Ana Bénard da Costa e os Cadernos de Estudos Africanos
NOTA EDITORIAL
Ana Bénard da Costa e os Cadernos de Estudos Africanos
Clara Carvalho*
*Centro de Estudos Internacionais (CEI-IUL), Instituto Universitário de Lisboa
(ISCTE-IUL), Avenida das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal,
clara.carvalho@iscte.pt
Este número dos Cadernos de Estudos Africanos é o último coordenado por Ana
Bénard da Costa e a equipa editorial que, com mestria, conduziram a revista
entre 2008 e 2015. A revista, criada em 2001 como expressão privilegiada da
investigação realizada no Centro de Estudos Africanos, desde cedo se afirmou
como um marco nos Estudos Africanos em Portugal, ao lado da sua congénere mais
velha, a Africana Studia. Mas é com a direção de Ana Bénard da Costa que se
profissionaliza e adquire definitivamente um nome internacional. Neste momento
de mudança, recordemos brevemente a importância desta publicação e do papel da
sua diretora na sua afirmação.
Os Cadernos de Estudos Africanos, criados em julho de 2001, representaram um
importante marco na afirmação desta área multidisciplinar em Portugal, em
África e na Europa. Os primeiros números foram marcantes pelos temas abordados
e representaram a consolidação do ensino dos Estudos Africanos. Os professores
do mestrado em Estudos Africanos escreveram artigos ainda hoje citados pelos
seus antigos e novos alunos, deixando um testemunho indelével do conhecimento
sobre África que se pretendeu valorizar, no cruzamento da economia política,
dos estudos de desenvolvimento, da sociologia, da antropologia, da história. Os
números dirigidos pelo seu primeiro diretor, Rui Mateus Pereira, são hoje
referências na história dos Estudos Africanos. Os primeiros números alternavam
entre as publicações abertas e as temáticas, sendo estas últimas um espelho da
atividade do Centro de Estudos Africanos em plena expansão. Na introdução,
Franz-Wilhelm Heimer, presidente do Centro de Estudos Africanos, realçava a
importância desta publicação como meio de divulgação da investigação em
ciências sociais que se realizava sobretudo na África subsaariana, e com
especial atenção (mas não exclusividade) para os contextos sociopolíticos dos
países africanos de língua oficial portuguesa. Contudo, como o autor
explicitava, a atenção ia para o contexto continental no seu todo. Os CAE eram
responsabilidade da direção do Centro, a que se juntavam os membros do seu
conselho científico, afirmando o carácter umbilical entre a publicação e o
centro de investigação que lhe deu origem. O primeiro número foi pensado como o
seu cartão de visita e nele participaram os principais colaboradores na área
de Estudos Africanos e do Centro de Estudos Africanos do ISCTE, com artigos
assinados, ou com a colaboração, de Franz-Wilhelm Heimer, Eduardo Costa Dias,
António Leão Correia e Silva, Christian Sigrist, Mário Ribeiro e Nuno Cunha,
Adolfo Yáñez Casal, Rui Mateus Pereira, a que se seguem, nos números seguintes,
Carlos Cardoso e Manuel João Ramos, Nelson Pestana, Elísio Macamo, Fernando
Florêncio, José Fialho Feliciano, Armando Trigo de Abreu e ainda Rogério Roque
Amaro, cujo artigo, Desenvolvimento – um conceito ultrapassado ou em
renovação?, publicado no número 4 de 2003, foi o mais citado de sempre nesta
revista. A revista engrossou o número dos seus colaboradores, quase todos
profundamente ligados ao Centro de Estudos Africanos como professores ou
investigadores. Uma sucessão de números temáticos, publicados entre 2006 e
2010, resultam de conferências organizadas pelo Centro e assinalam as
principais áreas de pesquisa desenvolvidas: dinâmicas políticas, empresários e
empreendedorismo, memórias coloniais, ou outras em lançamento como autoridades
tradicionais, ajuda humanitária e desenvolvimento, juventude e modernidade.
A entrada de Ana Bénard da Costa para a direção da revista representou uma nova
fase da publicação. Com uma comissão editorial e científica renovadas, a nova
diretora incentivou uma remodelação que se enquadrou nos parâmetros
internacionais. Desde logo criou números temáticos específicos com call for
papers dedicadas; instituiu uma secção de recensões bibliográficas; alargou o
âmbito da revista para além dos temas e das áreas tratadas pelos investigadores
do Centro de Estudos Africanos. Finalmente, a revista foi referenciada nos
principais diretórios tais como o DOAJ, Latindex e Index Copernicus
International, e indexada na ProQuest, SciELO, EBSCO Fonte Acadêmica, Redalyc e
na Revues.org. Está atualmente, disponibilizada online nos referidos índices,
no site do Centro de Estudos Internacionais e no Repositório do ISCTE-IUL, com
uma divulgação online muito apreciada pelos seus leitores em África, no Brasil,
nos Estados Unidos e em vários pontos da Europa que todos os dias recorrem aos
artigos. Nesta profissionalização da revista, Ana Bénard da Costa contou sempre
com o apoio inestimável da Comissão Editorial onde se incluem Andréa de Souza
Lobo, Clara Carvalho, Cristina Udelsmann Rodrigues, Fernando Florêncio, Gerhard
Seibert, João Vasconcelos, Jordi Tomàs, José Lingna Nafafé, Paulo Granjo,
Philip J. Havik e Vitor Alexandre Lourenço, e ainda de João Dias, como
secretário da revista, e de Teresa Montenegro. Mas foi o seu empenho,
profissionalismo e energia que permitiram aos Cadernos de Estudos Africanos
chegar ao patamar de afirmação nacional e internacional onde hoje se encontram.
No momento em que Ana Bénard da Costa parte para novos desafios, os Cadernos de
Estudos Africanos ficar-lhe-ão para sempre devedores.