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variedadeEu
ano2014
fonteScielo

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Figuras heroicas no Horto do Esposo

E por em maior prol trage ao homem o nome de temeroso como a lebre ca o nome de ardido e bravo come leon.

Horto do Esposo A obra que me propus estudar tem uma orientação doutrinária claramente afastada de heroísmos, feitos de armas, guerras, preferindo a humildade à coragem destemperada e ao atrevimento, o que não augura, aparentemente, grandes probabilidades de sucesso no tratamento do tema anunciado no título.[1] Salva- nos nesta demanda, contudo, a ocorrência pontual de exempla onde se concede a oportunidade a alguns heróis para mostrarem as suas façanhas. Terá sido talvez uma bondosa cedência do autor aos desejos da primeira destinatária da obra, que lhe pedira explicitamente "uu livro dos fectos antigos e das façanhas dos nobres barões" (Horto: 3) que lhe permitisse uma leitura recreativa e prazenteira nos dias de descanso. Avisa, contudo, o cisterciense que os assuntos seculares e profanos não conduzem ao amor de Deus e por isso o livro falará sobretudo "das façãnhas e dos exemplos dos sanctos homees" (Idem, 5).

O Horto do Esposo é agora uma obra de fácil acesso depois da edição crítica de Irene Freire Nunes, coordenada pelo Prof. Helder Godinho e publicada no final de 2007. Antes, tínhamos que recorrer à edição de Bertil Maler, publicada no Rio de Janeiro em 1956. Ambas se basearam em duas versões integrais do texto (nenhuma é a original), dois manuscritos alcobacenses da Biblioteca Nacional de Lisboa, um redigido na primeira metade do séc. XV e o outro nos finais deste mesmo século.

No lapso de tempo que medeia entre as duas iniciativas de trazer a público esta importantíssima obra do nosso património cultural e literário da Idade Média está a descoberta, na Torre do Tombo, de fragmentos desconhecidos da obra, em pergaminho, provenientes do Mosteiro de Santa Maria de Lorvão e que poderão sugerir a existência de um terceiro manuscrito. Foram descobertos por Arthur Askins, em Junho de 1997, Harvey Sharrer e Aida Fernanda Dias, em Julho de 1998. Estes fragmentos foram publicados em 2002, em transcrição e reprodução fotográfica (Askins & Dias & Sharrer, 2002).

Nada se apurou sobre a identidade do autor do Horto para da tese defendida por Mário Martins, em 1948, de que se trata de um texto escrito originalmente em língua portuguesa (e não de uma tradução) por um monge da abadia cisterciense de Alcobaça. A tese foi corroborada por Bertil Maler, que adiantou ainda a convicção de que, tendo em conta a identificação das fontes em que o mesmo se baseou, estamos perante um autor culto e que tinha por certo ao seu dispor uma biblioteca bastante rica e variada. Uma referência única na obra a factos políticos contemporâneos, nomeadamente o período conturbado que se viveu em Portugal depois da morte de D. Fernando, levou também Mário Martins a apontar o período entre 1383 e as primeiras décadas do séc. XV como o que corresponde à sua composição. Estaria certamente concluído antes de 1438, data da morte de D. Duarte, uma vez que consta do inventário da sua biblioteca.

Os estudos sobre o Horto insistem sobre a receção favorável que a obra terá tido no seu tempo, a avaliar pelas informações, não muito abundantes é certo, sobre a existência de códices em instituições religiosas mas também em bibliotecas particulares. José Mattoso identificou a aquisição de um exemplar do Horto do Esposo pelo mosteiro de Bouro entre 1408 e 1437 (Mattoso, 2002: 289-290); a descoberta dos fragmentos da Torre do Tombo coloca a obra também no mosteiro de Lorvão. Temos alguns dados seguros sobre o conhecimento da obra por parte de duas ilustres figuras da elite intelectual portuguesa da primeira metade do séc. XV, o rei D. Duarte e o seu sobrinho, o Condestável D. Pedro (Maler, 1964: 24; Fonseca, 1982: 297, Mattoso, ibidem). Sobre as razões desta difusão, tem sido enfatizado sobretudo o seu caráter didático e a sua natureza doutrinária orientada para um "público simples" (Pereira, 2007: LVII).

