oriundas da mídia geram, pois, consequências nas relações
sociais, interferindo nas disputas políticas e eleitorais. Porém, é necessário
que as pesquisas em comunicação política considerem diversos outros fatores que
interagem entre si dentro de um sistema e não fiquem apenas na dualidade da
relação mídia e política (GOMES, 2011, p. 130).
Se os estudos sobre a relação mídia e política se solidificaram com os meios de
comunicação de massa, nesta terceira fase (GOMES, 2011), é cada vez mais
importante analisar a internet, enquanto mídia, na relação com a política.
Segundo Graeff (2009, p. 5), deste a última década, a internet já assume um
papel cada vez mais importante na política e no processo eleitoral. No Brasil,
a primeira eleição em que a internet desempenhou um papel político relevante
foi a de 2002, ano em que a web foi usada estrategicamente pelos candidatos
para provocar notícias em tempo real que acabaram amplificadas pela mídia,
reforçando ataques que, de outra forma, não teriam tido tanta visibilidade
(ALDÉ, 2002).
Boa parte dos pressupostos das análises da comunicação política no século XX
precisa ser revisada à luz das novas possibilidades de comunicação com
interação a partir da internet e do período pós-web, no qual os consumidores
das informações são também produtores de sentido e difusores de conteúdos,
transformando os processos de comunicação política muito mais complexos e menos
lineares. Não se trata de afirmar que os outros meios, especialmente a
televisão - grande palco das disputas políticas do século XX - tenham deixado
de ser importantes, mas a grande diferença é que as novas mídias sociais,
ferramentas de duas mãos e de organização descentralizada, são valorizadas. E
"a grande mudança nessa nova era não tem a ver só com o uso dessas novas
mídias pelos políticos, mas pelos cidadãos" (GRAEFF, 2009, p. 6).
A fragmentação, a não-linearidade e o acesso a fontes alternativas de
informação e interpretação de conteúdos nas redes digitais são o grande desafio
a ser enfrentado pelos meios de comunicação tradicionais, pois, neste cenário,
há menor possibilidade de influência direta dos conteúdos jornalísticos sobre o
teor do debate público. As pessoas têm acesso a mensagens sobre o mundo
político provenientes de uma complexa rede comunicativa, em que há emissores
dominantes e alternativos, bem como múltiplas possibilidades de leitura.
"É dentro desta realidade que precisamos entender o papel atual da mídia,
suas práticas e atores, como uma mediação fundamental entre sociedade e esfera
pública, central na elaboração e justificação das atitudes políticas"
(ALDÉ, 2004, p.2).
O jornalismo, compondo parte da mídia, é um legitimador de poder. As pessoas
tendem a confiar mais no que consomem nesta área do que em publicidades e
propagandas. Por isso, a importância da imprensa agir de modo independente
valorizando e respeitando o interesse público, evitando, assim, ser tendenciosa
em prol de utilidades privadas (ALDÉ, 2004; KOVACH e ROSENSTIEL, 2004; KARAM;
1997). Quando a imprensa se autoafirma objetiva e imparcial, ela se compromete
a separar, em sua cobertura jornalística, os fatos dos valores. Porém, Schudson
(2010) questiona o porquê de se esperar que o jornalismo, que nasceu
politicamente engajado e é dependente das forças de mercado, seja objetivo. O
que reforça a relevância de se considerar a influência e relação de outros
fatores, além da mídia e da política, nos estudos da área (GOMES, 2011; KARAM,
1997; SCHUDSON, 2010).
A questão é que com a "concorrência" de outras fontes de
informação, tais como as redes sociais online, os veículos jornalísticos de
meios tradicionais brasileiros, como os impressos, optaram por se afastar do
modelo de jornalismo objetivo e imparcial, predominante do século XX. Agora, os
veículos informativos são mais interpretativos e opinativos, tomando posições.
Isso se dá a partir da ampliação dos espaços para articulistas declaradamente
pró ou contra o Governo. As versões online dos jornais publicam notícias e
ataques ignorados que não são veiculados na mídia tradicional, com suas
limitações de espaço e controle editorial mais severo. "Comparando ambas
as versões, vemos muitos casos em que as notícias reverberam ataques dos
candidatos de forma muito mais significativa nos jornais online do que na mídia
tradicional" (ALDÉ, 2004, p.12). A questão que se coloca aos
pesquisadores neste momento é se e quanto essa "partidarização" da
cobertura política nos meios de comunicação tradicionais consegue se infiltrar
e interferir na produção noticiosa dos veículos.
Shoemaker (2011) também questiona a objetividade clamada pelo jornalismo, pois
a produção das notícias sofre influências internas e externas. O conceito de
gatekeeping explica como as mensagens são construídas por meio de um processo
de seleção e transformação de pedaços de informação, limitando o conteúdo que
chega ao público (SHOEMAKER, 2011). Já a hipótese da agenda permite analisar a
influência midiática no debate público. Parte-se do pressuposto que os temas da
agenda da mídia pautam a agenda pública (MCCOMBS, 2009). Assim, é possível
analisar os temas e a forma como eles são abordados na imprensa, a partir de
considerações sobre visibilidade e espaço na agenda midiática, chegando a
resultados sobre os efeitos do agendamento.
"Durante uma eleição, os eleitores frequentemente aprendem muito sobre os
candidatos e suas posições sobre os assuntos das notícias da mídia e da
propaganda política" (MCCOMBS, 2009 p.95). A quantidade de fontes
citadas, a origem dessas fontes e o espaço que elas ganham na matéria também
devem ser considerados. Ao chamar atenção a alguns aspectos em detrimento de
outros, as notícias influenciam os padrões pelos quais os governos,
presidentes, políticas e candidatos são julgados (MCCOMBS, 2009, p.187).
Se mesmo no jornalismo predominante do século XX a imparcialidade era discutida
pelos pesquisadores, no início do século XXI, com os meios eletrônicos e a
produção de conteúdos políticos não jornalísticos em massa na web 2.0, como a
encontrada nas redes sociais online, os pressupostos da objetividade precisam
continuar a serem testados. Já em 1998, Dizard (apud LIMA, 2001) identificava
que uma das características principais das novas mídias era a distribuição de
produtos de várias naturezas em um único canal, e muitas vezes em formatos
interativos, que dão mais controle às pessoas, especialmente na relação sobre
quais serviços obterem e de que forma fazerem isso.
A interatividade permite ao usuário direcionar as informações e gerenciar como
acessar o conteúdo de acordo com suas expectativas (CANAVILHAS, 2007). Aldé
(2004) também identifica como uma das principais diferenças para a cobertura
online, o acompanhamento dos fatos em tempo real. Na cobertura contínua dos
veículos na internet, os leitores participam do desenrolar da reportagem, ao
contrário dos leitores do jornal impresso, que recebem no dia seguinte o
resultado final de um processo de agendamento, seleção, comparação, análise e
edição (ALDÉ, 2004, p.12). Assim, hoje, pode-se considerar que a internet
influencia, altera e transforma a participação do público, ou audiência, no
processo de gatekeeping.
Identificada a importância de se estudar a comunicação política na internet na
atualidade, no próximo tópico, serão apresentadas as principais características
das duas revistas cujos conteúdos de seus portais serão analisados
comparativamente a seguir.
Revistas: do Impresso aos Portais
Um panorama atualizado do consumo midiático do país é apresentado pela
"Pesquisa Brasileira de Mídia" (BRASIL, 2014). Ela confirma que a
televisão ainda é a mídia predominante no Brasil, sendo consumida por 97% da
população, enquanto a quantidade de brasileiros que têm o hábito de acessar a
internet fica em 47%. Apesar de ainda não ser acessada por metade da população
brasileira, a internet já ganha muito destaque em comparação com os impressos.
Hoje, por exemplo, ela é consumida por mais que o triplo de brasileiros que
ainda mantém o hábito de ler revistas: 15% (BRASIL, 2014). A partir desta mesma
pesquisa, Cervi (2014) identifica que o perfil do internauta que busca
informações políticas na internet é de pessoas com escolaridade superior e com
renda alta, além de existir uma tendência de serem pessoas mais jovens.
