Escalas de medição do Quociente de Empatia/Sistematização: Um ensaio de
validação para a população portuguesa
Introdução
Ao longo das últimas décadas o conceito de empatia tem sido alvo de inúmeros
estudos pela sua crescente importância a vários níveis, principalmente a nível
profissional, sendo muitas as áreas profissionais em que a empatia é um factor
imprescindível. O exercício de funções como, por exemplo, a medicina, a
enfermagem, a gestão, o comércio, entre outras, envolvem uma contínua
interacção social por parte dos profissionais, que devem conseguir colocar-se
no lugar de outra pessoa e responder de forma adequada aos seus pensamentos e
sentimentos. Além do conceito de empatia, neste estudo será também abordado o
conceito de sistematização, bem mais recente. A sistematização diz respeito à
capacidade que uma pessoa tem de conseguir prever o comportamento de um
sistema, considerando as respectivas regras. Por exemplo, se uma pessoa estiver
a conduzir um carro deve saber que, com mudança posta, se carregar no travão a
fundo sem carregar na embraiagem, o carro vai abaixo. Este conceito tem
igualmente a sua importância a nível profissional, já que existem áreas de
actividade que estão associadas a uma maior capacidade para sistematizar (e.g.,
engenharia informática, engenharia química, medicina, etc.).
Neste estudo serão abordados estes dois conceitos, reunindo esforços para que
seja possível contribuir para a avaliação destas duas capacidades através da
validação de duas escalas desenvolvidas por Wakabayashi e colaboradores (2006).
Conceito de Empatia
Titchener foi o primeiro autor a desenvolver o termo empatia com o propósito
de traduzir a palavra alemã Einfuhlung, que significa a projecção de si mesmo
no que se está a observar (Titchener, 1909, cit. in Hakansson, 2003).
O conceito de empatia foi, entretanto, muito estudado, o que originou
diferentes definições e perspectivas relativamente divergentes. As influências
cognitivistas contribuíram de forma notável para o rápido desenvolvimento deste
conceito, ao defenderem que os indivíduos têm capacidades para descentrarem a
sua atenção e para ver a perspectiva dos outros (Mead, 1982) e inferir os seus
estados mentais (Köhler, 1992). Recentemente foi desenvolvido o conceito de
teoria da mente (Wellman, 1990; Baron-Cohen, 1995, cit. in Baron-Cohen &
Wheelwright, 2004) que pressupõe a tomada de perspectiva de outra pessoa e a
atribuição de um estado mental à mesma. É também importante referir que este
processo inferencial abrange igualmente a capacidade de predizer o
comportamento ou o estado mental de outrem (Dennett, 1987, cit. in Baron-Cohen
& Wheelwright, 2004).
No entanto, para além da componente cognitiva, o conceito de empatia envolve
também uma componente afectiva. De acordo com Lawrence e colaboradores (2004),
uma resposta emocional, para ser considerada como empatia afectiva, tem de
responder de forma adequada ao estado mental que está a ser observado. Estas
respostas podem ser classificadas como paralelas (por exemplo, alguém que se
sente triste ao sentir a tristeza de outra pessoa), ou reactivas (como a
simpatia ou compaixão por outra pessoa, envolvendo mais do que a igualdade de
sentimentos ' Davis, 1980). Existe ainda outra resposta emocional que não é
considerada empatia real, denominada de angústia pessoal, como por exemplo
sentir felicidade ao observar a infelicidade de outrem (Davis, 1980). Segundo
Batson (1987), este tipo de resposta emocional envolve uma motivação egoísta
para ver a sua própria angústia reduzida, enquanto a empatia envolve uma
motivação altruísta para tentar reduzir as necessidades dos outros. A diferença
entre estas duas respostas é que a angústia pessoal apresenta uma orientação
para si próprio, enquanto a empatia envolve uma orientação para os outros.
A empatia é um atributo muito importante nas interacções sociais, pois permite-
nos captar como outra pessoa se está a sentir ou o que poderá estar a pensar.
