A relação entre a depressão em contexto laboral e o burnout: Um estudo empírico
com Enfermeiros
Para autores como Delbrouck (2006) o sindroma de burnout, continua a não ser
reconhecido como uma entidade nosológica distinta, sendo frequentemente
diagnosticado como depressão, designadamente a sua primeira dimensão, que é a
exaustão emocional, até porque, estas duas perturbações apresentam sintomas
muitas vezes semelhantes, se bem que com causas diferentes, apresentando ainda
comorbilidade, o que também pode ser um factor de confundimento entre ambas.
Ainda segundo Delbrouck (2006), apesar de o burnoutser tido, de acordo com
alguns especialistas, como uma manifestação laboral da depressão que afecta
vários aspectos da vida das pessoas, existem outros estudos em que os
resultados encontrados não são compatíveis com esta perspectiva, encontrando
diferenças entre ambas as entidades, não só relativamente ao género, como
também em relação à profissão, ou áreas de especialização profissional (dentro
da mesma profissão).
Esta situação o que torna-se sobretudo perceptível quando se investigam em
simultâneo o burnoute a depressão. Até porque o burnoutpode ser entendido como
um sinónimo de mal-estar relacionado com o trabalho (Jesus, 1996; 2001). O que
pode ter relação com o que é sugerido por Murcho, Jesus, e Pacheco (2008), de
que o trabalho, sendo uma actividade inerente às pessoas, é também uma
necessidade, uma característica, e uma acção indispensável para o seu
desenvolvimento individual e colectivo, comportando um conjunto de valores que
lhe são intrínsecos, podendo ser não só uma fonte de bem-estar como também de
mal-estar, o qual se manifesta de diversas formas.
Nesse sentido, estudos realizados por estes autores, relativos ao mal-estar
relacionado com o trabalho em enfermeiros, concluem que os sintomas de mal-
estar relacionado com o trabalho, quer em termos globais, quer nas suas
diferentes dimensões física, emocional, cognitiva e comportamental, relacionam-
se sempre com a depressão e com as dimensões do burnout, exaustão emocional e
despersonalização (para além de também se correlacionarem sempre com a
ansiedade, o stresse e a vulnerabilidade ao stresse) (Murcho, Jesus, Pacheco,
2009).
Podemos então dizer, que o sindroma de burnoutapresenta alguns sintomas
semelhantes aos quadros depressivos, como sejam os distúrbios do sono, a perda
de energia e a fadiga, a perda de interesse nas actividades usuais, a
diminuição da auto-estima e da auto-confiança, e o desapontamento e a tristeza,
embora também existam diferenças acentuadas entre os dois quadros clínicos,
apresentando a depressão como principais sintomas, uma atitude depressiva e
dificuldade em retirar prazer das coisas, perda ou ganho de peso, insónia ou
hipersónia, agitação ou retardamento psicomotor, fadiga ou perda de energia,
sentimentos de insuficiência ou de culpa, indecisão ou dificuldade de
concentração, e pensamentos sobre a morte e ideação suicida, enquanto o
burnoutapresenta exaustão mental e emocional, despersonalização (que se
caracteriza por uma atitude cínica em relação aos outros), sucesso pessoal
reduzido (que tem relação com uma avaliação negativa das competências
individuais no trabalho) (Brenninkmeijer, VanYperen, Buunk, 2001; Mallar,
Capitão, 2004; Varoli, Souza, 2004; Pacheco, Jesus, 2007).
Reime, e Steiner (2001, cit. Trigo, Teng, Hallak, 2007) ao testarem a validade
discriminativa do sindroma de burnoutem comparação com o transtorno depressivo,
encontraram validade para este sindroma, diferenciando-o da depressão.
A este respeito, Leiter, e Durup (1994, cit. Mallar, Capitão, 2004) assinalam
que o burnouté essencialmente um constructo social que surge como consequência
das relações interpessoais e organizacionais, enquanto a depressão é
fundamentalmente um conjunto de emoções e cognições que têm consequências sobre
essas relações interpessoais.
Também Freudenberg (1987, cit. Vieira, Ramos, Martins, Bucasio, Benevides-
Pereira, Figueira, Jardim, 2006), já mencionava que o estado depressivo
presente no burnoutseria temporário e orientado para uma situação precisa que é
o trabalho, não estando presente o sentimento de culpa característico da
depressão, assim como para Maslach, Schaufeli, e Leiter, (2001, cit. Vieira et
al., 2006), o burnoutafectaria somente o campo profissional, sendo considerado
como um diagnóstico de situação de trabalho, enquanto a depressão atingiria
todos os campos da vida do indivíduo, sendo considerada como um sindroma
clínico.