Sobre as revistas, a pesquisa afirma que é o meio que tem a menor presença no
dia a dia dos brasileiros. Os dados apontam que apenas 1% dos entrevistados
leem revista todos os dias, enquanto 85% afirmam que não costumam ler ou nunca
leem revistas impressas (BRASIL, 2014, p.74).
A sociedade se informa cada vez mais online, mesmo em redes de relacionamento,
pois muitos são direcionados aos portais por meio de postagens em redes. Assim,
ao passo que as novas mídias se fortalecem, evidencia-se o questionamento sobre
o futuro dos veículos tradicionais, em especial os impressos. Ainda não se pode
concluir o que acontecerá com os jornais e as revistas, mas enquanto muitos
acreditam que eles estão prestes a extinguirem-se, alguns estudos demonstram as
transformações que os meios tradicionais já começaram a se submeter para se
consolidarem também na internet.
Ao realizar uma reflexão sobre a coexistência da mídia imprensa e da online,
Gonzáles (2000) definiu modelos que classificaram a evolução da imprensa na
internet. Passou-se da divulgação da página do impresso, digitalizada e em
arquivo fechado, à descoberta da hipertextualidade; e, depois, a um modelo mais
independente do impresso, em que os conteúdos disponibilizados online
complementam o que está no papel. Para Gonzáles (2000), o modelo mais atual,
denominado multimídia, é aquele em que a linguagem online já é completamente
diferenciada da impressa, e que diferentes formatos são explorados ao máximo
nas páginas dos veículos na rede.
No caso da revista impressa semanal, costuma-se encontrar reportagens mais
longas e completas, onde os temas são aprofundados, sejam eles, na
classificação de Tuchman (1978), soft ou hardnews. Softnews são notícias com
temas sem relevância social, com formatos mais livres e conteúdos voltados para
o entretenimento. As hardnews são a respeito de temas mais relevantes para o
interesse público, de caráter mais informativo, costumam ser mais formatados,
atendendo à linguagem objetiva (Tuchman, 1978). No Brasil, a maioria das
revistas em circulação é especializada e temática, com um público-alvo bem
delimitado em relação à idade, classe social e gênero. Já as revistas
CartaCapital e Veja possuem cunho jornalístico voltado ao cotidiano, com
editorias políticas e econômicas, pautadas pelos últimos acontecimentos no país
e no mundo, além de outras editorias. Assim, trabalham principalmente temas
hard news, contribuindo para o debate público. Como já apresentado, trabalha-se
aqui com a hipótese de que os temas agendados pela mídia têm alguma capacidade
de agendar os temas da agenda pública, e, portanto, a forma e conteúdo como
esses temas são abordados pelos veículos também refletem, ainda que em parte,
na organização temática do debate público.
Ao passarem a produzir matérias para seus portais online, Veja e CartaCapital
modificam periodicidade, formato e tamanho de seus produtos. Na internet,
disponibilizam matérias mais curtas, sem custos aos webleitores e em períodos
de tempo para atualizações menores. Na internet há ainda a possibilidade de
produção multimídia, como no modelo apresentado por Gonzáles (2000), apesar dos
dois portais analisados raramente explorarem outros formatos além do texto,
como vídeos e áudios. Já em relação ao texto, os portais costumam ter mais
publicações opinativas e interpretativas do que no impresso, onde há o
predomínio do texto informativo.
De acordo com Aldé (2011, p.31), a ação de se informar pela internet possui um
caráter prático e conveniente. O próprio público destaca praticidade, tempo
real, credibilidade, segmentação, detalhamento, pluralidade e interatividade
como características que motivam buscar informações online. É justamente a
proximidade e a participação do público que aparecem como uns dos diferenciais
mais importantes da internet sobre o impresso. E essa diferença que será
tratada aqui, levando em consideração a interatividade disponibilizada na
própria página da postagem, a partir da vinculação com as redes sociais. A
partir da fundamentação exposta acima, os tópicos a seguir analisam a cobertura
pré-eleitoral das duas revistas a partir do conteúdo que elas disponibilizam ao
webleitor que busca informações sobre as eleições de 2014 em seus portais.
CartaCapital
A CartaCapital é uma publicação da Editora Confiança e, segundo o seu site, é
"uma alternativa ao pensamento único da imprensa brasileira"4. A
Editora Confiança possui apenas duas publicações além da CartaCapital, as
revistas "Carta na Escola" e "Carta Fundamental". A
revista ainda se autodescreve como calcada em um bom jornalismo, baseado na
fidelidade à verdade factual, no exercício do espírito crítico e na
fiscalização do poder. Fundada em 1994, inicialmente manteve sua circulação
mensal, tornou-se quinzenal e, em 2001, passou a semanal. Segundo seu fundador
e diretor de redação, o jornalista Mino Carta, a revista tem defendido os
interesses da nação e, portanto, também das empresas nacionais e multinacionais
que trabalham em proveito do país5.
O Mídia Kit 20146 da CartaCapital divulga que a revista circula com 29 mil
exemplares semanalmente, e que seu público é de maioria das classes A e B.
Ainda sobre o público, o arquivo informa que 82% dos leitores de CartaCapital
possuem Ensino Superior completo, 63% cursam ou já cursaram uma pós-graduação e
que 40% são formados em ciências humanas. Assim, afirma que seu público é
altamente qualificado, intelectualizado e culturalmente ativo. Ou seja,
divulgam que, apesar de ser caracterizado como um público restrito e pequeno
diante a população brasileira e às revistas concorrentes, os leitores de
CartaCapital representam uma parcela importante da sociedade e que são
multiplicadores de opinião. O público de CartaCapital é tão pequeno em relação
às concorrentes, que ela nem é citada na Pesquisa Brasileira de Mídia (2014) na
pergunta espontânea sobre quais revistas os brasileiros mais leem (BRASIL,
2014, p.79).
O portal da revista na internet foi criado em 2004, e traz análises, críticas e
notícias, além de algumas matérias que são veiculadas na versão impressa da
revista. De acordo com o Mídia Kit, o portal da CartaCapital é atualizado
diariamente, acompanhando os cenários político, econômico e cultural, com
espírito crítico e profundidade. Possui uma audiência de 4,4 milhões de visitas
em suas páginas, sendo 2,3 milhões de visitas únicas, ou seja, visitas sem
repetir o visitante. A CartaCapital também mantém perfis nas redes sociais
Twitter e Facebook7, onde divulga seus conteúdos e permite a interação com seu
público leitor. Ainda no Mídia Kit de CartaCapital, está a informação de que a
internet é o segundo meio que o seu leitor mais utiliza para se informar sobre
política e economia (63%), sendo a revista impressa o primeiro meio (72%). Em
sua publicação institucional, CartaCapital afirma ainda que é a revista
brasileira que possui o maior engajamento de público no Facebook. Das mídias
sociais, CartaCapital ainda apresenta a versão digital da revista impressa, com
adaptação para smartphones e tablets.
Segundo as informações institucionais no site da revista, a CartaCapital admite
produzir um jornalismo crítico, com a publicação de análises e reflexões
aprofundadas sobre os assuntos debatidos em suas matérias, mas de modo
imparcial. Se isso ainda é presente no jornalismo impresso do veículo, no
portal da revista há muitos colunistas e autores que assinam seus posts e
assumem opiniões e posicionamentos.
Nas últimas disputas eleitorais, especialmente as presidenciais, o veículo tem
declarado publicamente seu posicionamento. Nesta de 2014, já anunciou apoio à
presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição. No editorial de Mino Carta,
veiculado no dia 04 de julho de 2014, a revista afirma que o início oficial da
campanha eleitoral é o momento certo para as definições, pois ainda há
"chão a ser percorrido" e o comprometimento imediato evita
equívocos. Sobre os demais candidatos, opositores ao governo, o mesmo editorial
afirma respeitá-los, e que são personagens de relevo da política nacional, mas
que eles "estão destinados inexoravelmente a representar, mesmo à sua
própria revelia, a pior direita, a reação na sua acepção mais trágica. A
direita nas nossas latitudes transcende os padrões da contemporaneidade, é
medieval". A declaração de apoio à reeleição de Dilma Rousseff vai em
acordo com o posicionamento assumido por CartaCapital nos últimos 12 anos,
período em que vem demonstrando aprovação ao governo do Partido dos
Trabalhadores (PT).
