Processo de supervisão em jardim de infância: Um olhar narrativo em prol do
desenvolvimento profissional
RÉSUMÉ
Cet article a comme base un processus de supervision qui visait l'écoute de
deux assistantes maternelles qui nous ont racontés leurs expériences, de façon
à nous faire connaître leurs pratiques éducatives. Ce processus de supervision
collaborative et de réflexion a été mis en évidence dans les récits des
assistantes maternelles, quand elles indiquent que celui-ci promeut le
développement professionnel et l'amélioration des pratiques éducatives, faisant
de la réflexion l'élément central pour ce développement, permettant
l'attribution d'un sens à l'action pédagogique. Cette étude est de nature
qualitative et interprétative et a comme fil conducteur l'écoute et la
réflexion, utilisant pour l'analyse des narratives le modèle évaluateur de
Labov (1972, 1982).Cette étude suggère que le processus de réflexion, intégré à
la supervision, a permis une amélioration des pratiques éducatives et, par
conséquent, le développement professionnel. En racontant leurs histoires, les
assistantes maternelles se rappellent, analysent et incorporent la réflexion
sur leurs expériences éducatives dans leur pratique.
Mots-clé: Supervision; Éducation de l'enfance; Développement professionnel;
Narratives
Introdução
O jardim de infância nestes últimos anos tem sido reconhecido como um espaço de
aprendizagens múltiplas, onde se torna fundamental a qualidade das práticas
educativas, preservando a "identidade própria" da educação de infância (Parecer
nº 3/2009, de 26 de junho).
Este artigo pretende situar-se em dois níveis que se intersetam para a leitura
das experiências educativas acontecidas em jardim de infância. Um primeiro
nível refere-se ao processo de supervisão de cariz colaborativo e reflexivo,
que envolve educadoras, crianças e supervisor. E um segundo nível ao das
práticas educativas das educadoras de infância como promotoras de aprendizagens
significativas para as crianças. É o cruzamento destes dois níveis que
contribuirá para uma educação de qualidade, que impulsionará o sucesso de
crianças pequenas no decorrer da sua vida escolar (UNESCO, 2010).
Woodhead (1996) diz-nos que a qualidade educativa na educação de infância está
fortemente influenciada por vários fatores, dos quais se destacam as práticas
dos educadores. Essas práticas deverão refletir o que se sabe sobre o
desenvolvimento das crianças (a investigação) e integrar realidades da vida das
crianças (serem contextualizadas). Moss, Dahlberg, e Pence (2000) fazem emergir
um novo conceito, o de make meaning ' atribuição de sentido ', que associamos
às duas ideias anteriores. Para estes autores, construir e aprofundar a
compreensão do trabalho pedagógico é o que garante uma proposta para criar
sentido (make meaning) para a realidade existente. Este conceito está
intimamente relacionado com a supervisão e implica um processo de escuta das
educadoras, através do qual relatam acontecimentos e as suas inquietações
relacionadas com as práticas que desenvolvem. É neste contexto que este artigo
pretende dar voz às educadoras de infância de modo a aceder às suas
experiências educativas, bem como aos significados que lhes atribuem (Clandinin
& Connnelly, 2000). E é neste processo de escuta que se revelam
aprendizagens, num contar histórias com sentidos pessoais, mas também sociais e
profissionais.
1. A supervisão e o desenvolvimento profissional
A supervisão caracteriza-se, neste artigo, como "atuação de monitorização
sistemática da prática pedagógica" em que os procedimentos centrais que a
suportam são a reflexão e a experimentação (Vieira, 1993, p. 28). Neste âmbito,
"a aprendizagem que se gera na prática é um elemento formativo" e a supervisão,
consequentemente, permite desenvolvimento, aprendizagem e melhoramento na
educação (Alarcão, 1996, p. 17). O conceito de supervisão, aqui apresentado, é
entendido além da formação inicial, sendo ampliado numa perspetiva de formação,
aprendizagem e aperfeiçoamento ao longo da vida, numa amplitude de promoção da
qualidade educativa.
Glickman (1985) considera três estilos de supervisão: não-diretivo, de
colaboração e diretivo. O supervisor que adota um estilo não-diretivo evidencia
interesse e capacidade de atender ao professor, escutando-o e valorizando as
suas ideias e saberes, encorajando-o nas duas decisões. O supervisor
colaborativo faz sínteses das sugestões e dos problemas apresentados, ajuda a
resolvê-los. Esta dimensão colaborativa assume-se como condição de qualidade,
facilitadora de melhores práticas, um verdadeiro "instrumento ao serviço do
desenvolvimento" (Alarcão & Canha, 2013). Estes dois estilos permitem que
no decorrer do processo se faça reflexão sobre a atuação do educador,
possibilitando a identificação de teorias e/ou crenças que lhe estão
implícitas. Assim, faculta o autoconhecimento e uma progressiva construção do
seu estilo pessoal de atuação (Oliveira, 1992). Neste âmbito, os educadores
tomam decisões pedagógicas fundamentadas, o que permite uma maior adequação ao
desenvolvimento das crianças. O supervisor de tipo diretivo, pelo contrário,
concentra as suas preocupações em dar orientações, em estabelecer critérios e
condicionar as atitudes do professor. De facto, entre outras metas, a
supervisão promove o desenvolvimento pessoal e profissional dos professores
(Reiman & Thies-Sprinthall, 1998; Alarcão, 1996). Assume-se que os
professores têm um papel como agentes de mudança, em que o desenvolvimento
profissional será um indicador da qualidade que se procura no campo da educação
(UNESCO, 1998).