Só desta forma somos capazes de deduzir as intenções dos outros, predizer os
seus comportamentos e sentir de forma próxima o que outra pessoa possa estar a
sentir. No entanto, importa salientar que a empatia pode ser considerada como
um traço de personalidade, podendo variar em função do estado emocional dos
indivíduos (Baron-Cohen & Wheelwright, 2004). Por exemplo, se um indivíduo
está irado, provavelmente será mais difícil de compreender o ponto de vista do
outro.
Conceito de Sistematização
A sistematização diz respeito à aptidão que uma pessoa tem para desenvolver um
sistema e de analisar as suas variáveis, considerando as regras subjacentes que
dirigem o comportamento desse sistema. Esta aptidão é considerada um processo
indutivo, pois começa-se por observar a relação causal que possa existir entre
as variáveis do sistema. No caso de se verificar realmente uma associação,
elabora-se então uma regra sobre esse aspecto do sistema e pode-se predizer os
seus resultados (se fizer X então A acontece). No entanto, se for observada uma
excepção à regra, esta deve ser submetida a uma revisão ou então deve ficar
retida. Desta forma, é possível predizer e controlar o comportamento do sistema
(Baron-Cohen, 2002; Baron-Cohen et al., 2003; Wakabayashiet al., 2006).
Um sistema é definido como algo que recebe informações, que são posteriormente
operacionalizadas de diversas formas, de maneira a obter como resultado outras
informações que têm de estar de acordo com a regra previamente definida.
De acordo com Baron-Cohen (2002, 2003), existem pelo menos seis tipos de
sistemas que se baseiam no mesmo processo: Input → Operação → Output. Oinputé
definido como o estado inicial do sistema, sobre o qual sãotomadas certas
acções (operações) que transformam esse estado no output, um estado já
modificado. Os tipos de sistemas referidos por estes autores são os técnicos
(e.g., computador, instrumento musical, meio de transporte); naturais (e.g.,
maré, frente meteorológica, planta); abstractos (e.g. , sintaxe, programa
informático, matemática); sociais (e.g., sistema legal, negócio, eleição
política); organizáveis (e.g., taxonomia, livraria, colecção); e de ordem
motora (e.g., técnica para tocar um instrumento musical, desempenho, técnica de
desporto).
Teoria da Empatia ' Sistematização
De acordo com Baron-Cohen (2002), a empatia e a sistematização são duas das
principais dimensões cognitivas no que diz respeito à definição do cérebro
masculino e feminino. Segundo estes autores é possível pensar em cinco tipos de
cérebros (ver Figura_1).
' Tipo E
Indivíduos cuja capacidade de empatia está mais desenvolvida do que a
capacidade de sistematização, nomeado pelos autores como cérebro feminino.
' Tipo S
Indivíduos cuja capacidade de sistematização se encontra mais desenvolvida do
que a capacidade de empatia, designado pelos autores como cérebro masculino.
' Tipo B
Indivíduos cujas capacidades de sistematização e de empatia estão igualmente
desenvolvidas, designado pelos autores como cérebro equilibrado.
' Tipo E Extremo
Indivíduos com o cérebro feminino muito desenvolvido, com uma capacidade de
empatia muito desenvolvida e uma capacidade de sistematização muito pouco
desenvolvida.
' Tipo S Extremo
Indivíduos com o cérebro masculino muito desenvolvido, estando a sua capacidade
de sistematização muito desenvolvida e a sua capacidade de empatia muito pouco
desenvolvida.
Objectivo do Estudo
O principal objectivo do estudo consistiu em validar a versão curta da escala
do Quociente de Empatia (desenvolvida por Wakabayashi et al., 2006) para a
população portuguesa. Além deste objectivo, pretende-se também observar o tipo
de correlação existente entre a escala e subescalas do QE e a escala do QS.
Método
Amostra
A amostra do presente estudo é composta por 506 participantes, sendo 64.2% do
género feminino e 35.8% do género masculino. A idade média dos participantes é
de 33.87, com um desvio padrão de 11.66, oscilando entre os 18 e os 71 anos de
idade.
Trata-se de uma amostra de conveniência que abrange indivíduos naturais de
várias localidades de Portugal, com diversas habilitações literárias, áreas de
formação e tipos de profissão. Os participantes são na sua maioria naturais das
regiões do Algarve (45.9%) e da Estremadura (30.2%).
