Crescimento de porta-enxertos de citros em tubetes influenciados por doses de N
CRESCIMENTO DE PORTA-ENXERTOS DE CITROS EM TUBETES INFLUENCIADOS POR DOSES DE
N1
INTRODUÇÃO
A obtenção de porta-enxertos vigorosos e livres de patógenos na fase de
sementeira é indispensável para a produção de mudas cítricas de alta qualidade.
Modificações no processo tradicional de produção de mudas cítricas no Brasil,
visando à melhoria na qualidade da muda, têm sido exigidas pelos órgãos
fiscalizadores (NORMAS, 1998). Dentre estas modificações, destaca-se a
utilização de tubetes como sementeiras a qual proporciona um sistema radicular
volumoso com abundância de brotações de raízes laterais. As saliências laterais
da superfície inferior dos tubetes impedem o enovelamento de raízes e estimulam
o crescimento descendente das raízes laterais (CARVALHO, 1994; VICHIATO, 1996).
O crescimento de plantas em tubetes pode ser influenciado pelo volume limitado
desse recipiente e pela fertilidade do substrato. Esta fertilidade depende dos
componentes do substrato que preenche os recipientes (VICHIATO, 1996), sendo,
normalmente, necessária a complementação da fertilidade natural do substrato
com adubações de cobertura. Para SOUZA (1983), os substratos utilizados em
recipientes são escolhidos em função da sua disponibilidade e de suas
características físicas. Muitas vezes, substratos com baixos teores de
nutrientes são utilizados, necessitando, assim, de complementação com adubações
de cobertura.
Pesquisas realizadas com porta-enxertos (CARVALHO e SOUZA, 1996; CARVALHO,
1994; DECARLOS NETO et al., 1994; MAUST e WILIAMSON, 1994; OSENI e PAL, 1993)
têm mostrado que há exigência nutricional diferenciada entre os porta-enxertos
de citros, com relação às adubações com nitrogênio. Entretanto, existe carência
de informação sobre adubações de cobertura com N no sistema de obtenção de
porta-enxertos de citros semeados em tubetes. Portanto, foi objetivo deste
experimento avaliar o crescimento de alguns porta-enxertos de citros semeados
em tubetes e adubados com diferentes doses de N.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em casa de vegetação no Setor de Fruticultura da
Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa-MG, iniciado em setembro de
1995. As sementes foram extraídas de frutos maduros de plantas-matrizes dos
porta-enxertos Citrus limonia Osbeck, cv 'Cravo' (Cr); Citrus reshniHort. ex
Tan., cv 'Cleópatra' (Cl); Citrus sunki Hort. ex. Tan., cv 'Sunki' (Sk); Citrus
volkameriana Hort. ex Tan., cv 'Volkameriano' (Vk); e Citrus paradisiMacf. x
Citrus reticulata Blanco, cv 'Tangelo Orlando' (To). Os porta-enxertos foram
semeados e cultivados num substrato composto de esterco de bovino + vermiculita
expandida + terriço (1:1:1), enriquecido com 1,28 kg/m3 de P2O5 no substrato;
sendo utilizados como recipientes tubetes de plástico com diâmetro interno de
26 mm e comprimento de 126 mm.
Foi utilizado o delineamento experimental em blocos casualizados, em esquema de
parcelas subdivididas, com cinco repetições e unidade experimental com 12
plantas úteis. As parcelas foram compostas dos cinco diferentes porta-enxertos.
As subparcelas foram compostas de seis doses de N (0; 400; 800; 1.600; 3.200 e
4.800 mg/dm3 de N no substrato). As doses de N foram parceladas em oito
aplicações de cobertura com uréia, em intervalos de sete dias, via água de
irrigação. Em cada adubação, foram aplicados 5 ml de solução por tubete (com 40
cm3 de substrato). As adubações foram iniciadas após o desbaste das plantas nos
tubetes, aos 63 dias após a semeadura.
Aos 120 dias após a semeadura, avaliaram-se: a altura; a proporção de plantas
aptas ao transplantio, contando-se o número de plantas com altura superior a 10
cm; diâmetro do caule; área foliar; massa da matéria seca da parte aérea (folha
+ caule); e massa da matéria seca das raízes dos porta-enxertos.
