EFEITOS DA SIMULAÇÃO DE DERIVA DE CLOMAZONE EM PLANTAS DE LARANJEIRA 'HAMLIN'
EFEITOS DA SIMULAÇÃO DE DERIVA DE CLOMAZONE EM PLANTAS DE LARANJEIRA 'HAMLIN'1
INTRODUÇÃO
Apesar das grandes produções obtidas pelo setor citrícola nos últimos anos,
esse tem apresentado uma base tecnológica baixa, uma vez que ele não se tem
mostrado muito rentável e, conseqüentemente, não proporcionado o devido retorno
de investimentos na cultura.
Na região citrícola do Estado de São Paulo, a erradicação de pomares coincidiu
principalmente com a expansão das áreas de plantio de cana-de-açúcar, fazendo
com que uma cultura fosse trocada por outra ou se tornassem freqüentemente
vizinhas.
O setor sucroalcooleiro vem procurando otimizar suas aplicações de defensivos
como uma forma de reduzir despesas e, com este objetivo, aplicações aéreas que
vêm sendo muito utilizadas para herbicidas e maturadores, mas aumentam o risco
de deriva desses produtos em culturas que não eram alvo (Gelmini, 1988). Ao
realizar a escolha de um determinado herbicida, deve-se avaliar os riscos e
benefícios do uso do produto, considerando-se a forma de uso, a importância
econômica e a presença de culturas vizinhas suscetíveis (Auch & Arnold,
1978). O objetivo da aplicação de um herbicida é colocar a quantidade certa de
ingrediente ativo no alvo desejado, com a máxima eficiência e da maneira mais
econômica possível, sem afetar o meio ambiente (Durigan, 1989).
Segundo Matuo (1990), a aplicação de defensivos, principalmente a aérea, quando
feita na presença de ventos com velocidade acima de 5 km/h, pode provocar o
carregamento de partículas menores do produto por longas distâncias (deriva),
provocando danos, em alguns casos, às culturas ou plantas que não eram seus
alvos. Depreende-se, assim, que o herbicida deve atingir de modo efetivo a
planta daninha a ser controlada, uma vez que a ocorrência de deriva, além de
reduzir a eficiência da aplicação (Gelmini, 1988), coloca em risco culturas
vizinhas suscetíveis. Gotas pequenas podem ser transportadas em condições
variáveis de vento e luminosidade, particularmente em condições de inversão
térmica, atingindo assim áreas agrícolas adjacentes, sendo possível verificar
sintomas de injúrias causados por deriva de herbicidas a quilômetros de
distância do local de aplicação (Yates et al., 1978).
Para Bayley & Kapusta (1993), a iminente possibilidade de ocorrência de
injúrias em culturas, devido à deposição de herbicidas em áreas "não
alvo", tem levado à condução de várias pesquisas envolvendo o conceito de
"deriva simulada", principalmente em culturas nas quais as aplicações
são realizadas com equipamento aéreo.
A ocorrência de riscos de deriva de produtos seletivos à cultura de cana-de-
açúcar, em culturas suscetíveis como a de citros, vem causando sérios problemas
devido a pressupostos erros na tecnologia de aplicação.
Em virtude do relatado, este trabalho objetivou avaliar o efeito da deriva
simulada de clomazone, em duas formulações, e de clomazone em mistura com
ametryne, herbicidas esses normalmente utilizados no controle de plantas
daninhas em pré e pós-emergência na cultura da cana-de-açúcar, sobre
características quantitativas e qualitativas de frutos de laranjeira (Citrus
sinensis) cv. Hamlin.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em área de produção de laranja (Citrus sinensis L.
Osbeck) cv. Hamlin durante o ano agrícola de 1998, no município de Taiúva-SP.
As plantas de laranjeira utilizadas na instalação do ensaio apresentavam-se
vigorosas, com frutos, e emitindo novos ramos vegetativos, com quatorze anos e
condições fitossanitárias normais.