Nesta configuração, o processo de supervisão enquadra a aprendizagem
profissional de um modo contínuo que envolve a pessoa e os seus saberes,
assumindo-se como uma "prática acompanhada, interactiva, colaborativa e
reflexiva" (Sá-Chaves, 2000, p. 75). Esta é uma perspetiva de supervisão que
assenta em pressupostos da teoria construtivista e desenvolvimentista, que
reconhece que os professores têm potencialidades para melhorar o seu estilo de
ensino. Assim, a supervisão perspetiva "a formação e o desenvolvimento
profissional dos agentes de educação e a sua influência no desenvolvimento e na
aprendizagem dos alunos" (Vasconcelos, 2009, p. 94).
A supervisão assume um papel de escuta das experiências educativas dos
educadores, onde evidenciam os seus saberes, questões e reflexões das práticas
contextualizadas (Sá-Chaves, 2002). Esta é uma perspetiva de supervisão em que
emerge o desenvolvimento profissional numa constante reflexão sobre o já
experimentado para a (re)construção de novas experimentações. A supervisão
surge como alicerce da construção e desenvolvimento do conhecimento
profissional (Alarcão & Roldão, 2008), permitindo aparelhar os "andaimes,
as estruturas de apoio e revê-las constantemente" (Vasconcelos, 2009, p. 97),
de um modo dinâmico onde se valoriza as experiências aliadas à reflexão, em
todo o processo desenvolvimental dos professores (Fullan, 1982). Este processo
traduz-se num "trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de
(re)construção permanente de uma identidade pessoal" (Nóvoa, 1992, p. 25).
Apresentando um paradigma de prática reflexiva, Zeichner (1993) caracteriza o
desenvolvimento profissional dos professores como uma atitude de questionamento
sistemático face às conceções, práticas e contextos de ensino-aprendizagem.
Assim, é uma abordagem reflexiva que apresenta uma visão de melhoria e
desenvolvimento, através da aprendizagem, num panorama em que os professores
constroem e reconstroem o seu conhecimento no campo da ação, acontecendo num
ambiente situado, de diálogo com outros e numa constante mobilização de saberes
(Alarcão, 2002; Sá-Chaves, 2011).
Schön (1983, cit. por Alarcão, 1996) revaloriza o conhecimento contextualizado
que floresce da prática inteligente e refletida, considerando estes dois
elementos, em paralelo, o que desafia os profissionais. A reflexão é
considerada uma forma de compreender e reconstruir a ação. Entendendo o
processo de supervisão como contributo para momentos de reflexão, Schön (1987,
cit. em Alarcão, 1996) indica como estratégia fulcral de reflexão a
verbalização do pensamento como expressão dos processos de reflexão na ação e
diálogo com a situação. Assim, permite aceder a significados e negociar a
construção de novos sentidos.
É, certamente, num processo de reflexão conjunta, com outros, que construímos
novos sentidos para as práticas e se produz desenvolvimento e aprendizagem,
esta suportada numa forte articulação teoria/prática, bem como entre a prática
e a reflexão sobre a prática, como defende Perrenoud (1993). Brookfield (1995)
também concorda que um professor reflexivo crítico chegou à particularidade do
processo de reflexão. É neste processo crítico que o professor se questiona e
analisa as suas práticas, bem como o impacto em termos de aprendizagens nos
alunos. Este nível só é concretizável porque consegue estar disponível para o
diálogo com outros, partilhando diferentes opiniões e visões de realidade
experimentada, o que consequentemente valida novos significados e até novas
formas de atuação futuras.
2. A narrativa no processo de escuta
O Ser humano é um ser social e está rodeado de experiências de vida diversas,
situadas num tempo e espaço. Bruner (1972) considera que é através da linguagem
que essas experiências de vida são expressas. É com esse instrumento que os
outros acedem ao pensamento de alguém, permitindo desenvolvimento e construção
de conhecimento. Assim, a narrativa torna-se "a melhor forma de representação e
compreensão da experiência" (Clandinin & Connnelly, 2000, p. 18).
É com este sentido que a importância da narrativa em contexto de educação se
revela. A narrativa surge como um modo de refletir, relatar e representar a
experiência, permitindo a produção de sentido para a mesma (Carter, 1993).
Considerando a perspetiva de Riessman (1993), a experiência vivida assume cinco
níveis de representação: dar sentido, contar, transcrever, analisar e ler. No
entanto, todo este processo inclui um sexto nível, o da interpretação (Galvão,
2005), evidenciando novas formas de compreensão, pelo próprio e pelos outros
que acedem ao relato. Entramos, deste modo, cada vez mais em profundidade, nos
múltiplos sentidos que a experiência pode ter.
Na educação, a narrativa assume-se como uma forma de conhecer a realidade
educativa, mas também como impulsionadora do desenvolvimento pessoal e
profissional dos professores (Reis, 2008). Assim, poder-se-á compreender melhor
as diferentes formas de pensar dos professores, bem como os processos de
ensino-aprendizagem que desenvolvem e o modo como os percebem. É nesta
perspetiva que o professor tem oportunidade de orientar, "com lucidez, as
próprias aprendizagens e o seu processo de formação" (Josso, 2004, p. 41),
podendo, assim, alicerçar melhorias na sua ação educativa.