Instrumentos
As escalas do Quociente de Empatia e do Quociente de Sistematização foram
originalmente desenvolvidas por Baron-Cohen e colaboradores (2003), sendo ambas
constituídas por 60 questões.
Posteriormente, Lawrence e colaboradores (2004), ao concluírem que a escala do
Quociente de Empatia possuía validade e fiabilidade para ser utilizada,
realizaram uma análise factorial confirmatória. Esta análise deu origem a três
factores distintos, compostos na sua totalidade por 28 itens. O primeiro
factor, composto por 11 itens, foi denominado de empatia cognitiva e diz
respeito à capacidade de avaliação de estados afectivos. O segundo factor,
composto por 11 itens, é referido como reactividade emocional por reflectir a
tendência para responder adequadamente aos estados mentais de outras pessoas.
Por fim, o terceiro factor, constituído por 6 itens, foi designado de
capacidades sociais, por implicar a capacidade de julgar situações sociais de
forma intuitiva e espontânea.
Em 2006, Muncer e Ling realizaram um estudo com a escala do Quociente de
Empatia de 28 itens de Lawrence e colaboradores (2004). Através desta escala
construíram uma nova versão de 15 itens, em que cada factor comportava 5 itens.
Apesar de terem obtido resultados razoáveis espera-se pela confirmação de novos
estudos.
Ainda em 2006, Wakabayashi e colaboradores desenvolveram duas versões curtas, a
partir das escalas originais do Quociente de Empatia (composta por 22 itens) e
do Quociente de Sistematização (composta por 25 itens). Foram estes os
instrumentos utilizados no presente estudo. Note-se que, de forma a poderem
realizar-se comparações a nível estatístico, serão utilizados os números dos
itens originais (das escalas de 60 itens). Em anexo são apresentadas as versões
originais e as versões curtas.
Os itens de ambos os instrumentos foram respondidos numa escala de 4 pontos,
que oscilam entre 1 (Concordo Fortemente) e 4 (Discordo Fortemente). Cada
participante pode obter 0 pontos (numa resposta não empática/não sistemática),
1 ponto (numa resposta ligeiramente empática/sistemática), ou 2 pontos (numa
resposta fortemente empática/sistemática). A sua pontuação máxima pode variar
entre 0 e 44 pontos (no caso do Quociente de Empatia), e entre 0 e 50 pontos
(no caso do Quociente de Sistematização).
Ambas as escalas foram inicialmente traduzidas de inglês para português, sendo
posteriormente traduzidas de português para inglês de forma a satisfazer a
validade facial. Esta última tradução foi realizada por um indivíduo português
que se formou em Inglaterra e que domina perfeitamente a língua inglesa. Após a
comparação das versões inglesas procedeu-se a algumas alterações nas versões
portuguesas para que, sem alterar o sentido das frases, se mantivesse um
português fluente. Solicitou-se então a 20 participantes (pré-teste) que
respondessem às versões portuguesas, cujos coeficientes alpha de Cronbach foram
ambos de 0.84.
Procedimento
Foi solicitado aos participantes que respondessem às duas escalas, informando
que o preenchimento das escalas era protegido pelo anonimato e que devia ter
uma duração aproximada de 15 minutos. As escalas foram respondidas
individualmente, apesar de em alguns casos terem sido aplicadas a grupos de
pessoas. Nestes casos era pedido aos participantes que não conversassem entre
eles durante o preenchimento das escalas. As escalas foram aplicadas em
diversas situações, nomeadamente em turmas de alunos universitários, nos locais
de trabalho dos respondentes (bancos, estabelecimentos de comércio, hospitais,
e outros), e indivíduos abordados ao acaso na rua e em estabelecimentos
alimentares. A todos os participantes foi explicado, posteriormente, o
objectivo do estudo.
Análise e Discussão dos Resultados
Para a análise dos dados foi utilizado o programa estatístico SPSS (versão 16).
Análise Factorial Exploratória
Primeiramente foi utilizada uma análise factorial exploratória de componentes
principais, com rotação varimax, para analisar o número de componentes
existentes na versão curta da escala do Quociente de Empatia.