Os tratamentos experimentais constaram da aplicação de doses crescentes de
clomazone, isolado ou em mistura com ametryne (até que essas atingissem a dose
recomendada comercialmente para o controle de plantas daninhas), no estágio de
desenvolvimento de frutos, com 2 a 4 cm de diâmetro. A descrição dos
tratamentos experimentais utilizados encontra-se na Tabela_1.
A aplicação dos herbicidas foi realizada com pulverizador costal à pressão
constante (ar comprimido), munido de um bico XR11002 e regulado para um gasto
de volume de calda de 200 L/ha. Essa aplicação foi realizada a um metro de
distância das árvores, direcionada para a porção mediana dessas, resultando em
uma área tratada de 0,45 m2por aplicação.
As parcelas experimentais constaram de faixas de aplicação (0,45 m2), sendo que
foram aplicadas três faixas em faces opostas de uma mesma planta,
correspondendo, cada qual, a uma repetição do tratamento. Como testemunha,
foram consideradas três faixas (0,45m2) por planta não tratada. O experimento
foi instalado no campo segundo o delineamento experimental de blocos ao acaso,
com 15 tratamentos e três repetições.
Delimitada a área da parcela, foram marcados com tinta branca dez frutos por
faixa tratada, nos quais foram avaliados os efeitos dos tratamentos. Esses
efeitos foram avaliados aos 15; 30; 60; 90 e 120 dias após aplicação (DAA),
realizando cálculo da porcentagem de abortamento acumulado aos 120 DAA. Nestas
mesmas ocasiões, foram feitas determinações dos teores relativos de clorofila
total em folhas tomadas ao acaso no terço final dos ramos e no terço médio das
folhas nas faixas tratadas, utilizando um clorofilômetro manual (Minolta, mod.
SPAD 502). Ainda, foram acompanhadas quaisquer alterações morfofisiológicas nas
folhas e frutos resultantes dos tratamentos experimentais.
Aos 90 DAA, foram efetuadas medições do diâmetro transversal de três frutos
remanescentes na faixa tratada, utilizando, para tanto, um paquímetro de
precisão. Aos 180DAA, por ocasião da colheita dos frutos, esses foram
submetidos a análises tecnológicas, seguindo padrões industriais, que foram:
diâmetro longitudinal e transversal dos frutos, teor de sólidos solúveis totais
(°Brix), acidez titulável e índice de maturação ("ratio"), segundo
Tressler & Joslyn (1961), e porcentagem de suco realizados com cinco frutos
remanescentes da área tratada, tomados ao acaso. Os dados obtidos para °Brix
foram corrigidos para temperatura padrão de 20°C.
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as
médias foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
Para fins de normalização, os resultados expressos em porcentagem foram
transformados para arc senÖx antes de serem submetidos à análise de variância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A simulação da deriva de clomazone isolado ou em mistura com ametryne em frutos
de laranjeira-'Hamlin', com 2 a 4 centímetros de diâmetro, não causou
abortamento significativo de frutos até os 30 DAA (Tabela_2). Aos 45 e 90 DAA
observou-se que a aplicação da dose de 50% de clomazone isolado resultou em
maior taxa de aborto do que os dos demais tratamentos, incluindo a testemunha.
Contudo, aos 120 DAA, não mais se observou diferença entre os efeitos dos
tratamentos, inclusive quando se calculou porcentagem acumulada de abortamento.
A análise do teor relativo de clorofila total nas folhas demonstrou que nenhum
dos tratamentos alterou o seu conteúdo relativo dos 15 aos 120 DAA, com média
de 62 unidades relativas (UR) nas folhas submetidas aos tratamentos, contra 63
UR nas folhas da testemunha, indicando que o fluxo do produto absorvido ocorreu
em direção aos frutos em desenvolvimento, corroborando com as observações
visuais. Como as folhas que receberam o produto, se encontram totalmente
expandidas, o produto não exerceu seu modo de ação, ou seja, não atuou inibindo
a síntese de clorofilas e carotenóides (Rodrigues & Almeida, 1998), e as
folhas simplesmente atuaram como observadoras, translocando o produto para o
dreno atuante, seguindo o fluxo transpiracional.
