Editorial
Editorial
Este número da revista "Psicologia, Saúde & Doenças" é um
número temático dedicado à avaliação psicológica, mais especificamente à
apresentação de estudos de construção, adaptação e validação de escalas
aplicáveis em diversos contextos de saúde. A avaliação, que na sua definição
genérica se refere, sempre, à produção de informação útil a partir da qual se
podem tomar decisões fundamentadas, em Psicologia, recorre a técnicas e a
instrumentos que lhe são próprios e, também, a constructos psicológicos
teoricamente alicerçados e, complementarmente, a critérios estatísticos. A
avaliação psicológica, como bastas vezes tem sido referido, não é a resposta ou
o preenchimento de um instrumento, qualquer que seja a designação que este
tenha: questionário, inventário, escala, lista de verificação, entrevista ou
teste. De facto, ainda que qualquer destes instrumentos seja, no limite, um
instrumento de medida, não pode ser usado da forma que outras unidades de
medida, de outras áreas disciplinares, podem. Enquanto algumas medidas são
estritamente convencionais não carecendo de nenhum postulado teórico
particular, os testes psicológicos não podem ser usados "per se",
de forma independente do contexto de aplicação e do conhecimento, aprofundado,
do conceito que o originou. Do nosso ponto de vista torna-se importante
reforçar esta ideia, uma vez que se apresenta de seguida um conjunto de estudos
de instrumentos que, genérica e intencionalmente, assumem este principio,
embora, pareçam depois descorar esta perspectiva de conjunto, uma vez que se
centram em estudos do comportamento de instrumentos em populações nacionais. De
facto, um dos problemas que tem sido constatado no desenvolvimento da
investigação nas interfaces da psicologia com a saúde e as doenças e que tem,
nos últimos anos suscitado um esforço por parte da comunidade cientifica
interessada neste campo, é o da falta de instrumentos. Falta de instrumentos
adaptados e falta de instrumentos validados. Muitos dos mais clássicos
instrumentos da avaliação tem sido reconhecidos como insuficientes,
desadequados ou fornecendo informação irrelevante para os objectivos em vista
nos novos contextos emergentes nomeadamente nos de saúde e de doenças. Assim,
torna-se necessário, por um lado, estimular a produção de constructos teóricos
e, por outro, a construção e validação de instrumentos que permitam aclarar e
comparar como se comportam, em populações muito diferentes nas suas
características sócio-demográficas, e na sua relação dinâmica com outros
constructos, operacionalizados através de outros instrumentos. Tudo isto
mantendo a atenção sobre a fiabilidade e validade das medidas, tanto mais, que
ocorrendo este movimento da avaliação psicológica à escala global, muitos dos
instrumentos e, eventualmente, alguns dos constructos, propostos são produzidos
em diferentes línguas e em diferentes contextos sócio-culturais. Este número da
revista Psicologia, Saúde & Doenças, pretende assim, ser um contributo para
o melhor conhecimento de alguns instrumentos: uns novos, já que são propostas
de instrumentação decorrentes de realidades elas também novas, e outros,
adaptados de instrumentos já existentes noutras línguas. Em todos os casos
apresenta-se as validações psicométricas que, nuns casos põem a nú a
dificuldade de utilização entre nós de instrumentos com provas dadas noutras
latitudes; noutros casos, nos ajudam a clarificar os limites da sua utilização
e a necessidade de não descansar na psicometria e na estatística como se fossem
respostas prontas para as nossas tentativas de objectivação e, finalmente, em
outros casos ainda, nos oferecem materiais fiáveis e úteis.
Isabel P. Leal
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