Correlações entre os caracteres físico-químicos de frutos da aceroleira com
variáveis meteorológicas
CORRELAÇÕES ENTRE OS CARACTERES FÍSICO-QUÍMICOS DE FRUTOS DA ACEROLEIRA COM
VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS1
INTRODUÇÃO
A cultura da acerola (Malpighia emarginata D.C.) tornou-se economicamente
importante e adquiriu status de pomar comercial desde a descoberta do alto
conteúdo de vitamina C de seus frutos. Semelhantemente a outras frutíferas, a
produtividade e a qualidade dos frutos da aceroleira podem ser influenciadas
pela seca, frio, vento, calor, pragas, doenças e estado nutricional das
plantas.
O estudo das correlações entre os caracteres físico-químicos do fruto da
aceroleira com as variáveis meteorológicas é de importância, pois pode fornecer
subsídios para a definição de um sistema de produção compatível com as diversas
regiões agroclimáticas.
A produção de ácido ascórbico é bastante influenciada pela radiação solar
(Murphy, 1939; Harding et al.,1939; Winstron, 1947; e Brown, 1955). Asenjo
(1959) aponta a elevada altitude como provável causa do baixo conteúdo de ácido
ascórbico nas aceroleiras da Guatemala, uma vez que frutas com altos teores de
ácido ascórbico encontram-se em regiões cuja altitude não ultrapassa a 1000 m.
Nakasone et al. (1966), no Havaí, analisaram o efeito da radiação solar no
conteúdo de ácido ascórbico em frutos de aceroleiras e, trabalhando em cinco
níveis de luminosidade, constataram redução de 17 % no teor de ácido ascórbico
em plantas com 75% de sombreamento, quando comparadas àquelas que não sofreram
restrição da luz solar no mesmo período de observação. Aróstegui et al. (1955)
observaram que ocorre relação entre os fatores climáticos e o teor de vitamina
C dos frutos da aceroleira e que diferenças do teor dessa vitamina nos frutos
colhidos em épocas distintas são consideráveis, merecendo as causas,
investigações detalhadas. Estudos realizados por Jackson & Pennock (1958),
em Porto Rico, em dez clones selecionados de aceroleiras, indicaram que safras
mais longas e produtivas, totalizando 96% da produção anual, ocorreram de maio
a outubro, meses mais quentes e chuvosos. Teixeira et al. (1995) classificaram
como ótima para o desenvolvimento e produtividade comercial da aceroleira a
faixa de temperatura entre 25 e 27oC, podendo a planta ser cultivada em regiões
com temperatura média igual ou superior a 20oC e temperatura média do mês mais
frio maior ou igual a 14oC; estabeleceram, ainda, o ideal de 2000 mm como
limite máximo e 1200 mm como limite mínimo de precipitação média anual,
considerando a região de dispersão natural. González (1996), estudando a
biologia floral de dois acessos de Passiflora cincinnata Mast. em Jaboticabal-
SP, concluiu que a redução das temperaturas e do fotoperíodo prejudicou o
desenvolvimento do botão floral e o número de flores que atingiram a abertura.
Objetivou-se estimar as associações existentes entre os caracteres físico-
químicos do fruto da aceroleira com as variáveis meteorológicas, com base na
média geral dos genótipos e dentro de cada um estudado.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento, para estimar as associações existentes entre os caracteres
físico-químicos do fruto da aceroleira com as variáveis meteorológicas foi
conduzido no pomar da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de
Jaboticabal-SP (FCAV), situada a 21o 5' 22" de latitude sul, 48o 18'
58" de longitude oeste e altitude de 575m. Selecionaram-se para as
avaliações cinco genótipos (CL2, CL5, CL11, R1 e R2), segundo análises prévias
dos caracteres de rendimento, massa e teor de vitamina C dos frutos.
Os dados meteorológicos diários utilizados no trabalho foram obtidos na Estação
Agroclimatológica do Departamento de Ciências Exatas da FCAV, UNESP.
Os estudos foram desenvolvidos de dezembro/97 a janeiro/99, avaliando-se, em
cada colheita espontânea dos genótipos de aceroleiras, os seguintes caracteres
de seus frutos: altura média de vinte frutos (TMFR), diâmetro médio de vinte
frutos (DMFR), ambos em centímetros, teor de vitamina C (VITC) pelo método de
redução do iodo em mg/100 ml de suco (Instituto Adolfo Lutz, 1985), sólidos
solúveis totais (oBRIX), pela medida refratométrica de Pearson (1973), pH,
através de um peagâmetro (Instituto Adolfo Lutz, 1985), rendimento médio de
polpa em três amostras de vinte frutos, em porcentual (RMP20FR), massa média de
frutos numa amostra de vinte frutos, em gramas (PMFR) e tempo de colheita em
dias, calculado desde a coleta do primeiro até a colheita do último fruto
(TCOLH).
