Editorial
EDITORIAL
Desde há vários anos que Sociologia, Problemas e Práticas tem vindo a
desenvolver um processo de avaliação científica dos originais propostos à
revista, processo esse com o qual se procuram obter resultados cada vez
melhores, em termos de qualidade e relevância dos trabalhos de investigação
editados e, em simultâneo, de credibilização da revista enquanto publicação
científica.
Um sistema de avaliação científica de originais adequado e efectivo e não
meramente emblemático não é simples de construir, manter e aperfeiçoar.
Depois de alguns anos de experiência, pareceu valer a pena explicitar com
pormenor, junto dos leitores, o procedimento que se tem vindo a desenvolver na
revista. Os parâmetros de concepção desse sistema e o seu modo de funcionamento
são expostos em rubrica especificamente destinada a esse fim, incluída neste
número, assim como é apresentada uma lista dos investigadores que, ao longo dos
últimos anos, prestaram colaboração nuns casos pontual, noutros recorrente
à revista, nesta actividade exigente e delicada que é a avaliação de artigos
para publicação científica.
Os artigos publicados no presente número de Sociologia, Problemas e Práticas
constituem um conjunto de importantes contributos para a análise, sob vários
ângulos, das configurações sociais contemporâneas e de algumas das principais
dinâmicas que nelas se verificam.
É nessa perspectiva que Dulce Maria da Graça Magalhães aborda o vinho do Porto,
no quadro de uma análise das relações entre as transformações estruturais da
sociedade portuguesa nas últimas décadas e as evoluções ocorridas em planos
subtis do quotidiano e das referências culturais, observáveis precisamente
através de um objecto estratégico de pesquisa como aquele. Embora com objecto
de estudo e procedimento analítico completamente diferentes, é também a
referida perspectiva de fundo que está subjacente ao trabalho minucioso de
André Freire sobre os comportamentos eleitorais em Portugal, procurando aferir
até que ponto tais práticas políticas são explicáveis por um sistema complexo
de articulações entre factores estruturais, designadamente os relativos a
dimensões relevantes de clivagem social e efeitos de conjuntura, em particular
de ordem económica.
Pelo seu lado, o artigo de Manuel Carvalho da Silva coloca-se decididamente à
escala europeia. Convocando várias linhas de análise sociológica de fundo sobre
os processos contemporâneos de globalização, e debruçando-se sobre algumas das
respectivas incidências no processo de integração europeia, não só regista um
acervo de informação importante a este respeito como, sobretudo, apresenta
modelos analíticos inovadores e propostas conceptualmente fundamentadas acerca
das tendências, impasses e potencialidades da construção de uma Europa social,
destacando os contributos possíveis do movimento sindical nesse processo.
Os três artigos seguintes prolongam a preocupação com as grandes tendências de
mudança social contemporâneas, mas privilegiando a dimensão informacional e
comunicacional. Fausto Colombo problematiza, no seu ensaio, as relações entre
novas tecnologias da informação e memória social, interrogando-se não só sobre
os instrumentos e os conteúdos mnemotécnicos possibilitados por essas
tecnologias, mas também sobre os novos contornos que ganha a questão
sociológica do esquecimento. Por seu turno, Christiano German coloca em questão
as visões unilateralmente optimistas acerca da sociedade de informação,
chamando a atenção para as tendências de constituição de um novo
"proletariado off-line", para a penetração da rede electrónica pelo
universo do crime e dos negócios predadores e, de modo mais geral, para a
acentuação das desigualdades sociais às escalas nacional e global. Quanto a Ana
Paula Fernandes, o objecto de estudo é a televisão em Portugal, no período em
que se passou da exclusividade dos canais estatais para a existência de canais
privados, sendo analisadas as relações entre estratégias de programação e
audiências televisivas no âmbito de uma problematização das semelhanças e
diferenças entre TV pública e privada.
Por fim, António Maria Martins, por um lado, e César Madureira, por outro,
retomam, cada um a seu modo, a discussão sobre as grandes transformações
económicas no mundo contemporâneo. O primeiro salienta as tendências
verificadas nas sociedades periféricas em pleno processo de mundialização da
economia, equacionando as novas possibilidades de articulação entre lógicas
locais e lógicas globais. O segundo destaca a importância dos modos de
organização do trabalho (e, correlativamente, das formas de ensino/formação) no
contexto dos processos de internacionalização da economia, contrapondo aos
modelos neotayloristas dominantes as possibilidades de um modelo organizacional
antropocêntrico.
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