É seguramente verdade que a escrita no Horto tem uma vocação eminentemente didática e que o discurso doutrinário se apoia em argumentos credíveis e em histórias de natureza exemplar colocados ao serviço de uma explícita intenção edificante. A obra parece ter sido apreciada, contudo, muito para além dessa vertente de vulgarização e de simplificação hermenêutica das fontes, tal como o seu autor prevê no Prólogo, afirmando que o livro servirá a destinatários de qualquer condição, incluindo sábios e estudiosos. Adão da Fonseca, no seu estudo sobre o Condestável D. Pedro, aponta o apreço que obras como o Horto e outras relacionadas com o mosteiro de Alcobaça mereceram na corte portuguesa até ao tempo de D. Afonso V, pela sua temática, valores e espiritualidade.

Também se lamenta, de forma recorrente, que o monge tenha ignorado a realidade que o circundava, "um homem que mostra na sua obra pouquíssimo interesse pela sua época e que por isso não nos ensina nada sobre ela. () por acaso deixa escapar felizmente para nós a alusão que nos permite datar o livro." (Maler, 1964: 23). Em primeiro lugar, o Horto não está concebido como uma crónica, nem o seu autor parece ser um homem que viva próximo de ambientes laicos, dominados pelos sucessos imediatos da política e da sociedade. Devemos reconhecer, como Gouveia Fernandes, que o autor do Horto viveu "refugiado no mosteiro, mas nem por isso [deixou] de observar atentamente a agitação do século" (Fernandes, 2001: 100), referindo-se em concreto ao acontecimento que parece ter tido maiores reflexos e implicações no seu tempo, a crise gerada pela morte do rei D. Fernando. A ênfase nessa passagem do Horto tem deixado na sombra e no esquecimento a referência que, no mesmo contexto, se faz a acontecimentos da história de Castela (Livro IV, cap. XLIII).[2] Não podemos deixar de notar como estes comentários, ainda que breves, são reveladores dos horizontes alargados ao âmbito peninsular através do olhar abrangente da realidade que une, sob o signo da instabilidade e da incerteza, toda a Península Ibérica naquele período, para onde se transferiram também as hostilidades entre a Inglaterra e a França no âmbito da Guerra dos Cem Anos.

Embora não seja esse o seu foco principal, o monge cisterciense não está alheado do seu tempo, um tempo que lhe inspira uma escrita que nos seus propósitos pedagógicos se propõe demonstrar como tudo neste mundo é efémero e incerto. Agora, como no passado, não se escapa ao capricho da Fortuna e os mais trágicos exemplos são os daqueles cuja vida se reparte entre os extremos: a mudança do mais alto estado para a condição mais indigna. Daí que recorra com frequência a figuras exemplares marcadas pela sua condição social, reis, imperadores, príncipes, marcados pela arbitrariedade da Fortuna: "Por em Boecio, falando do estado dos rex que parece mais firme, diz assi: Cheos som os tempos antigos e os tempos d’agora de enxemplos de muitos rex que a sua bem aventurança foi mudada em grande mezquindade." (Horto: 236).[3] São mais eficazes do ponto de vista persuasivo os exempla protagonizados por figuras históricas, mas o autor não despreza outras personagens cuja força retórica provém da reconhecida qualidade cultural associada à sua criação.

Refiro-me em particular à recuperação de matérias literárias da Antiguidade clássica, como é o caso de Ulisses e de Hécuba. Sobre esta heroína da lenda troiana recorda-se que foi por muito tempo rainha de Troia e caiu no cativeiro e na servidão depois de chegar à velhice (Idem, 174).