Galvão (2005) apresenta diferentes potencialidades da narrativa, encontrando-se
estas em três processos essenciais na educação: a investigação, a reflexão
pedagógica e a formação. Em todos eles a narrativa tem benefícios ao permitir
criar novas estratégias e melhorar práticas de atuação. No entanto, Clandinin e
Connelly (2000) alertam-nos para o facto de em educação existirem muitas formas
de narrativas. Situando-nos no conceito, Stephens (1992) diz que a narrativa se
constitui pela história, mas também pelo discurso e significação atribuída por
outros. Connelly e Clandinin (1990) diferenciam a narrativa da história,
considerando a história como os acontecimentos experienciados e a narrativa o
método que estuda, descreve e compreende essas experiências (Galvão, 2005). De
facto, como Bruner (1997) nos diz que a narrativa é um tipo de pensamento que
expressa um saber, talvez com as várias interpretações possíveis se possa
alargar para vários saberes. A utilização da narrativa permite comunicar com
outros, bem como descodificar experiências vividas pelos professores, num
contexto próprio, particular, mas próximo e imerso na sua realidade educativa.
Assim, a narrativa apresenta-se de forma a reconstituir o significado contido
nas ações dos professores, valorizando o seu saber prático (Galvão, 2005).
Labov (1972, 1982) propõe um modelo sociolinguístico de análise das histórias
de professores, considerando história uma narrativa muito particular de que se
destaca, de uma forma simplista, um princípio, um meio e um fim. De acordo com
o autor, as histórias apresentam-se com uma estrutura constituída por seis
componentes: resumo (o sumário da narrativa); orientação (indicações laterais à
ação, como personagens, tempo e espaço); complicação da ação (os acontecimentos
centrais que implicam uma trama); resolução (o modo como foi resolvida a
situação, ou a resposta do próprio sobre determinado acontecimento); avaliação
(o sentido dado pelo próprio ao modo como resolveu a situação); e coda (palavra
latina que significa fecho e que, neste modelo, implica virar o sentido para o
presente, o continuar da história). Este método de análise, também designado de
avaliativo, permite aceder às experiências primárias de quem narra
(Riessman,1993) e também à avaliação que faz desses relatos descritivos. A
reflexão sobre um acontecimento ajuda a evidenciar o sentido das experiências,
e este é, certamente, um processo de criação de histórias. Essas histórias só
existem porque alguém as conta a partir de uma experiência primária a que dá
sentido. A sua escuta e acolhimento permitem reflexões e troca de experiências
que revelam aprendizagens e promovem o desenvolvimento (Elbaz-Luwisch, 2007),
elevando o papel da narrativa como elemento que valoriza os saberes dos
professores, atendendo a todos os detalhes (Elbaz-Luwisch, 2005).
Considerando o que foi dito, de facto as narrativas em educação permitem aos
professores conhecer a sua realidade educativa, mas também aprender,
desenvolvendo-se e construindo aprendizagens. Para Roldão (2004), a construção
de conhecimento que acontece ao longo da vida necessita de duas operações:
analisar e imaginar. A primeira, analisar, implica a capacidade de colocar
questões pertinentes para conhecer o real. A segunda, imaginar, suporta a
competência explicativa, o pensar e interpretar o real. Neste contexto, a
narrativa surge, em educação de infância, com todas estas facetas que têm vindo
a ser enunciadas. Torna-se uma forma respeitadora de sentir, pensar e fazer em
educação de infância, e que permite valorizar os saberes dos educadores,
possibilitando aceder ao sentido da ação pedagógica desenvolvida por cada um.
3. Metodologia
Este estudo é uma componente de uma investigação mais abrangente que deu origem
a uma dissertação de mestrado. O objetivo central era descrever e compreender
práticas educativas no âmbito de aprendizagens em ciências, num contexto de
supervisão em jardim de infância. Em todo este trabalho, privilegiou-se a
escuta dos significados atribuídos pelas crianças e educadoras às atividades no
domínio das ciências. Todo o processo supervisivo contemplou o planeamento,
ação e reflexão desenvolvida pelas educadoras de infância relativamente à
evidência de aprendizagens em ciências, bem como às respostas dadas pelas
crianças durante as atividades propostas. Apesar de este trabalho ter sido
desenvolvido em torno do domínio das ciências, neste artigo apresenta-se apenas
a parte que realça os aspetos supervisivos de todo o processo.
No estudo optou-se por uma metodologia de tradição interpretativa (Cohen,
Manion, & Morrison, 2000) e de carácter qualitativo (Creswell, 2003).
Pretendeu-se que os sujeitos participantes no estudo atribuíssem significado às
experiências educativas em jardim de infância e relatassem as suas
representações acerca do processo de supervisão proposto. Sendo o conceito de
supervisão muito alargado, optou-se por uma modalidade de supervisão proposta
por Glatthorn (Vasconcelos, 2009, p. 90) e designada de desenvolvimento
profissional cooperativo. Neste contexto, criou-se um pequeno grupo de trabalho
constituído por duas educadoras de infância e uma supervisora externa,
professora de uma Escola Superior de Educação. Neste processo colegial, em
conjunto, fizeram observação das sessões planeadas, discussão de problemas
profissionais, colaboração na preparação de materiais e reflexões conjuntas. A
professora supervisora já tinha trabalhado com as educadoras em processo de
cooperação, no âmbito da Iniciação à Prática Profissional enquanto estudantes
da Licenciatura em Educação Básica.
