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EuPTHUHu1645-00862009000100001

EuPTHUHu1645-00862009000100001

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioHumanities
Great areaHuman Sciences
ISSN1645-0086
ano2009
Issue0001
Article number00001

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Bullying nas Escolas: Comportamentos e Percepções

O bullying é um dos comportamentos mais comuns na nossa sociedade em que se domina o que é percebido como mais fraco. Os homens oprimem as suas companheiras, as crianças mais velhas as mais novas. Apesar de o bullying fazer parte do que é considerado violência, não lhe é dada a atenção necessária. Por exemplo, a maior parte do grupo de pessoas que trabalham nas escolas incluindo o corpo docente não encara os comportamentos como ameaça e opressão enquanto comportamentos de violência. Assim, para grande parte dos jovens que são testemunhas destes actos de violência, surge um sentimento de inevitabilidade, falta de esperança e alienação (Willert & Lenhardt, 2003). A preocupação dos investigadores em relação ao bullying tem vindo a crescer. Têm sido realizados estudos em diversos países. Num estudo realizado na Austrália, os resultados apontam para cerca de 24% dos estudantes terem sido violentos com os seus colegas, 13% terem sido vítimas de violência e 22% simultaneamente vítimas e agressores (Forero, McLellan, Rissel, & Bauman, 1999). Fekkes, Pijpers, e Verloove-Vanhorick (2005) estudaram um grupo de crianças alemãs, os resultados mostraram que cerca de 16% das crianças foram vítimas de bullying com regularidade, sendo que cerca de 50% não contou aos professores o que se está a passar. Em Portugal, estudos realizados em 1998 (e.g., Matos, Simões, Canha, & Fonseca, 2000) e 2002 (Matos et al., 2003, 2004) sugerem que cerca de 1/ 5 dos adolescentes foram vítimas de violência e cerca de 1/5 assume que foi agressivo. Cerca de 1/4 referiram ser simultaneamente vítimas e agressores.

Estes estudos demonstram que algumas diferenças de sexo, sendo a percentagem de agressividade superior nos rapazes comparativamente às raparigas.

Definição e Tipos de Bullying O estudo sobre bullying iniciouse com a investigação sistemática de Olweus no início dos anos 70 na Noruega e Suécia, tendo sido inquiridos aproximadamente 80.000 estudantes de escolas primárias e secundárias. O bullying é um comportamento intencional, com o objectivo principal de fazer mal e magoar alguém, é repetido ao longo do tempo (e.g., Chapell et al., 2004; DeHaan, 1997; Olweus, 1994).

Para além disto, também é essencial ter-se em conta que a maior parte das vezes estes comportamentos agressivos por parte da pessoa que oprime ocorrem sem ter havido provocações (Harris & Petrie, 2002).

Considera-se que existem três tipos principais de bullying, nomeadamente o físico ou directo, o psicológico e o indirecto. O primeiro abrange comportamentos como bater, pontapear, empurrar, roubar, ameaçar, brincar de uma forma rude e que intimida e usar armas. O segundo refere-se a chamar nomes, arreliar ou pegar com alguém, ser sarcástico, insultuoso ou injurioso, fazer caretas e ameaçar. Por fim, o terceiro e que é o mais dissimulado uma vez que não é tão visível, inclui excluir ou rejeitar alguém de um grupo (Bullock, 2002).

Protótipo/Perfil de agressor e agredido Com as pesquisas demonstrou-se que existe um certo protótipo/perfil das pessoas que oprimem e das que são oprimidas. As pessoas que oprimem necessitam de ter poder e de dominar, gostam do controlo que têm sobre outros, têm um sentimento positivo quanto à violência e pouca empatia para com as suas vítimas.

Normalmente têm alguma popularidade e são acompanhados por um pequeno grupo.