Nas amostras coletadas aos 120 dias após a semeadura, foram determinados o
teores de N-orgânico e os de N-NO3 na matéria seca obtida da parte aérea dos
porta-enxertos. O N-orgânico foi dosado pelo método de Nessler, após a digestão
sulfúrica, e N-NO3 foi dosado pelo método do ácido salicílico. O teor de N-
total foi obtido a partir da soma dos teores de N-orgânico com os de N-NO3.
Os dados coletados foram submetidos à análise de variância, e os fatores de
variação foram testados pelo teste F (significância de 5% e 1 %). Foram
estabelecidos contrastes ortogonais que analisaram as diferenças entre o
híbrido 'Tangelo Orlando' com os demais porta-enxertos [(To) vs.(Cr+Vk+Cl+Sk)],
diferenças dos limoeiros com as tangerineiras [(Cr+Vk) vs. (Cl+Sk)], diferenças
entre os limoeiros [(Cr) vs. (Vk)] e diferenças entre as tangerineiras [(Cl)
vs. (Sk)]. Os efeitos da variável quantitativa (doses de N) foram submetidos ao
ajuste de equações de regressão, sendo que a significância dos coeficientes das
equações de regressão ajustadas foi testada pelo teste F, calculado e corrigido
conforme ALVAREZ V. (1985).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
·Crescimento dos porta-enxertos
Na Tabela_1, são apresentadas as características de crescimento avaliadas nos
porta-enxertos. Os limoeiros-'Volkameriano' e 'Cravo' mostraram crescimentos
superiores, para todas as características avaliadas, quando comparados com as
tangerineiras-'Sunki' e 'Cleópatra'. Este crescimento mostrou ser significativo
(P<0,01), conforme o resultado do contraste testado.
Os limoeiros-'Cravo' e 'Volkameriano' mostraram semelhanças no crescimento em
altura, proporção de plantas aptas ao transplantio, área foliar, matéria seca
de raiz e parte aérea (Tabela_1); entretanto, o limoeiro-'Volkameriano' mostrou
diâmetro do caule superior ao limoeiro 'Cravo'. As tangerineiras-'Cleópatra' e
'Sunki' apresentaram semelhanças no diâmetro do caule, matéria seca de raiz e
parte aérea (Tabela_1); entretanto, o crescimento em altura e a proporção de
plantas aptas ao transplantio, apresentada pela tangerineira-'Cleópatra',
mostrou ser superior (P<0,05) à da tangerineira-'Sunki', conforme o teste dos
contrastes. A área foliar da tangerineira-'Sunki' foi superior (P<0,01) à da
tangerineira-'Cleópatra', conforme o teste dos contrastes. Já o híbrido
'Tangelo-Orlando' exibiu crescimento inferior (P<0,01) ao conjunto dos demais
porta-enxertos, para a maioria das características avaliadas.
O maior vigor de crescimento dos limoeiros mostra, portanto, a maior rapidez
destes porta-enxertos em atingirem o ponto de transplantio, quando comparados
com as tangerineiras e o híbrido. Este resultado está de acordo com os
encontrados por CARVALHO e SOUZA (1996), onde estes autores constataram maior
crescimento do limoeiro-'Cravo' em relação à tangerineira-'Cleópatra'.
·Crescimento dos porta-enxertos em função das doses de N
A aplicação de doses de N, utilizando uréia em cobertura, favoreceu
significativamente (P<0,01) o crescimento em altura, diâmetro do caule, área
foliar, acúmulo da massa de matéria seca da parte aérea e de raízes, e na
proporção de plantas aptas ao transplantio dos porta-enxertos, aos 120 dias
após a semeadura.
Na Figura_1, observa-se que, conforme se aumentaram as doses de N aplicadas,
ocorreu um aumento da altura dos porta-enxertos. O porta-enxerto 'Tangelo-
Orlando' exibiu altura máxima estimada de 9,1cm quando foi aplicada a dose de
1.117 mg/dm3 de N no substrato, não atingindo a altura ideal de transplantio
(10 cm) aos 120 dias após a semeadura. Os limoeiros-'Cravo' e 'Volkameriano'
apresentaram altura máxima estimada de 13,3 e 12,3 cm quando adubados com 1.240
e 1.417 mg/dm3 de N no substrato, respectivamente, atingindo a altura ideal de
transplantio aos 120 dias após a semeadura. As tangerineiras-'Cleópatra' e
'Sunki' apresentaram alturas estimadas de 12,0 e 10,1 cm quando adubadas com as
doses de 1.170 e 1.145 mg/dm3 de N no substrato, respectivamente, atingindo a
altura ideal de transplantio aos 120 dias após a semeadura.