Assim, considerando, neste estudo, a importância da supervisão no processo de
desenvolvimento profissional e, consequentemente, na melhoria de práticas
educativas, definiu-se a seguinte questão de investigação (integrada numa
problemática mais vasta, como já se referiu): Qual o contributo do processo de
supervisão para o desenvolvimento profissional das educadoras envolvidas?
A investigação aconteceu em duas salas de jardim de infância da faixa etária
dos 4 e 5 anos. Participaram, no estudo, duas educadoras de infância de um
jardim de infância, de meio urbano, da rede pública do Ministério da Educação e
Ciência, pertencente ao distrito de Santarém. Os dados foram recolhidos entre
janeiro e maio de 2012 e a recolha foi efetuada durante o processo de
supervisão das duas educadoras participantes. Foram realizadas duas entrevistas
formais a cada educadora, uma no início do estudo e outra no fim do processo de
supervisão. Com as entrevistas pretendemos aceder ao sentido que as educadoras
dão às suas práticas e aos acontecimentos, bem como às reflexões surgidas num
contexto de supervisão colaborativo. As entrevistas foram alvo de análise
narrativa, sendo que, neste estudo, a narrativa se assume como privilegiada e
principal método de recolha, análise, reflexão e interpretação da informação
recolhida, assumindo as suas potencialidades investigativas (Galvão, 2005).
Pretende-se atribuir significado às experiências vividas, relatadas e escutadas
das educadoras no que respeita à supervisão. É nesta linha que, neste estudo,
se reconhece a narrativa como um método que privilegia o "conhecimento prático
dos professores" (Connelly & Clandinin, 1990), em que se incluem até as
crenças, emoções e valores pessoais.
Das narrativas das educadoras, foram selecionadas histórias e utilizado um
modelo sociolinguístico de análise, sendo este a estrutura da narrativa,
proposto pelo modelo avaliativo de Labov (1972, 1982). Essas histórias têm
padrões característicos que incluem seis elementos: resumo, orientação,
complicação da ação, resolução, avaliação e coda. Assim, a análise
sociolinguística proposta por Labov (1972, 1982) permite organizar a informação
recolhida, colocar em evidência os resultados da investigação e apresentar uma
visão avaliativa das educadoras participantes do estudo sobre as ocorrências.
4. Apresentação e análise dos dados
4.1. A supervisão no processo de desenvolvimento profissional
4.1.1. Antes do processo de supervisão
As práticas de supervisão são variadas e nem sempre existe consenso em relação
ao próprio conceito. Por este motivo, antes de iniciar o processo de supervisão
as educadoras assumiam uma ideia de supervisão que se traduz nas histórias
seguintes:
História 1
Eu procuro, e acho que há sempre muitos benefícios. Porque, lá está, não vamos
ser só nós, digamos. Vamos ser quem vai realizar juntamente com as crianças,
(resumo)
e aí vamos refletir, vamos pesquisar, não é, vamos arranjar, vamos elaborar uma
planificação e depois que na prática, não é, vais de encontro àquilo que
queremos provocar na criança, não é? Que a criança adquira essas competências e
esses conhecimentos (avaliação)
Vai-me enriquecer porque eu vou trabalhar, (avaliação)
não vão ser só as minhas ideias, (complicação da ação)
vão ser em conjunto com outras pessoas, não é?, que vai tornar as atividades
mais ricas. (resolução)
Expectativas. É assim, são boas, são sempre muito positivas, não é? Porque nós
aprendemos, inovamos e tornamos a nossa rotina diária mais diversificada. Mas,
também, por outro lado, é sempre um risco porque nos vai fazer quebrar essa
rotina, vamos ter que pesquisar. (avaliação)
Eu por acaso não faço sempre a mesma coisa, mas mesmo assim, acho que é sempre
motivador. (complicação da ação)
Por um lado temos as vantagens, mas por outro lado vai faltar-nos aquele apoio,
aquela segurança, porque vamos estar a fazer coisas, se calhar, um bocadinho
mais, como é que eu vou dizer, pronto, é isso, o sentir segurança, vai ficar um
bocadito mais fragilizada. É. (avaliação)
É realmente a planificação conjunta. Ah. E aí já engloba, não é?, os materiais,
as atividades, e depois também o partilhar, fora da escola, a outras colegas, a
outros docentes, à comunidade, os resultados deste trabalho e ouvir os
feedbacks de quem está de fora. (resolução)
O contributo é assim. A supervisão ah, ah se não for para outra coisa, vai-nos
fazer refletir, não é? Vai-nos fazer refletir e é isso que acho que faz falta,
cada vez mais, a gente refletir sobre o trabalho que nós estamos a fazer e, lá
está, crescer, atualizar-nos, inovarmos. (avaliação)
E pronto. É crescer. (coda)
(educadora P1)
História 2
O desenvolver profissionalmente é assim, nós temos que estar nesta função como
alguém aberto a aprendizagens. Eu sinto que, como educadora, tenho aspetos bons
e que sei lidar, (resumo)
e tenho aspetos mais frágeis, não é? (complicação da ação)
Mas a observação, a cooperação, para mim é um elemento de limar certas arestas.
