Editorial
Editorial
Os artigos publicados neste número de Sociologia, Problemas e
Práticasinscrevem-se numa dinâmica de crescente internacionalização das
ciências sociais, que aqui se manifesta pelos temas, pelos autores e pelas
línguas de publicação.
Os textos de Rosemary Crompton e de Michael Vester correspondem a duas
conferências apresentadas no ISCTE, resultado de colaboração do CIES e do
Departamento de Sociologia deste instituto com a Fundação Friedrich Herbert,
que convidou estes investigadores para virem a Portugal abordar a problemática
das desigualdades sociais.
No seu artigo, Rosemary Crompton desenvolve uma reflexão em torno de debates
que focam as relações entre género e classes sociais. Reportando-se às
perspectivas emergentes nas décadas de 1980 e 90, que destacam a dimensão
cultural em detrimento da económica, a autora mostra como o que designa por
viragem cultural no feminismo, ao centrar-se em exclusivo na componente da
sexualidade no género, descura a dimensão de classe, apesar da importância
desta última, nomeadamente, para a análise da divisão sexual do trabalho.
Michael Vester propõe uma interpretação dinâmica das teorias de Bourdieu sobre
o habitus de classe e o espaço social, a partir das quais e tendo como base
uma série de pesquisas empíricas realiza uma análise elaborada das estruturas
e das culturas de classe na Alemanha. Para além da evidenciação das
potencialidades analíticas generalizáveis do modelo teórico-operatório
desenvolvido pelo autor (aplicado também à França, à Itália e à Grã-Bretanha),
os resultados empíricos permitem-lhe ainda refutar as teses do desaparecimento
das classes sociais.
No domínio sócio-político, Carsten Schneider analisa as problemáticas da
corrupção e da confiança nas instituições, e o respectivo papel na consolidação
das democracias da América Latina. A comparação empírica internacional permite-
lhe discutir a questão teórica das relações entre atitudes dos cidadãos e
processos de consolidação da democracia.
O contributo de Miguel Correia Pinto e Manuel Mira Godinho discute a relação
entre conhecimentos tradicionais e propriedade intelectual. Chamando a atenção
para a importância que os conhecimentos tradicionais podem presentemente
representar para a inovação, em concreto no domínio da biotecnologia, os
autores defendem a necessidade de ser criada regulamentação internacional e
tecem uma reflexão em torno dos principais aspectos que esta deverá contemplar.
Gustavo Cardoso, Carlos Cunha e Susana Nascimento analisam as representações
dos deputados portugueses sobre as novas tecnologias da informação e sobre o
uso que fazem da Internet na sua actividade política, identificando também os
obstáculos que se colocam à construção de uma democracia digital.
Cristina Lobo e Cristina Palma Conceição escrevem sobre o recasamento em
Portugal. A partir da exploração de várias fontes de informação estatística,
estas autoras traçam um quadro das principais tendências que o fenómeno assume
no país, identificando ao mesmo tempo o perfil social de quem o protagoniza.
O texto que Tom Burns apresenta, em co-autoria com Marcus Carson, decorre, por
seu turno, de uma das várias conferências por ele proferidas enquanto
permaneceu no Departamento de Sociologia, como professor visitante do ISCTE,
apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Os autores analisam os padrões de
elaboração de políticas e as configurações da governança em diferentes sistemas
políticos, aplicando a perspectiva do novo institucionalismo à comparação entre
modelos pluralistas e neocorporativos, evidenciando ainda as especificidades do
modelo desenvolvido na União Europeia.
Por fim, na rubrica Notas, o leitor encontrará ainda um texto de João Peixoto e
Rafael Marques sobre a sociologia económica em Portugal.
Maria das Dores Guerreiro