In memoriam de Teresa Amado
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In memoriamde Teresa Amado
José Mattoso*
* Universidade Nova de Lisboa, Instituto de Estudos Medievais ' FCSH / UNL,
1069-061, Lisboa, Portugal.E-mail: jjmtts@outlook.com
Maria Teresa Amado, inesperadamente falecida no dia 5 de Agosto, representava o
pouco que ainda restava, na Universidade portuguesa actual, do que ela tinha de
bom antes do 25 de Abril. O que ela tinha de retrógrado, de ostentação sem
fundamento, de saber formal e inútil, de submissão a uma ideologia alienante,
tudo isso desapareceu há muito. Com efeito, a Academia da época salazarista não
tinha só lacaios do regime. Para sermos justos, temos de recordar nomes como os
de L. F. Lindley Cintra, Manuel Antunes, Orlando Ribeiro, J. Prado Coelho,
Maria de Lurdes Belchior, Vitorino Nemésio, todos da Faculdade de Letras de
Lisboa, ou ainda como Adérito Sedas Nunes e Francisco Pereira de Moura, da
Faculdade de Economia de Lisboa, J. S. Silva Dias, da Faculdade de Letras de
Coimbra, Joaquim Romero de Magalhães, da Faculdade de Economia de Coimbra. E
outros... Nos anos 50 e 60, sustentaram com brio a dignidade do ensino
universitário. Resistiram firmemente à distorsão imposta pelo regime à cultura
portuguesa.
A renovação da Universidade trazida pelo 25 de Abril não se deveu só aos jovens
marxistas que nela entraram em massa (e depressa se dispersaram). Deveu-se
sobretudo à geração formada por docentes como os que citámos. Os seus
discípulos souberam preservar a herança intelectual transmitida pela Academia
antes do 25 de Abril e conjugá-la com a renovação internacional das Ciências
Sociais e Humanas, que então se processava com vigor nas universidades
europeias. Daí resultou, em Portugal, entre 74 e 85, um ensino universitário
hesitante, eclético, pouco sistemático, disperso, de nível científico duvidoso
e teoricamente inseguro, apesar da boa vontade dos seus responsáveis.
Reivindicava a liberdade intelectual, rejeitava ortodoxias, respeitava teorias
e opiniões, praticava o diálogo entre as várias ciências humanas e recomendava
o convívio com as artes performativas. O seu pendor eclético não colidia com um
pendor tendencialmente humanista.
Teresa Amado representa bem o que de melhor praticou a geração a que me refiro.
A formação inicial, que deveu a Lindey Cintra e Vitorino Nemésio, consolidou-se
e diversificou-se depois de 74, graças aos contactos directos com a docência e
a investigação anglo-saxónica, como leitora do King's College em Cambrigde.
Durante alguns anos, de 1978 a 1985, publica na Colóquio/Letras recensões
breves de obras de Barthes e de Kristeva, e de autores portugueses recentes.
Mas a partir de 1985 consagra-se quase exclusivamente ao estudo da concepção da
História em Fernão Lopes. Como resultado das suas investigações, viria depois a
apresentar em provas públicas a tese de doutoramento a que deu o expressivo
título de Fernão Lopes, contador de História (1991). O caráter sistemático da
investigação que então fez transparece na extensa e completa