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EuPTHUHu0873-65292002000200001

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variedadeEu
Country of publicationPT
colégioHumanities
Great areaHuman Sciences
ISSN0873-6529
ano2002
Issue0002
Article number00001

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Editorial Editorial Os requisitos da produção de conhecimento científico impõem procedimentos que nem sempre se compadecem com os tempos e os modos como na chamada sociedade da informação as notícias circulam nos meios de comunicação de massas. Nuns casos os assuntos podem não merecer dos cientistas sociais a atenção que merecem dos media. Noutros, a montagem de dispositivos de investigação validados cientificamente é morosa e complexa, para evitar, como diz Bourdieu (Science de la Science et Réflexivité, 2001), que se apresentem como supostamente científicos discursos que não passam de especulações acerca de assuntos não investigados nem sujeitos a prova. Aliás, o mesmo autor acrescenta que é desastroso o discurso sobre a prática científica que toma o lugar da própria prática científica, que nas ciências sociais não se pode pensar correctamente senão através de casos empíricos teoricamente construídos (Réponses, 1992).

Nem sempre, por isso, a agenda da análise sociológica vai a par com os ritmos do surgimento de novos fenómenos sociais que requerem interpretação científica.

Não são raras as vezes em que os meios de comunicação social mais atentos e preocupados com a divulgação de explicações cientificamente fundamentadas para fenómenos emergentes se deparam com um vazio de estudos sobre as matérias em causa.

Contudo, por coincidência que não deixa de evidenciar a preocupação que a sociologia em Portugal vem fazendo no sentido de procurar compreender as dinâmicas e processos sociais da realidade actual, este segundo número de 2002 de Sociologia, Problemas e Práticasreúne a publicação de um conjunto de artigos cujas problemáticas em boa parte coincidem com temas de forte actualidade mediática e se inscrevem no âmago de algumas das discussões que presentemente preenchem alguns dos dossiês políticos de maior relevância nos últimos tempos.

Desde logo o artigo sobre Barrancos e as festas de touros que todos os anos decorrem nesta pequena vila alentejana, as quais continuam a ser alvo de controvérsia, obrigando a tomadas de posição pública e política em contexto de grande polémica à escala nacional. O autor deste texto analisa o fenómeno, o seu efeito amplificador e as relações nele implicadas entre poder simbólico, dominação cultural e direitos culturais. Um outro assunto na ordem do dia abordado no presente volume é a problemática do consumo de drogas. Numa interessante análise do que os autores referem ser a passagem de um fenómeno natural ao estado de objecto de políticas discursivas e interventivas é aqui feita uma reflexão sobre as políticas de redução de riscos e evidenciado o seu carácter normalizador e contraditório, assim como a sua inscrição em novas tecnologias de controle social. Igualmente objecto de atenção política e mediática é o tema da imigração, tratado num texto sobre as novas correntes imigratórias chegadas a Portugal nos últimos anos, vindas sobretudo de países de Leste, dos PALOP e do Brasil.

Fazem ainda parte deste volume a análise de questões como a relação da indústria portuguesa com a universidade e as modalidades de transferência de conhecimento inovador para as empresas, enquanto vector de competitividade. A influência das origens sociais nos padrões de vida e trajectórias dos estudantes universitários e os projectos futuros dos alunos do 9.º ano, enquanto decorrentes de um quadro dinâmico de possibilidades, são aqui analisados em dois outros artigos. Refira-se também o artigo sobre as formas de celebração do casamento em Portugal, onde a autora procura explicar a aparente redução de casamentos católicos nos Açores.

Esperamos que a actualidade e riqueza dos assuntos abordados estimulem a leitura deste número.

Maria das Dores Guerreiro


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