Lingua galega e variación dialectal
Sánchez Rei, Xosé Manuel (2011),Lingua galega e variación dialectal,
Edicións Laiovento, 662 páginas
Maria Aldina Marques*
*Universidade do Minho, Instituto de Letras e Ciências Humanas
mamarques@ilch.uminho.pt
Xosé Manuel Sánchez Rey é professor titular da Universidade da Corunha e uma
referência na área da Filoloxía Galega e Portuguesa, atestada pela variedade e
interesse científico dos textos que já publicou. Lingua galega e variación
dialectalocupa na sua vasta bibliografia um lugar de destaque.
Para Xosé Manuel Sánchez Rei, O desenvolvimento da dialectoloxía galega nestes
últimos anos foi, na verdade, sorprendente(p. 19). Creio que é de toda a
justiça integrar aí e em lugar de destaque a obra agora apresentada. De facto,
constitui uma reflexão alargada, moderna, no domínio da dialetologia, abordando
de forma profunda questões teóricas e metodológicas fundamentais para esta área
de investigação, acompanhadas de abundante exemplificação. Vale acentuar que a
exaustividade que encontramos no tratamento dos diversos temas é reforçada pela
bibliografia que se estende por 57 páginas.
Em termos do quadro teórico adotado, é particularmente relevante a opção por
uma perspetiva interdisciplinar, eclética mas crítica. O autor afirma
explicitamente a importância de disciplinas como a sociologia, a antropologia,
a história da cultura, a psicologia social, entre outras, para o estudo da
variação linguística.
É ainda um caso exemplar de interação entre a investigação e o ensino,
combinando o rigor científico com uma exposição clara e atrativa.
A obra está estruturada em cinco capítulos, antecedidos por uma Introdução,
onde o autor faz a apresentação de alguns vetores teóricos e metodológicos que
estruturam o seu trabalho. Integrada, explicitamente, na área científica da
dialetologia, e da dialetologia galega em particular, Língua galega e variación
dialectaldefine como objeto de análise a situación da Galiza e as súas
problemáticas específicas (p. 21), num espaço linguístico que tem no galego-
português a sua origem individualizadora e modernamente se assume como um
punto de vista, que non é outro do que considerarmos o caso do galego e do
portugués como dúas normas, dúas variedades ( ) do mesmo sistema linguístico
(p. 24).
Os cinco capítulos estão organizados de forma a cobrir toda a complexa
problemática dos estudos dialetológicos, nas vertentes teórica e metodológica,
sempre concretizada pela aplicação pormenorizada a diferentes fenómenos do
galego.
OCapítulo1. A variação linguística estabelece como princípios teórico-
metodológicos o primado da oralidade como objeto de estudo e uma perspetiva de
análise não normativa; e detém-se longamente, a propósito da importância da
análise das variedades das línguas, nas variáveis e fatores a considerar no
estudo dos usos linguísticos que caracterizam os diferentes tipos de
variacionismo.
Os mecanismos de mudança são abordados a partir de diversas teorias, com
destaque para a teoria das ondas (p. 106) a teoria da difusão lexical (p. 108)
ou ainda a explanação dos fatores internos e externos já apontados, segundo o
autor, por Labov. A escolarização maciça das populações leva à reflexão sobre a
complexidade do papel da escola na questão da variação linguística.
O capítulo encerra com uma perspetiva histórica sobre mudanças registadas ao
longo do tempo em diferentes espaços, que explicam a estigmatização do
dialectal.
OCapítulo 2. Língua e Dialecto,que acentua a centralidade da questão em debate,
o variacionismo e a mudança caracterizan calquera sistema linguístico (p.
211), continua a reflexão anterior sobre questões terminológicas. Língua e
dialetosão objeto de uma cuidada atenção, em particular na destrinça de fatores
e critérios de definição. O autor opta pelo termo variedade, sem conotações
negativas, Fuxindo da carga pexorativa que en ocasións implica a denominación
de dialecto e a asumirmos a existencia de variedades dunha língua, que resulta
um termo desprovido deses matices negativos, (209-210). Este percurso, em si
fundamental para a área da dialetologia, leva o autor a uma reflexão sobre o
galego ao longo dos séculos e em particular ao feito de o galego ser lingua
ou en confronto responder mormente a unha variedade dialectal (p. 218).
OCapítulo 3. A Dialectoloxía mostra com muita clareza as possibilidades que a
dialetologia moderna oferece à investigação, decorrentes de teorias e
metodologias mais adequadas. Longe, por exemplo, da tradicional limitação a
ambientes rurais, e objetos de análise restringidos à análise fonológica,
morfológica e lexical, sobressai a dialetologia urbana ou dialetologia social
(p. 246). Complementarmente, a segunda parte deste capítulo desenvolve questões
centrais de metodologia de investigação. Tal como no capítulo anterior, o autor
finaliza com um extenso subcapítulo dedicado à Breve historia da dialectoloxía
galega
OCapítulo 4. Tipoloxía dos dialectalismos e a súa transcendência propõe uma
perspetiva alargada das diversas clasificacións que se puideren facer sobre os
fenómenos dialectais (p. 389). Assim, são elencados e discutidos os fatores
mais representativos para a construção de uma tipologia de dialetismos. Cada um
destes fatores é ilustrado por exemplos variados do galego. É particularmente
relevante o facto de o autor não se limitar aos tradicionais domínios da
prosódia, fonética, morfologia, etc., mas integrar, nomeadamente, dialectismos
pragmático-textuais (p. 451). Assim, sustenta que do confronto de varios
etnotextos que posuímos, non parece resultar conflituoso acreditarmos, aínda
que sexa só provisoriamente, en que se detecta algunha sorte de variacionismo
xeográfico tamén no âmbito da pragmática. (p. 452).
O Capítulo 5. Dialectoloxía, filoloxía e lingüística retoma e aplica a
perspetiva interdisciplinar referida no capítulo inicial e explora as relações
entre dialetologia, linguística e filologia. Em particular, aborda as relações
da dialetologia com a gramática histórica, o generativismo, o estruturalismo, a
pedagogia, a informática, a tradução, a didática da língua, etc. A propósito de
dialetologia e onomástica, Sánchez Rey realiza uma análise fina dos nomes de
lugar e de persoa galegos. A propósito, mostra a repercussão neste domínio de
fenómenos como a gheada ou o rotacismo, entre outros, e as soluções adotadas
relativamente a diferentes localidades galegas.
O Capítulo 6. Conclusións sintetiza a riqueza das informações, propostas e
análises realizadas ao longo dos cinco capítulos anteriores. Subscrevo as
palavras (modestamente matizadas) do autor, que a meu ver são reveladoras dessa
orientação teórica, metodológica e prática que guia todo o texto: Lingua
galega e variación dialectal tencionou mostrar a validade da reflexión
linguística nessa liña, fuxindo do arqueoloxismo fácil e a situar a pesquisa
dialectolóxica nun degrao diferente ao dunha visión reducionista do
variacionsismo. (p. 602).
A exaustividade da investigação, que apenas aflorámos, fazem deste texto um
instrumento de trabalho único para quem pretenda estudar a dialetologia galega.
Mas não se fica por aqui. É uma referência obrigatória para todos os que se
interessam pela variação linguística.
E ficam assim plenamente justificadas as 662 páginas que acima assinalei.
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