EFEITOS DE DIFERENTES LÂMINAS E FREQÜÊNCIAS DE IRRIGAÇÃO SOBRE A PRODUTIVIDADE
DO MAMOEIRO (Carica papaya L.)
EFEITOS DE DIFERENTES LÂMINAS E FREQÜÊNCIAS DE IRRIGAÇÃO SOBRE A PRODUTIVIDADE
DO MAMOEIRO (Carica papaya L.)1
INTRODUÇÃO
A microrregião do extremo Sul da Bahia e a região Norte do Espírito Santo
possuem uma área plantada de 13 197 ha. A região Norte Estado do Espírito
Santo, onde se tem alcançado as melhores produtividades do País, responde por
95% da área plantada no Estado.
A região produtora de mamão, no Norte do Espírito Santo, caracteriza-se por
possuir solos arenosos, superficiais (aproximadamente 30 cm de profundidade) e,
conseqüentemente, com pequena capacidade de armazenamento de água, além de
possuir um horizonte B coeso, causando impedimento à penetração das raízes.
A temperatura média da região (25,8oC), normalmente, situa-se dentro da faixa
ótima para o desenvolvimento da cultura (Marin et al. 1995). Porém, em razão da
má-distribuição das chuvas, o uso da irrigação tem-se tornado obrigatório nas
lavouras comerciais do mamoeiro.
Srinivas (1996), estudando a resposta do mamoeiro cv. Coorg Honey Dew com
aplicação de lâminas de até 120% da evaporação do tanque classe A, por meio de
irrigação diária, por gotejamento, concluiu que houve um aumento de 24% na
produtividade, em relação à menor lâmina aplicada. Segundo Awada et al. (1979),
o peso médio do fruto aumentou com a quantidade de água aplicada, atingindo
peso máximo a uma lâmina de 129% da evapotranspiração potencial. Aiyelaagbe et
al. (1986) verificaram que, com relação ao número, ao peso médio e ao tamanho
de frutos, a produção foi reduzida, significativamente, a potenciais de água no
solo menores que -0,02 MPa.
A carência de informações sobre o comportamento do mamoeiro irrigado, nas
condições edafoclimáticas do Estado do Espírito Santo, evidencia a necessidade
de intensificação das pesquisas sobre essa cultura. Por esta razão, objetivou-
se, neste trabalho, estudar o efeito da associação de diferentes lâminas de
irrigação, aplicadas a diferentes intervalos, sobre a produtividade, peso médio
e número de frutos comerciais do mamoeiro, bem como na consistência da polpa e
no teor de sólidos solúveis totais.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho foi conduzido na Fazenda Experimental Sooretama, unidade do
Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER),
no município de Sooretama, Estado do Espírito Santo. A precipitação média anual
é de 1249 mm e a temperatura média de 25,8oC.
O solo, caracterizado como Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, coeso com
horizonte A moderado, e relevo predominantemente plano, foi inicialmente
preparado com um escarificador, regulado para a profundidade de 0,40 m, seguido
de gradagem. Os sulcos foram abertos no espaçamento de 1,8 m, formando fileiras
duplas, espaçadas de 3,6 m. As covas foram, então, marcadas de forma
triangular, em toda a área, à distância de 1,8 m. Nessas marcas, foram
adicionados 2,5 kg de esterco de curral, 0,02 kg de Bórax e 0,2 kg de
superfosfato simples.
O delineamento experimental foi em blocos casualizados, num esquema fatorial
com cinco lâminas de irrigação, correspondendo às reposições de 40; 60; 80; 100
e 120% da evapotranspiração obtida a partir do tanque Classe A e com três
turnos de rega, correspondendo aos intervalos de 2; 3 e 5 dias, e três
repetições. A parcela experimental constituiu-se de três fileiras duplas de 20
plantas, com 16,2 m de largura por 18,0 m de comprimento. Foram utilizadas as 5
plantas centrais de cada linha da fileira dupla do meio como plantas úteis.