Veja
A Veja pertence à Editora do Grupo Abril e a revista começou a circular em
1968. O Grupo Abril é um dos maiores de comunicação da América Latina,
destacando-se além do meio impresso. O grupo atua em diferentes segmentos da
área de comunicação. De acordo com suas informações institucionais8, em 1990,
lançou o primeiro canal segmentado da televisão, a MTV, e também foi pioneira
na operação da televisão por assinatura, a TVA. Além disso, a Editora Abril é
dona de mais de 80 sites e portais com suas marcas e conteúdos. Atua, hoje, nas
áreas de mídia, gráfica, educação, distribuição e logística. Na educação, a
Abril Educação domina o mercado, sendo proprietária de diversas marcas de
editoras, sistemas de ensino, colégios e cursos preparatórios9.
De acordo com o código de conduta do Grupo Abril10, sobre a relação com a
esfera pública, a empresa deve tratar com imparcialidade todos os partidos
políticos, rejeitando a utilização de cargos, equipamentos, serviços e recursos
do ambiente de trabalho para apoiar partidos ou candidatos políticos,
relacionando-se com a esfera pública de forma clara. O código de conduta da
Abril ainda afirma que o grupo se pauta pelo respeito às leis e reconhece sua
responsabilidade perante a sociedade brasileira pela publicação e disseminação
de informações corretas, isentas e produzidas em boa fé. Além de repudiar
qualquer tipo de discriminação por credo, raça, sexo e orientação sexual ou
ideológica, condição socioeconômica e rejeitar qualquer agressão aos Diretos
Universais do homem.
Veja é a revista de maior circulação no Brasil, com mais de um milhão de
exemplares vendidos semanalmente, segundo informações oficiais da Editora
Abril. A revista aparece como a mais citada na Pesquisa Brasileira de Mídia
(2014), em resposta à pergunta espontânea sobre as revistas impressas que o
brasileiro tem costume de ler mais. Veja é citada por 25,5% dos entrevistados e
fica em primeiro lugar em todas as variáveis (faixa etária, sexo, renda
familiar) quando comparada às outras 19 revistas presentes na pesquisa (BRASIL,
2014, p.79).
A revista, assim como a sua concorrente CartaCapital, foi fundada pelo
jornalista Mino Carta, mas no caso de Veja, também pelo empresário Roberto
Civita, cuja família ainda está à frente do Grupo Abril. Segundo o Mídia Kit de
Veja, a revista possui a missão de informar, esclarecer e entreter o leitor,
elevando seu nível de compreensão dos fatos, das tendências que sejam
relevantes para a sua vida pessoal, profissional e sua compreensão do
mundo"11. Para Roberto Civita (2013)12, é fundamental que a revista seja
independente, isenta, inteligente e responsável. Afirma, ainda, que é
fundamental que busque a objetividade e que não admita pressões de governos e
governantes, amigos e inimigos, acionistas e anunciantes.
Ainda de acordo com o Mídia Kit de Veja, o público da revista impressa é, em
sua maioria, pertencente às classes A e B, tem entre 25 e 54 anos de idade e,
em 55%, constituído por mulheres. Já o público da versão digital da revista é
composto em 88% por homens, 77% casados, 69% com filhos, tem em média 45,6
anos. Eles também destacam a escolaridade e a renda de seus leitores, afirmando
que 88% possuem Ensino Superior, 58% são pós-graduados e 41% possuem renda
domiciliar acima de R$ 15 mil mensais. Ressaltar que a maioria de seu público é
homem, casado, com filhos e alta renda, reforça o caráter tradicional de Veja.
As informações institucionais apresentam o portal de Veja como um site que
possui análise, contexto e opinião em seus posts e traz tudo o que leitor
precisa para entender os fatos. Ressalta que sua cobertura online é de 24 horas
por dia, em sete dias por semana. Em números, o portal já totaliza 89,8 milhões
visualizações de páginas e 12,7 milhões de visitantes únicos. Segundo a
publicação institucional, o webleitor do portal de Veja busca análises mais
aprofundadas sobre as notícias e encontra reportagens especiais completas, além
de uma equipe de colunistas e blogueiros, com nomes consagrados, que tratam de
assuntos especializados. Além do portal e da versão digital da revista, Veja
também está nas redes sociais Facebook e Twitter13.
A revista costuma realizar coberturas políticas contrárias ao partido do
governo, tendo acirrado a postura crítica na última década, durante os governos
petistas. É comum, por exemplo, a grande visibilidade dada pela revista a
escândalos políticos que envolvam pessoas ligadas ao governo, tal como
aconteceu com o chamado "Escândalo do Mensalão, entre 2005 e 2006".
Apesar de não se declarar oficialmente, até o momento, a favor de algum
candidato às eleições presidenciais de 2014, acredita-se que a cobertura
eleitoral de Veja termine sendo favorável a um dos candidatos da oposição.
Análise empírica: frequência do Tema "Eleição 2014" nos portais de
Veja e CartaCapital
Assumimos que o número de publicações por mês permite identificar a
centralidade do tema "eleições 2014" nos portais das duas revistas
semanais analisadas aqui. Iniciamos o período de análise a partir do primeiro
mês que uma das revistas publicou texto no portal sobre as eleições
presidenciais de 2011. A Tabela_1 mostra que a CartaCapital iniciou sua
cobertura pré-eleitoral em janeiro de 2013, quase dois anos antes da eleição,
enquanto a Veja começa a publicar apenas em abril de 2013. No entanto, a partir
do mês quatro, a intensidade da presença do tema no portal da Veja é maior que
na CartaCapital. Nosso período de análise segue até fevereiro de 2014, quando
as pré-candidaturas estão mais consolidadas e os pré-candidatos melhor
definidos. Tanto que a partir desse período torna-se público que Eduardo Campos
será o candidato pelo PSB, com Marina Silva ficando como pré-candidata a vice-
presidente pelo mesmo partido. No total a Veja publicou 162 matérias sobre o
tema eleições presidenciais de 2014 em seu portal nos 14 meses analisados aqui,
enquanto a CartaCapital ficou em 57 publicações. Ou seja, a última apresentou
cerca de três vezes menos textos que a primeira. Com isso, enquanto a média
mensal de publicações da CartaCapital fica em quatro posts, a da Veja chega a
12 matérias por mês.
Além de identificar a diferença da quantidade de matérias por mês nas duas
revistas, a Tabela_1 aponta um crescimento significativo do tema a partir do
mês 10 (outubro de 2013) para os dois portais. Na CartaCapital, 75% foram
publicados a partir de outubro, e 42% só no referido mês. Já em Veja, 79% das
publicações sobre o tema ficam concentrados a partir do mês 10, que marca o
início da contagem regressiva de um ano até as eleições.
As informações sobre o volume de cobertura no período pré-eleitoral indicam que
a temporalidade dos portais informativos está diretamente vinculada a fatores
externos às vontades dos produtores ou às linhas editorais dos veículos. Ela
depende do calendário eleitoral. O mês de outubro de 2013 marca o fim do
período legal para filiações partidárias daqueles que pretendem saírem como
candidatos em 2014. Isso é o que explica o crescimento no volume de cobertura
sobre o tema a partir do mês 10. Os dois portais apresentam significativo
aumento da cobertura no período pré-eleitoral a partir do momento em que os
possíveis pré-candidatos não podem mais trocar de partido, porém há uma
diferença entre eles. No caso da CartaCapital, a produção, apesar de mais
concentrada em outubro de 2013 (42,1%), distribui-se mais igualmente nos demais
meses analisados, tendo começado antes da Veja a cobertura pré-eleitoral. Já no
caso da Veja, o padrão de cobertura é iniciado mais tarde, com número de
postagens relativamente baixo até outubro - com média de 5% do total por mês
- para aumentar significativamente após o mês 10.
No entanto, ao compararmos a produção entre os dois portais, percebe-se
claramente que Veja publica mais do que CartaCapital a partir de abril de 2013.
A média mensal passa de quatro postagens entre abril e outubro de 2013,
enquanto na CartaCapital esse número oscila entre uma e duas postagens. Se
levarmos em consideração a periodicidade dos impressos, enquanto Veja publica
pelo menos um post entre duas edições impressas, a CartaCapital fica em um post
para cada três ou quatro edições. Isso significa que, em termos de volume de
produção, a CartaCapital deu menos atenção e espaço para o tema no período pré-
eleitoral do que a Veja, pelo menos no conteúdo que se torna disponível para a
busca do webleitor sobre o tema.
