Perturbações de eliminação na infância e na adolescência (2004): Luísa Barros.
Lisboa: Climepsi Editores, Colecção Psicológica 17, 180 pp.
PERTURBAÇÕES DE ELIMINAÇÃO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA (2004) - Luísa Barros.
Lisboa: Climepsi Editores, Colecção Psicológica 17, 180 pp.
Finalmente está disponível um manual de intervenção na enurese e na encoprese
com utilidade e aplicabilidade na prática clínica, numa perspectiva pragmática
que, sem pôr de parte um modelo integrador de concepções organicistas de
disfunção maturativa, de concepções dinâmicas de disfunção relacional e de
concepções desenvolvimentistas, escolhe claramente estas últimas, ligando a
enurese e a encoprese ao desenvolvimento cognitivo e socioafectivo e ao
desenvolvimento de competências de auto-regulação e autocontrolo
comportamental. As concepções desenvolvimentistas têm a vantagem de tomar como
ponto de partida os processos de desenvolvimento orgânico e psicológico normais
para compreender as diferentes perturbações de eliminação, permitindo níveis de
intervenção diferentes: prevenção, detecção precoce e intervenção
especializada.
O livro da Prof.ª Doutora Luísa Barros(Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação, Univ. Lisboa) está essencialmente organizado em duas partes. A
primeira parte é dedicada a uma vasta revisão do controlo dos esfíncteres como
tarefa de desenvolvimento. A segunda parte diz respeito aos métodos e técnicas
de avaliação e de intervenção educacional e terapêutica na enurese e na
encoprese.
Após uma breve introdução, o segundo capítuloé dedicado ao desenvolvimento.
Este é o contexto onde a autora integra o controlo dos esfíncteres como tarefa
do desenvolvimento que decorre naturalmente mas que pode ser facilitada por
atitudes educacionais. Assim, é dada ênfase ao contexto relacional e cultural
onde decorre esse processo, nomeadamente no que se refere ao ensino da higiene
e às diferentes fases de aprendizagem do controlo da higiene. São definidos
critérios para a intervenção e são abordadas as questões específicas que se
podem colocar em relação a crianças com doenças crónicas e a crianças com
atraso de desenvolvimento ou deficiência.
Os terceiroe quarto capítulossão dedicados à enurese, nomeadamente à
caracterização do problema e ao seu tratamento. Definido o conceito são
apresentados os critérios de diagnóstico e discutidas as hipóteses causais com
destaque para as que estão relacionadas com determinantes psicológicos. São
apresentadas as diferentes metodologias de intervenção na enurese, quer as
relacionadas com as atitudes dos pais, quer os tratamentos farmacológicos e
psicológicos.
Nos quintoe sexto capítulosa autora segue o mesmo esquema anterior, começando
por caracterizar a encoprese e analisar os seus determinantes causais para,
seguidamente, apresentar também as principais metodologias terapêuticas,
incluindo o caso das crianças com atraso de desenvolvimento e deficiência.
O capítulo sétimoé todo ele dedicado à avaliação das perturbações de
eliminação. Nele se destaca a entrevista de avaliação, quer no que se refere à
recolha de informação sobre a criança e sobre a perturbação de eliminação, quer
no que se refere à avaliação de resultados da intervenção.
Nos capítulo oitavoe nonosão apresentados detalhadamente os programas de
intervenção propostos pela autora para a enurese e para a encoprese. São
programas de intervenção psicológica de natureza cognitiva- comportamental que
envolvem técnicas específicas, cuja eficácia e resultados têm sido
exaustivamente estudados. Estes dois capítulos constituem parte essencial do
livro, uma vez que têm aplicabilidade clínica directa.
Finalmente, no capítulo décimosão apresentadas propostas de promoção da adesão.
Trata-se de um capítulo com grande originalidade neste tipo de manuais e que,
ao mesmo tempo, tem utilidade essencial para os técnicos que monitorizam
regularmemte o comportamento de adesão. Assim, começa por analisar os
determinantes da adesão insatisfatória ao diagnóstico e ao tratamento no
contexto da interacção pais-filho. Depois, apresenta as metodologias de
promoção da adesão, quer em termos educacionais, quer de automonitorização,
programa de contingências e estratégia de resolução de problemas.
Em anexosfinais, o livro inclui ainda um conjunto de instrumentos auxiliares,
tais como exemplos de registos e fichas de informação do médico assistente.
A autora, situando-se claramente na perspectiva da psicologia da saúde, tem
contribuído decisivamente para o desenvolvimento da psicologia pediátrica em
Portugal. Com este trabalho coerente e de grande rigor científico, dá mais uma
valiosa contribuição para a formação específica dos psicólogos e de outros
técnicos de saúde para lidarem com as perturbações de eliminação, um problema
clínico relativamente frequente e habitualmente tratado de forma pouco rigorosa
e com avaliação escassa dos resultados das metodologias utilizadas.
Trata-se de uma obra que poderá ser útil aos que trabalham em áreas tão
diferentes como a educação, a saúde e a reabilitação.
A partir da publicação deste livro é também possível aos pais, aos médicos e
aos psicólogos terem uma perspectiva mais precisa das possibilidades das
diferentes escolhas que podem fazer em matéria de modelos de intervenção nas
perturbações de eliminação e do que podem esperar de cada um deles.
Isabel Trindade