A análise mostra a existência de 5 componentes principais com valores-próprios
superiores a 1, explicando 52.177% da variância total. Observa-se a presença de
correlações significativas entre as componentes, uma vez que se obteve um KMO
de .892 e um qui-quadrado, no teste de Esfericidade de Bartlett de 2858.35, com
231 graus de liberdade e uma significância de 0. Tendo em conta estes
resultados é possível dar continuidade à análise factorial exploratória (Reis,
2001).
Todos os 22 itens do questionário contribuem de forma significativa para a
variância do factor a que correspondem, saturando-o a mais de 0.4. Após a
observação dos itens por factor, foram aplicadas as mesmas designações dadas
por Lawrence e colegas (2004) e por Muncer e Ling (2006), apesar de nem todos
os itens coincidirem com as propostas destes autores. Assim, o factor 1 será
relativo à empatia cognitiva; o factor 2 à reactividade emocional; o factor 3
às capacidades sociais. O factor 4 que não está presente nos estudos referidos
anteriormente, foi denominado de dificuldades empáticas.
Fiabilidade e Consistência Interna dos Instrumentos
Com o objectivo de analisar a fiabilidade e a consistência interna das escalas
e sub-escalas recorreu-se ao coeficiente alpha de Cronbach. As versões curtas
das escalas do Quociente de Empatia e do Quociente de Sistematização obtiveram
alphas de .85 e de .72, respectivamente, ao passo que Wakabayashi e
colaboradores (2006) obtiveram alphas de .90 e de .89, respectivamente.
Conforme se pode observar na tabela anterior, os factores encontrados pela
análise factorial exploratória apresentam uma consistência interna bastante
razoável tendo em conta o número de itens para cada sub-escala (α = .80 para a
empatia cognitiva; α = .71 para a reactividade emocional; α = .70 para as
capacidades sociais; α = .66 para as dificuldades empáticas).
Os resultados obtidos, bem como a análise dos coeficientes alpha se os itens
fossem apagados, permitem especular uma melhor adequação da escala do Quociente
de Empatia a um modelo de quatro factores.
Note-se que o item 35 (Não tendo a achar as situações sociais confusas) foi
deixado de parte, uma vez que surgiu só, num quinto factor. No entanto, irá ser
considerado na utilização da escala como um só factor, pois a sua remoção não
altera o valor do alpha global.
Comparativamente aos estudos de Lawrence e colaboradores (2004) e Muncer e Ling
(2006), observa-se que os itens, que neste estudo saturam no factor das
capacidades sociais, nos estudos referidos aparecem saturados no factor da
empatia cognitiva (e.g., item 1: Eu consigo, facilmente, dizer se alguém quer
entrar numa conversa). Esta observação não será de estranhar uma vez que as
capacidades sociais parecem recorrer a uma certa noção de empatia cognitiva
(Lawrence et al., 2004), pois ambas implicam a capacidade de julgamento. Por
sua vez, os itens que neste estudo saturam no factor da empatia cognitiva,
saturam no mesmo factor em ambos os estudos de comparação.
Os itens que saturam no factor das dificuldades empáticas, aparecem nos estudos
de comparação distribuídos pelos factores da reactividade emocional (21, 29,
48) e das capacidades sociais (8, 14), provavelmente porque apresentam
dificuldades em termos de responder de forma adequada aos estados mentais de
outras pessoas ( e.g., item 21: Para mim, é complicado ver porque algumas
coisas chateiam tanto as pessoas), e de avaliar espontaneamente situações
sociais (e.g., item 8: Eu considero difícil saber o que fazer numa situação
social).
À excepção do item 52, os itens que neste estudo saturam no factor da
reactividade emocional, saturam no mesmo factor em ambos os estudos de
comparação. Nestes estudos o item 52 (Eu consigo sintonizar-me com o que os
outros sentem, rapidamente e intuitivamente) surge no factor da empatia
cognitiva. No presente estudo o item 52 aparece saturado a 0.338 no factor das
capacidades sociais, a 0.445 no factor da empatia cognitiva, e a 0.456 no
factor da reactividade emocional. Pode ser considerado um item que traduz os
três factores, ficando melhor incorporado na reactividade emocional, já que
traduz uma sintonização com o que os outros pensam e sentem ' uma resposta
adequada aos estados mentais dos outros.
