Editorial
Editorial
Os leitores de Sociologia, Problemas e Práticasencontram neste volume um
conjunto de artigos cujos temas abrangem largo espectro, no âmbito das
problemáticas que a sociologia, num processo permanente de atenção à realidade
e de imaginação reflexiva, vai constituindo em objecto de estudo.
O primeiro artigo, de José Madureira Pinto, representa um texto-chave para a
compreensão da história da sociologia em Portugal. Nele, o autor faz a análise
do que tem sido o desenvolvimento da disciplina, e das principais dinâmicas que
a têm caracterizado nos planos teórico, metodológico e temático, ao longo das
três décadas decorridas desde a sua constituição formal, após a revolução de
1974. Madureira Pinto assinala também os vários contributos anteriores a este
período, que desde finais do século XIX evidenciavam já a presença das
correntes de pensamento percursoras da sociologia, lançando ainda pistas sobre
o possível futuro desta ciência, perspectivado no quadro da investigação de
âmbito internacional.
José Manuel Leite Viegas desenvolve uma reflexão sobre o associativismo em
contexto de democracia participativa. Procurando responder ao paradoxo da
declarada importância dos efeitos cívicos e democráticos das associações
perante a reduzida participação associativa identificada por vários estudos
empíricos, analisa os resultados de um inquérito ao envolvimento associativo da
população de diversos países europeus, sublinhando a importância de distinguir
várias modalidades-tipo de associação. Segundo as conclusões do autor o
associativismo português reflectirá a estrutura social e a debilidade da
sociedade civil em Portugal, permitindo ainda ajudar à compreensão das razões
da tendencial desafectação política dos cidadãos portugueses. De participação
cívica fala igualmente Alfredo Alejandro Gugliano, desta vez no que respeita à
participação dos cidadãos na gestão pública, em países do Mercosul, onde o
autor constata estarem a ocorrer mudanças de fundo nos sistemas democráticos,
nomeadamente na relação estado-sociedade.
Um tema até agora muito mediatizado, mas pouco estudado pela sociologia, é o da
relação dos alunos com a matemática, a bela e o monstro. No seu artigo
Madalena Ramos propõe alguns contributos para a compreensão das representações
sociais existentes acerca da matemática, convocando uma pluralidade de
dimensões analíticas e estabelecendo relações com variáveis de ordem escolar, o
que faz através da utilização, com grande rigor, de um conjunto de
procedimentos metodológicos de índole quantitativa. O texto de Lia Pappámikail,
por sua vez, aborda as problemáticas das relações intergeracionais e das
transições juvenis para a vida adulta, explorando as estratégias de apoio
familiar mobilizadas em diferentes meios sociais. Luísa Franco escreve sobre o
processo de problematização social das drogas. Através de uma análise dos
média, numa perspectiva longitudinal, o intuito da autora é o de captar ciclos
de preocupação pública, dinâmicas de alteração dos paradigmas e de definição
social de soluções. A encerrar este volume o artigo de Francisco Lima da Costa
procura mostrar como operam os processos de construção de identidades, a partir
do caso dos macaenses. No seu estudo, o autor constata o carácter de
continuidade das identidades, decorrente de factores de ordem histórica, ao
mesmo tempo que assinala a índole plástica, estratégica e dinâmica da
reconfiguração identitária.
Maria das Dores Guerreiro