Defende-se que apesar de estes indivíduos terem comportamentos agressivos, são muitas vezes inseguros, sofrem de ansiedade e baixa auto-estima (Me, 2001, citado por Isenhagen & Harris, 2004); a questão da auto-estima é controvérsia, pois Olweus (1997) e Rigby e Slee (1995) defendem que os indivíduos em questão não têm baixa auto-estima. Os indivíduos que se incluem neste grupo têm falta de empatia e competências para resolver problemas (Bullock, 2002). Estes alunos têm maior probabilidade de beber álcool e fumar cigarros que as suas vítimas, sofrem também de um menor ajustamento tanto a nível académico como no que respeita à percepção do ambiente escolar. Por fim, estes alunos são normalmente mais altos, fortes, agressivos, impulsivos e não cooperativos (Harris & Petrie, 2002).

Por sua vez, as pessoas que são oprimidas são geralmente mais fracas, tímidas, introvertidas, cautelosas, sensíveis, quietas, com menor auto-estima e com poucos amigos. Me (2001, citado por Chapell et al., 2004) concluiu nas suas investigações que os estudantes do secundário com menor status, pertencentes a minorias étnicas e com menor tamanho tinham maior probabilidade de serem vítimas. Estes indivíduos também tinham alguma probabilidade de fumarem cigarros, beberem álcool e terem desempenhos escolares baixos. Quando não existe intervenção por parte dos adultos nestes alunos, estes tendem a ser oprimidos repetidamente, correm o risco de serem rejeitados, entrarem em depressão e têm uma constante ameaça à sua auto-estima (Bullock, 2002). Assim, existem dois subgrupos de vítimas, enquanto o primeiro é considerado submisso ou passivo, o segundo é considerado provocador. As vítimas passivas não provocam os seus colegas, não gostam de violência, têm tendência a serem mais fracos que outros colegas reagem chorando ou ficando tristes (Isenhagen & Harris, 2004). Por outro lado, encontram-se as vítimas provocadoras que são a minoria das vítimas. Normalmente têm uma deficiência na aprendizagem e falta de competências sociais, que os torna insensíveis a outros estudantes. Estes estudantes têm tendência a serem trocistas e aborrecerem os companheiros até que alguém lhes resposta ou que seja agressivo (Harris, Petrie, & Willoughby, 2002).

Preditores do bullying Tendo em conta os efeitos a longo prazo do bullying, os investigadores têm vindo a estudar as causas e factores subjacentes a estes comportamentos agressivos com o objectivo de planear e implementar intervenções. É indispensável mencionar que existem diferenças ao nível do sexo quanto aos comportamentos agressivos. As maiores diferenças ocorrem na forma como são executados os comportamentos agressivos. Enquanto os rapazes usam sobretudo a forma de agressão física, as raparigas tendem a optar pelas formas de agressão psicológicas ou indirectas (Young & Sweeting, 2004). uma tendência para que os rapazes sejam mais sujeitos à violência que as raparigas, no entanto, são as últimas que mais referem terem sido vítimas de opressão (Harris & Petrie, 2002). Também foi encontrado que os rapazes têm tendência a terem mais comportamentos agressivos do que as raparigas (Chapell et al., 2004). As raparigas podem ter tantos comportamentos opressivos quanto os rapazes, todavia, como não querem demonstrar o seu envolvimento nestas situações e usam formas de bullying psicológicas e indirectas às quais não se presta tanta atenção pode ocorrer uma subestimação de comportamentos violentos neste campo (Bullock, 2002).

Outro dos factores relevantes nesta área é a idade, ou seja, as pessoas são mais vulneráveis à agressão em certas idades. O Departamento de Educação e Justiça dos Estados Unidos da América demonstrou que os estudantes mais velhos são mais vulneráveis ao crime e têm maior probabilidade de cometer um crime sério que os estudantes mais novos (Williams Evans & Myers, 2004).

A aprendizagem desempenha um papel crucial. Quando os estudantes foram testemunhas de comportamentos opressores também se tornavam opressores posteriormente (Chapell et al., 2004). Se os colegas ganham respeito por intermédio de comportamentos agressivos então a pessoa também tende a adoptar este tipo de comportamentos para captar atenção e defender-se (Warren, Schoppelrey, Moberg, & McDonald., 2005). Pellegrini e Bartini (2000, citados por Harris, et al., 2002) consideram que o bullying é uma estratégia utilizada quando os jovens entram numa nova estrutura social, aumentando os comportamentos agressivos. Contudo, quando o indivíduo atinge a estabilidade do seu domínio estes comportamentos tendem a diminuir.