As informações apresentadas até aqui não nos permitem discutir os motivos dessa
diferença, apenas especular que pelo de Veja se posicionar como revista de
oposição ao Governo Dilma Rousseff, ela possa ter optado, a partir de abril de
2013, em dar mais espaço aos candidatos de oposição, antecipando o início do
debate eleitoral. Para testar essa afirmação, é preciso verificar o volume e o
tipo de presença dos pré-candidatos nas postagens dos portais das revistas
semanais.
A Tabela_1 também apresenta os resultados de dois testes estatísticos com
finalidades distintas. O teste de diferenças de média (T de Student) para cada
uma das revistas e o teste de correlação entre as frequências mensais das
revistas Veja e CartaCapital. Com o teste T, pretendemos demonstrar a força das
diferenças das médias de postagens até outubro de 2013 e depois de outubro de
2013. Como se pode perceber pelos coeficientes e níveis de significância, as
mudanças foram estatisticamente significativas para as duas revistas. O
coeficiente T para a CartaCapital ficou em 2,487, com nível de significância de
0,029, portanto, abaixo do limite crítico, o que indica um crescimento
significativo depois de outubro, quando comparado com o período anterior. A
diferença média de postagens por mês entre os dois períodos ficou em 7,04 posts
para a CartaCapital. Os coeficientes são muito parecidos para o portal da Veja,
com coeficiente de 2,818 e nível de significância de 0,041, mais próximo do
limite crítico, porém ainda significativo do ponto de vista estatístico. A
diferença da média mensal entre os dois períodos para a Veja cresce para 16,84,
reforçando o "achado" de que a Veja começou mais tarde a cobertura
pré-eleitoral, porém, a fez com maior intensidade a partir de outubro de 2013.
O último coeficiente indica a correlação linear entre os números de postagens
mensais das duas revistas. O coeficiente de Pearson de 0,800 (sig. De 0,001)
indica que há uma correlação de 80% nas diferenças mensais de postagens sobre
as Eleições de 2014 nas duas revistas. Ou seja, a cobertura de ambas cresceu de
maneira similar ao longo do tempo, porém no caso da Veja com mais intensidade
no final do período de análise. Indicados os padrões de presença do tema, a
partir daqui, será analisado como os portais trataram os pré-candidatos no
período recortado, visto que um deles já é Presidente da República (Dilma
Rousseff), outro é senador (Aécio Neves), um é o, até então, governador do
Estado de Pernambuco (Eduardo Campos) e a última tentou ao máximo inscrever um
novo partido político para se candidatar em 2014 (Marina Silva). Por motivos
distintos, cada um deles apresentava apelo e chamava a atenção dos jornalistas
no período analisado.
Os Candidatos nos Portais
A visibilidade que os portais dão para os pré-candidatos é um importante
indicativo do tipo de cobertura que as revistas fazem sobre o tema eleitoral.
Aqui, analisamos o número de chamadas na página principal de busca do portal de
cada revista sobre as eleições de 2014 que citam ou não cada um dos pré-
candidatos. Como selecionamos os posts a partir das chamadas, o total de
chamadas aqui é equivalente ao total de posts descritos anteriormente.
Preferimos usar as citações em chamadas de posts por ocuparem um espaço maior
de visibilidade nos portais. Das 57 publicações na CartaCapital, há chamadas
com citações de pelo menos um dos pré-candidatos em 34 delas, o que representa
60% do total da cobertura. Já entre os 162 posts de Veja, há citação de pelo
menos um dos candidatos em 65 chamadas, indicando 40% do total. Esses números
gerais permitem afirmar que, pelo menos nas chamadas das publicações,
CartaCapital tende a personalizar mais a cobertura pré-eleitoral do que Veja.
Nas duas revistas, há meses em que não se cita nenhum candidato nas chamadas
dos posts sobre a disputa eleitoral, como é possível constatar na tabela a
seguir.
O segundo ponto a se analisar na cobertura dos pré-candidatos é como se
distribui a presença deles ao longo do tempo. Por ser a atual presidente e pré-
candidata à reeleição, espera-se que Dilma Rousseff seja citada mais vezes que
os demais pré-candidatos. No entanto, não é o que acontece nas duas revistas. A
CartaCapital, revista mais próxima do governo, cita Dilma em 29,41% das
chamadas de publicações, o mesmo percentual que Marina Silva (PSB). Em seguida,
vem Aécio Neves, presente em 23,53% das chamadas e, por último, Eduardo Campos
em apenas 17,65% das chamadas dos posts. Na Veja, Dilma sequer é a mais citada
nas chamadas dos posts sobre as eleições. Em primeiro lugar, aparece Marina
Silva, com presença em 36,92% das chamadas de posts, seguida de Dilma, com
24,62%. Próximo de Dilma fica Aécio Neves, com presença em 20% das chamadas e,
por último, com 18,46% de presença, Eduardo Campos.
Percebe-se que nos dois portais há um padrão de citações nas chamadas. No mês
10, o mês que detêm maior número de publicações e representa o fim do prazo
para filiações, existe um crescimento nas citações dos quatro pré-candidatos
nas chamadas dos dois portais. Depois, a CartaCapital volta ao padrão anterior,
com poucas citações de pré-candidatos nas chamadas, enquanto a Veja mantém o
número de citações em chamadas acima do que se percebe no período anterior.
Isso indica que o período de encerramento das filiações, no mês 10, teve um
impacto sazonal no número de citações de pré-candidatos em chamadas da
CartaCapital. Diferente de Veja, em que houve uma alteração permanente - com
crescimento - da presença dos pré-candidatos sem suas chamadas.
A forma como as citações dos pré-candidatos se distribuem nas chamadas também é
importante para entender o tratamento que cada portal dá aos políticos. A
CartaCapital cita 10 vezes Dilma Rousseff em chamadas, o que representa 29,41%
do total de citações dos pré-candidatos. Esse é o mesmo percentual de citações
de Marina Silva (29,41%), indicando que as duas pré-candidatas receberam o
mesmo número de citações em chamadas de posts no portal. Em terceiro lugar vem
Aécio Neves, com 23,53% do total e, por último, o então governador Eduardo
Campos, com 17,65% do total de citações de pré-candidatos. A diferença entre o
percentual do mais citado para o menos citado na CartaCapital é de 11,76 pontos
percentuais. Essa diferença mostra o grau de concentração no nome de um ou
poucos candidatos ou de dispersão em relação aos concorrentes.
No portal da Veja, as distribuições de citações dos pré-candidatos é distinta
da revista anterior. A pré-candidata mais citada em chamadas é Marina Silva,
com 36,92% do total, seguida de Dilma Rousseff, com 24,62%. Depois vem Aécio
Neves, com 20% e, por último, Eduardo Campos, com 18,46%. A diferença entre o
primeiro e o quarto em número de citações é de 18,46 pontos percentuais,
exatamente o dobro. Isso indica que na Veja há mais desproporção nas citações
dos nomes dos candidatos em relação à CartaCapital, que apresenta um equilíbrio
maior. Isso também pode ser constatado pelas diferenças nas médias de citações
de pré-candidatos por mês nos portais. Enquanto na CartaCapital todos ficam
entre 0,43 citação por mês (Eduardo Campos) e 0,71 (Dilma Rousseff e Marina
Silva), passando por 0,57 de Aécio Neves; na Veja, as diferenças são maiores.
Marina Silva (1,71) e Dilma Rousseff (1,14) recebem mais de uma citação por mês
em média, contra 0,93 de citação mensal de Aécio Neves e 0,86 de Eduardo Campos
nas chamadas.