Houve efeito depressivo das altas doses de N ( 3.200 e 4.800 mg/dm3 de N no
substrato) sobre a altura dos porta-enxertos aos 120 dias após a semeadura
(Figura_1). Este efeito depressivo pode ter ocorrido devido à diminuição do pH
do substrato, através da liberação de H+ produzidos durante o processo de
nitrificação da uréia aplicada. Efeitos depressivos causados por altas doses de
fertilizantes nitrogenados foram descritos por CARVALHO e SOUZA (1996), CALVERT
(1969), CARVALHO (1994), MAUST e WILIAMSON (1994) e DECARLOS NETO et al.
(1994).
·Teor de N-total na parte aérea dos porta-enxertos em função das doses de N
Pelas equações de regressão (Figura_2), observa-se que, com o aumento das doses
de N aplicadas, ocorreu aumento significativo (P<0,01) nos teores de N-total na
matéria seca da parte aérea dos porta-enxertos, aos 120 dias após a semeadura.
O cultivo de porta-enxertos de citros, quando semeados em tubete, mostrou
necessitar de adubações de cobertura com N, visto que os porta-enxertos que não
receberam as adubações com uréia (0 mg/dm3de N no substrato), apresentaram
baixos teores de N-total (Figura_2), mostrando menor desenvolvimento em altura
(Figura_1) e cloroses generalizadas nas folhas, indicando os sintomas visuais
de deficiência de nitrogênio.
Na Tabela_2, estão apresentadas as faixas dos teores adequados de N-total de
cada porta-enxerto testado. Os teores adequados de N-total dos porta-enxertos
'Cravo' e Cleópatra,' obtidos neste estudo, estão próximos aos encontrados por
CARVALHO (1994). Em termos práticos, a faixa do teor adequado de N-total, na
matéria seca da parte aérea dos porta-enxertos, representa uma condição ótima
de crescimento dos porta-enxertos, podendo ser utilizada como critério da
necessidade de N, auxiliando no manejo da adubação nitrogenada dos porta-
enxertos cultivados em tubetes.
Diante dos resultados obtidos neste experimento, as adubações de cobertura com
uréia mostraram influenciar positivamente no crescimento e nos teores de N-
total da parte aérea dos porta-enxertos testados. Entretanto, deve ser
ressaltada a necessidade do manejo adequado desta adubação, devido aos efeitos
depressivos das altas doses de N (3.200 e 4.800 mg/dm3 N de substrato) sobre o
crescimento dos porta-enxertos.
CONCLUSÕES
1. A utilização de tubetes como sementeira de porta-enxertos de citros mostrou
ser viável, proporcionando rápido crescimento destes na fase de sementeira. Os
limoeiros-'Cravo' e 'Volkameriano' exibiram maior crescimento quando comparados
com as tangerineiras-'Cleópatra' e 'Sunki' e o híbrido 'Tangelo-Orlando', aos
120 dias após a semeadura, mostrando, portanto, a maior rapidez dos limoeiros
em atingir o ponto de transplantio.
2. As adubações com uréia, parceladas em oito aplicações a cada sete dias,
influenciaram positivamente no crescimento dos porta-enxertos nos tubetes,
podendo ser utilizadas como adubações de cobertura de N em porta-enxertos
semeados em tubetes.
3. A fertilização dos porta-enxertos 'Cravo', 'Volkameriano', 'Cleópatra',
'Sunki' e 'Tangelo-Orlando', respectivamente com 1.240; 1.417; 1.170; 1.145 e
1.117 mg/dm3 de N no substrato de cultivo, proporcionou o máximo crescimento em
altura desses porta-enxertos, aos 120 dias após a semeadura. Entretanto,
adubações excessivas com uréia (3.200 e 4.800 mg/dm3 de N no substrato)
causaram efeitos depressivos ao crescimento dos porta-enxertos.