Da Antiguidade chegam também os exemplos históricos, mais fortes em credibilidade, em particular os ligados à história de Roma: Viriato, Vespasiano, Cipião, Aníbal, Trajano, Júlio César. E também Alexandre Magno, talvez a figura heroica mais importante da obra, aqui retratada sobretudo a partir dos confrontos com os reis orientais Dario e Poro, dos quais sai sempre vencedor, mesmo quando os combates são desproporcionados. É nesses casos que a sua figura se reveste de expressivos contornos épicos, glorificando-o como guerreiro inigualável (Horto: 174). Mas as virtudes de Alexandre excedem esta sua faceta militar. Assim, vemo-lo em combate singular com o rei Poro, que vence, ferindo-o e derrubando-o do cavalo. Mas poupa-lhe a vida por generosidade, dando assim testemunho da sábia educação e dos valores que lhe foram incutidos pelo seu mestre, Aristóteles (Idem, 63).

Dario morreu depois de um combate com Alexandre, vítima da traição dos seus servos. Alexandre vingou e chorou a sua morte, prestou-lhe as últimas homenagens, ainda que fosse seu inimigo, mostrando "grande bondade de justiça" (Ibidem). A sua qualidade como herói ultrapassa a virilidade guerreira, está também na sua formação espiritual.

O perfil heroico de Alexandre traça-se ainda a partir da sua relação com o ouro e com as riquezas de um modo geral. Tem a noção clara de que a riqueza pode ser fatal para os guerreiros, entorpecendo a sua energia, atrofiando a sua força, por isso diz aos soldados: "Enquanto vos nom haviades riquezas nom havia gente que podesse empeecer-nos mas, despois que fostes carregados de ouro e de prata, fostes fectos preguiçosos e deleixados" (Idem, 131). Mas, por outro lado, não abdica ele próprio das riquezas conquistadas. A prosperidade económica é incompatível com a função guerreira, mas não com a função de soberania. É assim que encontramos referências aos tesouros que rei Poro distribui generosamente e que ele aceita: "E por em mostrou-lhe rei Poro todos seus tesouros, que tiinha escondidos e fez rico Alexandre e seus cavaleiros daqueles tesouros" (Idem, 63). O tesouro está sempre associado à figura do rei, como nos diz Duby:

Toujours le palais des souverains avait abrité un trésor, une collection d’objects précieux, brillants, étranges, que l’on disposait aux grandes fêtes autour de la personne du lieutenant de Dieu, comme une lisière d’étincellement entre lui et le reste des hommes (). À ces bijoux s’ajoutaient des livres puisque la première des vertus royales était la sagesse, la faculté de percer les mystères d’une Écriture. (Duby, 1979: 49-50)

O rei precisa, assim, de se rodear de um tesouro que evidencie o seu poder e que lhe permita ser generoso. Dele podem fazer parte os livros mas também as mulheres, eventualmente roubadas ou conquistadas.[4] No Horto uma das vitórias de Alexandre sobre Dario arrasta para o cativeiro a mãe e a mulher do rei persa, que daria por elas metade do seu reino, uma troca que Alexandre nunca aceitou (Horto: 175).

A esta face luminosa do guerreiro forte e justo junta-se em Alexandre a do soberano. Um rei, normalmente, não ascende à realeza antes de ser armado cavaleiro, isto é, antes de atingir o grau supremo na ordem da cavalaria. Mas esses não são os únicos valores para se atingir a realeza. A inteligência, a sabedoria, a indulgência e a segurança, a generosidade são, entre outros, os atributos de um soberano. A espada cede lugar a outros instrumentos próprios desta função: o cetro, o trono, a coroa, o manto. O poder do rei não é apenas militar, é o de regulador da Ordem. Alexandre o seu poder estender-se a todo o mundo e no Horto ele surge-nos em toda a majestade, exercendo o seu poder a partir do trono, elevado e central:

Outrossi el-rei Alexandre o Grande veeo aa cidade de Babilonia. E estando ali, veerom-lhe messegeiros das provincias de todo o mundo.