O primeiro "achado" a se destacar aqui é que as duas revistas não
dão o destaque esperado para a presidente, pré-candidata à reeleição, como
esperado. Comparativamente, se considerarmos que Marina Silva é a única dos
quatro sem ocupar cargos públicos, ela é quem ganha a maior visibilidade
relativa nos dois portais. Outra similaridade entre eles é que o então
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, aparece menos nas chamadas dos dois
portais. Aécio Neves fica em terceiro lugar entre as citações em chamadas tanto
na CartaCapital quanto na Veja. No entanto, na primeira revista ele fica a seis
pontos percentuais das duas pré-candidatas mais citadas (Dilma e Marina Silva),
enquanto que na Veja a diferença entre Aécio e Marina é de mais de 16 pontos
percentuais, contra menos de cinco pontos percentuais de diferença entre Aécio
e Dilma.
O teste de correlação linear de Pearson para as citações dos candidatos nas
duas revistas mostra se as variações nas presenças dos concorrentes foram
coincidentes ao longo do tempo ou não. Os coeficientes e os níveis de
significância estão descritos na Tabela_3 a seguir. Percebe-se que as duas pré-
candidatas, Dilma e Marina, foram as que apresentaram maior coeficiente de
correlação para as duas revistas. As citações de Dilma em CartaCapital e Veja
apresentaram variações mensais correlacionadas na ordem de 0,813, ou 81,3%;
enquanto Marina Silva apresentou correlação de 0,874, ou 87,4%. O que significa
que o crescimento no número de citações em uma revista foi acompanhado do
crescimento na outra. Com coeficiente mais baixo, porém ainda significativo,
aparece Eduardo Campos, com correlação de 0,554, ou 55,4%, e significância de
0,040, demonstrando relativa força na correlação das citações em chamadas dos
dois portais.
O único pré-candidato que não apresentou correlação significativa entre os dois
portais foi Aécio Neves, com coeficiente de apenas 0,275, ou 27,5%, e nível de
significância muito acima do limite crítico, em 0,341. Isso significa que as
variações das citações de Aécio em um portal não foram acompanhadas pelo número
de citações no outro portal. Enquanto Aécio é citado em chamadas até uma vez
por mês durante todo o período na CartaCapital, na Veja, a partir de outubro de
2013, há um crescimento de zero ou de uma citação ao mês para duas ou três
citações mensais. Essa maior visibilidade para Aécio na Veja nos últimos quatro
meses de análise não foi acompanhada na CartaCapital e explica o baixo
coeficiente de correlação.
Uma maneira complementar de descrever as distribuições de frequências dos pré-
candidatos nas chamadas das publicações é a partir dos resíduos padronizados
por período de tempo para cada candidato. Os resíduos mostram, relativamente
aos demais períodos, o comportamento das citações de cada um dos pré-
candidatos. Trata-se da verificação dos valores que sobram, para mais ou para
menos, quando a distribuição entre o valor observado e o esperado não é
aleatória (CERVI, 2014, p.70). Ao serem aplicados em tabelas de contingência,
esses resíduos permitem uma comparação direta em cada revista e em cada
período, possibilitando analisar se as variáveis estão relacionadas ou são
independentes. Neste caso, período de tempo e candidato, como exposto na Tabela
4 a seguir. Por conta do baixo número de citações nos meses iniciais, e em
função da dinâmica das citações ao longo do tempo, decidimos por agrupar os
meses em três períodos, de janeiro a setembro de 2013, chamados de antes de
outubro; o segundo período é o mês de outubro, quando houve maior concentração
de citações; e o terceiro período são os meses posteriores a outubro, de
novembro de 2013 a fevereiro de 2014. Com os resíduos padronizados, poderemos
identificar padrões de crescimento ou queda no número de citações dos pré-
candidatos em relação aos demais concorrentes e em relação aos outros períodos
de tempo em cada uma das revistas. Os valores positivos representam presença do
candidato acima do esperado para o período caso a distribuição fosse normal,
enquanto os negativos representam o oposto - um número de citações abaixo
do esperado para uma distribuição normal. Em outras palavras, estamos
analisando as distribuições das citações de cada candidato em relação a ele
mesmo ao longo do tempo, porém como os resíduos estão padronizados, também
podemos comparar o desempenho de cada um deles entre as duas revistas ou mesmo
entre os candidatos citados em uma mesma revista.
No caso de CartaCapital, proporcionalmente, Dilma Rousseff tem citações
positivas apenas antes do mês de outubro, ficando com resíduo zero em outubro,
o que significa que a distribuição dela nesse mês igualou aos valores esperados
e teve menos citações do que o esperado após outubro. Com Aécio houve o
contrário, valor negativo antes de outubro, zero em outubro e positivo no
último período. Marina apresentou resíduos positivos apenas em outubro,
enquanto as citações de Eduardo Campos tiveram comportamento inverso, com
resíduos positivos antes e depois de outubro, mas negativos em outubro. Ou
seja, Aécio e Eduardo tiveram mais citações proporcionalmente após outubro,
enquanto Marina foi mais citada naquele mês e Dilma teve maior presença
relativa antes de outubro. Na Veja, é possível perceber algumas diferenças em
relação à revista anterior. No caso de Dilma, os resíduos positivos ficam
apenas antes de outubro e nos outros dois períodos há crescimento gradativo dos
resíduos negativos. Aécio apresenta o maior resíduo positivo antes de outubro,
torna-se negativo em outubro e volta a ser positivo nos meses seguintes.
Marina, que tem resíduos negativos no primeiro período, passa para positivo em
outubro e mantém o sinal positivo nos meses seguintes. Já Eduardo Campos
apresenta resíduos positivos apenas em outubro, ficando negativo antes e depois
desse mês. Percebe-se que, na Veja, Dilma e Aécio têm mais citações
proporcionais até outubro e Aécio volta a ter participação positiva nos meses
seguintes, enquanto Dilma não. Já em outubro, os maiores números de citações
são para Marina e Eduardo, com a diferença de que Marina Silva continua com
sinal positivo no período seguinte, enquanto Eduardo Campos fica com negativo.
Comparando as duas revistas, Dilma foi mais citada até outubro, quando encerrou
o prazo para filiações. A partir de então, passou a dividir citações com os
demais pré-candidatos, porém a queda na CartaCapital nos últimos cinco meses de
análise foi menor que a percebida na revista Veja. Aécio Neves passou a ser
mais citados na CartaCapital a partir de outubro, enquanto que na Veja ela já
apresentava número relativamente alto de citações antes desse mês e se manteve
positivo após outubro.
No caso de Marina, há um crescimento apenas em outubro na CartaCapital e a
partir de outubro até o final do período na Veja. Eduardo Campos tem níveis
positivos de citações antes e depois de outubro, porém não nesse mês na
CartaCapital, enquanto o inverso acontece na revista Veja - Eduardo
Campos tem menos citações antes e depois de outubro. Em suma, Veja e
CartaCapital deram visibilidades parecidas para Dilma Rousseff em suas
chamadas, porém trataram os pré-candidatos oposicionistas de forma distinta.
Enquanto na CartaCapital Eduardo Campos tem mais visibilidade, na Veja quem
ganha espaço é Aécio Neves, seguido de Marina Silva.
O aumento no número de posts sobre o tema eleições 2014 a partir de outubro de
2013 mostra que a tematização nos dois portais esteve submetida ao calendário
eleitoral. Porém, as diferenças nos tratamentos dados aos candidatos indicam
opções editorais próprias de cada um dos portais. O fato da Presidente da
República ser pré-candidata à reeleição pode explicar a maior visibilidade
obtida na CartaCapital, mas o mesmo não acontece na Veja, onde em números
absolutos ela perde para as citações de Marina Silva. O ponto em comum entre os
dois portais é a alta visibilidade dada à pré-candidata Marina Silva em
detrimento do pré-candidato Eduardo Campos durante todo o período, embora, na
CartaCapital, a diferença seja menor entre eles.
Até aqui, a análise focou-se nas opções editoriais dos veículos. No próximo
tópico será possível verificar se há relação dessas escolhas com a interação
dos webleitores, por meio de relacionamentos das próprias publicações com as
redes sociais Facebook e Twitter.
