Nota de Abertura
Nota de Abertura
Este número especial da revista Análise Psicológica apresenta parte dos
trabalhos de investigação desenvolvidos na Linha 1 - Psicologia do
Desenvolvimento, da Unidade de Investigação em Psicologia Cognitiva do
Desenvolvimento e da Educação (FCT-ID-332), do Instituto Superior de Psicologia
Aplicada. Esta linha de investigação, dedicada principalmente ao estudo do
desenvolvimento social da criança, tem como principal objectivo integrar a
contribuição relativa de dois contextos primordiais de socialização: a família
e o grupo de pares. Os trabalhos desenvolvidos procuram documentar os múltiplos
factores específicos que contribuem para o desenvolvimento sócio-emocional da
criança. Duas perspectivas teóricas atravessam todos os trabalhos apresentados
neste número especial, a teoria da vinculação e a etologia social.
A teoria da vinculação (Bowlby, 1973, 1980, 1982, 1988) é uma teoria
desenvolvimental largamente utilizada e bem preparada para esta linha de
inquérito, porque possui assumpções normativas sobre a organização do
comportamento da criança para com os seus progenitores/cuidadores e assumpções
sobre diferenças individuais baseadas na natureza e qualidade das relações
parentais em contextos específicos. O aspecto mais contundente e desafiante da
teoria da vinculação é talvez a asserção de Bowlby (1980, 1982) sobre a
natureza da relação de vinculação mãe-criança ter implicações vastas e
significativas para o desenvolvimento social e personalidade da criança ao
longo do ciclo de vida. De acordo com esta perspectiva organizacional e
relacional, as relações precoces pais-criança são definidas como sendo a base
primária para a emergência e efectividade dos comportamentos, estratégias de
interacção, compreensão emocional, e crenças sobre si mesmo e os outros
significativos.
Logo após o impacto da teoria da vinculação, podemos distinguir a influência da
etologia social nos trabalhos apresentados neste número da revista Análise
Psicológica. A emergência da etologia social, no início dos anos 1970,
reformulou a tradicional relação organismo-ambiente, passando a relação do
indivíduo com o meio a ser mediada pela ecologia social do grupo, ou seja o
desenvolvimento do indivíduo dependeria do seu nível de inserção e ajustamento
à "ordem social prevalecente no grupo".
Basicamente, e dentro desta perspectiva, os nossos trabalhos tentam defender
que o estudo das diferenças qualitativas nas relações afiliativas e papéis
sociais que as crianças co-constroem nos grupos estáveis em meio escolar, deve
complementar a perspectiva tradicional psicométrica em psicologia do
desenvolvimento que se baseia no estudo das diferenças individuais em termos de
estatuto e competência social. Por outras palavras, estatutos e papéis sociais
são características relacionais e não atributos individuais e físicos como a
cor dos olhos.
Antes de terminar, gostaríamos de fazer referência que os múltiplos trabalhos
realizados no seio da nossa equipa, durante estes últimos anos, não poderiam
ter sido feitos sem a colaboração efectiva dos vários participantes nos nossos
estudos, sem o suporte empenhado de alguns colegas, sem o entusiasmo declarado
de todos os nossos alunos e sem o financiamento obtido junto de algumas
entidades.
Assim, os autores agradecem a todas as crianças, mães, pais e educadoras que
aceitaram participar nos vários estudos apresentados neste número especial,
dedicando um reconhecimento muito especial àDirecção e funcionários do
Externato Miguel Ângelo (Oeiras). Uma palavra de profundo apreço segue,
igualmente, para os Professores Zilda Fidalgo, F. F. Strayer, Brian E. Vaughn,
Everet Waters, Harriet Waters, Kelly K. Bost, German Posada, Marcel Trudel e
Michael Chandler pelos seus apoio e partilha de conhecimentos e, muito
particularmente, pela sua amizade.
Uma palavra de louvor muito especial deverá ser dirigida aos vários alunos que
em diferentes fases do seu percurso académico contribuíram para o avançar dos
vários projectos em que nós nos envolvemos, agradecendo, muito especialmente, a
Ana Lopes, Ana Rebelo, Ana Zilda Silva, André Silva, Bruno Ferreira, Carla
Fernandes, Carla Oliveira, Filipa Silva, Filipa Castro, Inês Peceguina, Iolanda
Queiroz, Inês Pessoa e Costa, Joana Carreiras, Joana Maia, João Daniel, João
Correia, Lígia Monteiro, Lisa Roque, Marília Fernandes, Mauro Pimenta, Miguel
Freitas, Miguel Ramos, Mónica Guimarães, Nuno Torres, Orlando Santos, Paula
Machado, Patrícia Borges, Rita Emíidio, Raquel Castro, Raquel Vieira da Silva,
Sara Fragoso, Sofia Meneres, Tânia Boavida, Teresa Rolão e Vera Oliveira.
Por último, devemos sublinhar que os artigos apresentados neste número especial
da revista Análise Psicológicanão seriam possíveis de realização sem o apoio
financeiro dado aos vários projectos por parte da FCT e do Centro de
Investigação do ISPA (PTDC/PSI/64149/2006, PTDC/PSI/66172/2006, CII/ISPA/PI-05-
005, CII/ISPA/PI-05-010, CII/ISPA/PI-04-011, POCTI/PSI/46739/2002, FCT/SAPIENS/
36429).
Manuela Veríssimo / António J. Santos