Consequências do bullying Nas relações agressivas as consequências são tanto para as pessoas que oprimem quanto para as oprimidas, podendo o seu efeito ser mesmo a longo prazo (Williams, Chambers, Logan, & Robinson, 1996). No caso dos opressores que mantêm o seu comportamento agressivo terão problemas no futuro no que concerne ao desenvolvimento e manutenção de relações positivas (Bullock, 2002). Os agressores comparativamente aos seus colegas têm maior tendência para comportamentos de risco, como consumo de tabaco (King, Wold, Tudor-Smith, & Harel, 1996), de álcool (Due, Holstein, & Jorgeensen, 1999; King et al., 1996) e de drogas (DeHaan, 1997). Também não têm grande prazer em frequentar a escola, o que se traduz em maus resultados escolares (Due et al., 1999).

Estudos (e.g., Young & Sweeting, 2004) têm revelado que as consequências para os estudantes oprimidos são variadas desde isolamento, sintomas físicos ou psicossomáticos, tristeza, ansiedade, depressão ou distanciamento quanto a assuntos da escola, ideação de suicídio e mesmo o próprio suicídio. Outras questões importantes são o facto dos alunos oprimidos abandonarem mais facilmente a escola, os seus rendimentos escolares poderem baixar devido à situação em que se encontram e tornarem-se mais tarde, eles próprios, novos opressores (Isernhagen & Harris, 2004). As vítimas de bullying apresentam mais sintomas de doença psicológica (e.g., depressão e ansiedade) e doença física (e.g., dores de cabeça, dores abdominais) quando comparados com os outros colegas (Bond, Carlin, Thomas, Rubin, & Patton, 2001; King et al, 1996; Matos et al, 2004; Rigby, 1999; Salmon, James, & Smith, 1998; Williams, Chambers, Logan, & Robinson; 1996) Importa ainda referir que alguns autores consideram que os efeitos da vitimização podem ser visíveis na idade adulta (Olweus, 1993 citado por Bond et al., 2001).

O presente estudo tem por objectivo analisar a associação entre uma série de diferentes tipos de comportamentos de bullying (enquanto provocado e provocador) e algumas variáveis preditoras, variáveis comportamentais (consumo de álcool, drogas e porte de armas) e cognitivas/percepções (percepção de satisfação com a vida e percepção de segurança na escola).

MÉTODO Participantes Neste trabalho foram utilizados os dados provenientes do survey Health Behaviour in School-Aged Children (HBSC), de 2002, um estudo internacional em parceria com a WHO (Currie, Roberts, Morgan, et al., 2004; Matos et al., 2003, 2005). A amostra é representativa dos alunos do 6.º, 8.º e 10.º ano do ensino público. Contou-se com a colaboração de 6131 estudantes com idades entre os 10 e 17 anos (M= 14 ± 1.85 anos), sendo que 51% são raparigas. Relativamente ao grupo etário, 19% tinha entre 10-11 anos, 34% entre 12-13, 30% entre 14-15 e 17% tinham 16 ou mais anos.

Procedimento O questionário requeria cerca de 55 minutos para ser preenchido e foi administrado nas salas de aula pelos professores (foram dadas uma série de instruções estandardizadas aos docentes). A participação dos alunos foi voluntária e anónima, os alunos após terem completado o questionário inseriam- no num envelope que era fechado pelo último aluno a terminar o preenchimento. O processo de distribuição e recolha do questionário foi realizado por correio.

O questionário era constituído por duas partes: questões sócio-demográficas (e.g., idade, e género) e variáveis relacionadas com a escola e a saúde, consumo de tabaco e álcool, actividade física, nutrição, sintomas de saúde física e psicológica e apoio social. É possível encontrar no relatório internacional (Currier et al., 2004) uma descrição completa e detalhada do instrumento e das suas qualidades psicométricas.

RESULTADOS Os resultados serão apresentados seguindo a seguinte ordem: estatísticas descritivas das variáveis, correlações entre as variáveis e, por fim, regressões de predição de comportamentos de bullying.