Interações de Webleitores
Para investigar o volume de interações que os posts geraram em redes sociais
considerou-se o número de recomendações no Facebook14 e o número de tweets que
cada matéria publicada nos portais gera no Twitter. O objetivo é verificar
como, em termos gerais, os webleitores desses dois portais reproduzem os
conteúdos gerados pelas revistas semanais. A Tabela_5 mostra uma tendência de
interações próxima da já percebida na produção dos posts, com crescimento
gradual até o mês 10 para, em seguida, apresentar um "salto" em números
absolutos de interações, quando comparado ao período anterior. No geral, o
Facebook gera mais interações do que o Twitter. Na CartaCapital, foram
registradas 30 mil interações no período analisado, o que significa 2,1 mil por
mês de média no Facebook e 363 por mês no Twitter. O mesmo se percebe em
relação à Veja, que teve 30,7 mil interações no Facebook e 8,2 mil no Twitter,
com médias mensais de 2,1 mil e 589, respectivamente. Os webleitores das
revistas semanais interagem mais pelo Facebook do que pelo Twitter, como
apontado nos dois portais. Porém, no Twitter, a média mensal de interações nas
matérias da revista Veja é quase o dobro da média mensal em CartaCapital. De
qualquer maneira, a primeira impressão é de que as interações crescem ao longo
do tempo. Ou seja, conforme se aproxima o período eleitoral, o tema vai
ganhando mais atenção do público, que passa a compartilhar mais as publicações
dos portais nas redes sociais.
As comparações entre os volumes de interações não pode ser feita diretamente
pelas médias mensais, pois o número de posts total da Veja é quase três vezes
superior ao número de postagens da CartaCapital. Por isso, a Tabela_5 inclui
também as médias por postagens, que ao serem consideradas mostram que os
webleitores da CartaCapital são mais ativos do que os da Veja, tanto no
Facebook quanto no Twitter. A média de recomendações para o Facebook em
CartaCapital é de 555,88; enquanto que, na Veja, a média fica em 189,69. Já os
compartilhamentos de postagens via tweets, na CartaCapital, a média é de 89,15
e de 50,29 na Veja. Os números gerais apresentados até aqui mostram que, embora
tenha produzido menos posts sobre as eleições 2014, a CartaCapital gerou mais
estímulo para a interação entre seus webleitores, quando comparada com a
revista Veja. Ou, de maneira alternativa, os webleitores da CartaCapital são
mais "ativos" nas redes sociais do que os de Veja.
Aqui, também fizemos testes estatísticos para diferenças de média (teste T)
para o período anterior e posterior ao mês de outubro, para identificar as
magnitudes das diferenças de interações após o fim do prazo para coligações
partidárias. Fizemos isso para cada uma das redes sociais. A Tabela_5 apresenta
as estatísticas do teste de correlação de Pearson (P) para o volume de
interações por mês entre Twitter e Facebook nas duas revistas. O objetivo é
identificar quanto as interações crescem ao longo do tempo correlacionadas.
Quase todos os coeficientes são estatisticamente significativos, sendo apenas o
coeficiente do Facebook da Veja fica acima do limite crítico para os dois
períodos analisados aqui.
As estatísticas do teste T para o Facebook, com coeficiente 2,283 e diferença
média mensal de 5633 recomendações, entre "até outubro" e
"depois de outubro" para CartaCapital é de 2,216, e a diferença
fica em 3665,82 recomendações entre os períodos. Isso significa que houve uma
maior diferença nas interações pelo Facebook dos webleitores da CartaCapital
após outubro, do que entre os da Veja. No Twitter, o coeficiente T para
CartaCapital ficou em 3,989 e uma diferença média de 742,62 por mês entre os
períodos analisados. Enquanto, na Veja, os números foram maiores, com
coeficiente de 4,259 e diferença média mensal de 895 tweets entre os dois
períodos. Isso indica que, embora no geral as maiores interações se deram via
Facebook, a ferramenta do Twitter no portal da Veja - que era pouco
ativada pelos webleitores até outubro - passou a ser mais usada a partir
do mês 10.
Quando olhamos para os coeficientes de correlação de Pearson, percebemos uma
associação entre o número de recomendações no Facebook e de tweets por mês nas
duas revistas, porém o coeficiente da CartaCapital é menor, ficando em 0,679 ou
67,8% de correlação entre as variações mensais, contra 0,830, ou 83%, de
correlação entre Facebook e Twitter em Veja. Isso é explicado pelo crescimento
da participação do Twitter da Veja após outubro, que acompanhou o aumento de
recomendações no Facebook, enquanto que, na CartaCapital, o crescimento das
interações via Facebook não foi acompanhada pelo o de tweets nos últimos cinco
meses de análise.
Para compararmos os padrões de uso de redes sociais pelos webleitores das duas
revistas, usamos os resíduos padronizados para as médias de recomendações no
Facebook e no Twitter por post nos 14 meses analisados. Com isso, podemos
padronizar as interações nos dois portais e verificar a existência ou não de
padrões definidos de interações.
A Tabela_6, a seguir, traz os resíduos das duas redes sociais e dos dois
portais. Nota-se que o resíduo padronizado de recomendações no Facebook é
positivo em CartaCapital (0,535) e negativo para Veja (-0,877). A Tabela_6
também aponta a leitura contrária, que no contexto de comparação dos diferentes
dos portais e redes sociais, CartaCapital apresenta resíduo negativo nas
publicações no Twitter (-1,238), enquanto a Veja tem resíduos positivos
(2,029).
As descrições feitas até aqui mostram que além do webleitor da CartaCapital ser
mais interativo que o da Veja, as formas de interação também são distintas.
Estes resultados podem levar à interpretação de que enquanto o webleitor de
CartaCapital difunde as notícias da revista no Facebook, o público de Veja tem
força de repercussão no Twitter. No entanto, deve-se ter cautela e não chegar a
conclusões definitivas.
Como os dados da Tabela_6 se referem às médias das interações por mês, e como
houve variações no número de posts entre os meses, os números discutidos
anteriormente podem ser enganosos no que se refere à intensificação das
interações ao longo do tempo. O maior número de posts por mês, ao final do
período analisado, pode estar mascarando o real volume de interações entre os
webleitores dos dois portais, além de não permitir que se relacione com o
crescimento no número de interações ao maior número de postagens.
O próximo passo da análise será testar a hipótese de que a difusão de conteúdos
está diretamente relacionada à oferta dos mesmos, uma vez que a interatividade
dos webleitores aqui trata-se justamente da replicação do conteúdo produzido no
portal de notícias dessas revistas. Então, se já constatamos um crescimento no
número de postagens ao longo do tempo, com um pico em outubro, é possível
indagar se o número de recomendações nas duas redes sociais também cresce nos
posts publicados no final do período analisado, em comparação com aqueles do
início de 2013.
Para identificar possíveis mudanças, a Tabela_7 mostra as diferenças das médias
de publicações e interações por mês ao longo do período analisado, nos dois
portais.
Quando positivas, as diferenças de médias indicam que o mês analisado
apresentou mais postagens ou interações que o imediatamente anterior. Se o
valor for negativo, isso indica que o mês analisado apresentou um volume menor
de postagens ou interações do que o anterior. Ao final da tabela estão os
coeficientes de correlação entre as diferenças mensais de postagens e
interações por Facebook e Twitter. O objetivo é testar se de fato quando há o
aumento do número de post, há também o crescimento de interações no mês, por
conta da grande variação de interações entre os posts. Algumas postagens têm
centenas ou até mesmo milhares de compartilhamentos, enquanto que, em outras, o
número é muito baixo. Para evitar os efeitos extremos de um único post em
determinado mês, testamos os valores das médias por post e agregamos por mês.
A Tabela_7 a seguir mostra que, tanto para CartaCapital, quanto para Veja, há
variações positivas e negativas ao longo do tempo e que não necessariamente a
direção das diferenças de postagens é a mesma que a das interações. Há mais
diferenças negativas por mês no Twtter do que no Facebook, nas duas revistas.
As médias das diferenças mensais indicam comportamentos distintos, tanto em
relação ao número de posts por mês quanto ao tipo de interação. A CartaCapital
apresentou uma média de diferenças mensais baixa, de apenas 0,38 post por mês,
bem abaixo da média da Veja, que ficou em 1,07 post por mês. Isso significa
que, ao longo tempo, a Veja apresentou um crescimento maior no número de
postagens do que a CartaCapital. Já em termos de recomendações no Facebook e no
Twitter, a CartaCapital apresentou crescimento maior que a concorrente ao longo
do tempo. No caso do Facebook, o crescimento maior da CartaCapital foi de 0,28
em média ao mês, contra 0,15 da Veja. Já no Twitter, as diferenças médias do
portal da CartaCapital ficaram em 0,15; contra 0,03 na Veja. Ou seja, a Veja
apresentou pouco crescimento de interação do webleitor via redes sociais ao
longo do tempo, embora tenha aumentado o número de postagens nos meses finais
da pré-temporada eleitoral.
