VARIABILIDADE GENÉTICA EM CARACTERES MORFOLÓGICOS DE POPULAÇÕES DE PLANTAS
JOVENS DE ACEROLA
VARIABILIDADE GENÉTICA EM CARACTERES MORFOLÓGICOS DE POPULAÇÕES DE PLANTAS
JOVENS DE ACEROLA 1
INTRODUÇÃO
Com o crescente interesse internacional no produto acerola por parte de
consumidores, industriais e exportadores, devido ao seu alto teor de vitamina
C, seu cultivo intensificou-se rapidamente no Brasil, no período de 1988 a
1992, principalmente pela adaptação da planta ao clima tropical e ao
subtropical.
Por outro lado, as pesquisas com a espécie não cresceram na mesma proporção,
principalmente aquelas que dão suporte ao melhoramento genético. Mais
recentemente, tem-se dado maior ênfase em conhecer os parâmetros que auxiliam a
identificação de indivíduos mais promissores, tais como: a magnitude e a
natureza das variâncias genéticas que influenciam o valor fenotípico de um
indivíduo; a porcentagem de variância genética que contribui para o ganho
genético, através da determinação do coeficiente de herdabilidade; e a partir
de marcadores moleculares, a estimação da taxa de cruzamento natural em
famílias de polinização aberta (Gonzaga Neto & Matiuz, 1999; Lopes, 1999;
Oliveira et al., 1998; Paiva et al., 1999a; 1999b).
O presente trabalho visa a estimar e interpretar geneticamente a porção de
variabilidade genética existente em populações de plantas juvenis de acerola
obtidas de sementes, originadas de populações submetidas a processo de seleção.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em área da Estação Experimental de Pacajus,
pertencente à Embrapa - Centro Nacional de Pesquisa da Agroindústria Tropical
(CNPAT), localizada no município de Pacajus-CE, a 4º10'S e 38º27'W, com
altitude de 60 m acima do nível do mar.
O material utilizado constou de sementes de acerola que foram reunidas em
populações, conforme segue: PS (população selecionada) - formada a partir de
sementes de plantas selecionadas no plantio comercial da FRUCESA - Frutas do
Ceará S/A, de uma amostra de 50 a 100 frutos de cada planta; PM (população
melhorada) - constituída de sementes de progênies de polinização aberta
formadas a partir de plantas selecionadas, a partir de uma amostra de 30 a 60
frutos por progênie; e MP (mistura de populações) - população formada pela
análise dos dados reunidos das duas populações anteriores. Após a colheita, foi
feito o despolpamento dos frutos e as sementes foram secas à sombra. A
semeadura foi feita em setembro e o transplante para os sacos em novembro/98.
O experimento foi instalado em blocos ao acaso com 45 tratamentos (MP ¾ mistura
das duas populações), sendo 10 progênies da população PS e 35 da população PM,
três repetições e número variável de quatro a seis plantas por parcela. A
avaliação das plantas foi realizada na fase juvenil, com quatro meses de idade,
mensurando-se os seguintes caracteres: altura da planta, diâmetro do caule a 5
cm do solo, número de ramos laterais e altura do primeiro ramo. Na análise dos
dados para o caráter número de ramos, foi utilizada a transformação
.
