Caracterização dos frutos de goiabeira e seleção de cultivares na Região do
Submédio São Francisco
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
O Estado de Pernambuco destaca-se como segundo produtor brasileiro de goiaba.
No ano de 1995, sua produção representou 24 % do total produzido no Brasil
(AGRIANUAL, 1999).
Nas áreas irrigadas do Vale do São Francisco, os cultivos de goiabeira têm se
expandido, compreendendo uma área de aproximadamente 4000 ha.
Além da expressividade econômica, segundo Pereira e Martinez Júnior (1986), a
goiaba é um dos frutos tropicais e subtropicais de maior valor nutricional.
Possui conteúdos de açúcares, ferro, cálcio, fósforo e vitaminas A, B e C
superiores à maioria das frutas. Tais características são importantes quando o
destino da produção é o consumo in natura, mas podem representar uma redução no
uso de aditivos químicos nos frutos processados.
As cultivares de goiabeira destinadas à produção de frutos para consumo in
natura devem ter frutos com polpa de coloração preferencialmente branca, de
tamanho médio ou grande, ovais, com poucas sementes, firmes e doces (Gonzaga
Neto, 1990). As cultivares para fins industriais devem produzir frutos de
tamanho médio, redondos, com polpa vermelha, espessa e não muito aquosa, com
pouca semente, SST de 8,0 a 12,0 ºBrix, pH de 3,8 a 4,3 e acidez entre 0,35 e
0,63% de ácido cítrico.
Na Região do Submédio São Francisco, os estudos com goiabeira concentraram-se
nos aspectos de produção e adaptação de diferentes genótipos às condições
locais. Os estudos de composição química dos frutos limitaram-se a
determinações de sólidos solúveis totais e acidez total titulável. Daí, a
necessidade de estudos mais detalhados a respeito da qualidade dos frutos
produzidos na região.
Os constituintes responsáveis pela qualidade dos frutos recebem a influência
direta da cultivar, condições climáticas, solo, tratos culturais e estádios de
maturação (Hulme, 1970). Não há, portanto, possibilidade de extrapolar os
resultados de uma região para a outra, o que implica a necessidade de pesquisas
de âmbito regional para o conhecimento da qualidade dos frutos (Esteves e
Carvalho, 1982).
O objetivo deste estudo foi caracterizar os frutos de cultivares e seleções de
goiabeira introduzidas na Região do Submédio São Francisco através de
determinações físicas, físico-químicas e químicas.
Os frutos, colhidos na maturidade fisiológica, foram provenientes da coleção de
genótipos da Estação Experimental de Bebedouro da Embrapa Semi-Árido, em
Petrolina-PE. O clima da região é do tipo BSh'W, segundo classificação de
Köppen. As plantas foram submetidas a irrigação por sulco, com aplicação de 150
litros de água por planta, a cada dois dias, na fase de crescimento dos frutos.
O trabalho foi conduzido no Laboratório de Fisiologia Vegetal da Embrapa Semi-
Árido, em um delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro
repetições. Os tratamentos compreenderam cinco cultivares e cinco seleções de
goiabeira, incluindo genótipos de polpa branca (Alabama Safed, Lucknow 49,
Banahas, White Selection of Florida e Seleção IPA B 38.1) e vermelha (Paluma,
Patillo 2.1, Surubim, Red Selection of Florida e Seleção IPA B 14.3). Cada
unidade experimental foi representada por três frutos selecionados de uma
amostra homogênea de 30 frutos selecionados entre aqueles obtidos na primeira
colheita e avaliados individualmente em relação às características físicas e,
depois, homogeneizados, constituindo uma amostra composta para as demais
determinações.
As características avaliadas foram: a) massa (g): obtida em balança semi-
analítica; b) diâmetros longitudinal -DL- e transversal -DT- e espessuras da
casca e da polpa (cm): determinados através de paquímetro; c) relação DL/DT; d)
sólidos solúveis totais -SST- (ºBrix): segundo recomendação da AOAC (1992); e)
acidez total titulável ¾ATT¾ (% de ácido cítrico): por titulação com NaOH 0,1N,
conforme recomendação do IAL (1985); f) relação SST/ATT; g) pH: obtido conforme
AOAC (1992); h) açúcares solúveis totais ¾AST¾ (%): obtido usando 9,10-dihidro-
9-oxoantracena, segundo método descrito por Dische (1962); i) vitamina C (mg de
ácido ascórbico/100 mL): determinado conforme IAL (1985).
Foram realizadas análises de variância para as variáveis estudadas, utilizando-
se do teste de Tukey, a 5% de probabilidade, para a comparação de médias.