A cultivar utilizada nesse experimento foi o Sunrise Solo Line 72/12. A
semeadura foi realizada em 23 de outubro de 1996. A germinação ocorreu entre os
dias 1º e 04 de novembro, e o transplantio das mudas ocorreu entre os dias 21 e
24 de novembro de 1996. No início da floração, procedeu-se à sexagem.
As adubações de cobertura foram feitas manualmente, seguindo-se as
recomendações de Marin et al. (1995), até o início da frutificação. A partir
daí, as adubações de cobertura foram realizadas segundo o sistema DRIS,
proposto por Costa (1996).
No decorrer do experimento, foram medidas, diariamente, às 9; 15 e 21 horas, a
velocidade do vento, a 2,0 m de altura, e as temperaturas do bulbo úmido e do
bulbo seco. Os dados de temperaturas máxima e mínima, precipitação pluvial e
evaporação do tanque classe A foram coletados, diariamente, às 9 horas. Estes
dados foram obtidos em uma estação meteorológica localizada a aproximadamente
800 m do experimento.
As irrigações foram realizadas, uniformemente, até 02 de fevereiro de 1997,
quando os tratamentos foram estabelecidos. A vazão média nos microaspersores
foi 36,0 l/h, a uma pressão de serviço, no cabeçal de controle, de 0,20 MPa. Os
microaspersores foram, uniformemente, espaçados em 4,0 m, e instalados no
centro das fileiras duplas, irrigando-se, nessas condições de operação, uma
faixa média de 3,4 m, ao longo da linha de plantio. Foi considerada uma
eficiência de aplicação de 90%, e não foi utilizado nenhum outro fator de
ajuste na lâmina de irrigação, a não ser os fatores multiplicadores,
considerados anteriormente.
O manejo da irrigação foi realizado de forma a repor a evapotranspiração da
cultura, considerando-se a chuva ocorrida na área entre irrigações
consecutivas. Quando a chuva era maior ou igual à lâmina de irrigação a ser
aplicada, em um dado tratamento, essa irrigação não era realizada. Por outro
lado, quando a chuva era menor que a lâmina de água a ser aplicada, a irrigação
era realizada para completar a diferença.
A evapotranspiração potencial foi estimada a partir da evaporação do tanque
classe A, corrigida pelo coeficiente de tanque (Kt), obtido diariamente,
seguindo-se a tabela proposta por Doorembos e Kassan (1979).
Ao iniciar a maturação, os frutos foram colhidos, semanalmente, e devidamente
identificados. Em seguida, foram pesados, individualmente, em balança
eletrônica com precisão de 0,1 g. O fruto era considerado de peso comercial,
quando atingia peso variando entre 280 g e 890 g, conforme Marin et al. (1995).
Assim, obteve-se o peso médio do fruto e o número de frutos comerciais colhidos
por planta. Em seguida, obteve-se a produtividade, multiplicando-se o peso
médio do fruto pelo número de frutos por planta e número de plantas por unidade
de área.
Para a determinação do teor de sólidos solúveis totais (oBrix), foram colhidos
seis frutos, de cada tratamento, no estádio de maturação de uma pinta, conforme
Balbino (1997). Quando os frutos atingiram o ponto de consumo, foram retiradas
as amostras, na porção mediana dos frutos, em quatro posições ortogonais. As
leituras foram efetuadas em refratômetro de Abbé. Estas avaliações foram
realizadas em setembro de 1997 e em novembro de 1997, correspondentes a uma, no
período seco, quando a temperatura média do mês foi 24oC; e a outra, no início
do período chuvoso, quando a temperatura média do mês foi 26,5oC.