Para a estimação dos parâmetros genéticos, foram utilizadas as seguintes
expressões, conforme Cruz (1997): s2p = (QMp - QMe) / rn; s2e = (QMe - QMd) /
r; s2d = QMd s2F = QMT / rn; h2 = s2p / s2F; CVg = (100 . [/img/fbpe/rbf/v23n2/
7980s2.gif]) / m; CV = (100 . ) / m; b = CVg/
CV. Sendo s2p - variância genética entre progênies; s2e - variância devido às
diferenças ambientais entre progênies; s2d - variância fenotípica dentro de
progênies; s2F - variância fenotípica entre médias de progênies; QMT ¾ quadrado
médio de tratamento; r ¾ número de repetições; [/img/fbpe/rbf/v23n2/
7980s4.gif]- média harmônica do número de plantas por parcela; m ¾ média geral
do caráter; h2 ¾ coeficiente de herdabilidade ao nível de média de progênie;
CVg - coeficiente de variação genética entre progênies; CV - coeficiente de
variação experimental; b - relação entre o CVg e o CV experimental; QMp =
quadrado médio entre progênies; QMe = quadrado médio do erro entre parcelas;
QMd = quadrado médio dentro de progênies.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores obtidos para o peso de uma amostra de100 sementes por progênies da
população selecionada variaram de 2,76g (progênie PS 73) a 5,79g (progênie PS
55), com média de 4,00g e desvio padrão de 0,88, enquanto que para a população
melhorada a variação foi de 3,47g (PM 64) a 6,58g (PM 56), com média de 4,70g e
desvio-padrão de 0,71. Como se pode observar, as progênies da população
melhorada possuem sementes mais pesadas e menor variação no peso da amostra de
100 sementes, em relação às progênies da população selecionada. Quanto à
germinação de sementes na população selecionada, a percentagem variou de 1,6% a
15,2%, enquanto, na população melhorada, a variação foi de 4,1% a 20,6%.
Os quadrados médios da análise de variância para todos os caracteres estão
apresentados na Tabela 1. Foram detectadas diferenças significativas entre
progênies ao nível de 0,01 e 0,05 de probabilidade para todos os caracteres nas
três populações, com exceção do caráter altura do primeiro ramo, indicando que,
já nos primeiros quatro meses de idade, as progênies mostram comportamento
diferencial para altura de planta, diâmetro do caule e número de ramos. Os
valores dos coeficientes de variação experimental mantiveram-se em níveis
relativamente elevados para os caracteres de altura de planta e diâmetro de
caule, quando comparados com aqueles apresentados por Paiva et al. (1999c).
Para altura do primeiro ramo, os valores também podem ser considerados elevados
nas três populações.
As estimativas da variância genética entre progênies, para altura de planta e
diâmetro do caule, foram maiores para a população melhorada, seguida da mistura
de populações e da população selecionada (Tabela 2). Por outro lado, as
estimativas para os caracteres altura do primeiro ramo e número de ramos
seguiram padrões diferentes, ou seja, foram maiores para a população
selecionada. A variação fenotípica dentro de progênies para todos os caracteres
foram superiores para a população melhorada, seguida da mistura das populações
e da população selecionada. Para a variância fenotípica entre médias de
progênies, o padrão de distribuição também foi o mesmo, com exceção do caráter
número de ramos, onde a maior variância foi detectada na população selecionada.
Normalmente, é esperado encontrar maior variância genética e menor média na
população que será submetida ao processo seletivo (população original),
enquanto, na população melhorada, são as esperadas menor variância genética e
maior média dos caracteres (Allard, 1971). A obtenção desses resultados pode
ser explicada, admitindo-se que as sementes obtidas para a formação da
população melhorada, tenham sido originadas da recombinação natural dessas
progênies, visto que a área de plantio das plantas-matrizes ficava isolada de
outros plantios, proporcionando a ampliação da variabilidade genética nesta
população.
Os coeficientes de herdabilidades em nível de média de progênie para todos os
caracteres, nas três populações (Tabela 2), apresentaram valores considerados
de médios a baixos, variando de 17,9% para o caráter altura do primeiro ramo,
na mistura das populações, a 54,5% para o número de ramos na população
selecionada. Em contrapartida, o coeficiente de variação genética para todos os
caracteres variou de 1,85% a 5,84%, enquanto que o índice 'b' se manteve
relativamente baixo, variando de 0,06 a 0,28 (Tabela 2). Estes resultados
mostram uma condição desfavorável à seleção.
CONCLUSÕES
1. Pelas estimativas do peso de 100 sementes, da variação do peso e da
percentagem de germinação das sementes na população melhorada, conclui-se que a
seleção de plantas foi eficiente na melhoria desses caracteres.
2. Para as condições em que o trabalho foi realizado, conclui-se que a
avaliação da variabilidade genética em populações de plantas de aceroleira, na
fase de mudas em viveiro, não se constitui em material adequado para esse tipo
de estudo.