Ca de Cartago e de Africa veerom a ele messegeiros pera lhe obedecerem e de Espanha e de França e de Cicilia e das partes de Italia. Tam grande foi o temor que houverom os poboos do Occidente de Alexandre, que andava no Oriente, que de todo o mundo lhe mandavam subjeiçom e obediencia e de tam estranhas e tam alongadas terras que adur era de creer que podessem chegar novas de seus fectos. Estando Alexandre em esta tam grande gloria deste mundo, perdeo todo mui tostemente, ca seus servidores lhe derom ali peçonha, com que morreo.

(Horto: 109)

E temos a ilustração da tragédia a que nem os mais poderosos escapam: Alexandre, que atingiu o auge do poder e da glória, morreu traído pelos seus, como Dario e Viriato.

Este é um eixo fundamental na definição do percurso vital das personagens do Horto. Assume particular importância a intervenção da Fortuna no caso daquelas cuja queda é mais imprevisível e inesperada. O tema é tão relevante que no seu esforço para atingir a maior eficácia persuasiva o autor recorre a imagens diferentes para ilustrar o conceito. Dessas, destacamos três que nos pareceram as mais sugestivas. Em primeiro lugar, a inevitável comparação com a roda para expressar os vaivéns da vida e da sorte:

E assi podedes entender como a boa andança do mundo é vãa e mudadiça.

Ca assi como aquele que see sobre a roda aas vezes cae em baixo e aas vezes é posto em alto, segundo se move a roda, bem assi faz a fortuna do mundo: aas vezes abaixa os grandes e aas vezes exalça os baixos.

(Idem, 124)

Tradicionalmente a Fortuna é comparada à roda, mas a imagem pode ser mais completa, com a representação também de uma mulher. O monge cisterciense não ignoraria essa tradição e também ele nos apresenta a associação da instabilidade da Fortuna ao feminino, apoiando-se numa fonte que à primeira vista pode parecer inesperada neste contexto, o poeta Ovídio:

Uu grande poeta que chamam Ouvidio, em uu livro dos Enganos da Fortuna, figura e pinta a fortuna em esta guisa: ua fegura de molher que tem na mão seestra duas flores, scilicet, ua rosa seca, porque a fortuna da boa andança deste mundo tostemente trespassa. Outrossi tiinha em na mão ua flor de lilio a que caíam as folhas. (Idem, 325)

É uma bela figuração, uma mulher, não com uma roda, mas segurando duas flores, ambas em declínio. A imagem marca de modo redundante e portanto reforçado, a inexorável mudança a que estamos sujeitos, entre a prosperidade e a decadência.

Tudo neste quadro sugere fragilidade, beleza efémera, promessa de dissolução.

Mas o nosso autor encontra ainda um outro símile, uma terceira imagem para mostrar a instabilidade da Ventura, que aqui substitui a Fortuna:

Nom queiras confiar em na paz e em no assessego da ventura, ca o mar em uu ponto se avolve, e em uu dia meesmo, em que os navios andarom assessegados e com prazer, em esse mesmo dia se alagarom. Ex que fremosa comparaçom do mar e da ventura que faz perder o assessego e a paz do coraçom e faz alagar a primeira alegria. (Idem, 197)

O contexto em que se insere a comparação sugere que a mesma se atribui a Séneca, mas o que aqui nos parece mais relevante é percebermos que estamos perante um escritor, alguém que conhece bem o valor das palavras e para quem estas não têm um valor meramente instrumental. O espanto do sujeito do discurso perante a beleza desta comparação bem a medida do seu apurado sentido estético, da sua vocação literária, como hoje diríamos.

