Reuniões científicas: VII Colóquio sobre questões curriculares
Reuniões científicas
VII Colóquio sobre questões curriculares
Decorreu, na Universidade do Minho, entre os dias 9 e 11 de Fevereiro de 2006,
o VII Colóquio sobre Questões Curriculares, subordinado ao tema
"Globalização e (des)igualdades: os desafios curriculares". Este
encontro científico, que era também o III Colóquio Luso-Brasileiro, foi
organizado conjuntamente pela Universidade do Minho e pela Universidade
Católica de Petrópolis (Brasil), tendo o patrocínio de cinco universidades
nacionais e de outras tantas instituições universitárias brasileiras.
Os representantes institucionais e científicos da Universidade do Minho
presentes nesta sessão sublinharam a importância deste tipo de parcerias para a
promoção de conhecimento mútuo e para o esbater de desigualdades na sociedade
global, louvando a regularidade e a crescente dimensão assumida, a partir da
sua internacionalização em 2002, por este colóquio, pelo qual se promovem
intercâmbios de docentes, sobretudo entre universidades portuguesas e
brasileiras.
Com 450 comunicações livres, centrando-se, fundamentalmente, no contexto da
globalização económica, social e cultural, as questões gerais debatidas neste
colóquio relacionaram-se com a (des)igualdade, a diferença, a inclusão e a
justiça social, sempre com o intuito de "enfatizar o papel desempenhado
pelo currículo, entendido como instrumento de produção de identidades pessoais,
sociais e culturais" (tal como afirmam, na introdução do livro de resumos,
os coordenadores do evento). A partir destas intenções, as comunicações livres
do colóquio foram distribuídas, nos três dias, pelos seguintes temas (para cada
um dos quais houve uma mesa-redonda): 1. Globalização e Ensino Superior: a
discussão de Bolonha; 2. Desafios para a avaliação; 3. Currículo, tecnologias e
inovações curriculares; 4. Globalização, (des)igualdades e conhecimento
escolar; 5. Saberes docentes e discentes: desafios para o currículo; 6.
Currículo e diferença: desafios em tempos de globalização; 7. Globalização,
currículo e profissionalidade docente; 8. Currículo e educação não formal:
desafios da sociedade contemporânea; 9. Globalização e políticas curriculares:
mudanças nas práticas.
Na conferência de abertura do colóquio -Psicologia, poder e estudos
curriculares: a globalização da educação na História Ocidental em termos de
estandardização? - Tero Autio (da Universidade de Tampere, na Finlândia),
descrevendo algumas das características do Neoliberalismo político, mostrou-se
crítico em relação à questão da globalização e a um sistema de mercado
educativo livre. Enumerando, em particular, alguns traços do Neoliberalismo
político na educação finlandesa, referiu as suas tendências fundamentais e
sublinhou que a reestruturação da educação à escala mundial vem sendo ditada
por interesses administrativos e económicos: as instituições de ensino são
escolhidas pelos seus clientes (os pais) para a prestação de um bom serviço
educativo, aceitando-se abertamente o princípio do elitismo; as escolas,
tendencialmente privatizadas, tornam-se empresas e desenvolvem entre si fortes
sistemas de competição; o investimento público na educação vai sofrendo cortes,
vendo-se as escolas compelidas a desenvolver as suas formas de financiamento;
usando a retórica da responsabilização e da qualidade, o estado, mesmo assim,
implementa formas de avaliação dos sistemas de ensino.
João Lobo Antunes, por seu turno, na conferência de encerramento, afirmando que
"a educação permanece para mim um mistério, começando pelo mistério da
minha própria educação" e centrando a sua reflexão no âmbito da educação
médica, vincou todavia que "o ensino de qualquer profissão obriga a três
passos fundamentais: a aprendizagem de uma teoria; o domínio de uma prática; a
formação de uma identidade profissional." Entretanto, ao questionar a
valorização do currículo formal, introduziu o seu conceito de "currículo
escondido", ou seja, "um núcleo de conhecimentos e experiências
indispensáveis à prática". A concluir, mostrando-se também crítico da
tendência para um "mundo globalizado", apontou como exemplo
"três mitos perigosos sobre o papel dos novos 'media' em educação", a
saber: 1) "o acesso é tudo"; 2) "o futuro está nos
conteúdos"; 3) "a escola é hoje menos necessária".
Em suma, parece poder concluir-se que a era da Globalização, questionando as
formas da Educação e as funções da Escola, coloca, de facto, grandes desafios
não só aos especialistas e teóricos do currículo mas também a todos os
profissionais do ensino.
Espera-se, pois, que tais desafios voltem ao debate, o mais tardar no VIII
Colóquio sobre Questões Curriculares/IV Colóquio Luso-Brasileiroque terá lugar,
no ano de 2008, na Universidade Federal de Santa Catarina (no Brasil).
António Carvalho da Silva
Universidade do Minho
Centro de Investigação em Educação
Instituto de Educação
Universidade do Minho - Campus de Gualtar
4710 Braga - Portugal
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