Eu vejo como algo positivo, não é?, e não vejo como um elemento agressor, um
elemento invasivo, um elemento que me vá perturbar. Posso ficar com a
expectativa de como as crianças vão reagir, como é que vão estar com mais um
elemento na sala, como é que vai ser o seu comportamento, a sua forma de estar,
a sua forma de adesão. É sempre imprevisível, e ficamos sempre na expectativa.
Vai correr bem, não vai correr bem. (avaliação)
Acho que é alertar, sugerir, também orientar, porque eu gosto muito que me
digam se estou bem, se estou mal. Como é que eu posso dizer?... Eu faço as
coisas de uma forma em que quero promover alguma coisa, é óbvio, mas também
pode haver falhas noutro setor,
e eu gosto de ouvir, porque assim nós ao mesmo tempo trabalhamos connosco
próprios. Eu tive sempre educadores de apoio na sala, (orientação)
tive uma educadora voluntária, eu sempre gostei, e dizia muitas vezes: "O que é
que vocês acham? Está correto? Não está correto?", porque eu não penso que sei
aquilo, que sou suprassumo. Não, nada disso. Eu vejo que quem está na educação,
quem está com crianças, é assim, nós temos que limar, temos que evoluir em
certos aspetos. (resolução)
E eu não tenho em mim Faço o melhor que posso e promovo conhecimento nas
crianças, tenho consciência que promovo conhecimento, promovo entusiasmo nas
atividades, promovo a empatia, promovo a amizade, promovo a cooperação, mas
também temos as fragilidades. Basta sermos pessoas, não somos perfeitos, e eu
gosto muito do feedback. (avaliação)
E eu dizia assim: "O que é que vocês acham disto?", "Tás bem, P2, tás ótima!".
(resolução)
E eu não ficava satisfeita, porque eu preciso de uma crítica construtiva. Mas
verdadeira. E há coisas que eu gostaria de limar, (avaliação)
mas só alguém estando de fora a observar-me, não é? Pode dar-me certas
orientações, certas perspetivas que eu poderei aplicar futuramente. (resolução)
Eu penso que vai ser muito positivo, a implicação só pode ser positiva, nunca
pode ser negativa. Não há razão nenhuma, tem que ser positivo, porque elas
também têm que perceber que há outro elemento na sala e também elas vão testar,
e vão questionar, mas isso é mesmo assim. (avaliação)
E acho que para mim é uma mais-valia. (coda)
(educadora P2)
As duas histórias ilustram uma ideia de supervisão como um processo que
beneficia as educadoras na melhoria da prática pedagógica, mas também as
crianças do ponto de vista da aquisição de competências e conhecimentos. Ambas
as educadoras realçam a colaboração como ponto essencial para o desenvolvimento
profissional. Mostram-se como "alguém aberto a aprendizagens" (P2) e entendem a
supervisão colaborativa como elemento essencial para "aprendermos, inovarmos e
tornarmos a nossa rotina diária mais diversificada" e "crescer" (P1). As
educadoras posicionam-se numa abertura de espírito e numa base de
responsabilidade e empenhamento que Zeichner (1993) considera necessárias para
acontecerem práticas educativas reflexivas que promovem o desenvolvimento de
aprendizagens em educadores e crianças. A educadora P2, na "orientação", aponta
para a importância de uma supervisão colaborativa, visto ("nós ao mesmo tempo
trabalhamos connosco próprios") existir a necessidade de escutar a voz de
outros, que P1 considera na "complicação da ação".
Ao longo das histórias estão implícitas as expetativas das educadoras acerca do
papel do supervisor, considerando como suas funções: observar, cooperar,
alertar, sugerir, orientar, criticar construtivamente de forma verdadeira, dar
"certas perspetivas", planificar em conjunto, dar feedback e refletir em
conjunto. É uma perspetiva em que o foco será a partilha, construção e,
consequentemente, valorização do saber prático (Galvão, 2005). A par destas
perspetivas, as educadoras, nos momentos de "avaliação", vão referindo aspetos
positivos do processo de supervisão, mas também alguns receios e fragilidades
sentidas por cada uma. Estas duas dimensões assinaladas (positivo e menos
positivo) surgem, de forma intercalada, nas histórias que esclarecem os seus
pontos de vista. As educadoras revelam o desejo de uma supervisão como
promotora de desenvolvimento; no entanto, este desejo aparece aliado a algumas
preocupações relacionadas com a atitude do supervisor.
Síntese
É numa visão de supervisão colaborativa e contribuidora para aprendizagens que
as educadoras se posicionam no início do processo. Aceitam um contexto de
supervisão colaborativa em que o supervisor se torna "colaborador na análise e
sínteses de novas compreensões" das práticas desenvolvidas e que promovem a
construção de aprendizagens contextualizadas (Garmston, Lipton, & Kaiser,
2002, p. 115). No entanto, surgem algumas inseguranças, e até riscos assumidos,
que vão sendo referidas na "avaliação" das histórias de ambas as educadoras.
4.1.2. Pós-processo de supervisão
A supervisão assumiu-se neste trabalho como uma dimensão essencial no
desenvolvimento profissional das educadoras participantes. O desenrolar do
trabalho cooperativo estabelecido entre educadoras e supervisora permitiu a
construção de uma imagem do próprio conceito de supervisão.