Foram analisados sete comportamentos de bullying: chamar nomes, deixar de fora, bater, boatos, raça, religião e piadas sexuais, na perspectiva do agressor (provocador) e do agredido (provocado). Tendo por base a revisão de literatura referenciada anteriormente, bem como as preocupações de prevenção e de promoção dos comportamentos de saúde na juventude foram seleccionadas algumas variáveis, especificamente, o consumo de tabaco e de álcool, o porte de armas, a percepção de segurança da escola e a satisfação com a vida, com o intuito de estudar as suas relações e o seu poder preditivo face aos comportamentos de bullying sentidos e exercidos.

Estatísticas descritivas dos comportamentos de bullying e dos preditores Os alunos relatam ser provocados com maior frequência através dos seguintes comportamentos de bullying: chamarem nomes, levarem boatos e piadas sexuais. Os alunos mencionam que provocam os colegas especialmente chamando-lhes nomes, dizendo piadas sexuais e deixando-os de fora das actividades. Globalmente, os alunos desta amostra consumem tabaco e álcool raramente. Referem ter andado com algum tipo de arma durante alguns dias do último mês. Tendem a considerar a escola medianamente segura e estão satisfeitos com a vida (Quadro 1).

Quadro 1     Estatísticas descritivas       N MínimoMáximoM DP   Consumo tabaco 6070 1 4 3.60 .91   Consumo álcool 6045 1 5 1.45 .93   Andar c/ armas 6019 1 5 1.25 .84   Percepção de segurança na esco6076 1 5 2.13 1.08   Satisfação c/ a vida 5944 0 10 7.36 1.92   Provocado (comportamentos de bullying sofridos)  “Chamarem nomes”6025 1 5 1.62 1.10   “Deixado fora” 5964 1 5 1.32 .83   “Baterem” 5955 1 5 1.18 .66   “Boatos” 5944 1 5 1.42 .91   “Cor da pele” 5933 1 5 1.11 .56   “Religião” 5896 1 5 1.09 .51   “Piadas sexuais”5952 1 5 1.34 .87   Provocador (comportamentos de bullying exercidos)  “Chamou nomes” 6026 1 5 1.41 .88   “Deixou de fora?970 1 5 1.21 .67   “Bateu” 5966 1 5 1.20 .68   “Boatos” 5941 1 5 1.13 .56   “Cor da pele” 5961 1 5 1.11 .55   “Religião” 5948 1 5 1.09 .51   “Piadas sexuais?966 1 5 1.26 .78  

Consumo de tabaco (1=Eu não fumo a 4=Todos os dias); Consumo de álcool (1=Não, nunca a 5=Sim, mais de 10 vezes); Andar com armas (1=Não andei com nenhuma arma durante os últimos 30 dias a 5=6 ou mais dias); Percepção de segurança na escola (1=Sempre me senti seguro a 5=Nunca me senti seguro); Satisfação com a vida (0=A pior vida possível a 10=A melhor vida possível); Comportamentos de bullying sofridos (1= Não sofri esse tipo de comportamento nos últimos meses a 5=Muitas vezes por semana); Comportamentos de bullying exercidos (1=Nunca exerci esse tipo de comportamento sobre outros colegas a 5=Muitas vezes por semana.

Correlações entre os comportamentos de bullying e as variáveis preditoras No quadro 2 é possível observar as correlações entre os vários tipos de comportamentos de bullying na perspectiva do provocador e do provocado com as variáveis preditoras (consumo tabaco, consumo álcool, porte de armas, percepção de segurança na escola e satisfação com a vida).

Quadro 2 Correlações entre os comportamentos de bullying e as variáveis preditoras

Consumo Consumo Andar Percepção Satisfação tabaco álcool c/ armas desegurança c/ a vida naescola