Os testes de correlação confirmam a inexistência de relação forte entre
crescimento de postagens a aumento das interações. No caso da CartaCapital, os
coeficiente entre posts e interações são negativos tanto para o Facebook (-
0,503) quando para o Twitter (-0,170), ou seja, quando há diferença positiva de
postagens, as interações apresentam diferenças negativas. A correlação entre
diferenças de compartilhamentos no Facebook e Twitter é positiva, porém muito
baixa (0,4% de correlação) no caso da CartaCapital. Já na Veja, a correlação
negativa com postagem aparece apenas no Facebook, também muito baixa (0,4% de
correlação). No caso do Twitter, a correlação é positiva e o coeficiente fica
em 13,4%. A correlação mais forte é entre interações do Facebook e do Twitter
no portal da Veja, com coeficiente de 55,2%, indicando que quando aumenta o
volume de interações no Facebook, também cresce no Twitter e vice-versa para os
webleitores do portal da Veja.
O Gráfico_1, a seguir, sumariza as informações por mês, relacionando as
diferenças no número de postagens por mês (indicado pelo círculo cinza) e as
diferenças de recomendações no Facebook e no Twitter. As séries começam no mês
dois, por se tratar da primeira diferença. Quanto mais distantes os pontos da
haste estiverem do círculo, maior a diferença do crescimento de interações em
relação às diferenças de postagens. Quanto maior a haste em cada mês, maior a
diferença de interações via Facebook e Twitter. Os gráficos também marcam o mês
10, que é onde os portais apresentaram maior crescimento no número de posts.
No caso da CartaCapital, percebe-se uma variação pequena no período anterior ao
mês 10, com variações maiores nas interações nos meses dois e três, para depois
se estabilizarem ao redor do crescimento de postagens. No mês 10, quando há
significativo aumento no número de posts, as interações caem. A partir de
então, as variações mensais crescem. No mês 11, há menos posts, mas um
crescimento significativo de interações, para, no mês seguinte, se estabilizar.
No mês 13, o número de posts se estabiliza, mas as interações apresentam a
maior queda. Por fim, no último mês analisado, as diferenças voltam a se
estabilizar.
No caso da Veja, a principal diferença é a maior estabilidade nas variações de
interações por mês. O número de posts oscila mais entre os meses - com menor
intensidade antes de outubro - para ganhar força após o mês 10. No
entanto, o maior número de postagens nos meses 10 e 12 não gera efeitos sobre
as diferenças de interações dos webleitores desse portal.
A verificação das variações médias de interações por post mostra algumas
diferenças entre o comportamento do webleitor e dos produtores de conteúdo nos
portais noticiosos das revistas semanais. A principal delas é que não há
relação ao longo do tempo entre crescimento no número de publicações e
interações. Das comparações feitas aqui, não é possível estabelecer nenhum
padrão, a não ser o de que os dois portais tem queda na repercussão de suas
publicações no Twitter ao longo do tempo. Considerando a rede social Facebook,
os comportamentos são inversos. Na Veja, as recomendações dos webleitores
começam alto e caem ao longo do tempo. Já na CartaCapital, elas crescem
gradualmente até determinado ponto, para depois apresentar uma queda
rapidamente.
Após as análises sobre a presença dos pré-candidatos à Presidência da República
do Brasil e a interatividade dos webleitores nos portais de CartaCapital e
Veja, cabe verificar a existências de relação entre a presença do pré-candidato
na chamada e o número de interações em redes sociais, o que faremos no próximo
tópico.
Relacionando Interações e Candidatos
Aqui, pretendemos verificar se houve alguma associação entre o número de
interações por revista e a citação do pré-candidato no post. Nosso objetivo é
verificar apenas em termos quantitativos se a presença de determinado nome está
relacionada com maior ou menor número de interações por revista. Para o nível
de análise que propomos aqui, não é possível identificar se os posts com
abordagem positiva ou negativa de determinado pré-candidato tendem a gerar mais
interações. Apenas identificamos a relação entre presença do candidato e o
número de interações por revista. Ao todo, são seis categorias de citações. Uma
para cada um dos quatro pré-candidatos, uma para quando cita dois ou mais
nomes, independentemente de quais sejam, e uma última categoria para os posts
que não citam nenhum dos pré-candidatos.
A Tabela_8 a seguir mostra a distribuição de interações nas duas redes sociais
consideradas neste trabalho por tipo de post. Como esperado, os pré-candidatos
com maior número de citações nas chamadas das publicações (Dilma Rousseff e
Marina Silva na CartaCapital e Dilma e Aécio Neves na Veja) têm maior número de
interações. No entanto, a diferença de Dilma em relação aos demais candidatos é
muito superior, além de apresentar as maiores diferenças entre os dois portais.
Os posts que citam apenas Dilma são responsáveis por 38,95% das recomendações
do portal da CartaCapital no Facebook e apenas 3,51% das recomendações de Veja
na mesma rede social Facebook. Marina Silva supera a presidente Dilma nas
recomendações de Veja no Facebook, ficando em 10,22% do total, mas, na
CartaCapital, fica muito abaixo, com apenas 0,59% das interações no Facebook.
Já Aécio Neves é o segundo nas interações da Veja com o Facebook, com 5,87%, e
tem 1,77% das recomendações de CartaCapital também no Facebook, o que também
representa a segunda colocação - mas, neste caso, com uma diferença muito
grande em relação à Dilma Rousseff. Eduardo Campos obteve os menores
percentuais de interações via Facebook dos dois portais, com 0,07% na
CartaCapital e 3,20% na Veja. A diferença é que, na Veja, ele ficou muito
próximo das interações via Facebook de Dilma, a terceira colocada naquele
portal. As recomendações no Facebook dos posts que citam mais de um candidato
apresentam diferenças significativas entre os dois portais, enquanto na
CartaCapital 32,19% das interações foram nesse tipo de publicação; na Veja,
esse percentual ficou em apenas 4,82% do total. Isso indica que os webleitores
de Veja compartilham menos postagens personalizadas do que os webleitores da
CartaCapital. Essa diferença é melhor percebida nas distribuições percentuais
das interações via Facebook de posts que não citam candidatos nos dois portais.
Na CartaCapital, apenas 26,43% das interações são sobre esse tipo de post,
enquanto na Veja o percentual sobe para 72,38% do total. Ou seja, quase três
vezes mais interações em posts sem personalização dos pré-candidatos na Veja do
que na CartaCapital.
O Twitter apresenta diferenças em relação às recomendações no Facebook no caso
dos dois portais. Em primeiro lugar, como já discutido, o número de interações
é menor. Na CartaCapital o maior percentual de tweets é para os posts que não
citam nenhum dos candidatos nas chamadas (57,24%), seguido de posts que citam
mais de um candidato (22,75%). Posts que citam apenas Dilma vêm em seguida, com
15,41%. Depois, com percentuais muito baixos, temos Marina Silva (1,97%), Aécio
Neves (1,85%) e Eduardo Campos, por último, com 0,79%. Já nas publicações de
Veja, as distribuições de interações via Twitter ficam mais próximas das
percebidas no Facebook. O maior volume ficou em posts que não citam pré-
candidatos, com 72,18%, seguido por posts que citam Marina Silva (9,03%), Dilma
Rousseff (4,72%), Aécio Neves (4,05%) e Eduardo Campos, com 3,54% do total de
interações.
A relação entre as interações por tipo de postagem e rede social é indicada
pelo coeficiente de correlação de Pearson entre os valores para Facebook e
Twitter de cada portal. Os dois coeficientes confirmam os "achados"
até aqui. Na CartaCapital, a correlação é mais baixa que na Veja, ficando em
60,9% de correlação entre o número de interações via Facebook e via Twitter,
por tipo de citação de pré-candidatos. Na Veja, a correlação é a mais alta
possível, ficando em 99,9%, ou seja, sendo uma correlação perfeito. Isso indica
que na Veja o tipo de post que recebe mais recomendação no Facebook também é
muito compartilhado no Twitter.