A partir das observações diárias dos dados meteorológicos, considerando-se as
temperaturas máxima (TMAX), mínima (TMIN) e média (TME), foram estimadas a
média de temperatura máxima no período de colheita (TMAX1), a média de
temperatura máxima, incluindo-se o período de colheita e os três dias
antecedentes (TMAX2), e a média de temperatura máxima, incluindo-se o período
de colheita e os dez dias antecedentes (TMAX3); a mesma metodologia foi adotada
na estimativa da média de temperatura mínima, no período de colheita (TMIN1), a
média de temperatura mínima, incluindo-se o período de colheita e os três dias
antecedentes (TMIN2), a média de temperatura mínima, incluindo-se o período de
colheita e os dez dias antecedentes (TMIN3), a média de temperatura média, no
período de colheita (TME1), a média de temperatura média, incluindo-se o
período de colheita e os três dias antecedentes (TME2), e a média de
temperatura média, incluindo-se o período de colheita e os dez dias
antecedentes (TME3). A partir dos valores médios de temperatura encontrados,
foram obtidas, com auxílio do PROC CORR do SAS (SAS/STAT, 1995), as correlações
entre essas variáveis e os caracteres físico-químicos do fruto dos cinco
genótipos de aceroleiras, tanto para a média geral dos genótipos como para cada
genótipo estudado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A média de temperatura mínima obtida no período da colheita, juntamente com os
três dias antecedentes (TMIN2), foi eleita dentre as demais como a mais
influente, entre os períodos estudados, por apresentar os maiores valores de
correlações com as variáveis físico-químicas dos frutos. A partir daí, tomaram-
se os dados totais de precipitação (PR) e insolação em horas-luz diárias (HL),
do mesmo período, para obter as correlações entre as variáveis meteorológicas e
os caracteres físico-químicos de frutos de aceroleiras que, apresentadas nas
Tabelas_1 e 2, refletem os valores entre todos os genótipos e dentro de cada
genótipo, respectivamente.
Observou-se que a média de temperatura mínima obtida, incluindo-se o período de
colheita e os três dias antecedentes (TMIN2), associou-se positivamente (embora
com valores baixos e próximos do limite de significância) com altura média de
frutos (TMFR), diâmetro médio de frutos (DMFR), rendimento médio de polpa em
três amostras de vinte frutos (RMP20FR) e massa média de frutos (PMFR), de modo
que a redução (ou aumento) da TMIN2 tende a resultar na redução (ou aumento)
destes caracteres, esclarecendo em parte as variações de tamanho de frutos que
ocorrem ao longo das colheitas. Observa-se, na Tabela_1, o valor de 0,38 para
correlação de TMIN2 com o rendimento médio de polpa em três amostras de vinte
frutos (RMP20FR); embora significativo, é um valor baixo, sugerindo que outros
fatores afetam o rendimento. Verifica-se também a sensibilidade do oBRIX às
variações de temperatura, pois os coeficientes de correlações de ¾0,52 (Tabela
1) e de ¾0,77 no genótipo CL5 (Tabela_2) são ambos significativos a 1 % e 5 %
de probabilidade, respectivamente.
O somatório de precipitação (PR) obtido no período de colheita, incluindo-se
três dias antecedentes, apresentou também correlações positivas com altura,
diâmetro, rendimento médio de polpa e massa média de frutos, merecendo atenção
os coeficientes de 0,40 na correlação de LMFR com PR e de 0,50 na correlação de
RMP20FR com PR, ambos significativos a 5 e 1 % de probabilidade,
respectivamente (Tabela_1). Nota-se ainda que a correlação entre RMP20FR com
PR, dentro do genótipo CL11, foi de 0,82 e de 0,94 dentro do R2, ambas
significativas (Tabela_2). Na média entre os genótipos, quanto aos caracteres
tecnológicos de fruto, VITC e pH , verifica-se que as correlações com PR são
positivas, enquanto a correlação de oBRIX com PR é negativa (Tabela_1).
Destaca-se ainda, dentro do CL11, a correlação de pH com PR de 0,95,
significativa.