Ahola, Honkonen, Isometsä, Kalimo, Nykyri, eAromaa (2005, cit. Vieira et al.,
2006), mencionam que, apesar da natureza da relação entre o burnoute a
depressão não ser bem conhecida, a mesma pode dever-se a antecedentes
etiológicos comuns (ligados ao stresse crónico ou a factores da personalidade,
como os traços neuróticos, entre outros), podendo o burnoutser uma fase, ou um
precursor no desenvolvimento dos transtornos depressivos, recomendando que
quando se lida com populações de trabalhadores se deva aferir a existência
tanto de um como do outro problema. Ou seja, podemos dizer que em contexto
laboral, os quadros depressivos podem ocorrer como sendo uma das manifestações
de burnout(Schaufeli, Buunk, 1996; Ballone, 2002).
Outros autores, como Iacovides, Fountoulakis, Kaprinis, e Kaprinis (2003, cit.
Vieira et al., 2006), sugerem que o sindroma de burnoute a depressão possam
partilhar várias características qualitativas, especialmente nas formas mais
graves deste sindroma, propondo que sejam aplicados os dois diagnósticos em
certos casos, tais como: aqueles em que haja maior grau de disfunção no
trabalho do que de sintomatologia depressiva; e em que o início da disfunção
ocorra antes do início da depressão major ou a existência de uma atitude
negativa em relação à profissão que não possa ser explicada como uma
manifestação da depressão. Deste modo, para estes autores ainda, é recomendável
que ao se lidar com populações de trabalhadores, sejam aferidos ambos os
problemas.
Finalmente os vários estudos que consultamos também vão no sentido de
considerarem estes dois constructos como distintos, embora com elementos
comuns, encontrando correlações positivas e significativas entre as dimensões
da exaustão emocional e da despersonalização no burnoutcom a depressão, embora
não tenham encontrado correlações significativas com a dimensão da realização
pessoal (Arice, Batista, Morais, Souza, Reis, 2004; Batista, Morais, Carmo,
Souza, Cunha, 2005).
Tendo em conta a literatura consultada, consideramos ser pertinente
aprofundarmos o estudo da relação existente entre a depressão e o burnout, uma
vez que um melhor conhecimento desta questão poderá contribuir para uma maior
eficácia das intervenções de prevenção destes problemas em contexto laboral, e
concomitantemente para maximizar a qualidade das medidas de promoção de saúde
mental e psicológica dos trabalhadores, designadamente dos profissionais de
saúde, como é o caso dos enfermeiros. Nesse sentido efectuamos este estudo com
o objectivo de estudarmos a relação existente entre a depressão e o burnout,
nas suas três dimensões – a exaustão emocional, a despersonalização e a
realização pessoal.
MÉTODO
Tendo em conta não só o objectivo que definimos para este estudo, como o
enquadramento teórico que efectuamos, consideramos que o burnoute a depressão
são constructos diferentes, embora inter-relacionados. Assim, fomos procurar
determinar quais as relações existentes entre estes dois problemas,
designadamente a nível da influência que um pode ter no outro.
Trata-se de um estudo quantitativo, exploratório, descritivo, transversal e não
experimental. O método de amostragem utilizado foi de conveniência. O universo
deste estudo é o dos enfermeiros e a população de referência para construção da
amostra é a dos indivíduos deste universo que trabalham nas unidades
hospitalares de maior dimensão do Algarve, respectivamente o Hospital de Faro,
e o Centro Hospitalar do BarlaventoAlgarvio. Como instrumento de colheita de
dados foi utilizado um questionário auto-preenchido de tipo misto (com
perguntas fechadas e abertas de resposta rápida), que na parte que respeita a
este estudo é constituído por um grupo inicial de 20 questões de caracterização
sócio demográfica (que correspondem a 48 itens) e por duas escalas, com o
objectivo de avaliarmos a depressão e o burnout.
Participantes
É uma amostra de conveniência constituída por 499 enfermeiros, dos quais 292
trabalham no Hospital de Faro, e 207 no Centro Hospitalar do Barlavento
Algarvio, sendo 399 de género feminino e 100 de género masculino. Os
participantes têm uma média (M) de idades de 32,99 anos, com um desvio padrão
(SD) de 9,32 anos (variando entre os 21 e os 59 anos); o tempo médio de
exercício profissional é de M= 9,73 anos (SD= 8,97 anos), variando entre menos
de um ano e 37 anos; e o tempo médio de permanência no serviço onde trabalham é
de M= 4,49 anos (SD= 4,79 anos), variando entre menos de um ano e 34 anos. As
restantes características sociodemográficas são apresentadas no seguinte quadro
1.
