Editorial
Editorial
Sociologia, Problemas e Práticas integra no número 54 um conjunto de seis
artigos e um registo, entre os quais se podem encontrar vários contributos
internacionais.
O artigo de abertura é da autoria de Augusto Santos Silva. Nele o autor faz uma
análise das políticas culturais autárquicas, defendendo que estas não são
classificáveis pelos mesmos parâmetros por que já analisou as políticas
culturais nacionais. Propõe por isso traçar um roteiro a partir de coordenadas
espácio-temporais e explorar o lugar das políticas culturais no quadro das
políticas municipais.
Margaret Archer apresenta, numa narrativa na primeira pessoa, a trajectória da
sua abordagem morfogenética, a qual constituiu o tema da conferência que veio
proferir, em Março do presente ano, no programa de doutoramento em sociologia,
do Departamento de Sociologia do ISCTE. Nela procura explicitar o percurso
teórico do trabalho que tem vindo a desenvolver ao longo de perto de três
décadas.
No artigo Do fado ao tango os autores analisam dinâmicas da imigração
portuguesa na Região Platina, procurando contribuir para um maior conhecimento
do seu impacto nos países daquela região. Neste texto fazem também uma
interessante caracterização histórica e cultural da região do Rio da Prata,
desde o período em que os descobridores espanhóis a ela chegaram, no século
XVI, e mostram de que modo os portugueses então aí se foram estabelecendo, em
diversos períodos, até à actualidade.
O artigo de Renato Carmo proporciona uma revisitação a Albernoa, aldeia
constituída por Afonso de Barros em objecto de importante estudo monográfico do
sistema latifundiário português e do processo da reforma agrária na segunda
metade dos anos 70 do século XX. Neste texto o seu autor procura compreender as
alterações entretanto ocorridas no tradicional sistema de géneros,
desenvolvendo designadamente uma análise das formas diferenciadas de
apropriação social dos espaços, por mulheres e por homens.
André Freitas centra-se no estudo do desenvolvimento da região da Madeira,
propondo uma reflexão sobre o modo como o crescimento económico tem '- ou não '
a si associada a criação de uma cultura de sustentabilidade ambiental e esta
se reflecte nas atitudes e nos comportamentos das populações.
Num último artigo, Pierpaolo Donati tece a análise crítica das políticas
familiares que caracterizam o século XX, consoante os princípios a elas
inerentes são liberais, social-democratas ou corporativos. Sustentando a tese
de que a família deve ser considerada como um sujeito social, propõe uma
abordagem relacional das políticas familiares do novo milénio assentes em
princípios de subsidiariedade e cidadania complexos.
O leitor pode ainda encontrar neste número um registo de grande actualidade
sobre o terrorismo jihadista, em que são examinados diversos contributos
analíticos para a sua caracterização e para a da investigação de segurança,
incluindo a situação em Portugal a este respeito.
Maria das Dores Guerreiro