As aventuras heroicas não merecem um grande desenvolvimento narrativo, com algumas exceções, porque, como dissemos no início, a obra faz uma apologia da cavalaria do céu em detrimento da cavalaria secular, e assim o discurso é contido nas façanhas e mais aberto na exploração das virtudes e valores espirituais. Gostaríamos de terminar com a referência a um episódio que ganhou maior visibilidade que qualquer das outras pequenas narrativa do Horto depois de ter sido fonte de inspiração de Jorge de Sena para a sua novela O Físico Prodigioso (1979). Luciano Rossi chamou-lhe novela arturiana porque o incipit nos remete para um prometedor relato de aventuras: um jovem que encontra e consola três donzelas chorosas às portas de um castelo habitado apenas por mulheres. Na verdade, o protagonista desta narrativa "filho de uu rei", "fremoso", "grande fisico" e "virgem" (Horto: 40) assume o papel de herói libertador, mas os meios a que recorre não são os dos cavaleiros andantes.

Oferece o seu sangue casto, de virtudes terapêuticas, para curar a senhora do castelo e com o dom da palavra resgata da cova escura os cavaleiros mortos, devolvendo o equilíbrio e a ordem àquela comunidade. Este herói parece ser um dos que têm condições para inverter a dinâmica da Fortuna, restaurando o bem perdido. Ao serem devolvidos à vida, os cavaleiros do castelo imploram ao mancebo: "Vem trigosamente e a nós as doas que perdemos em outro tempo." (Ibidem). O anónimo caminheiro, filho de rei, casto e formoso, facilmente se associa à figura de Cristo, pela dimensão redentora do sangue, pelo poder milagroso da Palavra.

O Horto insiste nesta mensagem: nos libertamos da lei inconstante da Fortuna pelo despojamento dos bens materiais, pela conversão e pela aspiração à pureza espiritual. A vasta galeria de personagens do Horto e principalmente as que têm perfil heroico, porque foram poderosas, realizaram feitos extraordinários, ganharam um lugar na História, são apresentadas em função do contraste entre a fase luminosa da prosperidade e o negro declínio e servem precisamente como demonstração desta doutrina. Dir-se-á que esta temática não apresenta nada de novo, nem de original. Pelo contrário, ela tem, de facto, uma longa tradição literária, filosófica, doutrinal, que vem da Antiguidade clássica e domina toda a Idade Média. Mas isso não faz do Horto um produto cultural tardio ou anacrónico, porque o tema da vida terrena sujeita à instável Fortuna e a libertação pela Divina Providência (e pela Fama, em obras de cariz profano) estará presente ainda ao longo de todo o séc. XV na literatura ibérica, em obras de poetas e intelectuais portugueses, como é o caso do Condestável D.

Pedro na Tragedia de la Insigne Reyna doña Isabel (1457) e nas Coplas del menosprecio e contempto de las cosas fermosas del mundo (1453-1454) e ainda de castelhanos como Juan de Mena em Laberinto de Fortuna, mais conhecido como Las Trescientas (1444), e Jorge Manrique com as belíssimas Coplas por la muerte de su padre (1476), que o haviam de imortalizar, e onde avulta a imagem da Fortuna: [XI] Los estados e riqueza, que nos dexan a deshora quien lo duda? non les pidamos firmeza, pues que son d’una señora; que se muda, que bienes son de Fortuna que revuelven con su rueda presurosa, la cual non puede ser una ni estar estable ni queda en una cosa.

(Manrique, 2008: 153-154) E terminamos assim esta nossa breve reflexão sobre o percurso de algumas figuras exemplares do Horto do Esposo, sublinhando o que nos parece ser mais relevante: a convicção de que o seu autor compôs o livro em perfeita harmonia e consonância com as tendências culturais e filosóficas do seu tempo, recuperando tópicos com uma vasta tradição anterior, como são os que aqui vimos abordados a propósito das vidas destes heróis a fugacidade das coisas terrenas, o desprezo do mundo, o caráter exemplar das caídas de grandes personagens que estarão no centro de obras da literatura portuguesa e castelhana ao longo do século XV.


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