Editorial
EDITORIAL
O trigésimo número da revista ex aequo, relativo ao segundo semestre de 2014,
introduz distintos olhares disciplinares provenientes de diferentes lugares de
produção.
O dossiertemático do presente número convida a refletir sobre o tema História,
História das Mulheres, História do Género. Produção e transmissão do
conhecimento histórico, cujo debate a nível nacional não tem refletido os
significativos avanços da produção historiográfica nem tem logrado romper
expressivamente as fronteiras disciplinares. Sob coordenação de Teresa Pinto e
de Teresa Alvarez, o dossierpropôs-se integrar ensaios teóricos ou trabalhos
empíricos sobre qualquer período e contexto geo-histórico que evidenciassem os
contributos da história das mulheres e da história do género para a renovação
da ciência histórica e que problematizassem as suas repercussões na história
ensinada e na história transmitida em geral. Sublinhando, na introdução ao
dossier, que a história se situa e ressitua historicamente em função do
epistemológico que a define, das teorias que a conformam, dos modos de recolha
e seleção dos dados empíricos que a sustentam, as coordenadoras enfatizam o
contributo da História das Mulheres e do Género nos modos de construção e de
escrita da História e questionam a difícil e lenta integração desses
contributos da produção historiográfica no ensino da História. Os artigos que
integram o Dossier ' e que serão objeto de apresentação específica pelas
coordenadoras na respetiva introdução ' constituem um painel diversificado a
nível temático e metodológico.
A secção de Estudos e Ensaios é composta por três artigos. Caterina Rea, ao
interrogar «Existe uma psicanálise sem Édipo?», parte da hipótese de que a
psicanálise deve ter em conta a historicidade do seu discurso e da sua prática,
configurando, a partir da análise das mudanças societais numa ótica do género,
uma psicanálise que re-partindo da figura de Antígona, «se situe além do Édipo»
e do seu paradigma «normalizante e único». Estamos perante uma abordagem
pertinente e original que apresenta o que há de mais importante no panorama
atual acerca das relações entre as teorias de género e a psicanálise.
O segundo artigo, «O que eu faço tem valor: discutindo o cuidado familiar e o
reconhecimento», de Joana Margarida Pimentel Mateus Alves, incide sobre um tema
pouco abordado em Portugal. Partindo da história de vida de uma mulher
cuidadora, a autora, discutindo o alcance e os limites das narrativa orais,
demonstra como a falta de reconhecimento social da importância do cuidado na
vida quotidiana tem significativos impactos na vida das mulheres cuidadoras.
Susana Villas-Boas, Catarina Sales Oliveira e Soledad Las Heras, em «Tarefas
domésticas e género: representações de estudantes do Ensino Superior», abordam
questões fundamentais sobre a relação entre a organização das tarefas
domésticas e de cuidado com crianças e a reprodução das desigualdades de género
em Portugal com base na aplicação de um inquérito a estudantes da Universidade
da Beira Interior. As autoras discutem o facto de o modelo de divisão do
trabalho familiar das tarefas domésticas não refletir a mudança dos papéis
sociais de género ocorrida na esfera profissional nas últimas décadas.
Na secção de Leituras e Recensões, Vasco Prazeres recomenda-nos a obra coletiva
organizada por Conceição Nogueira e Sara Magalhães intitulada Género e Saúde.
Novas (In)Visibilidades(APEM/Afrontamento, 2012). Joana Pimentel Alves convida-
nos à leitura de The caring self: the work experiences of home care aides
(Cornell University Press, 2011), da autoria de Clare L. Stacey. Maksimovic´
and Tamara Nikolic´ Maksic´ introduzem-nos a publicação Considering Gender in
Adult Learning and in Academia: (In)visible Act(Wydawnictwo Naukowe, 2012),
cuja organização é da responsabilidade de Joanna Ostrouch-Kami´nska, Christine
Fontanini e Sheila Gaynard.