A massa dos frutos variou de 90,8 a 244,5 g/fruto (Tabela_1). Considerando que
os frutos destinados ao processamento industrial devem ter tamanho médio (massa
superior a 100 g), segundo Lima et al.(1999), e que aqueles destinados ao
consumo in natura devem ser preferencialmente de médios a grandes, nesta ordem,
Alabama Safed, Lucknow 49, White Selection of Florida e Banahas confirmam suas
características de goiaba para mesa.
Segundo Gonzaga Neto et al. (1987), a massa média do fruto é uma característica
importante, uma vez que, em geral, os frutos de maior massa são também os de
maior tamanho, e estes, por sua vez, são mais atrativos ao consumidor.
Os valores observados em White Selection of Florida e Seleção IPA B 38.1
superaram os valores registrados por Gonzaga Neto et al. (1987) com os mesmos
genótipos, na Região do Vale do Rio Moxotó. Por outro lado, Seleção IPA B 14.3,
Surubim e Red Selecion of Florida tiveram massas de 90,8; 93,8 e 109,8 g,
respectivamente, as quais foram levemente inferiores às obtidas por Gonzaga
Neto et al. (1986), nas condições do Vale do Rio Moxotó. Estas diferenças podem
estar relacionadas com as características climáticas da região, do tipo de solo
e de cultivo, fatores importantes que influenciam na qualidade dos frutos
(Hulme, 1970). Estes genótipos tiveram massas estatisticamente iguais entre si
e aos demais genótipos de polpa vermelha. Os genótipos de polpa branca, exceto
Seleção IPA B 38.1,destacaram-se pela maior massa dos frutos.
Os valores de DL variaram de 5,84 a 7,60 cm (Tabela_1). Além de apresentar
frutos com maior massa, a cultivar Banahas apresentou também o maior DL;
entretanto, este comportamento não foi observado em relação a White Selection
of Florida que também apresentou um dos maiores valores para DL.
A variação do diâmetro transversal dos frutos foi de 5,30 a 7,79 cm (Tabela_1),
sendo resultante das diferenças na massa, uma vez que aqueles de menor massa
tiveram DT também menor. Assim, os valores de DT de Seleção IPA B 14.3,
Surubim, Patillo 2.1, Paluma, Seleção IPA B 38.1 e Red Selection of Florida não
diferiram estatisticamente entre si e foram inferiores aos demais.
A análise isolada das variáveis DL e DT tem pouca importância para a
caracterização dos frutos dos genótipos de goiabeira. Entretanto, a relação DL/
DT é bastante representativa. Segundo Gerhardt et al. (1997), esta relação
indica o formato do fruto e quanto mais próxima de 1, mais redondo.
A relação DL/DT dos frutos variou de 0,98 a 1,25 (Tabela_1). As menores
relações, 0,98 a 1,02, foram obtidas, respectivamente, nas cultivares Banahas,
Lucknow 49, Alabama Safed e R. S. Florida, caracterizando o formato redondo dos
frutos. Sharma e Singh (1981), entretanto, caracterizaram o formato dos frutos
da cultivar Lucknow 49 como sendo globular oval, ressaltando que podem ocorrer
variações, dependendo das condições agroclimáticas e práticas culturais.
Os genótipos Surubim, Paluma, Seleção IPA B 14.3 e Patillo 2.1, por sua vez,
tiveram relações DL/DT superiores a 1,1, indicando frutos de formato alongado.
Já os frutos de W. S. Florida e Seleção IPA B 38.1, com relação DL/DT de 1,05 e
1,06, podem ser considerados como globular ovais.
Os valores de espessura da casca variaram de 0,10 a 0,36 cm (Tabela_1). Os
genótipos de polpa vermelha apresentaram casca com espessura inferior aos de
coloração branca. A maior espessura de casca foi observada na cultivar Alabama
Safed, sendo 3,6 vezes mais espessa que Paluma.
A espessura da polpa variou de 0,60 a 1,30 cm, conforme Tabela. Entre os
genótipos de maior espessura da polpa, destacaram-se as cultivares Paluma,
Lucknow 49 e Banahas. Para a indústria de sucos, os frutos de Paluma
apresentaram maior aproveitamento (Silva Júnior et al., 1999). As outras duas
variedades, de polpa branca, apresentaram características que podem viabilizá-
las para consumo ao natural do fruto.
As cultivares e seleções de goiabeira tiveram teor de SST variando de 7,2 a
10,9 ºBrix (Tabela_1). Paluma, Lucknow 49 e Banahas destacaram-se pelos valores
mais elevados. No entanto, estes valores foram inferiores aos observados por
Gonzaga Neto et al. (1986). Os autores registraram, em Seleção IPA B 14,
Seleção IPA B 38, Surubim e Red Selection of Florida, teor de SST de 12; 14; 13
e 10 ºBrix, respectivamente.