Todavia, antes de iniciar o processo de supervisão, as educadoras mostram, nas
suas histórias (1 e 2), alguns receios do próprio percurso supervisivo, que,
pós-processo, se diluem, conforme as histórias seguintes nos mostram:
História 3
Esta supervisão para mim foi uma novidade, não pela pessoa, mas da forma como
foi posta em prática. (resumo)
Já estive em dois tipos de supervisão, e digo pessoalmente que a supervisão tem
que ser nos moldes que foi dinamizada, (complicação da ação)
Porque para já incutiu-nos uma prática de pesquisa, de estar mais atenta àquilo
que as crianças nos solicitam, depois o facto de nos ajudar a organizar, a
estruturar as atividades de modo a que a intenção educativa fizesse sentido
para o grupo e para mim enquanto educadora. E depois o facto de refletirmos
sobre o agir, de forma construtiva, de forma a melhorar, acho que qualquer
pessoa (resolução)
e eu estou feliz por me ter proporcionado este momento, só tenho é que estar
agradecida porque me tornou uma pessoa a ver as coisas de outra maneira, em
termos de supervisão. Eu acho que só neste sentido é que as práticas e nós,
como pessoas, podemos melhorar. É o que eu sinto, não pode ser de outra
maneira, a gente não é criticar ou chamar a atenção como apontar o dedo, mas
não, reflexão em conjunto: "Aconteceu isto. Como é que se pode fazer melhor?".
E eu estou aberta sempre a isso, também é importante que as pessoas tenham esse
tipo de abertura para tentarem sempre serem melhores, não só como pessoas, mas
também como profissionais que somos. Eu gostei muito da forma como foram todas
as etapas deste trabalho. (avaliação)
Gostei muito (avaliação/coda)
(educadora P1)
História 4
Todo o processo de supervisão eu achei muito interessante, e achei que houve um
interesse tanto da minha parte como da S. [supervisora] em que a atividade se
processasse de uma forma interessante para as crianças, em que a atividade
promovesse conhecimento para as crianças e que ela fosse uma coisa viável e com
lógica, com sentido. E houve um empenho da S. também que (resumo)
este processo se desenvolvesse de uma forma consciente, (complicação da ação)
e não de uma forma tão leve. E eu achei interessante esta cumplicidade entre a
pessoa que está a observar a prática pedagógica, não no intuito de penalizar
com alguma coisa que não tenha corrido tão bem, mas sim haver essa colaboração
e essa cumplicidade para que as coisas resultassem de uma forma pedagogicamente
mais correta. (avaliação)
Enquanto desenvolvimento profissional é uma aprendizagem para mim, porque a
minha forma, até de introduzir o diálogo e a exploração do tema, as perguntas a
fazer às crianças, veio-me ajudar a dizer que eu tenho de ter um tempo de
espera mais amplo, não ter receio daquilo que as crianças possam dizer e da
minha parte haver essa introspeção, essa reflexão, porque se tem medo que a
criança não atinja aquilo que é pretendido e aprendi que não temos que ter esse
medo. E que temos que ter esse tempo de espera, de saber ouvir as crianças, sem
receio. (resolução)
E eu acho que para mim foi bom, e repetia, outra vez, todo o processo.
(avaliação)
(educadora P2)
Ambas as histórias evidenciam dois estilos de supervisão que pressupõem
atitudes diferentes por parte do supervisor e são descritas na "avaliação" das
educadoras. Um primeiro estilo de supervisão em que o papel do supervisor é o
de "criticar ou chamar a atenção como apontar o dedo" (P1) e com o "intuito de
penalizar com alguma coisa que não tenha corrido tão bem" (P2). As educadoras
fazem referência a uma supervisão diretiva (Glickman, 1985) e dão a entender
que já estiveram envolvidas nesse processo. Um segundo estilo de supervisão é
aquele apontado pela educadora P1 na ""complicação da ação" e que a permitiu
"ver as coisas de outra maneira, em termos de supervisão", reconstruindo o
próprio conceito. A educadora P2 caracteriza-o como colaborativo, em que a base
foi estabelecer uma relação de cumplicidade entre supervisor e educadora. Esta
supervisão colaborativa corresponde a uma "resolução" que impulsionou algumas
mudanças na ação educativa. É um processo que revela valorização dos saberes
destas educadoras, bem como aprendizagem e desenvolvimento na sua ação
educativa (Elbaz-Luwisch, 2005, 2007).
As histórias 3 e 4 revelam a importância da reflexão no momento de "resolução",
mas também, com igual valor, no processo de "avaliação" realizado pelas
educadoras. A educadora P2 considera-a, na "complicação da ação", o motor da
sua aprendizagem profissional. No que respeita à prática educativa, a ação
supervisora de cariz colaborativo e reflexivo (Sá-Chaves, 2000) permitiu
melhorias na atividade pedagógica. As histórias seguintes complementam esta
visão, já descrita nas histórias 3 e 4:
História 5
Neste momento, o facto de estar na minha sala [a supervisora] já é um elemento.