As correlações do somatório de horas-luz diárias (HL) obtidas no período de
colheita, incluindo-se os três dias antecedentes com a média dos genótipos nas
variáveis TMFR, LMFR, VITC, RMP20FR e PMFR, foram positivas (Tabela_1),
concordando com os resultados de vários autores (Murphy, 1939; Harding et al. ,
1939; Winstron, 1947; Brown, 1955; e Nakasone et al., 1966), quando afirmaram
que a produção de ácido ascórbico é bastante influenciada pela radiação solar
e, com os dados de Aróstegui et al. (1955), que observaram relação entre os
fatores climáticos com o conteúdo de vitamina C em frutos de acerolas colhidas
em épocas distintas. Contudo, observa-se que, entre as variáveis físico-
químicas de frutos de aceroleiras nas variáveis TMFR, LMFR, VITC, RMP20FR e
PMFR da Tabela_2, a depender do genótipo, podem apresentar correlações com HL
positivas ou negativas, sugerindo uma resposta diferenciada de genótipo a
genótipo e possivelmente outros fatores. Isso, em parte, explica o fato de os
genótipos CL2, CL5 e R2 frutificarem plenamente em maio/98, mês frio nas
condições de Jaboticabal, com temperatura mínima diária oscilando entre 10 e
16,9oC, enquanto os genótipos R1 e CL11 frutificaram em abril/98, estendendo a
colheita aos primeiros cinco dias de maio. Nota-se, ainda, que os genótipos
estudados não frutificaram de junho a agosto/98, quando a temperatura máxima
diária do período variou entre 20 e 32,5oC, a mínima entre 8,3 e 19oC e a média
entre 13,5 e 24,5oC, ratificando a escolha da média de temperatura mínima
obtida no período da colheita, incluindo-se os três dias antecedentes (TMIN2)
como a de maior influência nas variáveis físico-químicas dos frutos de
aceroleiras, uma vez que é a temperatura mínima que condiciona o crescimento
vegetativo da aceroleira e sua conseqüente produção de frutos, induzindo-a ao
repouso ou à produção. Isso concorda com Teixeira et al. (1995), quando
classificaram como ótima para o desenvolvimento e produtividade comercial da
aceroleira a faixa de temperatura entre 25 e 27oC, com uma temperatura média
igual ou superior a 20oC e uma temperatura média do mês mais frio maior ou
igual a 14oC.
Quanto ao tempo de colheita em dias (TCOLH), observa-se, na Tabela_1, o valor
de ¾0,35 na correlação com TMIN2, refletindo influência dessa temperatura na
extensão do período de colheita e que PR e HL, correlacionaram-se positivamente
com TCOLH na média dos genótipos, destacando o coeficiente de correlação de
0,92 entre HL e TCOLH, significativo a 1 % de probabilidade, demonstrando que a
insolação, medida em horas diárias, aliada à precipitação do período, além de
influenciar na produção de ácido ascórbico, conforme Murphy (1939), Harding et
al. (1939), Winstron (1947) e Brown (1955), influencia também nos demais
caracteres físico-químicos dos frutos e na extensão das safras (Jackson e
Pennock, 1958).
Por fim, o somatório de horas-luz diárias (HL) obtida no período de colheita,
juntamente com os três dias antecedentes, reflete, entre e dentro de todos os
genótipos estudados, uma associação significativa com TCOLH, explicando em
parte a periodicidade e a extensão das colheitas (safras) nos genótipos.
CONCLUSÕES
1) A média de temperatura mínima (TMIN2) e a precipitação (PR) associam-se
positivamente com os caracteres físico-químicos dos frutos: altura média,
diâmetro, rendimento médio de polpa e massa média; Vitamina C e pH
correlacionam-se negativamente com TMIN2 e positivamente com PR. oBrix
correlaciona-se negativamente com TMIN2 e PR.
2) Ocorrem respostas diferenciadas dos genótipos a TMIN2, PR e HL.
3) Na média geral, as correlações das variáveis TMFR, LMFR, VITC, RMP20FR e
PMFR com HL são positivas.
4) A média de temperatura mínima (TMIN2) é a temperatura mais influente nos
caracteres físico-químicos dos frutos de aceroleiras.
5) As correlações de HL com TCOLH, entre e dentro de todos os genótipos, são
direta e altamente significativas.
6) A insolação em horas-luz diárias (HL) condiciona a periodicidade e extensão
das colheitas.
7) Ocorrem inter-relações entre as medidas meteorológicas, de modo que as
influências são totalmente independentes.