Altos teores de SST são desejáveis tanto para frutos destinados ao consumo in
naturaquanto para a indústria. No último caso, segundo Gonzaga Neto et al.
(1986), o custo do processamento é menor.
A ATT variou de 0,40 a 1,04 % de ácido cítrico (Tabela_1). Os maiores valores
foram observados na Seleção IPA B 14.3 e na seleção Surubim. Segundo Nascimento
et al. (1998), uma acidez elevada é importante para o processamento, pois
diminui a adição de acidificantes artificiais. No entanto, não é um fator
limitante para a escolha do genótipo se outras características forem
satisfatórias (Lima et al., 1999).
Baixos teores em ácidos, por sua vez, como obtido nos demais genótipos,
especialmente Alabama Safed, são uma característica desejável quando o objetivo
é o consumo in natura (Paiva et al., 1997).
As características SST e ATT, isoladamente, podem representar um falso
indicativo do sabor dos frutos. Já a relação SST/ATT é considerada uma das
formas mais práticas para este fim (Nascimento et al., 1998), principalmente
quando o produto se destina ao consumo in natura (Manica et al., 1998).
Os valores mais altos SST/ATT foram observados nas cultivares de polpa branca
Alabama Safed (19,82) e Lucknow 49 (20,08), conforme a Tabela_1. A menor
relação (9,02) foi observada na seleção Surubim.
Os valores de pH obtidos, variando de 3,72 a 4,22 (Tabela-1), são considerados
altos. Segundo Manica et al. (1998), valores de pH superiores a 3,5 indicam a
necessidade de se adicionar ácidos orgânicos comestíveis no processamento dos
frutos, visando a uma melhor qualidade do produto final industrializado. No
entanto, entre as cultivares e seleções estudadas, aquelas de polpa vermelha,
preferidas para a indústria, apresentaram os mais baixos valores de pH,
principalmente a Surubim.
O teor de AST variou de 3,03 a 7,07 % (Tabela_1). Dos genótipos estudados,
apenas a Seleção IPA B 14.3 teve teor de AST fora da faixa de 3,3 a 10,0 % da
massa fresca total, considerada por Chan Junior & Kwork (1976) como
representativa do nível de açúcares da goiaba. Os genótipos de polpa branca
tiveram os maiores teores de AST. A cultivar Paluma teve o maior percentual de
AST, entre as cultivares e seleções de polpa vermelha, embora não tenha
diferido estatisticamente de Patillo 2.1, Surubim, Red Selection of Florida,
Seleção IPA B 38.1 e Alabama Safed, sendo as duas últimas de polpa branca.
O teor de vitamina C, característica especialmente importante nos frutos
destinados ao consumo in natura, teve valores variando de 52,80 a 209,88 mg de
ácido ascórbico/100 g (Tabela_1). Os genótipos de polpa branca, com exceção da
cultivar Alabama Safed, tiveram os maiores teores de vitamina C, confirmando
sua indicação como goiaba de mesa.
1.Os frutos de polpa branca das variedades Banahas, White Selection of Florida,
Lucknow 49 e Alabama Safed destacaram-se por apresentar massa superior a 145,0
g/fruto, DL e DT superior a 6,5 e 6,3 cm, respectivamente. Estes genótipos e a
Seleção IPA B 38.1 produziram frutos redondos, com espessura de casca superior
a 0,22 cm.
2.As cultivares Banahas, Lucknow 49 e Paluma apresentam espessura de polpa
superior aos demais genótipos estudados. No entanto, não foi possível
caracterizar um valor aproximado de espessura de polpa para os grupos de
genótipos de cor branca e vermelha, já que algumas cultivares ou seleções de um
têm médias estatisticamente iguais ao do outro.
3.As cultivares Banahas, Lucknow 49 e Paluma também tiveram os mais altos
teores de SST: 10,2, 10,9 e 10,4 ºBrix, respectivamente.
4.Os frutos de polpa vermelha tiveram, em geral, ATT maiores que os de polpa
branca. Conseqüentemente, os valores de pH foram menores naqueles frutos.
5.Os mais altos teores de AST foram observados nas cultivares Banahas (7,07 %)
e Lucknow 49 (7,06 %), que também apresentaram valores elevados de vitamina C:
145,22 e 158,40 mg de ácido ascórbico/100 g, respectivamente. O conteúdo mais
alto de vitamina C (209,88 mg de ácido ascórbico/100 g) foi observado na White
Selection of Florida.
6. As cultivares Banahas e Luknow demonstraram potencial para produção de
frutos para consumo, enquanto a Paluma e a Red Selection of Florida
demonstraram potencial para produção de frutos para consumo e para a indústria,
nas áreas irrigadas do Submédio São Francisco.