Rethinking health psychology
Rethinking health psychology (2000) - Michele L. Crossley. Buckingham: Open
University Press, Health Psychology (198 pp)
Trata-se de uma obra indispensável para todos os que se interessam por
psicologia da saúde e, mais particularmente, para os que se dedicam à
investigação e ao ensino, uma vez que constitui uma reflexão aprofundada de
natureza crítica sobre os modelos teóricos e os métodos de investigação e de
intervenção que caracterizam esta área do conhecimento psicológico. No
essencial, a autora parte da tese de que a psicologia da saúde contemporânea
necessitaria de ser repensada e procura responder a três questionamentos
centrais:
- Quais são os principais modelos teóricos e os principais métodos psicológicos
que são relevantes para estudar a saúde e a doença numa perspectiva
psicológica?
- De que forma a psicologia da saúde pode reflectir criticamente sobre eles,
com a finalidade de repensá-los?
- Quais serão as implicações desta reflexão crítica para o futuro da psicologia
da saúde?
Para dar resposta, a autora passa em revista de forma mais ou menos exaustiva
os modelos teóricos e os métodos de investigação dominantes em psicologia da
saúde e estabelece claramente uma distinção pertinente entre psicologia da
saúde "tradicional" e psicologia da saúde "crítica",
que diferem essencialmente por dimensões teóricas e metodológicas.
Assim, a perspectiva "tradicional"(científica) assenta no modelo
biopsicossocial, investiga predominantemente com métodos quantitativos, procura
identificar os preditores dos comportamentos saudáveis e dos comportamentos de
risco e focaliza-se na prevenção. A perspectiva "crítica"
(hermenêutica) assenta em modelos fenomenológico-discursivos, investiga com
métodos qualitativos, procura identificar as significações associadas à saúde e
focaliza nas experiências de saúde e de doença. Nesta perspectiva assumem
importância central a reflexividade, os significados, o discurso e as relações
entre saúde, doença, identidade social e valores. Fazendo uma crítica ao
carácter descontextualizado da perspectiva tradicional que tende a considerar
apenas aspectos da psicologia individual, reduzindo as questões da saúde e da
doença a problemas técnicos e instrumentais de manejo e controlo, a autora
apresenta as potencialidades das novas abordagens que assentam nas narrativas e
na análise do discurso, nomeadamente no que se refere à intervenção psicológica
na promoção da saúde, explicitando as limitações dos modelos cognitivos e
sociocognitivos dominantes, introduzindo o conceito de racionalidade
alternativa e dos comportamentos relacionados com a saúde como estratégias de
sobrevivência, isto é, como formas de construir significados e identidade.
Num segundo momento, são apresentados e discutidos os resultados e as
potencialidades das novas abordagens em áreas específicas de enorme
importância, a saber: comportamentos alimentares, comportamentos sexuais,
consumo de substâncias (álcool e drogas), adesão ao exercício físico regular,
confronto com doenças crónicas, confronto com a morte, doenças mentais e
interacção com técnicos de saúde, com especial ênfase na relação médico-doente.
Com este livro ficam mais evidentes as razões que levaram à grande popularidade
de que goza a psicologia da saúde nas sociedades ocidentais, uma vez que a
autora apresenta uma análise muito detalhada das relações entre o
desenvolvimento da psicologia da saúde, o contexto social e político
contemporâneo na Europa e Estados Unidos da América, as mudanças operadas nos
sistemas de saúde e a comercialização da saúde e dos estilos de vida.
Não é um livro de leitura fácil mas é um livro praticamente obrigatório para
quem quiser estar a par dos desenvolvimentos mais actuais da psicologia da
saúde, queira situar-se numa perspectiva de crítica epistemológica e reconheça
a necessidade urgente de integrar uma perspectiva sociopolítica e cultural no
estudo do comportamento humano relacionado com a saúde, a doença e a prestação
dos cuidados de saúde.
José A. Carvalho Teixeira