Editorial
Editorial
Teresa Pinto
A ex æquo, permanecendo fiel ao objectivo de contribuir para a problematização
das principais questões que afectam as relações sociais entre mulheres e homens
na sociedade portuguesa, retoma neste vigésimo primeiro número a figura de
Maria de Lourdes Pintasilgo. O Dossier temático «Maria de Lourdes Pintasilgo,
cinco anos depois. Ecos de Palavras dadas», coordenado por Fernanda Henriques,
não pretende apenas rememorar uma personagem incontornável da vida social e
política portuguesa durante a segunda metade do século XX até 2004, ano em que
nos surpreendeu com a sua partida1. As palavras de Maria de Lourdes Pintasilgo,
os testemunhos pessoais e institucionais e as abordagens teóricas que compõem o
Dossier colocam em evidência a fecundidade do seu legado intelectual e político
e a pertinência, não só de aprofundar o seu pensamento, mas também de o
ressignificar, seja gerando novos desenvolvimentos teóricos, seja dando vida a
projectos de intervenção cívica que favoreçam a plena participação das mulheres
na cidadania democrática. Fernanda Henriques, em texto introdutório ao Dossier,
apresenta a sua estrutura e inicia-nos na leitura de cada um dos textos que o
integram.
Na secção de Estudos e Ensaios incluem-se dois artigos, de temáticas distintas,
intitulados «Mulheres artistas na idade da razão. Arte e crítica na década de
1960 em Portugal» e «Contribuições dos Estudos de Género às Investigações que
enfocam a Masculinidade», respectivamente. O primeiro, da autoria de Patrícia
Esquível, discute a alteração do estatuto das mulheres artistas na década de
1960, sustentando que «os anos de 1960 ( ) [foram] uma importante plataforma de
afirmação das mulheres no mundo da arte». Não só as obras de artistas
significativas (como Paula Rego, Helena Almeida e Lourdes Castro) evidenciam
uma ruptura com aquilo que a crítica da primeira metade do século designava
como arte feminina, como a própria crítica de arte assume uma nova atitude face
à produção das mulheres artistas, abandonado uma dupla grelha de análise em
função do sexo. O segundo, de Amanda Oliveira Rabelo, debruça-se sobre a
importância do conceito de género para os estudos sobre a masculinidade.
Na secção de Leituras e Recensões, Isabel Menezes remete-nos para um conjunto
de contributos sobre a problemática género e liderança, provenientes de um
simpósio internacional promovido pela Fundação Cuidar o Futuro no âmbito de um
projecto em que a APEM se honrou em ser parceira. Vítor Manuel de Almeida
apresenta um estudo sobre a Pobreza no Feminino em Portugal, tema sobre o qual
urgia ter dados actualizados e aprofundados, ainda mais no contexto do presente
ano internacional de combate à pobreza. Manuel Jesús González Manrique introduz
a primeira recensão de uma obra publicada no país vizinho e cuja «Agenda de
Género hoy para nuestro contexto académico y más allá del mismo» suscitará, por
certo, interesse junto das/os leitoras/es da ex æquo.
Notas
1 - Relembra-se que o número 12 da ex æquo, sob o título Um Legado de
Cidadania: Homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo e publicado em 2005, lhe foi
integralmente dedicado. Nele se incluíram depoimentos pessoais e/ou
institucionais de carácter experiencial, textos que dão conta do carácter
inédito da sua actividade no plano internacional, uma cronologia acurada da sua
vida e obra, artigos que incidem sobre o seu pensamento e os seus escritos.