A firmeza da polpa foi determinada, também, em seis frutos colhidos no estádio
de maturação de uma pinta. Essas determinações foram realizadas em agosto, em
setembro, e outra, em novembro de 1997. Para a realização das medidas, foi
removida a casca, na porção mediana dos frutos, em quatro posições ortogonais,
na região mediana dos frutos. As medições foram realizadas logo após a colheita
dos frutos. Esse parâmetro foi obtido com o uso de um penetrômetro marca
Bender, expressando os resultados conforme Balbino (1997).
Em todos os casos, os modelos ajustados foram selecionados, com base no
coeficiente de determinação e nos graus de significância dos coeficientes,
tomando como base o teste t.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A Figura_1 apresenta os cortes da superfície de resposta para o peso médio, em
gramas, do fruto de padrão comercial em função da lâmina de água aplicada (A) e
do turno de rega (B).
O peso médio dos frutos cresceu, linearmente, com a lâmina de água aplicada e,
apesar da pequena influência do turno de rega sobre o peso comercial dos
frutos, verifica-se uma tendência para frutos menores, nos turnos de rega de
dois e cinco dias.
A taxa com a qual os frutos ganharam peso foi 0,043 g/mm de água aplicada, ou
seja, um aumento de 42% na lâmina de água aplicada proporcionou um ganho de
peso correspondente a 10,2%. Aumentos significativos de peso médio de frutos
também foram obtidos por Awada et al. (1979) e Aiyelaagbe et al. (1986) ao
aumentarem a dose de irrigação. O maior peso médio obtido, sob condições
experimentais, foi 380 g. Esse peso de fruto é um pouco menor que o normalmente
encontrado em lavouras comerciais. Observa-se, claramente, que a lâmina de água
limitou o desenvolvimento dos frutos, pois o peso do fruto cresceu linearmente
com a lâmina aplicada.
A Equação 1 foi ajustada para estimar o peso médio do fruto, em g (
), em função do turno de rega, em dias (I) e da lâmina de
água aplicada, em mm (D). O coeficiente de determinação desta equação é R2 =
0,903.
onde:
** = significativo ao nível de 1% de probabilidade, pelo teste t.
* = significativo ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste t.
A Figura_2 apresenta os cortes da superfície de resposta para o número de
frutos colhidos que atingiram o peso comercial, em função da lâmina de água
aplicada (A) e do truno de rega (B).
A maior quantidade de frutos comerciais por planta (40 frutos) foi obtida para
o turno de rega de cinco dias, enquanto a menor quantidade foi de 30 frutos por
planta, no turno de rega de dois dias, com uma lâmina de 120% da
evapotranspiração. Porém, a menor resposta à lâmina de água aplicada foi obtida
para o turno de rega de dois dias, quando o aumento no número de frutos por
planta foi 38,6%, com aumento de 42% na lâmina de água aplicada.
A melhor resposta obtida, considerando-se o incremento na produtividade
comercial por milímetro de água aplicada, foi para o turno de rega de cinco
dias, alcançando um ganho de 251%, com aumento na lâmina de 40% para 120% da
evapotranspiração potencial. Para o turno de rega de três dias, o incremento no
número de frutos por planta foi de 64,3%, para um aumento de 42% na lâmina de
água aplicada. Resultados semelhantes também foram obtidos por Awada et al.
(1979) e por Aiyelaagbe et al. (1986).
Vale ressaltar que a produção colhida, durante o período experimental,
correspondeu àquela na qual grande parte dos frutos tiveram o início de
crescimento ainda no período em que existia uma quantidade razoável de água
disponível no solo, em razão das chuvas que ocorreram no período. Dessa forma,
o número de frutos colhidos não teve muita influência do déficit hídrico do
solo. Esse efeito iria refletir nesse parâmetro a partir de janeiro, quando os
frutos, que tiveram seu início de desenvolvimento no período crítico de déficit
de umidade no solo (agosto a outubro), estariam começando a amadurecer.
A Equação 2 foi ajustada para estimar o número de frutos comerciais por planta
(), em função do turno de rega, em dias (I) e
da lâmina de água aplicada, em mm (D). O coeficiente de determinação desta
equação é R2 = 0,768.
onde:
NS = não significativo a 5% de probabilidade, pelo teste t.