Provocador (comportamentos de bullying exercidos)   “Chamarem -.02 -.00 .05** .17** -.11** nomes” “Deixado fora? .00 .03* .06** .15** -.13** “Baterem” .01 .04** .11** .13** -.04** “Boatos” .07** .10** .10** .17** -.12** “Cor da pele” .05** .11** .14** .09** -.04** “Religião” .04** .08** .13** .08** -.03* “Piadas .06** .10** .11** .14** -.08** sexuais”  Provocador (comportamentos de bullying exercidos) “Chamou nomes? .11** .16** .19** .08** -.07** “Deixou de .10** .15** .19** .06** -.03* fora” “Bateu” .11** .20** .25** .08** -.05** “Boatos” .101** .18** .23** .05** -.03* “Cor da pele” .11** .18** .22** .04** -.05** “Religião” .10** .17** .22** .04** -.03* “Piadas sexuais” .13** .21** .23** .06** -.05**

** p< 0.01; * p<0.05

É possível verificar que a percepção da segurança existente na escola e o andar com armas são variáveis que estão associadas de forma positiva e significativa com todos os tipos de bullying exercidos e sentidos; por sua vez, a satisfação com a vida estão associados negativamente e significativamente com todos os tipos de bullying.

O consumo de álcool e tabaco está associado positivamente e significativamente com todos os comportamentos de bullying exceptuando com os comportamentos sentidos pelos provocados de lhes “chamarem nomes”.

Predição de comportamentos de bullying Foram efectuadas várias análises de regressão, nas quais foram definidas enquanto variáveis dependentes os comportamentos de bullying sentidos e exercidos e enquanto variáveis preditoras, os comportamentos de consumo de tabaco e de álcool e de porte de arma e, as percepções relativas à segurança na escola e à satisfação com a vida.

No quadro 3 pode-se observar uma síntese das variáveis que predizem significativamente (assinaladas com um x) cada tipo de comportamento. É possível verificar que os diferentes tipos de comportamento de bullying têm diferentes preditores. Contudo, é de salientar o papel preditor do consumo de álcool, do andar com armas, a percepção de segurança na escola na maioria dos tipos de comportamento de bullying sentido e exercido.

Quadro 3 Síntese da predição dos vários tipos de comportamentos de bullying

Consumo Consumo Andar Percepção Satisfação tabaco álcool c/ armas de segurança c/ a vida naescola

Provocado (comportamentos de bullying sofridos)   “Chamarem       X X nomes” “Deixado     X X X fora” “Baterem”   X X X X “Boatos” X X X X X “Cor da   X X X X pele” “Religião   X X X   “Piadas X X X X X sexuais”  Provocador (comportamentos de bullying exercidos) “Chamou X X X X X nomes” “Deixou de X X X X   fora” “Bateu” X X X X X “Boatos” X X X X   “Cor da X X X     pele” “Religião X X X X   “Piadas sexuais” X X X X X

DISCUSSÃO Com este estudo procurou-se contribuir para o aprofundamento do conhecimento acerca desta problemática que é o bullying nas escolas, bem como analisar a associação entre uma série de diferentes tipos de comportamentos de bullying enquanto provocado e provocador (chamar nomes, deixar de fora, bater, boatos, raça, religião e piadas sexuais) e algumas variáveis preditoras, variáveis comportamentais (consumo de álcool, drogas e porte de armas) e cognitivas/ percepções (percepção de satisfação com a vida e percepção de segurança na escola).

É de realçar que os alunos sentem-se provocados e dizem provocar de diferentes formas, sendo que os alunos referem serem provocados e provocar com mais frequência através de insultos verbais, boatos e piadas sexuais e exclusão (Juvonen, Graham, & Schuster, 2003; Bullock, 2002).

É importante realçar a relação encontrada entre a percepção de segurança da escola, o andar com armas e a satisfação com a vida e os comportamentos de bullying. Sendo que quanto mais os alunos percepcionam a escola como sendo insegura, mais relatam ser vítimas de bullying e mais referem incomodar os colegas; o mesmo padrão é verificado com o porte de armas. Por sua vez, quanto mais insatisfeitos os alunos estão com a sua vida, mais se sentem provocados e mais provocam. Um maior consumo de álcool e de tabaco está associado com uma maior violência sentida e exercida. Os resultados deste estudo traduzem-se em linhas práticas de intervenção com o problema do bullying, a salientar a importância dos alunos percepcionarem segurança nas escolas, evitar o porte de arma e contribuir para a satisfação dos alunos.