Quanto à análise tecnológica dos frutos (Tabela_3), verificou-se aos 90 DAA que
nenhum dos tratamentos testados resultou em frutos de menor diâmetro quando
comparados com a testemunha. Por ocasião da colheita, aos 180DAA, observou-se
baixa redução no diâmetro dos frutos para as formulações utilizadas em relação
à testemunha. Ainda, constatou-se menor diâmetro obtido para a média de frutos
submetidos ao tratamento com clomazone em mistura com ametryne quando se
aplicou 50% da dose (CA-50).
Aos 100DAA (Figura_01-A), verificou-se visualmente que frutos tratados com a
maior dose de clomazone isolado e em mistura com ametryne, a 50% e 100% (CA-50
e CA-100) da dose comercial, apresentavam manchas necróticas, sendo que a
formação dessas foram mais perceptíveis nos tratamentos de clomazone em
mistura. A formulação microencapsulada não causou formação dessas manchas nos
frutos. Através de dados analisados para o índice de maturação (Ratio),
observa-se que a testemunha, mesmo sem diferir dos demais tratamentos, com
exceção do tratamento C-12,5, apresenta-se abaixo dos valores obtidos pelos
demais.
Após aplicação da maior dose de clomazone e as duas maiores em mistura com
ametryne, quando a planta se encontrava em pleno crescimento vegetativo, ou
seja, com emissão de novos ramos, as folhas apresentaram-se totalmente
cloróticas, e decorridos 60 a 90 DAA caíram ou entraram em processo de
senescência, secando por completo após os 100 DAA (Figura_01-B). Segundo a FMC
(s.d.) e Rodrigues & Almeida (1998), o clomazone inibe a síntese de
compostos isoprenóides, que são os precursores de pigmentos fotossintéticos,
causando redução no nível de caroteno e fitol e, conseqüentemente, clorofila.
Uma vez que o caroteno protege a clorofila da destruição pela luz solar, o
mecanismo de ação do produto torna-se bidirecional, inibindo a produção de
clorofila e a produção de pigmentos protetores da mesma. Com isso, as folhas
ficam descoloridas, por falta de clorofila, secando em pouco tempo.
A absorção do produto ocorre preferencialmente pelo meristema apical da planta
e, uma vez que sua translocação ocorre pelo xilema, seguindo o fluxo
transpiracional, os sintomas de sua intoxicação em plantas deverá manifestar-se
nos órgãos mais novos (Rodrigues & Almeida, 1998). Contudo, os sintomas de
intoxicação pelo clomazone e a mistura que se manifestaram nos frutos, através
de manchas cloróticas e/ou necróticas, causando a mortalidade de ramos, não
haviam ainda sido relatados. Também, não foi encontrado na literatura qualquer
trabalho que relatasse os efeitos da deriva do clomazone, simulada ou não,
sobre a porcentagem de abortamento de frutos de laranjeira, assim como sobre as
características qualitativas através de análise tecnológica dos frutos.
CONCLUSÕES
A simulação de deriva de clomazone, isolado ou em mistura e na formulação
microencapsulada, até as suas doses comerciais, não acarretou diferenças
significativas quanto ao diâmetro dos frutos. A dose comercial de clomazone
isolado e quando em mistura com ametryne a 50 e 100% da dose levou a formação
de manchas cloróticas e/ou necróticas na casca do fruto e apenas quando em
mistura com ametryne nas mesmas proporções, à seca de ramos que se encontravam
em crescimento vegetativo. A análise tecnológica dos frutos não apresentou
diferenças significativas para os parâmetros analisados.