Quadro 1
Características sociodemográficas dos participantes (N = 499)
Em relação ao burnout, conforme podemos observar no quadro 2, a maioria dos
inquiridos na população estudada encontra-se distribuída no nível de
classificação “baixa” para as dimensões exaustão emocional (62,1%) e
despersonalização (67,1%), e no nível “alta” para a dimensão realização pessoal
(37,1%), pelo que podemos dizer que nesta população, a maior parte dos
enfermeiros apresenta um nível geral baixo de burnout, conforme os critérios
que utilizamos (Maslach, Jackson, 1997; Parreira, Sousa, 2000; Borges, Argolo,
Pereira, Machado, Silva, 2002).
Quadro 2
Distribuição dos participantes de acordo com diferentes dimensões do burnout, e
níveis de depressão, relativamente aos valores apresentados
É também importante mencionarmos que o segundo grupo estatisticamente mais
significativo, é o dos participantes que se distribuem pelos níveis de
classificação “alta” para a exaustão emocional (20%), “média” para a
despersonalização (20,9%) e “baixa” para a realização pessoal (32,9%), ou seja,
dos enfermeiros que apresentam um nível geral médio ou alto de burnout.
Para estimarmos os níveis de depressão (que designamos como elevado, médio e
baixo) tivemos em conta uma metodologia similar àquela que utilizamos
relativamente ao burnout, que mencionamos anteriormente, a qual se baseia na
soma dos scoresnos factores e no estabelecimento de intervalos para
identificação destes níveis a partir da determinação dos percentis, de modo a
obtermos uma classificação tripartida.
Desse modo, podemos dizer que nesta amostra o valor médio que obtemos para a
depressão é de M= 2,76 pontos (SD= 3,07 pontos), que se situa abaixo do ponto
médio da escala (que é de 10,5 pontos), encontrando-se a maioria dos inquiridos
no nível que consideramos como “baixo” de depressão (91,8%), tendo em conta as
pontuações obtidas com a aplicação do instrumento utilizado, embora 8,2% do
total destes participantes apresente um nível médio ou elevado de depressão,
conforme verificamos pelo quadro seguinte (videquadro 2).
Material
Os instrumentos psicométricos que utilizamos são os seguintes: as “Escalas de
Ansiedade, Depressão e Stresse” (EADS) de 21 itens, Lovibond, e Lovibond
(1995), na adaptação portuguesa efectuada por Pais Ribeiro, Honrado, e Leal
(2004), em que trabalhamos especificamente a subescala da depressão; e o
“Inventário de Burnoutde Maslach”, na adaptação portuguesa para enfermeiros da
“Maslach Burnout Inventory”(MBI) de Maslach, e Jackson (1981), efectuada por
Parreira, e Sousa (2000).
No primeiro caso, relativo à EADS, podemos dizer que se trata de uma escala de
tipo Lickert, com 21 itens, agrupados em três subescalas, respectivamente de
ansiedade, de depressão e de stresse, de sete itens cada uma e com quatro
pontos de gravidade ou de frequência, que variam entre 0 = “não se aplicou nada
a mim”, e 3 = “aplicou-se a mim a maior parte das vezes” (Pais Ribeiro,
Honrado, Leal, 2004).
No segundo caso, relativo à MBI, podemos dizer que se trata de uma escala
constituída por 22 itens e sete pontos numa escala temporal, que variam entre 0
= “Nunca” e 6 = “Todos os dias”, e permite a avaliação do burnoutexperimentado,
aqui conceptualizado como variável continua, variando entre o nível baixo,
médio, e alto, através da avaliação dos três factores ali considerados, que são
os seguintes: a exaustão emocional, que significa estar emocionalmente esgotado
e exausto com o trabalho; a despersonalização, que se traduz em respostas
impessoais e frieza com os utentes/doentes; e a realização pessoal, ou seja,
sentimentos a nível da competência e sucesso atingidos (Parreira, Sousa, 2000).
Todas as escalas apresentavam níveis de consistência interna (α) considerados
adequados para medir as variáveis que pretendiam medir (α > 0,70, de acordo com
Hill, Hill, 2002), sendo os valores que encontramos nestas escalas,
respectivamente de: EADS – α = 0,916; MBI – α = 0,761.