Dos resultados das regressões de predição dos comportamentos de bullying é importante salientar que os diferentes tipos de bullying partilham os mesmos preditores, contudo, pequenas especificidades e singularidades, por exemplo, apenas o ser vítima de boato e de piadas sexuais é predito pelo consumo de tabaco. Este resultado parece indicar que os programas de intervenção de combate ao bullying devem ter em consideração o tipo de bullying com o qual estão a intervir.

Durante a realização deste estudo aprofundado foram recolhidos novamente dados no âmbito deste estudo (Matos et al, 2006). Neste estudo manteve-se a avaliação da frequência do bullying (agressores e vítimas), mas não se repetiram as questões relativas às formas de bullying. Em relação às duas questões incluídas em 2006 (“provocar” e “ser provocado”) verificasse que a situação apresenta melhorias significativas, cuja análise e associação com outros factores está em estudo.

De salientar aqui o trabalho desenvolvido a nível das escolas (GTES, 2005, 2007a e b), onde desde 2005 as questões da violência são debatidas com alunos dos 6 aos 15 anos, nas áreas curriculares não disciplinares e transversalmente nos vários curricula oficiais, a par da prevenção dos consumos, sexualidade e actividade física/alimentação (GTES, 2005; 2007a; 2007b).

A escola surge como um ambiente privilegiado para a implementação de programas de saúde, especialmente quando as intervenções enfatizam igualmente, o papel dos pares e da família (Calmeiro & Matos, 2005; Matos, 2005).

Frequentemente, o conhecimento acerca dos estilos de vida e das crenças é insuficiente para promover mudança. As abordagens educacionais devem ser focalizadas no desenvolvimento de competências de vida, porque os adolescentes lidam simultaneamente com tarefas de aquisição de competências, de gestão das emoções, de autonomização e de desenvolvimento de relações maduras e integridade pessoal (Botvin & Griffin, 2004; Danish, Fazio, & Nellen, 2002; Matos, 2005; Smalley, Wittler, & Oliverson, 2004), de forma a poderem lidar com a vida diária e com os desafios futuros. A ênfase deve ser colocada nas percepções de competências, autonomia e auto eficácia (Calmeiro & Matos, 2005; Matos, 2005).

Em estudos futuros seria importante, do ponto de vista individual (adolescentes alvo de violência ou ofensores), completar os dados quantitativos com dados qualitativos e promover estudos longitudinais que permitam perceber as tendências/evolução ao longo do tempo, na sequência das medidas educativas implementadas.

Uma afirmação frequentemente referida é que a violência está associada a um estatuto social mais desfavorecido ou à pertença a um grupo étnico. O estudo HBSC, sendo um estudo abrangente sobre os comportamentos de saúde dos jovens, não é o estudo ideal para estudar factores socioeconómico, que necessitam de avaliação concomitante de variáveis relativas à escolaridade, ao trabalho e ao rendimento de ambos os pais, face ao custo de vida, por outro lado é igualmente difícil identificar a etnia e estes dois factores muitas vezes aparecem confundidos. No entanto, estudos anteriores (Matos, Gonçalves, & Gaspar, 2005) utilizando o mesmo instrumento em zonas com elevada concentração de pobreza e migração, apontam que, em zonas de elevada concentração de pobreza e migração as maiores diferenças não têm a ver com a violência mas com a percepção de tristeza, desesperança e isolamento.

Seria por outro lado fundamental compreender o contexto escolar em que estes fenómenos ocorrem, identificando factores ambientais que possam preveni-lo ou agravá-lo (atitudes dos professores, atitudes dos funcionários não docentes, formação de professores e funcionários, debate destes temas nos curricula escolares, organização da escola do ponto de vista dos espaços livre, por exemplo).

De considerar ainda que, embora não perdendo de vista a relevância do fenómeno, (não somente pelos danos em termos da saúde mental dos adolescentes, mas também em termos da sua potencial intromissão no sucesso educativo), a violência na escola reflecte a violência da sociedade civil envolvente, pelo que desde muito se preconiza uma acção precoce na família e nas estruturas comunitárias (Juntas de Freguesia, centros de jovens).

Estas assunções teóricas carecem também de verificação empírica, apontando mais um dos caminhos para futura investigação.


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