A forma como fez supervisão, (resumo)
acho que nos fez crescer. (complicação da ação)
para já o planear, organizar as atividades de modo a que nada pudesse falhar,
materiais, o tipo de respostas, as conclusões. Desenvolveu também competências
em nós neste tipo de áreas, deixámos de recear, de evitar as coisas devido ao
produto final. (resolução)
O processo de supervisão foi muito positivo. Acho que foi muito importante
porque a necessidade de saber qual o conteúdo científico, a preocupação de
tentar saber mais, pensarmos as estratégias. O facto de estar como supervisora
colaborante, também como amiga, dá-nos a tal segurança, (avaliação)
ao fim de tantos anos de serviço até talvez não poderemos falar de segurança,
(orientação)
mas sim tem a ver com desenvolvimento, e nós queremos ser cada vez melhores,
para também dar respostas educativas de cada vez mais qualidade. Nós queremos
que as nossas práticas sejam de mais qualidade. (avaliação)
(educadora P1)
História 6
Eu gostei muito desta cumplicidade entre nós, houve uma cumplicidade. (resumo e
avaliação)
Essa sua parte de observar e visualizar (complicação da ação)
também foi espetacular, eu gostei. (avaliação)
Deu-me uma certa segurança, deu-me uma certa preocupação porque tive que pensar
muito bem nas coisas. Uma coisa é estarmos sozinhas com o grupo e estamos numa
forma diferente; sabendo que está uma pessoa a observar temos uma preocupação
acrescida. Temos uma certa preocupação a nível de discurso, a nível de
resultados e do interesse das crianças. E as próprias crianças nos respondem a
isso, quando estou empenhada numa atividade e quando eu a desenvolvo como deve
ser ou não. Portanto, a recetividade deles é completamente diferente. E também
a nível de importância que eu dou às coisas. (resolução)
Portanto, até quando a S. [supervisora] vinha eles ficavam muito contentes. Foi
um elemento muito bom na nossa sala. Nós estávamos todos no mesmo barco, no
sentido de as coisas fazerem sentido, as crianças perceberem, de se tornar uma
coisa interessante.
Portanto, não esteve aqui a dizer o que estava mal, houve uma cumplicidade.
Tanto a S. como eu queríamos que as coisas resultassem bem a nível de
experiências e a nível de práticas, e de eles próprios. E isso também é bom
para nós. (avaliação)
Sentiu-se uma cumplicidade, e foi bonito. (avaliação/coda)
(educadora P2)
As histórias evidenciam algumas mudanças de atitude das educadoras perante a
prática educativa. O trabalho colaborativo com o supervisor provocou um maior
interesse das educadoras pelo planeamento, ação e resultados das atividades
propostas aos seus grupos de alunos (Vasconcelos, 2009). As educadoras P1 e P2,
na "resolução", indicam esse percurso efetuado que as levou a algumas
alterações nas práticas. A educadora P2 faz uma "avaliação" de criação de
sentido do trabalho desenvolvido, para as crianças e também para ela. Nesta
significação está implícita uma intenção pedagógica de adequação ao grupo, e
que a educadora P1 avalia como "dar respostas educativas de cada vez mais
qualidade". Este desenvolvimento profissional que as educadoras contam nas suas
histórias permite a melhoria das práticas educativas promotoras de
aprendizagens significativas para todos os intervenientes e, consequentemente,
da qualidade educativa em jardim de infância (Bertram & Pascal, 2009).
Ambas as educadoras destacam uma maior segurança para investir nas suas
práticas pedagógicas, e que este processo facilitou o empenho para planear,
pesquisar e pensar as estratégias (P1) de modo a que as "coisas resultassem bem
a nível de experiências e a nível de práticas, e de eles próprios" (P2).
Mas estas alterações nas práticas acontecem num processo reflexivo permanente.
De facto, a reflexão apoiada num processo de supervisão ajudou na análise da
ação educativa devidamente contextualizada, permitindo tomar decisões
pedagógicas cada vez mais adequadas (Schön, 1983, cit. por Alarcão, 1996).
Neste processo de melhoria de práticas, a construção de sentido da atividade
pedagógica é reconhecida, pelas educadoras, em atitude de professor reflexivo
crítico, mostrando-se disponível para o diálogo com outros (Brookfield, 1995),
como mostram as histórias seguintes:
História 7
Todos estes momentos que aconteceram neste processo de supervisão, eu acho que
eles são todos importantes, e todos eles contribuíram para a melhoria de
prática. Mas, eu acho que (resumo)
o planear e o refletir foram importantes, são bases (complicação da ação)
apesar de eu achar que todas elas existem, porque tem que existir. (orientação)
Mas a reflexão e o planeamento e a negociação são importantes. A reflexão então
é que, de todas elas, é o momento-chave porque nos vai fazer o clic.
(avaliação)
Aconteceu isto, porquê? Porque aconteceu? E depois permite reformular.
(resolução)
Claro que também se prende com o tipo de atividades, há atividades que
conseguimos reformular mais rapidamente do que outras, (Orientação)
mas o objetivo é mesmo esse: na próxima, nem que seja pouco, mas na próxima eu
vou ser melhor com certeza. Eu vou ter outro tipo de ação muito mais
enriquecedora, muito mais positiva, muito mais assertiva. (avaliação)
Eu acho que foi visível durante as atividades-(coda)
(educadora P1)
História 8
Eu acho que a supervisão é boa. E boa porque a supervisão ajuda na prática
pedagógica, acho que a supervisão leva-nos. (resumo e avaliação)
Acho que a supervisão leva-nos a refletir um bocadinho mais sobre as coisas
(complicação da ação).