Relativamente aos valores de consistência interna que verificamos neste estudo
para as subescalas destas escalas, no que concerne à EADS, eles são adequados
sendo os seguintes: subescala de Ansiedade – α = 0,764; subescala de Depressão
– α = 0,812; e subescala de Stresse – α = 0,849. No que respeita à MBI, os
valores de consistência interna das suas subescalas, que também podemos
observar nesta pesquisa, e à excepção do valor da subescala de
despersonalização, também são adequados, e são os seguintes: subescala de
exaustão emocional – α = 0,888; subescala de despersonalização – α = 0,648; e
subescala de realização pessoal – α = 0,780.
De referir que o valor relativamente baixo da subescala de despersonalização,
na MBI, é recorrente noutros estudos onde esta mesma escala foi utilizada, de
que destacamos os trabalhos de Borges et al. (2002), Pinto, Lima, e Silva
(2003), e Murcho, e Jesus (2007).
Tal como é referido por Borges et al. (2002), a baixa consistência do factor
despersonalização pode estar relacionado com a situação de este factor ser o
último a estabelecer-se no sindroma de burnout. Contudo, e uma vez que a MBI
continua a ser a escala que é mais utilizada para medir este sindroma, tal como
refere este último autor, iremos utilizá-la neste estudo, até mesmo porque, e
não obstante esta fragilidade psicométrica: “o MBI é o questionário que melhor
dá conta do carácter multidimensional do síndrome”(Borges et al., 2002, 195).
RESULTADOS
Para verificarmos se existem diferenças significativas nas relações de
influência que ocorrem entre as variáveis depressão e burnout, fomos realizar
diversas análises tipo predictor-critério, através de equações de regressão
simples, onde consideramos como medida (variável dependente) o burnout, nas
três dimensões (a exaustão emocional, a despersonalização e a realização
pessoal), e como variável predictora a depressão, no sentido de conhecermos a
influência que a depressão tem no burnout, assim como procedemos à análise de
regressão múltipla, para analisarmos se a depressão é influenciada de igual
modo, pelas três dimensões do burnout, considerando também as suas relações.
No que concerne às análises tipo predictor-critério, começamos por analisar a
influência existente entre a depressão e a exaustão emocional, e conforme
podemos observar no quadro 3, os resultados obtidos demonstram que a relação
entre estas variáveis tem um nível de significância muito elevado (p <0,001),
apresentando uma associação moderada (0,4 ≥r ≤0,69). Desse modo consideramos
existir influência da depressão na exaustão emocional.
Quadro 3
Coeficientes beta ( β) estandardizados obtidos através de equações de regressão
simples, efectuadas entre a medida (burnout) e a depressão
Relativamente à relação existente entre a depressão e a despersonalização (vide
quadro 3), verificamos que existe um nível de significância muito elevado, com
uma associação moderada, pelo que a consideramos como sendo significativa, ou
seja, que a depressão influencia a despersonalização.
No que concerne à relação entre a depressão e a realização pessoal, de acordo
com o quadro 3, e apesar de esta apresentar um nível de significância também
muito elevado, contudo tem uma associação baixa (r ≤3) que é negativa, pelo que
a consideramos não significativa, inferindo daqui que a realização pessoal não
é influenciada pela depressão.
Das análises tipo predictor-critério que efectuamos, no sentido de conhecermos
se a depressão influência o burnout, nas suas três dimensões, podemos dizer
que, e apesar termos encontrado uma relação de influência entre a depressão e
as duas primeiras dimensões do burnout, a exaustão emocional e a
despersonalização, não encontramos uma relação significativa entre a depressão
e a realização pessoal (embora seja de se mencionar têm uma significância
elevada e que o sentido da relação é negativo), o que nos leva a inferir que a
depressão influencia de forma desigual o burnout, relativamente às suas três
dimensões, ou seja, não existe uma influência completa entre a primeira e a
segunda das variáveis em estudo.
Seguidamente, fomos procurar verificar se a depressão é influenciada de igual
modo pelas três dimensões do burnout, considerando também as suas relações,
procedemos à análise de regressão múltipla (videquadro 4).
Quadro 4
Resultados obtidos nas equações de regressão múltipla, efectuadas entre a
medida (depressão) e o burnout
Conforme verificamos da observação do quadro 4, podemos dizer que as três
dimensões do burnout, explicam 31,3%da variabilidade da depressão, e que todas
estas dimensões parecem contribuir significativamente para o surgimento de
depressão, embora aquela que apresenta maior contribuição relativa para
explicar o comportamento da depressão, seja a exaustão emocional (β = 0,426).