Uma forma alternativa de analisar as relações na Tabela_8 é a partir dos
resíduos padronizados, considerando as quatro formas de interação, duas em
Facebook e duas em Twitter. Isso nos mostrará qual o tipo de post que recebe o
maior e o menor número de compartilhamentos relativo aos demais tipos de posts
e redes sociais analisadas. Os três maiores resíduos positivos, que indicam as
maiores concentrações de casos, são, respectivamente, Dilma/Facebook na
CartaCapital (80,39), "Mais de um candidato"/Facebook na
CartaCapital (61,87) e "Não cita candidato"/Facebook da Veja
(47,52). Ou seja, o Facebook é a rede social de maior número de interações nos
dois portais, com a diferença de que na CartaCapital as interações são
predominantemente com posts que possuem a chamada personalista e na Veja elas
se dão em posts que não citam os pré-candidatos. Já os três resíduos negativos
mais significativos, que indicam os menores volumes de interações, são,
respectivamente, "Não cita candidato"/Facebook da CartaCapital (-
62,69), Dilma/Facebook da Veja (-61,87) e "Cita mais de um
candidato"/Facebook na Veja (-52,67). No que diz respeito aos resíduos
dos posts que citam apenas um dos pré-candidatos, é possível perceber
diferenças importantes. A primeira delas é que Dilma Rousseff apresenta
resíduos positivos apenas para as interações no Facebook da CartaCapital. Na
CartaCapital via Twitter, e na Veja via Facebook e Twitter, os resíduos são
negativos, sendo coeficientes bem superiores no caso do portal da Veja. Para os
outros três candidatos os resíduos são negativos no Facebook e Twitter da
CartaCapital, e positivos na Veja, nas duas redes sociais.Ou seja,
comparativamente entre as quatro redes, Dilma tem mais interações na
CartaCapital via Facebook, enquanto os pré-candidatos de oposição tem mais
interações via Facebook e Twitter no portal da Veja.
Considerações Finais
Este artigo permite mostrar como o tema eleições 2014 apareceu relativamente
cedo na cobertura dos portais das revistas Veja e CartaCapital, pelo menos um
ano e meio antes da realização do pleito, embora tenha crescido mesmo a partir
de outubro de 2013. Também se comprovou que os webleitores de cada portal se
interessam pelo tema, por meio da alta média de interatividade por post
identificada. Esta é, de longe, a principal diferença que os veículos da
imprensa tendem a lidar quando passam do impresso para o online. No geral,
CartaCapital aparece mais interativa do que Veja. No Facebook, CartaCapital
aparece três vezes mais interativa que a concorrente e no Twitter essa
supremacia sobre Veja passa a representar cinco vezes mais interações. Em
resumo, quanto as diferenças, a Veja publica mais sobre o tema, porém, os
leitores da CartaCapital promovem maior interação.
A partir da análise que considera os posts por mês, é possível verificar que o
calendário eleitoral definiu a agenda dos dois veículos, sendo claro o aumento
de matérias no mês de outubro de 2013, quando acaba o prazo de filiação dos
pré-candidatos. Depois disso, o volume de publicações cresce, tendendo a
continuar assim até as eleições em outubro de 2014. E verificou-se que a
cobertura pré-eleitoral tende sim a ser personalizada, com a grande quantidade
de chamadas de publicações com pelo menos o nome de um pré-candidato. Na
CartaCapital, Aécio Neves tem menos espaço, enquanto na Veja ele ganha
visibilidade. O único ponto em comum entre os dois portais é a alta
visibilidade dada à pré-candidata Marina Silva em detrimento do pré-candidato
Eduardo Campos. Também vale ressaltar que mesmo na CartaCapital, declaradamente
pró-governo, a pré-candidata à reeleição Dilma Rousseff não teve visibilidade
muito superior aos demais candidatos. Assim como na Veja, revista crítica ao
governo, o principal pré-candidato oposicionista, Aécio Neves, também não
contou com visibilidade superior à de Marina Silva. As duas revistas, pelo
menos no que diz respeito às citações de candidatos nas páginas principais de
seus portais eletrônicos, mantiveram-se mais próximas ao equilíbrio do que à
tendenciosidade - pelo menos em termos quantitativos. Ainda assim, as
diferenças entre Dilma e Aécio nas duas revistas são polares. Aécio é o menos
citado na CartaCapital, enquanto Dilma, mesmo sendo atual presidente, perde
espaço na Veja.
Na segunda parte do trabalho pudemos verificar os distintos padrões de
comportamento dos webleitores de cada uma das revistas ao interagir com os
conteúdos curtindo ou recomendando os mesmos. O leitor de CartaCapital tende a
interagir mais, proporcionalmente, quando comparado ao leitor de Veja. Além
disso, há predomínio do Twitter nas interações entre leitores de Veja, contra o
uso do Facebook pelos de CartaCapital. Sobre os candidatos, ao se analisar a
relação entre a interatividade obtida nos posts dos portais e a presença dos
pré-candidatos nas chamadas, verifica-se que os webleitores de CartaCapital
replicaram em suas redes sociais muito mais notícias que continham citação à
atual presidente do Brasil e provável candidata à reeleição, assim como os
webleitores de Veja promoveram muito mais notícias que não citavam pré-
candidatos em suas chamadas. Assim, a Veja parece ser o espaço onde o debate
pré-eleitoral deu-se de maneira menos personalizado. É importante lembrar que
não se considerou nenhuma variável qualitativa, que permita afirmar que as
repercussões são positivas ou negativas para os pré-candidatos, uma vez que ao
indicar a matéria na rede social, o internauta pode agregar conteúdo,
comentando, seja de modo negativo ou positivo a publicação.
Um dos principais achados que relacionam a produção dos portais com as
interações dos webleitores sobre o tema eleições é apresentado no Gráfico_1.
Ele mostra que a produção jornalística segue um calendário externo aos meios de
comunicação, que se relaciona com as regras do processo eleitoral. Então, no
mês em que se encerra o prazo para filiações partidárias há um marcante aumento
no volume de cobertura sobre o tema. No entanto, as interações não apresentam a
mesma dinâmica. Os webleitores mantém uma média mais estável de
compartilhamentos e curtidas dos textos ao longo do tempo, sem sofrer as
influências do calendário das regras eleitorais. Isso indica um deslocamento
entre o volume de produção jornalística sobre o tema e o grau de interesse dos
webleitores, pelo menos no que diz respeito aos períodos pré-eleitorais.
Além disso, em toda análise que envolver dados de repercussão em redes sociais,
não se pode desconsiderar que algumas matérias podem gerar picos destoantes e
extremamente altos em relação às demais postagens. E estas postagens podem
apresentar inúmeros outros fatores que justifiquem essa alta repercussão, como
o enfoque ou tema polêmico, por exemplo. Essas replicações, levando um post do
portal das revistas para as páginas do webleitor no Facebook ou Twitter,
dependem totalmente da vontade do internauta em difundir aquela matéria. Ou
seja, não está sob controle do veículo.
Este trabalho possibilitou verificar algumas características das revistas
brasileiras CartaCapital e Veja na internet, mas também resultou em um modelo
que pode ser seguido e aplicado em outros portais informativos para a análise
da interatividade durante a cobertura eleitoral. Modelo este que pode ser
aperfeiçoado ao se trabalhar com outras variáveis como temas específicos;
presenças e tipos de fontes; número de citações no texto e no título; assim
como valências e enquadramentos - o que possibilitaria uma análise mais
qualitativa.
Por fim, é importante reforçar que este trabalho considerou o banco de dados a
partir da busca pelo tema "Eleições 2014" nos dois portais,
simulando o material que o webleitor tem acesso quando utiliza essas
ferramentas, pois um dos objetivos foi realizar uma análise comparativa dos
dois portais. O que se observou a partir do banco de dados é que Veja organiza
e concentra melhor seus conteúdos no portal, o que pode justificar o triplo de
publicações em Veja do que CartaCapital. Porém, uma análise aprofundada sobre a
cobertura eleitoral dos dois veículos na internet pode ser realizada
modificando a busca para os nomes dos pré-candidatos. O que constituiria uma
amostra bem maior e mais completa.