Note-se que nem todos os itens utilizados por Lawrence e colaboradores (2004)
foram utilizados por Muncer e Ling (2006).
Correlações
Na análise de correlações entre variáveis é importante ter em consideração que,
por convenção, r < .2 aponta para uma associação muito baixa; entre .2 e .39,
baixa; entre .4 e .69, moderada; entre .7 e .89, alta; e entre .9 e 1, muito
alta (Pestana e Gageiro, 2005).
Como era de esperar, por medirem o mesmo constructo, foram encontradas
correlações positivas significativas entre as três sub-escalas, e entre estas e
a escala do Quociente de Empatia. Estes resultados, apesar de mais altos, vão
de encontro aos valores de correlações encontrados por Lawrence e colegas
(2004) e por Muncer e Ling (2006).
Observa-se uma correlação positiva entre a empatia cognitiva e as capacidades
sociais (r = .606); entre a empatia cognitiva e a reactividade emocional (r =
0.559); e entre as capacidades sociais e a reactividade emocional (r = .538).
Em 2004, Lawrence e colaboradores encontraram valores semelhantes (r = .25, r =
.50, r = .21, respectivamente), assim como Muncer e Ling em 2006 (r = .51, r =
54, r = .17, respectivamente).
Apesar de baixos valores de correlação, estes são positivos entre as
dificuldades empáticas e as capacidades sociais (r = .302), a reactividade
emocional (r = .297), e a empatia cognitiva (r = .233).
Relativamente às correlações entre o Quociente de Sistematização e o Quociente
de Empatia (e suas sub-escalas), estas foram surpreendentemente positivas (r =
.235). Os estudos realizados por Baron-Cohen e colegas (2003) e por Wakabayashi
e colegas (2007), utilizando as versões originais do Quociente de Empatia e do
Quociente de Sistematização, mostraram uma pequena correlação inversa entre as
duas escalas no primeiro estudo (r = -.16) e uma correlação igualmente baixa no
segundo estudo (r = .06). Wakabayashi e colegas (2006), com a utilização das
versões curtas utilizadas no presente estudo, observaram também uma pequena
correlação inversa (r = -.15). Estes resultados não estão em conformidade com a
teoria da empatia ' sistematização, pois de acordo com esta teoria os conceitos
de empatia e de sistematização seriam relativos a dois tipos diferentes de
cognição, sendo de esperar que a correlação entre eles fosse significativamente
negativa.
Conclusões
De acordo com a teoria da empatia ' sistematização (Baron-Cohen, 2002), o
género feminino tem um tipo de cognição baseado na empatia, ao contrário do
género masculino que possui um tipo de cognição baseado na sistematização.
Apesar de esta teoria pressupor que estes dois tipos cognitivos são opostos,
são muitos os estudos que não a suportam, encontrando baixas correlações
negativas entre o quociente de empatia e o quociente de sistematização. O
presente estudo encontrou inclusive uma correlação positiva, que apesar de
baixa, sugere que estes dois tipos de cognição não são independentes. Neste
sentido, em 2008, Andrew e os seus colaboradores apresentaram um estudo em que
se observa que a correlação entre a escala do quociente de empatia e a escala
Mach IV que avalia o maquiavelismo (r = -.293) é mais alta do que a correlação
entre o quociente de empatia e o quociente de sistematização (r = -.17). De
acordo com estes autores, o real opositor da empatia seria o maquiavelismo,
pois enquanto os indivíduos empáticos apresentam uma preocupação emocional com
os outros, os indivíduos maquiavélicos preocupam-se com o controlo emocional e
com os seus próprios interesses.
Apesar dos resultados razoáveis encontrados através da análise factorial
exploratória e da fiabilidade e consistência interna, é certo que o quociente
de empatia avalia mais do que um factor, sendo por isso necessário que futuros
estudos avaliem de forma rigorosa a sua estrutura e o conteúdo dos seus itens
mediante a análise factorial confirmatória. Seria igualmente importante
confirmar o modelo sugerido pelo presente estudo em que a escala do quociente
de empatia apresentou quatro factores, bem como a verdadeira relação entre
estes dois tipos de cognição, pois com os resultados aqui apresentados não é
possível confirmar os pressupostos de base da teoria da empatia '
sistematização.