** = significativo ao nível de 1% de probabilidade, pelo teste t.
A Figura_3 apresenta os cortes da superfície de resposta para produtividade
comercial do mamoeiro, em t/ha, em função da lâmina de água aplicada (A), e do
turno de rega (B).
A produtividade cresceu, linearmente, com a lâmina de água aplicada no
intervalo estudado, e a maior taxa de incremento da produtividade em razão
desta lâmina foi observada para turno de cinco dias. A maior produtividade
(30,9 t/ha) foi obtida para o turno de rega de cinco dias, quando a lâmina de
água aplicada foi de 2731 mm. Para os turnos de rega de dois e três dias, a
produtividade foi de 22,6 t/ha e 29,8 t/ha, respectivamente.
Considerando o incremento na produtividade comercial por milímetro de água
aplicada, a melhor resposta foi obtida para o turno de rega de cinco dias, que
alcançou a razão de 29,4 kg/ha de frutos de padrão comercial para cada
milímetro de água aplicada, enquanto, para os turnos de rega de dois e três
dias, foram obtidos, respectivamente, 9,6 e 16,2 kg/ha.
A Equação 3 foi ajustada para estimar a produtividade comercial, em t/ha ([/
img/fbpe/rbf/v23n3/8034e10.gif]), em função do turno de rega, em dias (I) e da
lâmina de água aplicada, em mm (D). O coeficiente de determinação desta equação
é R2 = 0,785.
onde:
NS = não significativo a 5% de probabilidade, pelo teste t.
** = significativo ao nível de 1% de probabilidade, pelo teste t.
Verificaram-se pequenas variações no teor total de sólidos solúveis (oBrix) dos
frutos, medido nos meses de setembro e de novembro. Nos dois casos, ajustou-se
uma equação do tipo <formula/>, o que demonstra que não
houve efeito significativo da lâmina aplicada, nem do turno de rega. O valor
médio de Brix encontrado, medido nos meses de setembro e novembro, foi 11,7% e
13,2%, trepectivamente. Resultados semelhantes foram obtidos por Awada et al.
(1979) e Srinivas (1996), ao estudarem o efeito da irrigação na cultura do
mamoeiro.
Com relação à consistência de polpa do fruto, também não se obteve nenhum
efeito da lâmina de água aplicada e do turno de rega. Resultados similares
foram obtidos por Awada et al. (1979) e Srinivas (1996).
Os valores da consistência de polpa, em milímetro de penetração da agulha na
polpa por grama de peso sobre ela (mm/g), foram 0,26; 0,29 e 0,31 mm/g,
respectivamente, para os meses de agosto, setembro e novembro. Esses valores
decrescentes de consistência de polpa indicam que o fruto amoleceu
gradativamente de agosto a novembro, verificando uma correlação negativa com a
temperatura.
CONCLUSÕES
A análise dos resultados permitiu as seguintes conclusões:
1 - A produtividade, o peso médio dos frutos e o número de frutos por planta,
comercial e total, cresceram linearmente com a lâmina de água aplicada. A maior
produção potencial foi obtida também nessa condição.
2 - O comportamento da produtividade do mamoeiro foi semelhante, nos turnos de
rega de três e cinco dias, quando foram aplicadas as maiores lâminas de água.
Todavia, a maior produtividade foi encontrada no turno de rega de cinco dias,
com uma reposição de 120% da evapotranspiração.
3 - Em geral, a melhor lâmina de reposição da evapotranspiração foi 120%, com
turno de rega de três a cinco dias.
4 - Verificou-se um comportamento diferente do mamoeiro, quando as irrigações
foram aplicadas a cada dois dias, em detrimento de três e cinco dias.
5 - Não se obtiveram efeitos da lâmina nem do turno de rega na consistência de
polpa e no teor de sólidos solúveis totais.