Nota de Abertura
Nota de Abertura
São várias as razões que contribuem para a satisfação com que agora se publica
este número temático sobrePsicoterapia Existencial. Desde logo porque coincide
com a conclusão do primeiro ano do único Curso de Mestrado sobre Psicoterapia
Existencial que existe no País, realizado no ISPA - Instituto Superior de
Psicologia Aplicada em colaboração com oRegent's College - School of
Psychotherapy and Counselling do Reino Unido. Esta coincidência temporal
aplica-se igualmente a outro evento significativo, a criação da Sociedade
Portuguesa de Psicoterapia Existencial, que vem preencher uma lacuna no
panorama científico das sociedades que em Portugal se dedicam à formação de
psicoterapeutas. Finalmente, este número temático é, em si mesmo, um reflexo do
trabalho que se tem vindo a desenvolver nesta área: reúne um conjunto de
artigos que expressam a internacionalizaçãoda abordagem fenomenológica e
existencial em psicoterapia. É com particular agrado que contamos com a
colaboração de autores cuja relevância científica é consensual no quadro das
abordagens fenomenológico-existenciais, nomeadamente, Ernesto Spinelli
(Regent's College), Amedeo Giorgi (Saybrook University), Emmy van Deurzen
(University of Sheffield) e Simon Duplock (Regent's College), juntamente com os
contributos de autores portugueses e brasileiros.
Este conjunto de trabalhos traduz igualmente uma preocupação que tem orientado
o projecto de desenvolver a Psicoterapia Existencial em Portugal: a estreita
relação entre teoria, prática clínica e investigação. Intencionalmente, a
Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Existencial, ao asseguraro desenvolvimento
do saber-fazer dos psicoterapeutas, irá manter uma colaboração estreita com a
Escola de Mestrados e Estudos Pós-Graduados, em particular com o Mestrado de
Relação de Ajuda-Perspectivas da Psicoterapia Existencial e com a Unidade de
Investigação em Filosofia e Ciências Sociais do ISPA. Contribui-se assim, para
o esforço que internacionalmente se tem vindo a incrementar para combater o
enorme hiato que tem separado investigadores e terapeutas. Nenhuma área do
saber se pode desenvolver se não mantiver uma interrogação permanente sobre os
seus pressupostos epistemológicos.
Acresce ainda o facto de, em Portugal, a formação de psicoterapeutas
existenciais orientar-se pelas regras internacionais, designadamente daEAP -
European Association for Psychotherapy e da International Society for
Existential Psychotherapy and Counselling da qual a Sociedade Portuguesa é
membro fundador.
Os temas dos artigos agora publicados são variados e testemunham a amplitude e
diversidade dos interesses dos autores. Contudo, dizem respeito essencialmente
às seguintes áreas:
- Reflexão sobre pressupostos filosóficos da psicoterapia existencial
- Caracterização da psicoterapia existencial como modalidade específica de
intervençãoterapêutica
- Aspectos do encontro terapêutico
- Supervisão em psicoterapia existencial
- Aplicações em psicologia da saúde e em psicopatologia
- Questões ligadas à investigação fenomenológica e à investigação sobre a
própria psicoterapiaexistencial.
Salientam-se alguns aspectos relevantes. Os artigos introduzem inicialmente uma
fundamentação da condição e da acção do Homem como construtor da sua própria
identidade, especificam o que é hoje a psicoterapia existencial, como se
caracteriza enquanto modelo de intervenção e o que a distingue de outros
modelos. Particularmente importante referir que a aplicação da abordagem
fenomenológica-existencial é hoje praticada num elevado número de países, em
contexto privado como em contexto institucional, com resultados positivos. Para
este aspecto muito tem contribuído o trabalho de psicólogos e psicoterapeutas
que seguem este quadro teórico e que estão inseridos em serviços de saúde de
diversos países, tal como foi fundamental, um renascer do interesse, a nível
internacional, pela investigação empírica em psicoterapia. Os resultados têm
comprovado a utilidade e a aplicabilidade da psicoterapia existencial.
Finalmente, sobretudo em contexto académico, a fenomenologia tem sido
amplamente utilizada como método de investigação em diversas áreas do saber.
São sobejamente conhecidos os trabalhos que têm sido desenvolvidos no
continente americano mas também na Europa-destaque-se neste caso o enorme
contributo dos países nórdicos nos últimos anos - o mesmo acontecendo na
Austrália.
Entre nós, este esforço é sequência natural dos trabalhos desenvolvidos desde
os finais dos anos 80 pelo Grupo de Estudos de Psicologia e Psicopatologia
Fenomenológicas e Existenciais do ISPA, que organizou vários seminários de
formação e reuniões científicas nacionais.
PAULA PONCE DE LEÃO / JOSÉ A. CARVALHO TEIXEIRA / DANIEL SOUSA