Assim podemos dizer que a depressão é influenciada de igual modo pelas três
dimensões do burnout, o que nos leva a inferir que o burnoutinfluencia a
depressão.
Finalmente, quisemos ainda saber qual a associação existente entre as três
dimensões do burnout, e entre estas dimensões e a depressão, mediante análise
das correlações de Pearson existentes entre elas (videquadro 5). Assim,
encontramos correlações moderadas entre a depressão e as dimensões do burnout,
exaustão emocional (r= 0,529, p<0,001) e despersonalização (r= 0,408, p<0,001),
mas não em relação à realização pessoal (r= -0,257, p<0,001), em que a relação
é fraca (r<0,3), se bem que do ponto de vista da significância os valores sejam
todos muito significativos (p≤0,001). Do mesmo modo, podemos constatar que as
correlações existentes entre as dimensões do burnout, entre si mesmas, também
se comportam do mesmo modo relativamente à realização pessoal, estabelecendo
relações moderadas entre a exaustão emocional e a despersonalização (r= 0,579,
p<0,001), mas não em relação à realização pessoal (em ambos os casos r<0,3), em
que a relação existente é fraca, se bem que do ponto de vista da significância
os valores continuem a ser todos muito significativos (p≤0,001).
Quadro 5
Matriz de correlações entre a depressão e as dimensões do burnout (exaustão
emocional, despersonalização e realização pessoal)
De referir também que o sentido das relações existentes entre a depressão, a
exaustão emocional e a despersonalização com a realização pessoal, é negativo
em todos os casos.
DISCUSSÃO
Das análises efectuadas, podemos então dizer que a depressão influencia da
mesma forma as dimensões do burnout, exaustão emocional e despersonalização,
embora não influencie de uma forma representativa a realização pessoal, o que
nos leva a inferir que a depressão tem uma influência parcial no burnout. Por
outro lado, o burnoutparece influenciar a depressão, de uma forma global
relativamente às suas três dimensões. Estes resultados estão de acordo com a
literatura consultada, designadamente no que concerne à relação existente entre
a depressão e o burnout, nas suas três dimensões, a exaustão emocional, a
despersonalização e a realização pessoal, podendo dizermos que estes dois
problemas são distintos, apesar de partilharem elementos comuns (Batista,
Morais, Carmo, Souza, Cunha, 2005; Reime, Steiner, 2001, cit. Trigo, Teng,
Hallak, 2007;Arice, Batista, Morais, Souza, Reis, 2004; Vieira et al., 2006).
O facto de o sindroma de burnout, na globalidade das suas três dimensões,
influenciar a depressão, leva-nos a sugerir que no contexto laboral os quadros
depressivos podem ocorrer como uma manifestação deste sindroma, tal como é
mencionado por autores como Schaufeli, e Buunk (1996) ou Ballone (2002).
Contudo, o inverso parece não ser evidente, pelo que não podemos dizer que o
burnoutocorre como uma manifestação da depressão.
Assim podemos concluir que existe evidência de o sindroma de burnoute a
depressão, serem constructos diferentes, apesar de apresentarem elementos
comuns, designadamente a nível das duas primeiras dimensões deste sindroma, a
exaustão emocional e a despersonalização, sendo essa diferença acentuada
principalmente pela dimensão do burnout, realização pessoal.
Finalmente, de referir que apesar de termos cumprido os objectivos que
delineamos para este estudo, que é o de investigarmos a relação existente entre
a depressão e o burnoutnas suas três dimensões, encontramos algumas limitações
ao mesmo, as quais, entre outros aspectos, se prendem com o facto de ser uma
amostra de conveniência, e de esta investigação incidir somente num grupo
profissional, que é o dos enfermeiros. Sugerimos então a possibilidade de se
replicar o mesmo estudo com outros grupos profissionais de áreas de trabalho
distintas, como médicos, professores, membros de forças de autoridade,
bombeiros, e pessoal administrativo, e com outras técnicas de amostragem
(probabilísticas), no sentido de nos permitir um melhor conhecimento sobre a
relação existente entre a depressão e o burnout, o que pensamos, poderá
permitir o desenvolvimento de estratégias de prevenção em meio laboral da
ocorrência de ambas as entidades, como da minimização dos seus efeitos, que
sejam mais eficazes e adequadas aos diferentes contextos organizacionais.