E a supervisão tem que ser vista nesse sentido, de um processo colaborativo, de
cooperação para que o resultado seja mais proveitoso para as crianças. Para nós
o objetivo primordial é a criança, é que ela evidencie os seus conhecimentos,
que ela goste de fazer a experiência, motivar e sensibilizar a criança para
isso mesmo. (resolução)
Portanto, havendo uma supervisão, esta ajuda-nos a ter mais consciência das
coisas em si, e de não levar as coisas de uma forma leve, e tão solta. Levou-me
a melhorar a estrutura e o processo do desenrolar da experiência [atividade
experimental em ciências]. (avaliação)
(educadora P2)
As histórias 7 e 8 destacam, na "avaliação", a importância da reflexão em todo
o processo de aprendizagem. É caracterizado como o momento-chave pois, para P1,
"vai fazer o clic" para que "na próxima [seja] melhor com certeza" e, na
opinião de P2, "ajuda-nos a ter mais consciência das coisas em si". Todo o
processo visiona uma prática mais intencional, mais consciente e informada, e
permite que os "resultados sejam mais proveitosos para as crianças" (P2).
No que respeita à prática pedagógica, o processo de reflexão conjunta está
contemplado também na "avaliação" das educadoras. Para P1 permitiu "ter outro
tipo de ação muito mais enriquecedora, muito mais positiva, muito mais
assertiva" e para P2, na mesma linha, levou-a "a melhorar a estrutura e o
processo do desenrolar da experiência".
Esta perspetiva de desenvolvimento profissional teve como termo comparativo as
práticas desenvolvidas antes do processo de supervisão. O processo de reflexão
permitiu-lhes compreender e atribuir sentido à ação pedagógica, validando os
seus saberes e competência profissional, de modo a aperfeiçoar as suas
práticas.
Síntese
É num panorama de supervisão colaborativa e reflexiva que o desenvolvimento
profissional acontece. Um supervisor apoiante compromete-se com um processo de
aperfeiçoamento de práticas (Glickman, 1980, cit. por Tracy, 2002) e conduz a
aprendizagens de educadoras e crianças (Zeichner, 2008).
As histórias 3 e 4 identificam estilos de supervisão, o que só foi possível às
educadoras por comparação de diferentes situações vividas. As histórias 5 e 6
reconhecem mudanças na atividade pedagógica, partindo de um melhor planeamento
e, consequentemente, melhores resultados das atividades propostas. As
educadoras revelam-se mais seguras e mais empenhadas nas atividades, o que lhes
permite uma atribuição de sentido ao trabalho desenvolvido. O processo de
reflexão é assinalado por ambas as educadoras, nas histórias 7 e 8, como
elemento-chave do desenvolvimento profissional, mobilizando práticas mais
enriquecedoras para elas e para as crianças. Assumem a importância da
supervisão na promoção de práticas de qualidade em educação de infância, com
impacto em aprendizagens para elas próprias e para as crianças.
Considerações finais
O processo de supervisão colaborativa assume-se como um impulso no
desenvolvimento profissional. É nas experiências diárias em contexto de jardim
de infância que florescem as oportunidades de reflexão e atribuição de
significado pessoal e profissional aos acontecimentos educativos
experienciados. É neste panorama que a narrativa se mostra em ambos os
momentos: relato das experiências educativas e interpretação das mesmas. É na
narrativa que as educadoras, através de histórias, nos dão a conhecer o seu
olhar sobre as suas práticas educativas, assumindo um carácter de reflexão
pedagógica e formativa (Galvão, 2005).
Antes de se iniciar o processo de supervisão, as educadoras reconheciam a
importância da colaboração no processo de supervisão, mais concretamente da
parte do supervisor. No entanto, mostravam-se receosas por "quebrar a rotina" e
até assumir as suas "fragilidades". A supervisão, por um lado, apresenta-se com
importância para a melhoria da prática educativa, pois "trabalhamos connosco
próprios", o que dificulta a reflexão e o desenvolvimento profissional; por
outro lado, ela é um risco assumido de escrutínio da prática educativa
desenvolvida em contexto.
Após o processo de supervisão, as educadoras foram alterando formas de atuar e
pensar, nomeadamente assistiu-se a uma evolução do próprio conceito de
supervisão. Estas relataram nas suas histórias dois estilos de supervisão:
diretivo e colaborativo (Glickman, 1985). Encaram este último como beneficiador
e impulsionador de uma melhoria da ação educativa, promovendo o desenvolvimento
profissional, bem como aprendizagens nas crianças (Alarcão & Canha, 2013).
Nas histórias contadas pelas educadoras, o processo de supervisão permitiu "que
a intenção educativa fizesse sentido para o grupo e para mim enquanto
educadora" (P1), e também que "as coisas resultassem de uma forma
pedagogicamente mais correta" (P2). Os processos de planeamento e reflexão
mostram-se fundamentais no seu desenvolvimento profissional e,
consequentemente, na melhoria de práticas educativas promotoras de ganhos
educacionais para as crianças, especialmente numa temática ' as ciências '
menos dominada pelas educadoras e, por isso, desencadeadora de insegurança ou
mesmo medo de a iniciar na sala de aula. Assume-se um enriquecimento de
práticas e de valorização de saberes profissionais de cada uma (Elbaz-Luwisch,
2005). A narrativa desvendou o processo de colaboração vivido e, ao mesmo
tempo, permitiu, pelo facto de narrarem o modo como viveram esse processo,
irem-se dando conta de como foi importante para o seu desenvolvimento
profissional.